Nada queriam desta vida. Por isto a propriedade tornou se lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: a apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a "companhia". Os recém vindos entregavam ao Conselheiro noventa e nove por cento do que traziam, incluindo os santos destinados ao santuário comum. Reputavam se felizes com a migalha restante. Bastava lhes de sobra. O profeta ensinara lhes a temer o pecado mortal do bem estar mais breve. Voluntários da miséria e da dor, eram venturosos na medida das provações sofridas. Viam se bem, vendo se em andrajos. Este desprendimento levado às últimas conseqüências chegava a despi-los das belas qualidades morais, longamente apuradas na existência patriarcal dos sertões. Para Antônio Conselheiro — e neste ponto ele ainda copia velhos modelos históricos — a virtude era como que o reflexo superior da vaidade. Uma quase impiedade. A tentativa de enobrecer a existência na terra implicava de certo modo a indiferença pela felicidade sobrenatural iminente, o olvido do além maravilhoso anelado.
Nada como boa literatura.
A primeira tentativa de teocracia no País deveria servir de exemplo!