Transcrito integralmente do livro
Manias e Crendices em Nome da Ciência, de Martin Gardner. Fala da tendência paranóica apresentada por alguns pseudocientistas, chamados aqui de "excêntricos".
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Obs.: O nome deste tópico foi atribuído baseando-se em outros trechos da livro. Alguns termos foram substituídos por sinônimos mais utilizados na atualidade.
Cinco maneiras pelas quais comumente transparecem as tendências paranóicas dos pseudocientistas:
1. Acredita ser um gênio.
2. Considera seus colegas, sem exceção, como néscios. Estão todos fora de forma, exceto ele próprio. Freqüentemente, insulta seus oponentes, acusando-os de estupidez, desonestidade ou de outros defeitos básicos. Se eles o ignoram, considera esse fato como significando que seus argumentos são irrespondíveis. Se retrucam adequadamente, isso reforçará sua ilusão de que luta contra patifes.
3. Acredita ser ele injustamente perseguido e isolado. As sociedades de renome recusam-se a permitir-lhe conferências. Os jornais rejeitam seus artigos, e ignoram seus livros ou dão-nos a "inimigos", para crítica. É ele vítima de uma covarde intriga. Nunca ocorre ao excêntrico que essa oposição possa ser devida a erros do seu próprio trabalho. Surge sozinho, e fica convencido de que, pela insensatez dos preconceitos da hierarquia convencional, os altos sacerdotes da Ciência temem que sua ortodoxia venha ser derrubada.
Calúnias injustificáveis e ataques não provocados - repete ele constantemente - são sempre dirigidos contra a sua pessoa. Identifica-se com Bruno, Galileu, Copérnico, Pasteur e outros grandes homens que foram injustamente perseguidos por sua heresias. Se não foi formalmente adestrado no campo em que opera, atribuirá essa perseguição a uma maçonaria científica, negando-se a admitir em seu santuário os que não tenham passado pelos seus peculiares rituais de iniciação. E repetidamente chama a atenção para as descobertas científicas feitas por leigos.
4. É ainda fortemente compelido a focalizar os seus ataques contra os maiores cientistas e contra as teorias mais bem estabelecidas. Quando Newton era o nome mais famoso da Física, os excêntricos proclamavam que a Ciência era veementemente anti-Newton. Hoje, quando Einstein representa o símbolo espiritual da autoridade, uma teoria excêntrica provavelmente atacará Einstein em nome de Newton. A mesma provocação pode ser encontrada numa tendência para afirmações diametralmente opostas aos conceitos bem estabelecidos. Provam os matemáticos que um ângulo não pode ser trissecado. Logo, os excêntricos trissecam-no. Não pode ser construída uma máquina dotada de movimento perpétuo. Mas eles constróem uma. Há muitas teorias excêntricas em que o "puxão" da gravidade é substituído por um "empurrão". Os germes não causam doenças. Seriam as doenças as produtoras dos germes. Os óculos não ajudam os olhos, disse o Dr. Bates. Tornam-os piores.
5. Tem ele também a tendência de se expressar em um jargão complexo, usando em muitos casos termos e frases por ele mesmo forjados. Os esquizofrênicos falam algumas vezes por meio do que os psiquiatras chamam de "neologismos" - palavras que tem sentido para o paciente, mas que soam incompreensíveis para os outros. Muitos dos clássicos "maníacos" da Ciência manifestam essa tendência neologística.
Manias e Crendices em Nome da Ciência (Fads and Fallacies in the Name of Science)
Martin Gardner
IBRASA
1960, 314 páginas