Autor Tópico: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)  (Lida 2067 vezes)

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Offline Mr."A"

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TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Online: 02 de Novembro de 2008, 23:47:57 »
TV XUXA E A PERPETUAÇÃO DE ESTEREÓTIPOS
(Leandro Dias)

TV Xuxa - 04.10.2008 (Parte5/9)

Infeliz. Eis como considero a apresentação da dupla "As absorventes" no concurso de paródias da "Tv Xuxa" do sábado, 4 de outubro de 2008. Como foi exaustivamente repetido após a apresentação das meninas, elas são boas comediantes. A paródia foi bem feita. A intenção da apresentação foi humorística. E elas são excelentes atrizes.Mas não posso deixar de fazer uma ressalva, aliás, da maior pertinência: a repetição de estereótipos com respeito à representação do negro. Uma das garotas aparece pintada de preto, com a boca excessivamente vermelha e uma peruca de cabelos desgrenhados. É a síntese da ridícula representação do negro perpetrada e perpetuada no decorrer dos séculos. Esse tipo de figura negra padroniza e coisifica a etnia. Foi uma escolha muito infeliz, mas que talvez revele um imaginário que perpassa nossa mente e nosso discurso e talvez nem percebamos.

Para piorar ainda mais as coisas, acrescento à minha análise dois elementos: a representação masculina e a própria paródia. Pensando tudo isso como um único conjunto, temos uma negra (estereotipada até o limite, conforme explanei acima) sendo detratada e tendo atribuídas a si características negativas (odores desagradáveis nas axilas, flatos) por um homem de pele clara. Em outras palavras, a mulher negra sendo maltratada pelo homem branco. Não sei, mas isso se parece muito com uma situação que deveria ter sido extinta em 13 de maio de 1988. Vimos ainda, em resultado da escolha dos personagens a ser representados, o homem branco como aquele que traz "civilidade" (é ele quem aconselha: use talco pra chulé). E mais uma vez todas as qualidades negativas são atribuídas ao negro.

Destaco também o paulatino apagamento da voz feminina e negra. Não lhe é dado falar, pois sua voz não tem importância, o que apenas reforça o processo de coisificação, já aludido. A fala pertence apenas à representação masculina e branca. Não há direito de defesa. Em certo sentido, ainda bem, já que, se considerarmos o conjunto, a única representação verbal que poderíamos esperar da personagem negra seria o caricatural português "estropiado", cheio de sons guturais, como é comum em estereótipos desse tipo.

Não pretendo listar aqui medidas que desagravariam a apresentação das "absorventes", que a tornariam menos problemática. Ressalto, porém, que a repetição desse tipo de representação num programa infanto-juvenil em pleno sábado de manhã apenas ajuda a perpetuar nas mentes de crianças e pré-adolescentes estereótipos e preconceitos que, na verdade, nos cumpre extirpar. A emissora demonstra, assim, sua falta de engajamento com movimentos que não são recentes e que ganham cada vez mais força, no sentido de retirar pechas da imagem tanto do negro quanto da mulher.

FONTE: Leitura de Produções da Mídia
8-)

Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #1 Online: 03 de Novembro de 2008, 00:04:34 »
Uma peça de muito mal gosto, realmente. Crianças na idade dos espectadores do programa podem ser muito mal influenciadas :(

Offline PauloCesar

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #2 Online: 03 de Novembro de 2008, 12:19:16 »
O foda é que essa mesma gente vive arrotando engajamento social... nem sabem do que estão falando. Triste.
FREE YOUR MIND! - Morpheus

Offline Herf

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #3 Online: 03 de Novembro de 2008, 13:44:33 »
É gostar de criar caso, pelo amor de deus.

O que a peça mostra? Uma paródia de uma música que faz graça em cima das más condições de higiene de uma mulher que, por acaso, é representada como uma negra. Nada mais.

Estou certo de que ninguém havia pensado em entender aquilo como uma ofensa "aos negros" até o momento em que apareceu um ativista do politicamente correto para emitir tal interpretação.

O típico tiro no próprio pé: na sua tara por encontrar racismo em todos os cantos, ativistas do "orgulho negro" acabam por contribuir mais do que qualquer um para a perpetuação dos estereótipos que condenam.

O curioso é que neste vídeo mostra-se pequenos trechos de outras apresentações da mesma dupla, onde em uma delas a música faz graça em cima da feiúra de uma mulher. E ela é branca. Mais branca do que o normal, inclusive. Vamos entender isso como uma ofença aos brancos? Como uma ofensa aos desdentados? Ou, ainda, como uma ofensa às loiras?

Nenhuma criança, inocentes como são, entenderia uma peça como essa da maneira que o autor do texto acima se esforçou para entender. Perigoso para a mente inocente das crianças é expô-las às idéias desses prosélitos do politicamente correto, não uma peça como essa (que nem graça tem, convenhamos).

Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #4 Online: 03 de Novembro de 2008, 13:55:37 »
É gostar de criar caso, pelo amor de deus.

O que a peça mostra? Uma paródia de uma música que faz graça em cima das más condições de higiene de uma mulher que, por acaso, é representada como uma negra. Nada mais.

A questão é, será mesmo por acaso? Será todo o trabalho de maquiagem para uma menina branca se caracterizar grotescamente como uma negra por acaso, ou há uma mensagem que estão tentando nos passar? Bom, somos adultos com opinião formada e isso para nós já é discutível. Mas é irrelevante o que achamos. O que interessa não é saber se há intenções subliminares ou não por trás dessa esquete, mas saber qual é o efeito disso sobre a educação das crianças, se elas vão associar essas idéias negativas aos negros em geral ou não. Eu não tenho essa resposta e duvido que alguém na Globo tenha, mas tenho certeza que eles estariam nos fazendo um favor se não pagassem para ver, até porque, como eu disse, no mínimo é uma questão de muito mal gosto.

Offline Herf

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #5 Online: 03 de Novembro de 2008, 14:05:32 »
Pode até ser, apesar de eu duvidar, que essas atrizes tenham algum preconceito enrustido contra negros, mas o fato pe que não há mais evidências disso do que há de que elas tenham o mesmo preconceito contra mulheres brancas, já que no vídeo que eu passei mostra-se as mesmas fazendo graça em cima da feiúra de uma mulher mais branca que o normal.

Muito menos motivos há para se achar que há mais probabilidade de as crianças associarem as características da "negra" do primeiro vídeo aos negros em geral do que há para elas associarem as características da branca do outro vídeo aos brancos em geral. Só pensarão na possibilidade de tal associação quando ouvirem as opiniões de alguém como o autor do texto e demais militantes racialistas.

Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #6 Online: 03 de Novembro de 2008, 14:26:22 »
Eu reconheço que eu não entendo nada sobre educação infantil. Suponho que você, que fala com tanta veemência que não há nenhuma probabilidade de as crianças interpretarem de forma racista esse quadro tenha como mencionar algum estudo que corrobora essa opinião, não?

Offline Herf

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #7 Online: 03 de Novembro de 2008, 18:38:33 »
Eu também não sou especialista em educação infantil.

Mas a pergunta que não quer calar é: por que a possibilidade de uma criança - mentes inocentes e livres de preconceitos - de associar as características ruins daquela personagem negra às pessoas negras em geral é tão enafizada ao passo que a possibilidade de a criança associar as características ruins da personagem branca às pessoas brancas em geral sequer é mencionada, como se de fato houvesse uma ligação óbvia (óbvia até para uma criança) entre pele negra e maus cuidados de higiene? Ou não apenas associar uma característica ruim com a cor da pele, mas com qualquer outro traço físico ou comportamental?

Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #8 Online: 03 de Novembro de 2008, 21:39:35 »
Provavelmente a criança não vai ver as duas esquetes. A maioria, provavelmente, viu somente a do TV Xuxa, onde uma menina usa uma caracterização grotesca de negra, ao ponto de saltar aos olhos, e associa a má higiene.

Offline Südenbauer

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #9 Online: 04 de Novembro de 2008, 00:16:34 »
A questão é delicada. A gente cresce com a parentada fazendo piada racista e falando sem pudor em "negricre" "crioulada" pejorativamente sem preocupação, eu mesmo falo esse tipo de coisa com meus amigos negros e obviamente se eu tivesse um filho isso seria de péssima influência. Sabendo disso e do histórico segregacional que possímos na civilização ocidental, a direção deveria ter um pouco mais de sensibilidade e evitar questões controversas como essa. Eles sabem que esses estereótipos pejorativos existem e estão icentivando-o.

Se o público fosse adulto eu não veria problemas.

Offline Egisto

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #10 Online: 04 de Novembro de 2008, 18:15:01 »
Olá, pessoas.

Sou o autor do texto que possibilitou esse tópico de discussões. Pretendo desfazer algumas incompreenções com respeito ao meu texto. Primeiramente, em nenhum momento eu declaro haver uma intenção por parte das atrizes de formar ou perpetuar estereótipos. A única coisa que eu falo sobre intenção é "A intenção da apresentação foi humorística". E realmente foi. O que eu disse foi que há uma perpetuação desses estereótipos, isso independentemente, de uma intenção. O fato é que crescemos ouvindo as repetições exaustivas desses estereótipos e, mesmo que não percebamos, acabamos por reproduzi-las. E se nossas crianças (que, como educador, não considero tão inocentes como você considera) entram em contato com essas representações estereotipadas, não deveríamos tentar evitar que elas as naturalizassem como ao que parece, o colega Herf já naturalizou? Um dos grandes problemas que possibilitaram a permanência desse tipo de imagem é, justamente, essa negação, essa recusa de se fazer uma reflexão sobre o fato.

E o exemplo usado para "defender" As Absorventes não poderia ser pior: nele temos um resumo das apresentações e percebemos uma repetição de uma ideologia machista. E por mulheres! O problema apenas se agrava se considerarmos a conjunção dessa ideologia machista com uma ideologia racista, como é o caso que analiso. O fato de a mulher de uma das apresentações ser branca apenas muda o foco do problema, não o elimina. Se eu não faço referência a essa apresentação é porque o texto se referia apenas à apresentação do dia 4 de outubro.

Para finalizar, a minha análise se refere à apresentação, e não às atrizes/cantoras. Falo da repetição de estereótipos neste caso específico, embora possa fazer análises diversas de outras apresentações.

Espero ter deixado tudo às claras,
Egisto Dias

Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #11 Online: 04 de Novembro de 2008, 18:32:52 »
Obrigado pelo esclarecimento! Mas como você chegou a essa dicussão aqui? Agora vou tomar mais cuidado com o que escrevo, vai que eu xingo o Olavo de Carvalho e ele aparece aqui para tomar satisfação... :lol:


Offline Buckaroo Banzai

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #13 Online: 05 de Novembro de 2008, 13:48:05 »
Eu também não sou especialista em educação infantil.

Mas a pergunta que não quer calar é: por que a possibilidade de uma criança - mentes inocentes e livres de preconceitos - de associar as características ruins daquela personagem negra às pessoas negras em geral é tão enafizada ao passo que a possibilidade de a criança associar as características ruins da personagem branca às pessoas brancas em geral sequer é mencionada, como se de fato houvesse uma ligação óbvia (óbvia até para uma criança) entre pele negra e maus cuidados de higiene? Ou não apenas associar uma característica ruim com a cor da pele, mas com qualquer outro traço físico ou comportamental?

Acho que minorias são mais passíveis de sofrerem essas associações, tanto por menor amostragem mesmo, quanto por ser comum que sejam mal vistas, em vez do tipo racial/social mais comum.

Não que não seja possível criar um estereótipo para a maioria, mas acho que isso vai depender mais de como pais e famílias das minorias "retratam" as pessoas da maioria para as crianças, porque dependendo da mídia apenas, mesmo que exista um "branco esquisito" na mídia, só por serem a maioria, é provável que no mesmo lugar onde vejam o "branco esquisito" tenham dez outros normais.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #14 Online: 05 de Novembro de 2008, 14:07:48 »
É gostar de criar caso, pelo amor de deus.

O que a peça mostra? Uma paródia de uma música que faz graça em cima das más condições de higiene de uma mulher que, por acaso, é representada como uma negra. Nada mais.

Estou certo de que ninguém havia pensado em entender aquilo como uma ofensa "aos negros" até o momento em que apareceu um ativista do politicamente correto para emitir tal interpretação.

Na verdade há uma tradição do humor racista em usar brancos representando negros estereotipados:

http://en.wikipedia.org/wiki/Blackface

Para qualquer um com conhecimento disso, acho que ficaria difícil ver outra coisa.

Será que esses casos também eram puramente inocentes, e não tinham nada demais, ou ainda, que esse ponto em comum, brancos interpretando negros negativamente estereotipados não permite fazer uma associação mais forte entre as coisas? Me parece óbvio que um aumento da popularidade desse tipo de quadro estaria associada com racismo, acho difícil ver de outra forma. E assim também fica difícil ver o quadro isolado como não racista, se é algo que seria popularizado por racismo.



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O típico tiro no próprio pé: na sua tara por encontrar racismo em todos os cantos, ativistas do "orgulho negro" acabam por contribuir mais do que qualquer um para a perpetuação dos estereótipos que condenam.

O curioso é que neste vídeo mostra-se pequenos trechos de outras apresentações da mesma dupla, onde em uma delas a música faz graça em cima da feiúra de uma mulher. E ela é branca. Mais branca do que o normal, inclusive. Vamos entender isso como uma ofença aos brancos? Como uma ofensa aos desdentados? Ou, ainda, como uma ofensa às loiras?

Não, acho que além da diferença entre grupo majoritário e minoritário, há uma diferença contextual/histórica entre o sentido que tem ou pode ter na abordagem de diferentes grupos. Por exemplo, se for para fazer uma piada sobre algum costume religioso, geralmente se preferiria optar por católicos ou protestantes em vez de judeus, para afastar do anti-semitismo. Se por algum motivo se pensar em alguma piada que sugerisse menstruação masculina, também seria muito provável que fosse abortada se o personagem em questão fosse judeu. E assim por diante.



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Nenhuma criança, inocentes como são, entenderia uma peça como essa da maneira que o autor do texto acima se esforçou para entender. Perigoso para a mente inocente das crianças é expô-las às idéias desses prosélitos do politicamente correto, não uma peça como essa (que nem graça tem, convenhamos).

Sei lá, Acho que isso é uma visão muito romantizada da mente infantil. Pelo que sei as crianças são altamente influenciáveis. Houve até um  experimento famoso e polêmico onde numa cidade onde só havia brancos uma professora fez, de propósito, com que as crianças desenvolvessem uma discriminação e segregação pela cor dos olhos. A idéia era sentir na pele (ou nos olhos) o preconceito. Mas mesmo sem recorrer a algo mais elaborado como isso, o bullying e coisas do tipo não são algo exatamente incomuns e estranhas ao comportamento infantil. Praticamente tudo que é diferente e puder ser enquadrado como ruim vai ser, se tiver chance ou motivo. Gordos, magros, baixinhos, altos, efeminados, meninas másculas, pobres, etc, tudo pode ser motivo de chacota entre as crianças.


Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #16 Online: 05 de Novembro de 2008, 14:20:21 »
O que é que o 'p...' quer dizer?

Offline Herf

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #17 Online: 05 de Novembro de 2008, 15:35:11 »
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Sei lá, Acho que isso é uma visão muito romantizada da mente infantil. Pelo que sei as crianças são altamente influenciáveis. Houve até um  experimento famoso e polêmico onde numa cidade onde só havia brancos uma professora fez, de propósito, com que as crianças desenvolvessem uma discriminação e segregação pela cor dos olhos. A idéia era sentir na pele (ou nos olhos) o preconceito. Mas mesmo sem recorrer a algo mais elaborado como isso, o bullying e coisas do tipo não são algo exatamente incomuns e estranhas ao comportamento infantil. Praticamente tudo que é diferente e puder ser enquadrado como ruim vai ser, se tiver chance ou motivo. Gordos, magros, baixinhos, altos, efeminados, meninas másculas, pobres, etc, tudo pode ser motivo de chacota entre as crianças.
Em nenhum momento eu disse que crianças não são influenciáveis.

Crianças não ligam a mínima para a cor da pele de um colega, e se ligam, o fazem de forma inocente. Justamente por desconhecerem toda a história por trás da representação de negros como a forma pela qual uma é representada na peça (bem como por desconhecerem toda as demais formas de preconceito). Afinal, ninguém nasce com qualquer tendência a priorizar a cor da pele de uma pessoa em detrimento de todas as demais características ao fazer associações. É por isso que vejo na possibilidade, para uma criança, de associar a má higiene a todos os negros apenas porque se viu um negro mal higienizado como algo tão provável quanto qualquer outra associação imaginável entre duas características quaisquer.

Offline Egisto

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #18 Online: 05 de Novembro de 2008, 15:50:33 »
Herf,

É verdade que as crianças não nascem com preconceito, mas também é verdade que as mentes delas são influenciáveis. O que quero dizer é que as crianças, por verem repetidas vezes um tratamento depreciativo associado ao negro ou a qualquer outra minoria acabará por naturalizar inconscientemente esse tipo de tratamento. Ou seja, para uma criança que cresce assistindo a esse tipo de representação, ela se tornará a regrae, se não refletirmos sobre isso, os adultos formados neste ambiente rescendente a preconceito continuarão a achá-lo natural.
Egisto Dias

Offline Buckaroo Banzai

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #19 Online: 05 de Novembro de 2008, 18:20:21 »
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Sei lá, Acho que isso é uma visão muito romantizada da mente infantil. Pelo que sei as crianças são altamente influenciáveis. Houve até um  experimento famoso e polêmico onde numa cidade onde só havia brancos uma professora fez, de propósito, com que as crianças desenvolvessem uma discriminação e segregação pela cor dos olhos. A idéia era sentir na pele (ou nos olhos) o preconceito. Mas mesmo sem recorrer a algo mais elaborado como isso, o bullying e coisas do tipo não são algo exatamente incomuns e estranhas ao comportamento infantil. Praticamente tudo que é diferente e puder ser enquadrado como ruim vai ser, se tiver chance ou motivo. Gordos, magros, baixinhos, altos, efeminados, meninas másculas, pobres, etc, tudo pode ser motivo de chacota entre as crianças.
Em nenhum momento eu disse que crianças não são influenciáveis.

Crianças não ligam a mínima para a cor da pele de um colega, e se ligam, o fazem de forma inocente. Justamente por desconhecerem toda a história por trás da representação de negros como a forma pela qual uma é representada na peça (bem como por desconhecerem toda as demais formas de preconceito). Afinal, ninguém nasce com qualquer tendência a priorizar a cor da pele de uma pessoa em detrimento de todas as demais características ao fazer associações. É por isso que vejo na possibilidade, para uma criança, de associar a má higiene a todos os negros apenas porque se viu um negro mal higienizado como algo tão provável quanto qualquer outra associação imaginável entre duas características quaisquer.

Não estou sugerindo que uma criança fosse ver isso e virar uma seguidora jr do KKK imediatamente, como se fosse um processo de zumbificação instantânea. Mas não acho que é possível descartar facilmente como algo possivelmente nocivo, esse tipo de coisa. Como eu disse antes, meramente a diferença de quantidade já faria toda a diferença entre algo que se pode ao menos tentar defender como inocente e algo inegavelmente racista. Se a dupla de humoristas o tempo todo tivesse representações de estereótipos negativos de negros, acho que não se teria nem o que se discutir.

E não conheço muito sobre o desenvolvimento psicológico do preconceito, mas não acho improvável que a cor da pele seja naturalmente algo que se tenda a usar para fazer associações, especialmente variações mais drásticas de cor. Andei dando uma pesquisada breve e vi que há estudos dizendo que as crianças já apresentam preconceitos raciais aos três, quatro anos de idade. 

Eu não sou da turma que vê racismo em tudo, inclusive talvez tenha sido eu quem criou um tópico onde parodiava uma série de paranóias de ver racismo em tudo, umas de brancos vendo racismo em coisas como a expressão "dar um branco", em referência a coisas como achar que expressões como "a coisa está preta" tem fundo racista. O mesmo vale para Tarzan, para desproporção de negros e brancos na TV e uma porção de coisas. O caso recente do macaco garoto-propaganda numa situação toda em referência ao Obama que uns interpretaram como tendo fundo racial, por exemplo, também acho que não teve na verdade nada demais, já que parece que no Japão não há essa associação especificamente.

Já nesse caso especificamente, muito embora num mundo ideal a maquiagem de preta pudesse ser visto como uma coisa totalmente aleatória e sem significado, não diferente de uma caracterização da mulher como "médica fedida", "ruiva fedida" ou "empresária fedida", não acho fácil ver a coisa assim com a caracterização "preta fedida" levando em conta história recente/atual, em como difere a imagem popular desses grupos.

E mesmo se esforçando para ver como algo inocente, se e é algo irrelevante ao papel, uma coisa aleatória, por que ela tem que ser negra? Para que se dar ao trabalho da caracterização toda, se é algo inútil, que não acrescenta nada fundamental ao papel? Poderia se dizer que não é nada demais, que poderia ser qualquer outra coisa, mas aí então é de se perguntar se elas são tão alienadas a ponto de não perceberem que poderia ser ofensivo, diferentemente de outras caracterizações.

Eu acho que ao mesmo tempo em que há um tipo de paranóia em ver racismo em tudo, ao parece haver um tipo de cegueira inversa como reação, em não ver racismo em nada.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #20 Online: 05 de Novembro de 2008, 18:23:12 »
O que é que o 'p...' quer dizer?

The p-word. É uma cor, a mais escura de todas, que começa com "p", mas no Brasil aos poucos virou palavrão, como sugere essa "piada", inclusive.

Offline uiliníli

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Re: TV Xuxa e a perpetuação de estereótipos (Leandro Dias)
« Resposta #21 Online: 05 de Novembro de 2008, 20:04:57 »
The p-word. É uma cor, a mais escura de todas, que começa com "p", mas no Brasil aos poucos virou palavrão, como sugere essa "piada", inclusive.

Aaahnn... É que o "p... morena" me pareceu um plenonasmo redundante em sendo 'morena' em brasilês um eufemismo para a cor ébano, por isso suspeitei que seria a outra p-word, essa um palavrão constantemente empregado em homenagens às mães alheias.

 

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