Tópico: Gramática: artigos, gênero e elipses

[SnowRaptor]

Mé dá coisa ouvir/ler da Google; da Mozilla.

[Andre]

Da Mozilla acho normal, mas da Google é bizarro mesmo.

[uiliníli]

A Microsoft, a Nintendo, a Sony, a LG, a Panasonic, a Volkswagen, a Fiat, a GM, a Ford, a Nestlé, a Coca-Cola, a Pepsi, a Basf, a Bosch, a Bayer, a Pfizer...
De multinacional conhecida no masculino eu só lembro do MacDonalds por enquanto.

Acho que é meio convenção chamar a empresa no feminino e o produto no masculino, por exemplo, 'a Nintendo' é a Big N, a Nintendo Company Ltd., já 'o Nintendo' é o seu antigo console de 8 bits. Igualmente 'a Google' seria a empresa, Google Inc., e 'o Google' é sua ferramenta de busca.

Mesmo assim há exceções: 'a Coca-Cola Company' fabrica 'a Coca-Cola'. É arbitrário.

[SnowRaptor]

É que no caso da Coca, é a bebida Coca-cola. Mas aí nos falamos do Guaraná. Afinal uma Guaraná é feio pra cacete!

[uiliníli]

Acho que o tipo do produto fica elipsado, por exemplo, se você quer uma cerveja você pede uma Brahma, uma Antarctica, uma Skol...

Uma das minhas discussões preferidas com meus colegas de faculdade é sobre como chamar algumas siglas. Por exemplo, eu tenho mania de falar o SIn. SIn é Secretaria de Informática, por isso todo mundo pega no meu pé dizendo que o certo é "a SIn". Beleza, mas eu retruco mencionando os AT. AT na UFSCar é o nome que damos para os prédios de salas de aula, temos do AT-1 até o AT-6. Acontece que a sigla AT vem de "Aulas Teóricas" e ninguém fala que vai ter aula "nas AT-4"... É que inconscientemente as pessoas querem dizer que vão ter aula "no (prédio de) AT-4".

Da mesma forma a pessoa geralmente pede uma Antárctica (cerveja) e um Kuat (guaraná). Ninguém pede um Antártica, porém, acho que para evitar confusão é "um Guaraná Antártica". E claro que há muitas excessões, apesar de Coca-Cola e Pepsi serem refrigerantes as pessoas pedem no feminino. Talvez passe pela cabeça delas "uma (garrafa de) Coca", "uma (lata de) Pepsi". Mas no fim das contas não tem muita lógica, é convenção.

[SnowRaptor]

Mas porque um Guaraná e nao uma guaraná, já que as pessoas normalmente pedem a bebida e não o fruto?

[uiliníli]

Mas no fim das contas não tem muita lógica, é convenção.

[SnowRaptor]

Acho que eu concordo mais quando vc diz que é arbitrário.

[uiliníli]

Eu sou a favor é de abolir o gênero no português! Já reparou quantas vezes você quer dizer uma coisa, mas não consegue encontrar o... o... o.... a palavra?

Repare que quase sempre é isso mesmo que acontece, você está falando rápido, meio sem pensar, então conforme as palavras vão se atropelando uma após a outrs chega um momento em que sua programação sintática cerebral recomenda usar um artigo, mas você não pensou ainda em qual palavra exatamente virá depois do artigo. Então você chuta qualquer um... geralmente isso não causa problema porque você consegue encontrar duas palavras com significados aproximados tanto no masculino quanto no feminino ou consegue substituir a palavra específica por uma mais geral, tipo 'coisa' ou 'negócio', mas nas situação em que você não pode fazer isso, aí você trava. Você chutou o artigo masculino e aí seu cérebro dá uma googlada na sua memória e vai atrás de todas as palavras que ele conhece no masculino em busca daquela que serve para o seu racicínio. Mas não encontra. Aí você procura de novo, passa um lapso, tem a impressão de que você esqueceu a palavra, mas subitamente lembra de procurar pela palavra na outra gaveta, a de palavras no feminino. Tarde demais, você já perdeu dois segundos preciosos da sua vida que nunca mais poderá recuperar. Já pensou as perdas de produtividade que isso implica por ano? Sim, porque tempo é dinheiro, multiplique dois segundos por dia de cada pessoa por 180 milhões de habitante e calcule quantos bilhões de dólares perdemos com isso? É por isso que os EUA são uma superpotência e nós somos isso aqui

[SnowRaptor]

Isso acho que isso é problema de BIOS, vou separar esse off-topic.

Tópico dividido.

Continuando: acho que se você se embanana com os gêneros, não quer dizer que o idioma tenha de ser reformado.

Eu, por exemplo, sinto falta de um gênero neutro.

[JUS EST ARS]

Mé dá coisa ouvir/ler da Google; da Mozilla.

da (ferramenta de busca/empresa) google - ok
do (mecanismo/site/buscador) google - ok

da (ferramenta de navegação) mozilla - ok
do (navegador) mozilla - ok

Não há motivos para você dar coisa nenhuma .

[SnowRaptor]

Não fui claro. Acho esquisito mesmo quando falam da companhia, apesar de saber que está gramaticalmente correto.

[Andre]

Eu postei no meio da criação do novo tópico, então o outro post ficou perdido no outro tópico. Aqui está:

Minha hipótese é que usamos desinências do português na tentativa de estabelecer o gênero de uma palavra estrangeira. Uma coca-cola, que acabou virando uma coca, assim como uma pepsi-col[a], que acabou virando uma pepsi.

Isso justifica "a Mozilla" não soar estranho aos meus ouvidos, mas o problema acaba virando como explicar "o guaraná".

[JUS EST ARS]

O refrigerante guaraná?

[SnowRaptor]

É. O refrigerante guaraná tudo bem, mas experimenta contar quantos olhaes tortos vc leva se falar o Coca cola

[JUS EST ARS]

Ôpa amigão, me vê aí um refrigerante coca-cola?

[Donatello]

Mas no fim das contas não tem muita lógica, é convenção.

Acho que eu concordo mais quando vc diz que é arbitrário.

Ambos, é arbitrário e é convencional: é simbólico.

Arbitrário porque alguém teve que inventar que era assim para ser assim, convencional porque tantos outros tiveram que concordar que fosse de tal jeito.

Talvez, por hipótese, algum comercial antigo da Antarctica, quem sabe o primeiro, anunciasse : "Beba o novo guaraná Antarctica" (arbitrário, porque o uso do masculino dependeu exclusivamente do produtor da propaganda) e aí todo mundo começou a pedir como o comercial anunciava : "Senhor, por obséquio, pode ter a gentileza de me servir um guaraná Antarctica?" (convencional, porque o uso dependeu da aceitação popular da forma inventada pelo autor da propaganda).

Já as hipóteses do uiliníli para o uso de alguns artigos me parecem corretíssimas, a regra é mesmo elipsar o termo que usualmente definiria o produto. Então, se um comercial disser "Beba o Ximboq" e outro "Beba a Ximboq", admitindo-se que Ximboq é uma nova marca de cachaça, a tendência é que o segundo uso seja mais aceito. Mas não é regra absoluta, pode ser quebrada por este ou aquele motivo ou até sem motivo aparente...

E que chato também! Deixa a pobre coitada da língua viver em paz

[SnowRaptor]

Ôpa amigão, me vê aí um refrigerante coca-cola?

Isso. Agora faz uma elipse em "refrigerante":

Ôpa, amigão, me vê aí um Coca Cola?

[FxF]

Pá migo veí uma Coca