Um artigo ridículo de um padre que finge que leu 'Deus um Delírio' de um tal de Hawkins (sic) para criticar José Saramago.Padre Prata - 06/12/2008Ser ateu virou modaO jornal Folha de São Paulo de sábado trouxe uma entrevista com o romancista português Saramago. Depois de afirmar que era um “comunista hormonal”, entrou no assunto que está na moda, o ateísmo. Afirmou solenemente que Deus não existe. Não apresentou provas, apenas declarou que Deus é invenção humana, produto de mentes fracas e fantasiosas. Naturalmente ele se crê superior aos que crêem em Deus, pois ele, Saramago, é um homem maduro, equilibrado, bem pensante, que não se deixa mais influenciar por fábulas e crendices. Parabéns!
Compreendo que alguém não possa crer em Deus. Somos livres para crer ou não crer. Agora, uma coisa é não crer, outra é afirmar que ele não existe. Saramago não faz esta distinção tão primária. Vê-se que ele se julga superior aos outros, pobres debilóides, que crêem.
Certa vez, num programa da TV-Vida, perguntaram-me se eu acreditava na existência de outros seres inteligentes em outras galáxias. Respondi que não tinha provas da existência deles, por isto suspendia qualquer tipo de resposta. Até hoje não sei, muito embora respeite a opinião daqueles que acreditam.
Atualmente, está na moda afirmar a não-existência de Deus. É problema antigo. No século XVIII, com o movimento iluminista, era grande o número de filósofos que se diziam ateus. No fim do século XIX, a onda se repetiu com Feuerbach, Marx, Freud, Hegel. Depois vieram Nietzsche, Sartre, Camus e outros. E, em nossos dias, é muito forte a onda daqueles que afirmam que “Deus morreu”. Nossas livrarias estão atulhadas de escritores ateus militantes. Tempos atrás apenas escreviam, hoje fazem campanha, visto que o negócio está se tornando rendoso. Se não me engano, o mais lido deles é Hawkins, com o livro “Deus, um delírio”. Comprei o livro. O argumento central do autor á a afirmação de que as religiões são más. Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são as piores. Praticaram e ainda praticam as piores violências, massacres de inocentes, assassinatos, crimes contra mulheres, racistas. Suas mãos estão sujas de sangue e assim por diante. Ora, conclui, Hawkins, se as religiões são más é uma prova de que Deus tolera, quer e muitas vezes aconselha a prática do mal.
Portanto, Deus não existe.
Esse argumento me faz lembrar daqueles famosos silogismos dos antigos filósofos: “Quem bebe, dorme. Quem dorme não peca. Logo, beber não é pecado.”
As tiradas acacianas de Saramago não estão muito longe desse tipo de raciocínio. Os homens são maus; logo, Deus não existe. Mais uma vez, parabéns ao famoso lusitano!
Jornal da Manhã - UberabaSegue aqui o e-mail que eu enviei ao articulista comentando o texto acima. O endereço eletrônico dele pode ser visto na fonte da notícia.Caro Padre Prata,
Encontrei por acaso o artigo "Ser ateu virou moda" que o senhor
escreveu para a Folha da Manhã. Eu sou ateu há cerca de dez anos e
gostaria de fazer algumas observações: em primeiro lugar, eu sei que o
senhor não afirmou o contrário, mas nem todos os ateus compartilham os
mesmos pontos de vista que Saramago. Gostaria de enfatizar isso. Nem
todo ateu é comunista, nem todo ateu se crê superior aos que creem, se
é que Saramago é realmente esse homem arrogante que o senhor pintou.
Em segundo lugar, eu não acredito que o senhor tenha lido "Deus um
Delírio" por dois motivos. O primeiro é que o nome do autor é Dawkins,
e não Hawkins. O senhor escreveu Hawkins duas vezes, e o D está
suficientemente longe do H no teclado para descartar a hipótese de o
senhor haver cometido um erro de digitação. Richard Dawkins é biólogo
evolutivo da Universidade de Oxford, é britânico, mas nasceu em
Nairóbi no Quênia e é um dos intelectuais mais influentes do Reino
Unido.
Talvez agora que o senhor e o autor do livro que o senhor afirma ter
lido foram apresentados, eu possa esclarecer o segundo motivo: Dawkins
não afirma que as religiões são más. Ele reconhece que há religiosos
moderados e radicais e que os religiosos radicais podem eventualmente
fazer coisas más. Sua crítica aos religiosos moderados se deve a ele
acreditar que eles tornam o terreno propício à proliferação dos
religiosos radicais. E ele não tira em momento algum a conclusão
estúpida que o senhor apresentou como sendo dele de que "A religião
causa o mal, logo Deus não existe." Somente alguém que não leu o
livro, ou que o leu muito, muito mal, poderia afirmar um absurdo
desses.
Mesmo assim, essa discussão sobre se as religiões provocam o mal é
apenas uma pequena parte do livro, ele discute muitas outras coisas
mais interessantes: refuta as provas clássicas da existência de Deu,
como as de São Tomás de Aquino, discute sistemas morais seculares,
formula hipóteses para explicar a origem das religiões, entre outras
coisas. É um livro que mesmo um padre poderia achar interessante, por
isso eu o encorajo fortemente a lê-lo - e sobretudo, lê-lo antes de
criticá-lo.
Atenciosamente,
Gabriel Fonseca