Espanha quis invadir Portugal em 1975?

Apoio norte-americano foi solicitado por Madrid
03.11.2008
O jornal iberista espanhol «El Pais» controlado pelo grupo PRISA [1] afirmou neste fim de semana que durante o Verão-quente de 1975 a Espanha tinha planos para ocupar Portugal e que pediu a colaboração passiva dos Estados Unidos na invasão.
Segundo a mesma fonte o então chefe do governo, o dirigente espanhol Carlos Árias Navarro, amigo pessoal do ditador Francisco Franco [2] terá contactado o governo de Washington após o falhado golpe de estado de 11 de Março de 1975 em Portugal, levado a cabo por António de Spínola.
António de Spínola, um general conservador que tinha sido empossado Presidente da República, na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974, demitiu-se do cargo por discordar radicalmente da evolução da situação política portuguesa nomeadamente da entrega apressada e descontrolada das colónias a movimentos apoiados pela União Soviética.
A influência do Partido Comunista Português em várias das estruturas do exército,. Levou Spínola a acreditar que se preparava um golpe comunista apoiado pela União Soviética, o qual passaria pelo assassínio de várias personalidades contrárias a Moscovo, entre as quais estava ele próprio.
Essa operação ficou conhecida como «Matança da Páscoa», e é por ter acreditado nela, que Spínola tenta um golpe mal preparado e mal organizado em 11 de Março de 1975.
A tentativa de golpe, resultou numa radicalização da situação e no controlo do poder em Lisboa por grupos de pessoas ligados ao Partido Comunista Português e à União Soviética, interessada especialmente em imobilizar o exército português em África, de forma a que as suas tropas [3] tomassem posições em Angola.
Spínola foge para Espanha no próprio dia 11 de Março de 1975 e segundo documentos já publicados há alguns anos, numa investigação do semanário Expresso, solicitou a intervenção do exército espanhol, invadindo Portugal para evitar que o Partido Comunista instalasse em Lisboa um regime de inspiração soviética.
Árias Navarro, terá discutido a situação portuguesa com o subsecretário de estado norte-americano Robert Ingersol, poucos dias depois de Spínola ter contactado o governo espanhol, ainda nesse mês de Março, logo após ter fugido de Portugal e ter pedido a intervenção espanhola.
O dirigente espanhol, terá sondado o diplomata norte-americano sobre que posição os Estados Unidos tomariam no caso de a Espanha invadir Portugal.
O argumento do governo espanhol, era o de que Portugal era uma potencial ameaça para Espanha, perante a possibilidade de um governo pró soviético se instalar em Lisboa e deliberadamente começar a desestabilizar Espanha.
Árias Navarro afirmou que temia que Portugal pudesse obter apoio exterior para desestabilizar Espanha, apoio que só poderia ser apoio soviético [4].
O governo espanhol voltou a contactar políticos norte-americanos de visita à capital espanhola alguns dias depois, a 7 de Abril de 1975 continuou a insistir junto de Washington, explicando a posição espanhola e os argumentos justificativos da invasão.
O embaixador norte-americano em Madrid Wells Stabler, enviou em 28 de Maio de 1974 um relatório para Washington afirmando que os militares consideravam que Espanha teria dificuldades em proteger-se de alegadas acções subversivas portuguesas.
Segundo o embaixador norte-americano em Madrid, o dirigente espanhol parecia transmitir aos seus pares europeus que a situação em Portugal não podia continuar como estava e que a Espanha tinha que invadir Portugal para regularizar a situação. O embaixador achava no entanto que Madrid não sabia como Washington reagiria à intervenção espanhola em Portugal.
Já em Outubro, o dirigente Espanhol terá voltado a mostrar preocupação com o evoluir da situação portuguesa e com o facto de o Partido Comunista estar a controlar completamente o país.
A relação entre os dois países atingiu um nível crítico quando em Setembro de 1975 a embaixada espanhola em Lisboa foi assaltado por elementos de extrema esquerda. A acção é vista por vários sectores como uma tentativa de provocar uma reacção espanhola, conseguindo assim o apoio popular para a esquerda portuguesa que depois das eleições de 25 de Abril de 1975 tinha obtido uma representação inferior a 20% dos votos e precisava de apoio popular para garantir a continuação do processo revolucionário.
A acção de 25 de Novembro de 1975, removeu os elementos radicais e o Partido Comunista do poder em Portugal. A União Soviética não estava interessada em tomar posições no país e naquela altura já estava assegurado o seu objectivo principal: a instalação de regimes comunistas nas antigas colónias portuguesas.
A morte de Franco, a transição para a democracia em Espanha, e a consolidação da democracia em Portugal, terão arquivado aquele que terá sido o terceiro plano em um século para invasão de Portugal por parte da Espanha.
[1] – Normalmente associado ao movimento republicano federalista, que defende o desaparecimento de Portugal e a sua inclusão numa república federal ibérica de cariz e cultura castelhana.
[2] – Franco tinha ascendido ao poder em Espanha em 1936 com o apoio directo das tropas de Adolf Hitler e tinha o regime Nazista alemão como modelo a seguir em Espanha. A derrota Nazi na guerra forçou o ditador espanhol a iniciar um processo de metamorfose, onde manteve internamente um sistema de repressão brutal, cópia fiel da Alemanha Nazi tentando criar uma imagem externa de conservador católico, tendo para o efeito contado com a colaboração e apoio activo da Igreja Católica de Espanha.
[3] – A intervenção soviética em Angola foi feita através do «aluguer» de soldados cubanos, pelos quais Fidel Castro recebia uma quantia por peça.
A título de curiosidade há que referir que o sistema de aluguer de cidadãos continua até hoje. Cuba aluga presentemente médicos e enfermeiros que são colocados no estrangeiro contra o pagamento de quantias ao governo cubano. Os médicos e enfermeiros não recebem qualquer bónus adicional.
[4] - O argumento do «medo», invadindo Portugal para evitar a «contaminação» era curiosamente o mesmo que tinha sido utilizado por Afonso XIII depois da implantação da República Portuguesa em 1910. Também o ditador hitleriano Francisco Franco tinha considerado a possibilidade de invasão em 1940-1941, considerando exactamente o mesmo argumento: Atacar Portugal para evitar eventuais ataques portugueses contra Espanha.
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