Perto da velocidade máximaAgência FAPESP – Este foi um ano inesquecível para os fãs do esporte, especialmente em agosto, nos Jogos Olímpicos de Pequim, quando o mundo viu recordes despencarem como se as marcas anteriores fossem de brincadeira.
Michael Phelps, dos Estados Unidos, foi o grande vencedor em número de medalhas de ouro (oito), mas ninguém assombrou mais do que o jamaicano Usain Bolt, que pareceu ser capaz de ganhar os 100 metros rasos, a prova mais nobre do esporte olímpico, com os olhos vendados ou em uma perna só, tamanha a facilidade. Para completar, bateu o recorde dos 200 metros, que perdurava há 12 anos.
Com atletas correndo cada vez mais rápido, a grande questão do esporte é quais são os limites para o ser humano. Mark Denny, que coordena o Laboratório de Biomecânica que leva seu nome na Universidade Stanford, decidiu verificar se há limites absolutos para a velocidade humana e, se tais valores existirem, o quão próximo eles estão.
O cientista comparou as performances do homem com duas espécies de velocidade notória, cães e cavalos de corrida. Os resultados da pesquisa estão na edição de 28 de novembro do
The Journal of Experimental Biology.
Denny encontrou dados de velocidade de cães de corrida desde a década de 1920 e desde o século 19 para cavalos e humanos. A primeira conclusão foi que, das três, duas espécies aparentemente chegaram no limite.
Desde a década de 1970, os tempos dos cães têm se mantido estáveis. No caso dos cavalos, a velocidade não aumentou para o Kentucky Derby desde a década de 1940 e para outras duas das principais provas do hipismo norte-americano desde os anos 1970.
O aumento nas populações de cães e cavalos de raça criados para corrida não resultou na melhoria da velocidade. “Entretanto, o acaso pode fazer com que surja um animal mais rápido”, disse Denny. Mesmo assim, ele estima que o aumento máximo na velocidade até 2012 seria de 1%, chegando a um pouco mais de 61 km/h.
Para os humanos, os resultados são mais complexos por conta dos diferentes tipos de provas olímpicas de corrida, dos 100 metros à maratona. Entretanto, ao analisar os resultados desde os primeiros Jogos da era moderna, fica claro que o homem ainda não atingiu seu limite em nenhuma das distâncias envolvidas.
Mas o limite para os 100 metros rasos pode não estar tão distante. Denny estima que o homem poderá vencer a distância em até 9s48, ou seja, correr 0s21 mais rápido do que o atual recorde mundial de 9s69, de Usain Bolt.
Estudos anteriores calcularam que, caso Bolt não tivesse “tirado o pé do acelerador” nos últimos 15 metros em Pequim, quando abriu os braços e passou a comemorar o ouro, o jamaicano poderia ter completado os 100 metros em 9s55 ou até menos. Ou seja, se há alguém que poderá chegar ao limite previsto por Denny, esse alguém é o atual homem mais rápido do mundo.
No caso das velocistas mulheres, os números não têm caído tanto como para os homens, mas o cientista calcula que elas poderão correr os 100 metros em 10s19 – o recorde atual, de 10s49, é da norte-americana Florence Griffith-Joyner, que já dura 20 anos.
Na maratona, o professor de Stanford calcula que o recorde mundial –batido pelo etíope Haile Gebrselassie em 28 de setembro, em Berlim, com o tempo de 2h03min59 – deva cair entre 2min7 e 4min23 até o limite humano.
Para as maratonistas, o pesquisador estima que o limite esteja mais próximo. Segundo ele, a maratona feminina poderá ser a primeira prova de corrida em que o limite será atingido. Denny estima que o máximo que se chegará é o tempo de 2h12min41. O recorde atual é da inglesa Paula Radcliffe, com 2h15min25, batido em 2003.
O artigo
Limits to running speed in dogs, horses and humans, de Mark Denny, pode ser lido por assinantes do
The Journal of Experimental Biology em
http://jeb.biologists.org.
http://www.agencia.fapesp.br/materia/9791/divulgacao-cientifica/perto-da-velocidade-maxima.htm