Autor Tópico: Michael Crichton: consenso perigoso  (Lida 860 vezes)

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Offline 4 Ton Mantis

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Michael Crichton: consenso perigoso
« Online: 10 de Dezembro de 2008, 19:18:32 »
“Quero fazer uma pausa aqui e falar sobre essa noção de consenso, e a origem do que tem sido chamado de ciência consensual. Eu considero a ciência consensual como um desenvolvimento extremamente pernicioso que deve ser parado imediatamente no seu curso. Historicamente, a afirmação de consenso tem sido o refúgio de canalhas; é um modo de se evitar o debate afirmando que a questão já foi resolvida. Sempre que você ouvir que o consenso dos cientistas concorda em alguma coisa ou outra, procure a sua carteira, porque você está sendo roubado.

“Sejamos claros: o trabalho da ciência não tem nada a ver com consenso. O consenso é assunto da política. A ciência, pelo contrário, requer apenas um pesquisador que por acaso está certo, o que significa dizer que ele ou ela tem os resultados que são verificáveis pela referência ao mundo real. Em ciência, o consenso é irrelevante. O que é relevante são os resultados reproduzíveis. Os maiores cientistas na história são grandes exatamente porque eles romperam com o consenso. Não existe essa coisa de ciência consensual. Se for consensual, não é ciência. Se for ciência, não é consensual. Ponto final...

“Repare onde a afirmação de consenso é invocada. O consenso somente é invocado em situações onde a ciência não é suficientemente sólida. Ninguém diz que o consenso dos cientistas concorda que E=mc2. Ninguém diz que o consenso é de que o Sol está a 93 milhões de milhas de distância. Jamais passou pela cabeça de alguém falar assim.”

(Michael Crichton, “Aliens Cause Global Warming”, reimpresso no Wall Street Journal, de 7 de novembro de 2008)
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Offline Luiz Souto

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #1 Online: 10 de Dezembro de 2008, 22:31:54 »
Acho que há um erro importante em como ele trata a questão do consenso.
O consenso não se dá na produção do conhecimento mas na avaliação do conhecimento já obtido.
Dizer que ao tomarem uma posição consensual sobre uma questão os cientistas estão fechando uma questão e que ela está resolvida é confundir as duas acepções em que se pode usar o termo "consenso" e usá-las de forma indevida em relação à investigação científica.
Quando um dado científico está estabelecido ( como a distância entre Sol e a Terra) não se diz que há um consenso sobre isto por que já está subentendido que não há divergências entre os especialistas no assunto : temos aí o consenso na sua acepção mais banal , a de equivalente ao senso comum de um grupo.
Mas ao dizer que um painel de especialistas elaborou um consenso sobre determinado assunto o termo está sendo usado em uma acepção mais estrita: a exposição dos dados sobre um assunto em que há concordância geral , assunto este que ainda está em processo de elucidação mas cujas implicações ( econômicas , políticas , sociais...) exigem que uma posição seja tomada , ainda que sujeita a correções posteriores.

Em medicina usamos bastante o consenso de especialistas nas diretrizes ( guidelines) nos tópicos em que não há estudos suficientes para que se tenha um nível de evidência maior ;  o consenso é considerado a evidência mais fraca para apoiar uma conduta , mas é a única disponível no estado atual do conhecimento.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Offline FxF

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #2 Online: 10 de Dezembro de 2008, 22:48:59 »
Luiz, a questão é que a ciência não é uma enquete de democracia, ciência não equivale a opinião dos cientistas, seja na produção de evidência os análise das mesmas.

Offline Luiz Souto

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #3 Online: 10 de Dezembro de 2008, 23:00:32 »
Ninguém está dizendo que um consenso faz a ciência ser uma enquete.
Elabora-se um consenso , no sentido em que se faz um consenso sobre o aquecimento global ou sobre infarto do miocárdio, quando já há dados mínimos para se ter uma posição prática sobre o assunto.
O assunto objeto do consenso não é uma questão puramente acadêmica mas exige a tomada ( ou não ) de medidas ; é a importância prática que justifica que se elabore uma proposição dando conta dos achados estabelecidos até o momento de forma a embasar a prática.
Todo consenso de experts é provisório, sujeito a revisões regulares e delimita os pontos já estabelecidos e os ainda incertos
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline FxF

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #4 Online: 10 de Dezembro de 2008, 23:39:12 »
Bom, tomar medidas não é ciência, é política. :hihi:

Offline uiliníli

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #5 Online: 11 de Dezembro de 2008, 00:21:28 »
Acho que o Crichton está criticando a mídia, que dá a entender que o aquecimento global é realidade porque supostamente há um consenso entre os cientistas sobre isso, em vez de porque há sólidas provas em seu favor.

Offline Dr. Jekyll

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #6 Online: 11 de Dezembro de 2008, 14:02:27 »
Sem mitos galera, consenso assim como Common sense (inglês) é apenas para identificar o senso comum é um senso comum, até porque é notável que o planeta passa por problemas ambientais, logo todos nós temos o consenso de que isso está acontecendo, entretanto concordo quando tenta se colocar o consenso como uma resposta estabelecida para o momento, pois se essa resposta consensual permanece por alguma tempo a mais que o normal corre o risco de ser mantida como uma crença inabalável, ou como se fosse um pilar e nós sabemos que não é assim, entretanto o em ciência não existem consensos, existem apenas teorias que defem permanecer pela força de sua própria lógica e capacidade de explicação daquilo que se propõe ou então será abandonada, logo consenso é uma palavra que não faz parte do bojo científico, nem mesmo a evolução é um consenso ela é um fato científico.

Cordialmente, Dr. Jekyll.
"Não sei se Deus existe. Mas seria melhor para sua reputação que não existisse." Jules Renard.

Offline JJ

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #7 Online: 13 de Dezembro de 2008, 20:13:04 »
Luiz, a questão é que a ciência não é uma enquete de democracia, ciência não equivale a opinião dos cientistas, seja na produção de evidência os análise das mesmas.



Poucos fenômenos "saltam as vistas", e mesmo os que o fazem,  normalmente tem uma interpretação que não "salta as vistas". A maioria das teorias, que explicam  os fenômenos observáveis, requer preparo especializado para serem entendidas e verificadas/testadas e/ou usadas em alguma prática profissional e/ou de pesquisa.  E é aí que entra o consenso entre os especialistas. 


Teorias são debatidas pelos especialistas até que sejam aceitas pela maioria e se tornem o modelo dominante.
Teorias não se impõem da noite para o dia a partir de apenas  observações e experiências. Existe a interpretação,
a análise e o julgamento dos especialistas e o debate entre eles .

A idéia de que apenas alguma experiência ou observação seja suficiente para  que uma teoria seja aceita, não condiz com a história  da ciência.   É uma idéia  bastante ingênua.  Mas que é freqüentemente apresentada em resumos de alguma história de descoberta cientifíca, em livros de EM.




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« Última modificação: 13 de Dezembro de 2008, 20:33:18 por Helder »

Offline Gigaview

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #8 Online: 14 de Dezembro de 2008, 13:23:11 »
E a estatística? Não é uma ferramenta de concenso?
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #9 Online: 14 de Dezembro de 2008, 14:03:35 »
Acho que o Crichton está criticando a mídia, que dá a entender que o aquecimento global é realidade porque supostamente há um consenso entre os cientistas sobre isso, em vez de porque há sólidas provas em seu favor.

O Crichton era "anti" aquecimento global (ou talvez só antropogênico). Acho que ele está defendendo que há um tipo de "conspiração" científica, e que os defensores de que não ocorre nada demais são como os bravos defensores da verdade que, contra tudo e todos, contra o que parecia estabelecido, derrubaram paradigmas obsoletos, mantidos apenas por comodismo e auto-confirmação nos círculos acadêmicos. Galileus, Copérnicos, e Darwins dos dias de hoje.

Offline Luis Dantas

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #10 Online: 14 de Dezembro de 2008, 18:12:18 »
E a estatística? Não é uma ferramenta de consenso?

Não.  Estatísticas são por demais fáceis de empregar mal. 

Os institutos de estatística mais conceituados não vendem tanto os métodos e análises em si quanto a credibilidade que emprestam aos mesmos ao escolhê-los e apresentá-los.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline FxF

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Re: Michael Crichton: consenso perigoso
« Resposta #11 Online: 14 de Dezembro de 2008, 21:02:52 »
Luiz, a questão é que a ciência não é uma enquete de democracia, ciência não equivale a opinião dos cientistas, seja na produção de evidência os análise das mesmas.
Poucos fenômenos "saltam as vistas", e mesmo os que o fazem,  normalmente tem uma interpretação que não "salta as vistas". A maioria das teorias, que explicam  os fenômenos observáveis, requer preparo especializado para serem entendidas e verificadas/testadas e/ou usadas em alguma prática profissional e/ou de pesquisa.  E é aí que entra o consenso entre os especialistas. 

Teorias são debatidas pelos especialistas até que sejam aceitas pela maioria e se tornem o modelo dominante.
Teorias não se impõem da noite para o dia a partir de apenas  observações e experiências. Existe a interpretação,
a análise e o julgamento dos especialistas e o debate entre eles .

A idéia de que apenas alguma experiência ou observação seja suficiente para  que uma teoria seja aceita, não condiz com a história  da ciência.   É uma idéia  bastante ingênua.  Mas que é freqüentemente apresentada em resumos de alguma história de descoberta cientifíca, em livros de EM.
Mas isso é só política... acho que o autor do texto até que exagera ao dizer que o consenso só é citado quando alguém quer dinheiro... mas acho que a idéia ainda tem validade, mais ou menos como aquela propaganda "a escova de dente mais usada entre os dentistas"...

 

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