Penso, logo existo. (Reformulando as elucubrações).
E se o penso, este que permite a existência cartesiana, for um engano, uma invenção de nossos sentidos e dessas palavras nossas que desenham este mundo de sentidos?
Estaria Descartes preso à ilusão da existência?
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Saber alguma coisa sobre alguma coisa é saber realmente alguma coisa? E no que consiste este realmente, que figura poderosa seria esta, investida de caráter tão absoluto, cuja existência concede ao outro, àquilo a quem se compara, a pecha de mentiroso e falso?
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Uma possibilidade de se saber alguma coisa é tê-la ao alcance dos nossos sentidos e no que disto nossa consciência conseguir discernir e ainda na memória for possível imprimir, impregnar, e nas palavras também, no que elas, ainda pela consciência, conseguirem capturar, moldar e projetar. O azul por exemplo, que me ocorre no papel quando o escrevo e me aparece mesmo de olhos fechados, quando me lembro dum céu num determinado dia azul. Existe no mundo abstrato, aquele da métrica improvável, caso do amor e da raiva, experiências sentimentais que a despeito de toda a estrutura biológica que as cria e impulsiona, não ocorrem em alguém apenas pela sua mera descrição, somente podemos saber deles (outro saber) quando em nossas lembranças, por um motivo qualquer, ambos ocorreram. Por estranha oposição, ainda no mundo abstrato, existe o lugar da mera métrica, coisa dos números, das quantidades, do infinito e finito, que mede, compara e alcança suas próprias definições e constrói um mundo seu de razões e equações; uma outra forma de conhecimento e saber.
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Estando uma figurinha num auto-engano, numa alucinação, seu caso estremo, quando na penumbra da percepção do mundo, um lugar distante qualquer erigido por seus sentidos, e mesmo num mais ameno, caso conversando com Deus, o Diabo ou quem for, sua simples capacidade de pensamento e apenas por elas mesma, sem interferência ou auxílio, ninguém que lhe indique algo diferente que seja, uma outra possibilidade de conhecimento e percepção, não me parece muito provável ela conseguir desfazer essa mentira por espontâneo e laborioso exercício do pensamento. Lógica e raciocínio exigem comparações, quando todas as que são de seu alcance são parte de seu auto engano, não vejo por onde alguém conceber diferente de auto engano; seria como: mentira + mentira = verdade; eu não conheço muito da Lógica, mas me parece esta uma solução não plausível.
Quando alguém aparece com a proposta de desfazer a ilusão, como um ateu se achegando a um crente, aí vai verbo, aí sim existe uma possibilidade de desfazer a ilusão.
(Aguardo correções, de todos os tipos).