Sei lá, Acho que isso é uma visão muito romantizada da mente infantil. Pelo que sei as crianças são altamente influenciáveis. Houve até um experimento famoso e polêmico onde numa cidade onde só havia brancos uma professora fez, de propósito, com que as crianças desenvolvessem uma discriminação e segregação pela cor dos olhos. A idéia era sentir na pele (ou nos olhos) o preconceito. Mas mesmo sem recorrer a algo mais elaborado como isso, o bullying e coisas do tipo não são algo exatamente incomuns e estranhas ao comportamento infantil. Praticamente tudo que é diferente e puder ser enquadrado como ruim vai ser, se tiver chance ou motivo. Gordos, magros, baixinhos, altos, efeminados, meninas másculas, pobres, etc, tudo pode ser motivo de chacota entre as crianças.
Em nenhum momento eu disse que crianças não são influenciáveis.
Crianças não ligam a mínima para a cor da pele de um colega, e se ligam, o fazem de forma inocente. Justamente por desconhecerem toda a história por trás da representação de negros como a forma pela qual uma é representada na peça (bem como por desconhecerem toda as demais formas de preconceito). Afinal, ninguém nasce com qualquer tendência a priorizar a cor da pele de uma pessoa em detrimento de todas as demais características ao fazer associações. É por isso que vejo na possibilidade, para uma criança, de associar a má higiene a todos os negros apenas porque se viu um negro mal higienizado como algo tão provável quanto qualquer outra associação imaginável entre duas características quaisquer.
Não estou sugerindo que uma criança fosse ver isso e virar uma seguidora jr do KKK imediatamente, como se fosse um processo de zumbificação instantânea. Mas não acho que é possível descartar facilmente como algo possivelmente nocivo, esse tipo de coisa. Como eu disse antes, meramente a diferença de quantidade já faria toda a diferença entre algo que se pode ao menos tentar defender como inocente e algo inegavelmente racista. Se a dupla de humoristas o tempo todo tivesse representações de estereótipos negativos de negros, acho que não se teria nem o que se discutir.
E não conheço muito sobre o desenvolvimento psicológico do preconceito, mas não acho improvável que a cor da pele seja naturalmente algo que se tenda a usar para fazer associações, especialmente variações mais drásticas de cor. Andei dando uma pesquisada breve e vi que há estudos dizendo que as crianças já apresentam preconceitos raciais aos três, quatro anos de idade.
Eu não sou da turma que vê racismo em tudo, inclusive talvez tenha sido eu quem criou um tópico onde parodiava uma série de paranóias de ver racismo em tudo, umas de brancos vendo racismo em coisas como a expressão "dar um branco", em referência a coisas como achar que expressões como "a coisa está preta" tem fundo racista. O mesmo vale para Tarzan, para desproporção de negros e brancos na TV e uma porção de coisas. O caso recente do macaco garoto-propaganda numa situação toda em referência ao Obama que uns interpretaram como tendo fundo racial, por exemplo, também acho que não teve na verdade nada demais, já que parece que no Japão não há essa associação especificamente.
Já nesse caso especificamente, muito embora num mundo ideal a maquiagem de preta pudesse ser visto como uma coisa totalmente aleatória e sem significado, não diferente de uma caracterização da mulher como "médica fedida", "ruiva fedida" ou "empresária fedida", não acho fácil ver a coisa assim com a caracterização "preta fedida" levando em conta história recente/atual, em como difere a imagem popular desses grupos.
E mesmo se esforçando para ver como algo inocente, se e é algo irrelevante ao papel, uma coisa aleatória, por que ela tem que ser negra? Para que se dar ao trabalho da caracterização toda, se é algo inútil, que não acrescenta nada fundamental ao papel? Poderia se dizer que não é nada demais, que poderia ser qualquer outra coisa, mas aí então é de se perguntar se elas são tão alienadas a ponto de não perceberem que poderia ser ofensivo, diferentemente de outras caracterizações.
Eu acho que ao mesmo tempo em que há um tipo de paranóia em ver racismo em tudo, ao parece haver um tipo de cegueira inversa como reação, em não ver racismo em nada.