Tópico: Adjetivos

[Skorpios]

Não sei se seria essa a área para postar isso, mas achei interessante a colocação do autor e concordo com a mesma. Gostaria de saber o que vocês pensam.

Adjetivos

Comentando a matéria da Revista Veja sobre as cheias em Santa Catarina, um amigo reclamou que os paulistas só olham para o Sul em caso de tragédia.

– Ainda bem – respondi. – Pelo menos parecem interessados em ajudar.

E continuei explicando que não foi exatamente a rapina jornalística que me chamou atenção no semanário mais lido do país. Apesar dos erros ocasionados pelo pouco conhecimento do Vale, até que a matéria me atingiu com sinceridade, complacência e – por que não dizer? – bajulação. Nas páginas de uma revista que foi lida em Salvador, Fortaleza e Manaus, confirmei que vivemos na “próspera Santa Catarina”, que a “Blumenau dos laboriosos imigrantes alemães” vai se recuperar e que, quando as águas baixarem de vez, “os catarinenses precisarão secar as lágrimas para reconstruir sua linda terra”. Viva Max Weber!

Em se tratando de páginas jornalísticas, temos uma verdadeira inundação de adjetivos. É por isso que os manuais recomendam moderação no uso dessa perniciosa classe gramatical: não duvidem, ela é capaz de revelar os preconceitos e a ideologia que se infiltram nas entrelinhas de todo e qualquer texto que se pretenda imparcial. Com meus próprios adjetivos e minha própria parcialidade, estou há mais de um ano lembrando que não somos diferentes do resto do Brasil. Ou melhor, até somos em certos aspectos, mas isso não se deve ao fato de que “esta terra Vossa” foi colonizada por alemães.

Isso é racismo primário, e insistir nessa bobagem só nos trará dor de cabeça e aberrações como o “Sul é meu país”, movimento separatista xenófobo e nada sensato com a realidade regional. O problema - pois é! - o problema é que a ideologia do Sul Branco e Promissor não é só nossa, mas de todo o país. Somados ao que os apresentadores de TV repetiram nos últimos dias, os adjetivos da Veja comprovam essa verdade.

Se somos prósperos, se somos laboriosos e se nossa terra é linda, nada disso surgiu pelo milagre dos olhos azuis. O simples fato de que a colonização local se deu com base no minifúndio – e não nas capitanias hereditárias do século 16 – foi decisivo para que criássemos condições de vida menos duras do que, por exemplo, nossos primos do Nordeste. Ademais, também matamos nossos índios, também afiamos nossos machados e também fizemos nossas queimadas.

E aí estão as tragédias, as que passaram, a que hoje enfrentamos e as que ainda virão pela frente. Trarão humildade para nossas vidas? Acho que não. Enquanto a Veja não cortar os adjetivos, dificilmente desceremos do salto.

http://www.clicrbs.com.br/jornais/jsc/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&edition=11220&template=&start=1&section=Colunas+e+Charges&source=a2314865.xml&channel=31&id=0&titanterior=&content=&menu=58&themeid=&sectionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=

[Nina]

Interessante... mas é como vejo a coisa mesmo. Pra muitos que são do sul é muito difícil gostar de outra região do Brasil, ou reconhecer igualdade.

Bizzarro é saber que os outros também nos consideram diferentes...

[Renato T]

Acho que, por mais que pareça "internacionalismo" dizer isso, o mesmo se aplica a argentina, uruguai, chile e etc, em relação à venezuela, bolívia e colombia..

[Südenbauer]

Pior que se essa catástrofe fosse no nordeste todo mundo ia achar só uma pena (eu inclusive). Mas como ocorreu com cidades bonitinhas, pessoas bonitinhas e riquinhas fica todo mundo com peninha.

Eu pessoalmente fiquei muito emocionado por conhecer a cidade e a riqueza que as pessoa de lá possuem. Me identifico bastante com a colônia onde me criei. Se fosse, sei lá, em Alagoas, eu apenas olharia para a TV e diria algum comentário malicioso: "Olha, mais uma tragédia para os nordestinos, grande novidade..."

[Herf]

É bem verdade que a forma como se deu a colonização em ambos os lugares foi fundamental na determinação do diferente sucesso das duas regiões. Mas eu não descarto o papel importante da cultura dos imigrantes europeus no sucesso local.

[Nina]

É bem verdade que a forma como se deu a colonização em ambos os lugares foi fundamental na determinação do diferente sucesso das duas regiões. Mas eu não descarto o papel importante da cultura dos imigrantes europeus no sucesso local.

O nordeste também foi colonizado por europeus. Holandezes, franceses e portugueses, principalmente.

Só que no sul o imigrante é o alemão, italiano, ucraíno, etc...

ps.: edit: grafia.

[Renato T]

É bem verdade que a forma como se deu a colonização em ambos os lugares foi fundamental na determinação do diferente sucesso das duas regiões. Mas eu não descarto o papel importante da cultura dos imigrantes europeus no sucesso local.

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[Dbohr]

Não acho que a cultura do imigrante seja tão determinante assim. Meu palpite é que teve a ver com o modelo de ocupação, mesmo - especialmente se levarmos em conta a herança das capitanias hereditárias.

[Nina]

Não sei Dbohr... acho que a cultura influencia sim.

[Dbohr]

Influencia, sem dúvida. Só não acho que seja mais importante que certos fatores políticos globais (para não falar da geografia). Em Pernambuco, por exemplo, ainda se encontra muita influência holandesa.

[Dodo]

Cultura, clima, geografia da região, extensão territorial, etc.
Tudo isso influenciou na densidade demográfica, taxa de natalidade, grau de instrução, atividades econômicas que foram desenvolvidas, migração, etc.

Houve épocas em que cada um dos fatores apresentou maior ou menor relevância de acordo com o contexto histórico.

É assunto para umas 3.690.989 páginas de discussão.

Para completar, quando aqui neva, surgem as inevitáveis reportagens:

"A neve trouxe um ar europeu para algumas regiões do sul. Os turistas se divertiram muito."

[uiliníli]

Influencia, sem dúvida. Só não acho que seja mais importante que certos fatores políticos globais (para não falar da geografia). Em Pernambuco, por exemplo, ainda se encontra muita influência holandesa.

Acho que não tanta quanto no Sul. Ao contrário do que acontece de São Paulo para baixo, sobrenomes estrangeiros são pouquíssimo comuns no Nordeste. Você pode citar algum pernambucano famoso com sobrenome tipicamente holandês, por exemplo? Eu não conheço nenhum.  Eu estudei na Bahia e agora estudo em São Paulo e as listas de chamada são radicalmente diferentes! Lá em uma sala de quarenta podia-se esperar no máximo uns três ou quatro sobrenomes estrangeiros (desconsiderando os sobrenomes portugueses, claro, e os espanhóis, que são bem comuns na Bahia). Aqui em São Paulo, se não tem nome gringo é porque ou a pessoa é de Minas ou Goiás ou é porque é negra.

É claro que o Nordeste também foi colonizado por europeus, ninguém com o mínimo de conhecimento da história do Brasil discutiria isso. Agora eu concordo com essa interpretação de que o que fez a diferença no destino da região Nordeste e da região Sul foi a estrutura econômica. O Nordeste era uma região exportadora de açúcar, mesmo após a crise da economia na região pela queda nos preços do produto a economia da região não se diversificou e continuou baseada em latifúndios emregando mão-de-obra escrava. O Sul, por outro lado, nunca foi uma região exportadora, em vez disso produzia para consumo da própria colônia, o que favorceu uma agropecuária mais diversificada e baseada em propriedades menores. Enquanto no Nordeste as terras, e conseqüentemente a riqueza, estavam mais concentradas, no Sul a distribuição de renda era melhor e quando o Brasil se industrializou finalmente a região Sul já tinha uma classe média com poder aquisitivo, o que favoreceu ainda mais a sua economia.

[Nina]

Influencia, sem dúvida. Só não acho que seja mais importante que certos fatores políticos globais (para não falar da geografia). Em Pernambuco, por exemplo, ainda se encontra muita influência holandesa.

Acho que não tanta quanto no Sul. Ao contrário do que acontece de São Paulo para baixo, sobrenomes estrangeiros são pouquíssimo comuns no Nordeste. Você pode citar algum pernambucano famoso com sobrenome tipicamente holandês, por exemplo? Eu não conheço nenhum.  Eu estudei na Bahia e agora estudo em São Paulo e as listas de chamada são radicalmente diferentes! Lá em uma sala de quarenta podia-se esperar no máximo uns três ou quatro sobrenomes estrangeiros (desconsiderando os sobrenomes portugueses, claro, e os espanhóis, que são bem comuns na Bahia). Aqui em São Paulo, se não tem nome gringo é porque ou a pessoa é de Minas ou Goiás ou é porque é negra.

É claro que o Nordeste também foi colonizado por europeus, ninguém com o mínimo de conhecimento da história do Brasil discutiria isso. Agora eu concordo com essa interpretação de que o que fez a diferença no destino da região Nordeste e da região Sul foi a estrutura econômica. O Nordeste era uma região exportadora de açúcar, mesmo após a crise da economia na região pela queda nos preços do produto a economia da região não se diversificou e continuou baseada em latifúndios emregando mão-de-obra escrava. O Sul, por outro lado, nunca foi uma região exportadora, em vez disso produzia para consumo da própria colônia, o que favorceu uma agropecuária mais diversificada e baseada em propriedades menores. Enquanto no Nordeste as terras, e conseqüentemente a riqueza, estavam mais concentradas, no Sul a distribuição de renda era melhor e quando o Brasil se industrializou finalmente a região Sul já tinha uma classe média com poder aquisitivo, o que favoreceu ainda mais a sua economia.

Perfeito!

ps.: ainda tô brava contigo. Vai ter que passar em Minas antes de ir pra Bahia! Pode incluir o triângulo mineiro no trajeto!

[uiliníli]

O triângulo mineiro nem é tão longe de São Carlos na verdade... Em que cidade mesmo que você e o Rubens estão morando?

[Nina]

Na megalópole Rio Paranaíba...

[uiliníli]

Vocês estão literalmente perdidos

[JJ]

Adjetivos

Comentando a matéria da Revista Veja sobre as cheias em Santa Catarina, um amigo reclamou que os paulistas só olham para o Sul em caso de tragédia.

– Ainda bem – respondi. – Pelo menos parecem interessados em ajudar.

E continuei explicando que não foi exatamente a rapina jornalística que me chamou atenção no semanário mais lido do país. Apesar dos erros ocasionados pelo pouco conhecimento do Vale, até que a matéria me atingiu com sinceridade, complacência e – por que não dizer? – bajulação.

Os jornalistas da veja são muito bons em bajular , quando querem ! 

E também são muito bons em detratarem, quando querem.

Nas páginas de uma revista que foi lida em Salvador, Fortaleza e Manaus, confirmei que vivemos na “próspera Santa Catarina”, que a “Blumenau dos laboriosos imigrantes alemães” vai se recuperar e que, quando as águas baixarem de vez, “os catarinenses precisarão secar as lágrimas para reconstruir sua linda terra”. Viva Max Weber!

Em se tratando de páginas jornalísticas, temos uma verdadeira inundação de adjetivos.
 É por isso que os manuais recomendam moderação no uso dessa perniciosa classe gramatical: não duvidem, ela é capaz de revelar os preconceitos e a ideologia que se infiltram nas entrelinhas de todo e qualquer texto que se pretenda imparcial. 

Bota adjetivo e ideologia nisso !  É uma especialidade da veja  !

A veja tem algumas reportagens boas, mas é sempre recheada de ideologia.


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[Skorpios]

Não sei se cabe aqui, mas vamos lá.
Estive conversando com gente que trabalhou como voluntários nos abrigos do município e os mesmos estão revoltados. Está certo que o pessoal qu está abrigado lá perdeu tudo, mas se eu estou nessa situação, o mínimo que posso fazer é entar ajudar, se mais não seja, a manter o abrigo limpo, ajudar na limpeza da cidade, enfim ajudar de algum modo . Fazem?
Nada. Ficam não fazendo nada, reclamando da comida (melhor que o de muito trabalhador) reclamendo que não tem refrigerante, reclamando da qualidade das roupas e cobertores recebidos etc.
Ô povinho.

[Skorpios]

Tem um senhor que tem uma casa boa e onde prgou água. No entanto ele não perdeu nada, conseguiu salvar tudo. Fui levar meu carro para lavar e o mesmo senhor chegou lá contando, todo contente que tinha se cadastrado e que estava chegando uma Kombi carregada de mantimentos, roupas e cobertores para ele .
Ô gentinha.

[Skorpios]

Na Caixa Econômica Federal chega gente todo o dia dizendo que o Lula disse que era só chegar na Caixa para pegar o dinheiro. Dizem que perderam a casa, que a mesm valia 200 , 300 ou 400 mil e que querem o dinheiro . Normalmente gente que tinha um barraco no morro em área de invasão, ou não tinha nada.
Mas esses são os espertos ingênuos . São os malandros grandes que vão acabar ficando com a grana. SE a mesma chegar. O que eu pessolamente não acredito.

[Skorpios]

O trânsito aqui está muito complicado pois a topografia de Blumenau não ajuda e ainda há perto de 300 ruas bloqueadas. Tem gente se aproveitando que não há movimento nessas ruas e que o pessoal vai trabalhar par roubar as residências . Não há policiais sujficientes para patrulhar tudo, decentemente. Toda essa conversa para servir de introdução á histórinha a seguir:
Ontem sexta feira dois amigos meus presenciaram isso.
Um motociclista vinha descendo o morro onde moro, em velocidade normal (é um milagre, mas acontece) . Na esquina da rua, ao sopé do morro, tem uma loja de videogames. Quando o motociclista fez a curva, a filha do dono da loja saiu correndo e correu na frente da moto. O rapaz tentou desviar e só raspou a menina, derrubando-a. Caiu no processo e se machucou bastante .
O pai da menina, vendo o que aconteceu, nem se preocupou com a mesma, mas partiu para cima do rapaz aos socos e pontapés . A polícia militar foi chamada . Como o dono da loja e pai da menina é policial militar , em 10 minutos tinha 3 viaturas cercando o motoqueiro. O coitado além de estar todo ralado do tombo e ter apanhado do pai da criança, apanhou ainda mais dos heróis das viaturas. Claro que nenhum deles poderia deixar de dar sua contribuição para demonstra seu corporativismo.
Mas se um cidadão que não seja policial precisa deles, não há viatura disponível.
Estou indignado. Pelo menos meus amigos aconselharam o rapaz a fazer um BO, fazer o exame de corpo de delito e ingressar com uma representação na Corregedoria da Policia Militar . Por isso já foram avisados pelos policiais das viaturas que os mesmos vão "ficar de olho nos dois".
Isso é a loira Blumenau, a Europa brasileira, das pessoas honestas e educadas....

[Dbohr]

Putz.

É verdade mesmo o que dizem. A verdadeira tragédia vem depois que as águas baixam. Eu sinto muitíssimo por SC...

[Zeichner]

Sou de Santa Catarina, posso dizer qual é a visão nossa.
A imigração européia foi muito importante para o nosso estado, baseado na pequena propriedade privada.
Isso tem origem na europa, onde as propriedades era das famílias que possuiam as terras, e dos arrendatários, que trabalhavam nelas. Umberto Eco mostra muito bem isso, porque muitas vezes as duas famílias, o do dono e do arrendatário, moravam a gerações na mesma propriedade, um se sentindo explorado pelos outros. Então, quando foi oferecido a estas famílias terem sua própria propriedade de terras aqui na américa, vieram em grande número desbravar estas terras que eram na sua maioria devolutas, numa tentativa de garantir as posses de uma área em litígio com a Argentina. Santa Catarina era pouco colonizada até o final do século XIX.
Mas estas terras foram todas compradas pelas famílias. Ninguém ganhou seu pedaço de chão do governo. Não se distribuíram terras pra quem fez acampamento na beira da estrada, simplesmente compraram, e tiveram que trabalhar duro para pagar as propriedades e viver com dignidade aqui. nada veio de mão beijada, nada veio de graça, ninguém ficou se dizendo vítima da sociedade ou da sociedade capitalista... Trabalharam, educaram ( as primeiras construções dos alemães numa vila de colonização era a escola, dos italiano era a igreja e depois a escola ) e, se hoje, existe uma desgraça, simplesmente arregaçam as mangas e limpam, reconstroem. Ninguém quer a pena do Brasil, mas se quiserem ajudar, se agradece muito.