Autor Tópico: Contra o roubo da vida-contra o trabalho  (Lida 849 vezes)

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Offline 4 Ton Mantis

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Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Online: 04 de Novembro de 2008, 19:35:51 »
Texto publicado no blog República de Fiume

Boa parte de nossas vidas, de nossas tardes, de nossas manhãs e noites são roubadas pelo trabalho. E na maioria dos casos trabalhamos em lugares que não gostamos, fazendo coisas que não gostamos e tudo isso simplesmente para comprar coisas que na realidade não precisamos.
Bob Black em "A Abolição do Trabalho" afirma que "estamos tão próximos do mundo do trabalho que não conseguimos ver o que ele faz conosco".
O trabalho nos empobrece, arruína nossos espíritos, nos enfraquece como indivíduos capazes de desenvolver as mais diversas habilidades e de enfrentar e experimentar as mais diversas situações.
Ao contrário do que a mídia, o Estado, os partidos e sindicatos, a esquerda e a direita, o clero e a escola afirmam, o trabalho não é sinônimo de atividade humana, trabalho é sinônimo de alienação humana. O trabalho é o roubo de nossa energia criativa para fins que não nos interessam e que geralmente são prejudiciais a nós mesmos e ao planeta. Vamos encarar a realidade, ninguém trabalha porque quer, somos induzidos ao trabalho porque o Estado e o capital trabalham juntos para garantir sua sobrevivência às custas da humanidade e da Terra, e para isso bombardeiam nossas mentes 24 horas por dia com a mentira de que existe somente esta forma de viver (trabalhar e pagar contas), de que não podemos viver de outra maneira. Fora disso é ilusão, loucura!
E quando acreditamos nessa mentira, acabamos com as nossas vidas trabalhando em lugares que não gostamos, fazendo coisas que na realidade não nos interessam.
Desvencilharmo-nos do universo do trabalho através da construção da autonomia é um projeto vital para retomarmos o controle e o significado de nossas vidas.


John Zerzan
\"Deus está morto\"-Nietzsche

\"Nietzsche está morto\"-Deus

Offline uiliníli

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #1 Online: 04 de Novembro de 2008, 22:00:52 »
Eu poderia até (talvez) simpatizar com o libelo do Zerzan se vivêssemos há uns 10 mil anos atrás ou talvez em uma tribo de caçadores coletores, e mesmo assim com ressalvas. Hoje, porém, só posso considerar esse texto ingênuo, para não dizer ridículo. O Zerzan compreendeu bem que o trabalho nos custa alguma autonomia em nossas vidas, ele é uma necessidade, uma imposição do meio que não nos permite ser completamente livres. Só lhe passam desapercebidos dois poréns:

O primeiro é que não podemos mais voltar atrás, somos seis bilhões de pessoas no mundo hoje e não podemos simplesmente cruzar os braços sem matar uma boa parte deles de fome - o homem não depende mais só de si para sobreviver, devemos no mínimo ao agricultor que planta, ao caminhoneiro que transporta e ao comerciante que nos vende comida. Isso sem falar no médico que salva nossa vida ocasionalmente. Mas, como o Adam Smith já nos explicou, nenhum deles faz isso porque ama de paixão trabalhar, eles fazem em troca de alguma coisa. No caso, dinheiro, o que nos lembra que nós também precisamos encontrar alguma coisa para fazer pela qual os outros estejam dispostos a nos dar um pouquinho de dinheiro para assim podermos pagar o médico, o comerciante, o caminhoneiro, o agricultor e mais um monte de gente que também deu um jeito de encontrar uma ocupação pela qual os outros, o que inclui eu e você, estamos dispostos a lhe dar um pouco de dinheiro.

Note que a única pessoa auto-suficiente nessa história é o agricultor, e mesmo assim só aquele que cultiva para subsistência - e mesmo ele precisa trabalhar, ou você acha que a vida na roça é mole? Ironicamente é justo ele quem está na posição mais baixa na hierarquia econômica também... O Zerzan poderia sugerir que abandonássemos o luxo do nosso estilo de vida e fôssemos todos para o campo, como se isso fosse possível.

Bom, não é. O Camboja tentou fazer isso sob o Khmer Vermelho e o resultado foram milhões de mortes por fome. Não se pode esperar outra coisa, já que homem da cidade não tem conhecimento de técnicas agrícolas, se eu soltar um advogado em um terreno, cercar, e forçá-lo a viver daquilo, provavelmente ele vai morrer de fome. Se sobreviver, seu estilo de vida será o de um homem das cavernas, e não o de um pequeno agricultor. A humanidade levou milhares de anos para desenvolver a agricultura, não é algo que a gente nasce preparado para fazer. Poderíamos educar então uma geração inteira para isso? Bom, poderíamos. Mas mesmo assim ia faltar terra para todo mundo. O mundo só aguenta mal-e-mal seis bilhões de pessoas por causa da nossa agricultura altamente sofisticada, mecanizada e produtiva. tem tecnologia aí. Seis bilhões de pessoas praticando agricultura de subsistência, porém, não dá.

O segundo motivo porque o Zerzan é ingênuo é o seguinte: a humanidade já viveu nesse estilo de vida prosaico a que "gostaríamos" de retornar, foi no começo da revolução agrícola, que resolveu boa parte dos problemas da humanidade, que antes vivia da caça e da coleta. Um aumento considerável da produtividade deve ter ocorrido para o homem ter podido se tornar sedentário e vivido nas cidades. E uma boa quantidade de tempo livre deve ter sido produzida com isso, afinal, se nas cidades as pessoas têm tempo de trabalhar com outras coisas, como artesanato, maçonaria, administração pública e religião, por exemplo, é porque não é preciso que todo mundo trabalhe no campo, a revolução agrícola deve ter diminuído muito o custo em horas-homem para conseguir a mesma quantidade de comida que se conseguia com caça e coleta. Há um excedente de produção. Por que então as pessoas, em vez de inventar profissões novas específicas da vida nas cidades não se contentava em trabalhar exclusivamente no campo? Cada um trabalhando menos, por exemplo, em um dia trabalho eu, no outro trabalha o 4 Ton Mantis, no outro trabalha o Jus, no outro o Donatello... No final a gente dividia tudo e todo mundo descansava seis dias na semana. Já pensou que maravilha?

Mas por que os homens não se organizaram assim, preferiram inventar trabalhos para se manter ocupados a semana inteira em vez de ficarem entregues ao ócio? Não tenho uma resposta definitiva, mas o fato é que se o trabalho venceu o ócio, contra todas as nossas expectativas, deve haver uma boa razão. Não é por mero acaso que as pessoas rejeitam a inércia e se põem em atividade. Suponho que a razão para isso fosse o tédio. Imagina viver dez mil anos atrás, sem televisão, sem computador, sem internet, sem livros, e ainda por cima não ter nada para fazer!? Certeza que eles encheram o saco e foram atrás de alguma coisa. As pessoas eram livres e escolheram trabalhar. Certamente estavam atrás de algo para ocupar suas vidas e foram fazer algo que gostassem.

O grande problema com o trabalho então não é ele existir, a atividade é fundamental para as nossas vidas, resolver problemas, superar desafios, é algo que nos estimula e nos faz crescer. O problema com o trabalho é que existem trabalhos ruins. Certamente o Zerzan deve ter um desses. O que resolveria sua insatisfação não seria não trabalhar em absoluto, mas fazer algo de que goste.

Offline FxF

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #2 Online: 05 de Novembro de 2008, 01:03:59 »
Se não gosta de trabalhar, se acha que a sociedade não tem nada para oferecer, vai viver no mato. Com certeza alguns quilômetros adiante de onde moras já tem um matinho bem grande e bonito para viver.

Offline Herf

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #3 Online: 05 de Novembro de 2008, 01:10:44 »

Offline Galthaar

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #4 Online: 05 de Novembro de 2008, 02:03:44 »

Tudo culpa do sexo!

O tempo livre não é o produto da evolução humana, ele é apenas matéria-prima.



"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline JJ

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #5 Online: 05 de Novembro de 2008, 08:27:47 »
Texto publicado no blog República de Fiume

Boa parte de nossas vidas, de nossas tardes, de nossas manhãs e noites são roubadas pelo trabalho. E na maioria dos casos trabalhamos em lugares que não gostamos, fazendo coisas que não gostamos e tudo isso simplesmente para
comprar coisas que na realidade não precisamos. 



Ele não está totalmente errado, há realmente várias coisas que as pessoas compram que não são  realmente necessárias, e que muitas vezes não traz mais do que uma efêmera ilusão de felicidade.  Algo semelhante a uma criança que ganha um brinquedo novo  e pouco tempo depois já enjoa dele e passa a querer outo brinquedo.  Há muita coisa  que não passa de auto engano.


O acumulo de bens materiais até certo ponto é  aproximadamente proporcional ao aumento da felicidade.  A partir de certo ponto deixa de ser aproximadamente proporcional .



Outro questionamento que pode ser feito é sobre a duração da jornada de trabalho :


Por que 8 horas diárias  (mais uma hora  obrigatória para almoço) 4+1+4 , porque  não 6 , 5 ou mesmo  4 horas diárias  ?? 

Para muitas pessoas  que  precisam  trabalhar e também estudam,   9 horas diárias mais o tempo de deslocamento entre a casa e o local de trabalho  atrapalham e muito !

Para quem é mãe e tem filhos crianças ou adolescentes,  9 horas diárias ( fora o tempo de transporte) atrapalham e muito o acompanhamento  da educação e a relação com os  filhos  !






« Última modificação: 05 de Novembro de 2008, 12:34:44 por Helder »

Offline uiliníli

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #6 Online: 05 de Novembro de 2008, 22:57:00 »
Oito horas? Pfft... tem gente que trabalha 12 ou até mais. E o pior é que boa parte deles faz isso voluntariamente.

Offline FZapp

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #7 Online: 05 de Novembro de 2008, 23:29:16 »
Eu hoje trabalho , mas foi um looongo processo.

Eu faço o que gosto, embora gostaria de fazer outras coisas.

Não compro coisas inúteis.

O meu dia é curto para todo o que gostaria de fazer.

Estou comprando a minha casa, finalmente.

Trabalho desde os 17. Gosaria de ter trabalhado mais para mim do que para os outros, mas esse é um luxo que ainda não tenho.

O mister do panfletinho playboy acha que as coisas (tudo, de pontes até o que ele come) chega de graça.

Mereceria viver num barraco em Heliópolis uns dois meses, pagando aluguel, trampando o dia inteiro, chegando em casa e não conseguindo dormir porque quando não falta luz porque alguém puxo outro gato ou caiu mesmo, tem que apagar as luzes de casa.
--
Si hemos de salvar o no,
de esto naides nos responde;
derecho ande el sol se esconde
tierra adentro hay que tirar;
algun día hemos de llegar...
despues sabremos a dónde.

"Why do you necessarily have to be wrong just because a few million people think you are?" Frank Zappa

Offline FZapp

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Re: Contra o roubo da vida-contra o trabalho
« Resposta #8 Online: 05 de Novembro de 2008, 23:30:13 »
...ou deixar o filho dele na creche o dia inteiro... ou ficar sem geladeira uns 3 meses... ou ler aquele tópico 'ser pobre é...' e tentar cumprir dois itens por semana.
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