Autor Tópico: Ciência e espiritualidade: um breve manifesto  (Lida 3327 vezes)

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Offline Cezar

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Ciência e espiritualidade: um breve manifesto
« Online: 19 de Dezembro de 2008, 14:14:16 »
FONTE: Revista Galileu, n°209, dezembro/2008, capa - "A nova era do Espiritismo"

Autor: Marcelo Gleiser (astrofísico, professor do Dartmouth College, nos Estados Unidos, e autor de cinco livros sobre ciência e conhecimento)


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CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO

A união de dois mundos opostos é possível? Para nosso colunista, a mágica da vida reside nela mesma

Na opinião popular, o título deste texto representa um paradoxo. Ciência e espiritualidade habitam mundos diferentes, que em geral entram em conflito ao se aproximarem. A primeira é vista como uma atividade exclusivamente racional, reducionista, materialista e fria, sem qualquer interesse por questões espirituais. Já a segunda, bem mais fácil de ser definida, representa uma busca pessoal, uma relação com a realidade que transcede o imediato, que nos conecta com o que vai além do material. Por isso a espiritualidade é considerada antítese da ciência.

Para piorar, a busca espiritual costuma adotar uma posição que não só é contrária ao materialismo científico, mas que o confronta. Ela passa a ser quase que uma "vingança" para quem está desiludido com um mundo cada vez mais explicável, destituído de mágica e poesia. O movimento romântico do início do século 19 foi uma resposta direta ao racionalismo extremo do século 18. O poeta John Keats acusou Isaac Newton de ter "desfiado o arco-íris", de ter roubado a sua beleza com suas explicações precisas sobre o comportamento da luz. nada poderia ser menos verdadeiro.

Quem fecha os olhos para as descobertas da ciência moderna se fia na ocorrência de fenômenos sobrenaturais, paranormais, astrológicos, quem acredita que duendes povoam as florestas, quem jura que almas circulam pelo mundo dos vivos sem serem percebidas, faz o mesmo que o poeta: nega-se a apreciar a poesia e a beleza que a ciência nos revela, preferindo pensar como nossos antepassados. E sua credulidade é explorada por oportunistas.

Existe mágica de sobra no mundo que podemos ver com nossos olhos e com os instrumentos que inventamos para ampliar nossa visão da realidade. Não é preciso se fiar numa realidade invisível e sobrenatural, cuja existência depende de relatos individuais e que é sujeita à fé. Quando queremos muito acreditar em algo, isso se torna mais real. O querer acreditar compromete nossa habilidade de decidir imparcialmente - ou quase - se uma asserção é ou não verdadeira.

Se meu pai está doente e a medicina moderna não pode fazer nada por ele, por que não levá-lo a um curandeiro, alguém com supostos poderes de exercer curas milagrosas e inexplicáveis? A morte assusta, foge ao nosso controle, rouba aqueles que amamos. É difícil aceitar a postura materialista de que ela é mesmo o fim, que essa faísca que anima a matéria e nos faz amar e chorar se esvai por completo num piscar de olhos. Nosso dilema é termos consciência de que temos os dias contados. Aceitar esse fato é tão difícil que fazemos de tudo para driblá-lo, criando mecanismos que vão além do que podemos provar. Talvez isso ajude muitos a aceitarem seus destinos. O triste é que os que estão convictos da existência desa dimensão sobrenatural fechem os olhos para o que a ciência mostra.

Prefiro viver de olhos bem abertos e aceitar a pré-condição da vida, a não-vida. Ignorar o que a natureza nos mostra todos os dias é viver menos, é se apegar a contos de fadas para evitar o confronto com a nossa condição humana. Saber morrer é saber viver, é saber aceitar o quanto são preciosos esses breves momentos que temos para amar, chorar, apreciar a beleza do arco-íris, vibrar com um gol e ter medo de perder quem amamos. É na brevidade da vida que reside o seu segredo: saber viver sem medo de morrer. Isso não é nada fácil, e não acredito que tenha conquistado o meu próprio medo. Mas prefiro viver com ele a me iludir com algo que nunca saberei se está certo ou não.

Ninguém gosta da idéia de morrer ou de sofrer. Ninguém gosta de ver o sofrimento de tantos no mundo. Porém, se a alternativa é achar que tudo isso vai ser diferente no "além", que forças ocultas regem nossas vidas e podem ser controladas por meio de crenças místicas, ela me parece criar uma sociedade que não enfrenta os desafios que tem pela frente, escondendo-se nas promessas de um mundo inescutável e inexistente.

Para mim, a mágica ocorre a cada momento em que estamos vivos, que podemos amar e sofrer, que podemos refletir sobre quem somos e sobre como podemos melhorar as nossas vidas e as dos que estão à nossa volta. Perceber essa mágica é abraçar a espiritualidade da ciência. Com ela aprendemos quem somos e como nos relacionamos com o mundo e com o universo. Entre os caminhos que temos para enfrentar nossos desafios, não vejo outro que possa mostrar o quanto a vida é preciosa e rara, que celebre de forma mais clara a mágica da existência
« Última modificação: 30 de Março de 2009, 14:09:22 por SnowRaptor »
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Offline Jeanioz

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #1 Online: 19 de Dezembro de 2008, 14:38:49 »
Esse texto é espiritual, não científico. ::)

Offline Fabrício Fleck

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #2 Online: 25 de Dezembro de 2008, 12:15:00 »
O texto é espiritual SEM RECORRER ao sobrenatural ou ao pensamento mágico.

Devemos lembrar que para a esmagadora maioria das pessoas espiritualidade e sobrenatural caminham juntas. Daí a dificuldade para a população entender que um ateu, humanista secular, materialista etc possa ter uma visão espiritualizada da vida sem ter crenças religiosas, usando tão somente a ciência e a filosofia como caminho para uma visão espiritual da vida e do universo.
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Offline Moro

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #3 Online: 25 de Dezembro de 2008, 12:39:01 »
do conjunto ciência e filosofia que você citou, a que pode fazer alguém ter uma visão espiritualista é a filosofia
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Offline Fabrício Fleck

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #4 Online: 25 de Dezembro de 2008, 13:36:27 »
Vejo a questão de outra maneira.

A ciência estuda a 3 grandes origens: a origem do Universo, a origem da Vida e a origem da Consciência. Para mim, estudar e ter entendimento (mesmo que parcial) sobre esses assuntos é algo profundamente espiritual.

Esses 3 grandes "mistérios" antigamente só eram "respondidos" pela religião (mitos). No entanto, hoje a ciência tem muito a dizer sobre as 3 grande origens. Na verdade, ela - a ciência - é a instituição mais bem sucedida nessa empreitada ( e sem inventar respostas ou solidificar explicações na forma de dogmas ).

« Última modificação: 25 de Dezembro de 2008, 13:39:10 por Fabrício Fleck »
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Offline Moro

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #5 Online: 25 de Dezembro de 2008, 19:27:56 »
Vamos arrumar

A religião falava merda quando abordava esses três mistérios, e continua falando merda quando aborda esse (e qualquer outro) assunto.

Se você acha esses assuntos espirituais, certamente não é baseado na ciência, já que não há espíritos para a ciência.
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Offline Luiz Souto

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #6 Online: 25 de Dezembro de 2008, 19:55:50 »
Vamos arrumar

A religião falava merda quando abordava esses três mistérios, e continua falando merda quando aborda esse (e qualquer outro) assunto.

Se você acha esses assuntos espirituais, certamente não é baseado na ciência, já que não há espíritos para a ciência.

Durante muitos séculos a religião era a única forma de interpretar os acontecimentos e o fazia tentando dar a eles um sentido , que obviamente só poderia ser o sentido humano. Os mitos criados são uma forma de lidar com um mundo adverso e que independe de nós  , a maneira instintiva de dar um ordenamento e uma coerência ao eventos.
Com o surgimento da ciência a explicação mítico/religiosa do universo é ultrapassada mas a necessidade humana de encontrar um sentido para sua existência ainda continua e não pertence ao campo da ciência dar estas respostas ( se é que elas existem). A religião continua sendo uma forma de dar estas resposta - se estas são corretas é outra discussão - mas também o é a filosofia ; espiritualidade é o termo para se referir a estas dúvidas e busca de respostas , incorreto para aqueles que não acreditamos em realidades transcendentais ,mas que não foi substituido por outro melhor até hoje.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #7 Online: 25 de Dezembro de 2008, 21:30:32 »
A grande questão é: O que podemos esperar qualitativamente das respostas dadas pela religião com o ferramental utilizado por ela? Quando falei sobre a incapacidade da religião de dar a resposta para os temas propostos, me foquei neste ponto.

Isto é, não é realmente uma discussão de quem seria a competência (escopo de atuação) de dar a resposta, mas sim da certeza de que a resposta é errada e vai ser mais ou menos útil e gerar mais ou menos danos de acordo com a capacidade da pessoa que a aceita.

A filosofia é mais ou menos aparelhada de acordo com o autor que estamos analisando. Não podemos certamente utilizar a palavra filosofia da mesma maneira que religião.
Não estou tocando aqui na questão da capacidade de uma frente a outra mas sim na questão de que podemos ter filósofos ateus, religiosos ou que pregam que a virtude é apenas a força, etc..,  não há uma unicidade de propósitos na filosofia.

A religião realmente era a ciência da idade do bronze. Não havia ciência, as explicações eram dadas pela religião. Não havia na cabeça de ninguém essa dicotomia presente hoje entre o mundo racional e o místico. O místico era o racional.
O método científico começou a explicar cada vez mais os fenômenos do nosso cotidiano e tomando cada vez mais o papel que era da religião, mas por algum motivo, as pessoas pensaram que o escopo de atuação de uma e de outra eram ortogonais.

Penso o que aconteceria se a ciência tivesse o posicionamento de acabar com a religião. Explicar os fenômenos e deixar a liturgia apodrecer.
« Última modificação: 25 de Dezembro de 2008, 21:36:49 por Agnóstico »
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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #8 Online: 25 de Dezembro de 2008, 21:57:06 »
Desculpa, Agnóstico. Acho que não me fiz entender...

Essa palavra - espiritualidade - realmente pode causar confusão. Daí a tentativa do Gleiser em escrever o texto.

A espiritualidade da qual eu falo não está no sentido de espíritos desencarnados (fantasmas), sobrenatural, deuses etc, e sim àqueles assuntos que nos tocam (como as origens das coisas) uma vez que somos seres conscientes e temos uma inquietação em saber.

Você já teve a oportunidade de ler Pálido Ponto Azul de Carl Sagan? Nele o assunto é ciência pura (astronomia, física, cosmologia, física quantica etc), e nem por isso o livro deixou de ser profundamente espiritual (repito: não no sentido sobrenatural). Como Sagan mesmo escreveu no livro:"A ciência não é apenas compatível com a espiritualidade; ela é uma profunda fonte de espiritualidade."



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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #9 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:01:01 »
A questão é que a religião sobrevive pelas respostas que dá às indagações sobre o sentido da vida e sobre como agir no mundo ( ética), a ciência não pode ( nem deve) se manifestar sobre isso já que foge ao seu âmbito. A tentativa da religião de dar respostas a estrutura e funcionamento do Universo são anacrônicas e fadadas ao fracasso , a Ciência já a superou.
Porém a Ciência me permite saber como funciona o cérebro humano quando toma uma decisão , que redes neurais são ativadas ao ter prazer ou desgosto , mas não pode dar a resposta de como agir em uma determinada situação. As decisões éticas , a resposta à indagações sobre o que se chama genericamente "sentido da vida" estão no âmbito da religião e da que é a maior adversária desta: a Filosofia.
Para contrapor ao relato místico da religião , ao discurso dogmático das prescrições divinas , é necessário o contradiscurso racional e pluralista da Filosofia ; é claro que há filósofos cristãos , judeus, muçulmanos... mas é no embate filosófico que se pode criar uma contraposição não-religiosa à função da religião no mundo moderno.
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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #10 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:04:27 »
Fabrício

não conheço essa acepção de espiritualidade.

Se for quanto às coisas que nos tocam prefiro a palavra ... tocante.

Me espanta a frase de Sagan. Tem a fonte?

Espiritualidade tem a ver com o espiritual, e usa-la de uma outra maneira me parece uma estratégia religiosa para tentar intrumentalizar a ciência.
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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #11 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:06:43 »
concordo Luis. A religião é completamente substituída pela ciência mais filosofia.

O problema é quanto à segunda. Podemos encontrar coisas tão danosas quanto a religião nela.
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Offline Brasília em Chamas

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #12 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:11:43 »
 
Gosto muito da clareza  e firmeza em que o Dennett se coloca, quanto mais se procura explicar aquilo em que não se possui comhecimento, só se produz baboseira como as que acabei de ler. Onde a espiritualidade se encaixa diante daquilo que essecialmente somos? Só se amor, paixã, tesão, ódio... forem encarados como tais.


"Nós possuímos uma alma, mas ela é composta de vários robôs minúsculos."
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Offline Moro

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #13 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:15:55 »
grande firmeza essa afirmação do Dennett hein

Posso trocar para

"Não possuímos uma alma, mas ela é composta por várias cascas de tartaruga"

que dá no mesmo.
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Offline Brasília em Chamas

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #14 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:19:00 »
Desculpa, Agnóstico. Acho que não me fiz entender...

Essa palavra - espiritualidade - realmente pode causar confusão. Daí a tentativa do Gleiser em escrever o texto.

A espiritualidade da qual eu falo não está no sentido de espíritos desencarnados (fantasmas), sobrenatural, deuses etc, e sim àqueles assuntos que nos tocam (como as origens das coisas) uma vez que somos seres conscientes e temos uma inquietação em saber.

Você já teve a oportunidade de ler Pálido Ponto Azul de Carl Sagan? Nele o assunto é ciência pura (astronomia, física, cosmologia, física quantica etc), e nem por isso o livro deixou de ser profundamente espiritual (repito: não no sentido sobrenatural). Como Sagan mesmo escreveu no livro:"A ciência não é apenas compatível com a espiritualidade; ela é uma profunda fonte de espiritualidade."





espiritualidade  = qualidade do que é espiritual.

espiritual = relativo ou pertencente ao espírito (por oposição a matéria);

incorpóreo;

imaterial;

que diz respeito à religião ou à consciência;

místico;

sobrenatural;


A palavra em sim já se interpreta. O mais fácil seria criar um substantivo que carregue suas categorias, claro, loge de quais quaiquer embromações meio cientificotelógica.
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Offline Fabrício Fleck

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #15 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:22:31 »
No livro Pálido Ponto Azul. Não me pergunte a página :vergonha:

E essa não foi a primeira vez que Sagan falou dessa palavra. No livro O Mundo Assombrado pelos Demônios ele também falou sobre isso. Ele escreveu (se não me falha a memória) que a palavra espirito na sua origem se refere ao ar que respiramos, ao que está dentro de nós, ao nosso interior, nossa psiquê, e que essa palavra não deveria ter o teor sobrenatural que lhe é dada. Novamente não me lembro a página, mas essa passagem está no primerio ou segundo capítulo. Se alguém se habilitar a pesquisar... ::)
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Offline Fabrício Fleck

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #16 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:25:24 »
Apesar do significado das palavras Deus e Religião, o ateu Einstein as deu um significado diferenciado e todo especial :ok:
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Offline Moro

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #17 Online: 25 de Dezembro de 2008, 22:27:47 »
se o CS falou isso, foi uma pena, pois alimenta interpretações equivocadas e alienações. Quanto ao Eintein, ele realmente explicou o que queria dizer.

Meu ponto de vista é: Não fique trocando o significado das palavras para dar um ar poético ao texto. Causa apenas confusão.

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #18 Online: 25 de Dezembro de 2008, 23:03:21 »
se o CS falou isso, foi uma pena, pois alimenta interpretações equivocadas e alienações. Quanto ao Eintein, ele realmente explicou o que queria dizer.

Não concordo com você. Pra mim Sagan acertou em cheio. E ele escreveu e explicou sobre isso, não foram apenas frases soltas que "geram confusão". Chego até a ver TODA a sua obra como uma tentativa de demonstrar que a ciência é um profunda fonte de espiritualidade.

Spinoza, Michio Kaku e muitos outros cientistas e filosofos ateus não se furtaram da oportunidade de utilizar a palavra "Deus" de uma forma toda naturalista e sem recorrer ao sobrenatural. Até o própria Dawkins em seu Deus, um delírio escreveu que tem muita simpatia pelo uso diferenciado que Spinoza e Einstein davam as palavras Deus e Religião e Espiritualidade.

Meu ponto de vista é: Não fique trocando o significado das palavras para dar um ar poético ao texto. Causa apenas confusão.

Confunsão? Não se vier, como vc mesmo escreveu,  acompanhado de uma explicação.

Tenho utilizado a tática de falar que sou uma pessoa profundamente espiritualizada apesar de ateu. As pessoas ficam à principio espantatas e perguntam "como assim?". Daí explicou todo esse ponto de vista de ver a espiritualidade como uma busca por entender o mundo, a vida e a consciência sem recorrer ao sobrenatural. Isso aliás, isso têm sido ótimas oportunidades de tirar aquela visão pejorativa que as pessoas têm dos ateus. No final dessas conversas, modestia parte, sempre fica patente o quanto essas pessoas que se dizem "espiritualizas" não sabem p* nenhuma sobre a origem de sua própria espécie, da vida, do planeta em que vivem, da nossa estreita relação com os animais, e a origem e funcionamento do Universo etc. Sempre rola depois um pedido para indicar algum texto, livro ou site sobre esse assuntos. Pra mim, espiritualidade não é cultuar o invisível, usar patuas, adorar estátuas a atribuir cada tragédia ao diabo ou outros seres fantásticos. Pra mim, isso é superstição. E isso eu também explico a essas pessoas.



« Última modificação: 25 de Dezembro de 2008, 23:06:56 por Fabrício Fleck »
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Offline CyberLizard

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #19 Online: 25 de Dezembro de 2008, 23:23:27 »
Concordo com o Fabrício. Não acho incorreto dar esse sentido à palavra. Para mim, "espiritualidade" é uma sensação subjetiva e pessoal caracterizada por uma sensação de satisfação profunda por se julgar ter uma compreensão plena do mundo. Sendo assim, a ciência pode ser uma fonte de espiritualidade tanto como a religião. Tanto Sagan como Dawkins falam bastante sobre isso e já usaram o termo "espírito" e "espiritual" dessa forma.


Offline Luiz Souto

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #20 Online: 25 de Dezembro de 2008, 23:43:09 »
É só entender que espiritualidade não é o oposto de materialidade mas de animalidade.
Tudo o que é importante para o ser humano e transcende a pura manutenção fisiológica ( a animalidade ) ou seja , os desejos ,dúvidas, aspirações , são componentes da espiritualidade.

Seria melhor que houvesse um termo menos ambíguo , mas este está consagrado pelo uso , inclusive por materialistas.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Moro

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #21 Online: 26 de Dezembro de 2008, 01:15:26 »
desejos, dúvidas, aspirações são fisiológicos, como não poderia deixar de ser.

Como disse, não gosto de uma palavra que quando eu a use as pessoas podem interpretar com um sentido diametralmente oposto a o que eu desejava. E dá-lhe a crentaida pegando palavras fora do contexto de Einstein, Sagan e colocando em livros de quinta categoria.
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Offline Tupac

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #22 Online: 04 de Janeiro de 2009, 17:35:15 »
Concordo com o Agnostico, apesar de saber que a utilização de tais palavras por CS, RD, AE, dentre outros, seja com um significado diferente do padrão, ainda assim pode causar confusão, que tomará tempo ao ter que ser explicado. Portanto, prefiro encontrar uma outra palavra que, mesmo não sendo tão "poetica", passe a mensagem de forma clara, sem necessidade de explicações adicionais...
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
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"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

Offline lusitano

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #23 Online: 23 de Março de 2009, 18:02:40 »
Caríssimos...

É necessário ter um pouco de paciência em relação a esta magnífica palavra: espiritualidade.

Não há dúvida que se trata de uma palavra, que tanto pode ser utilizada por teístas, como por ateus.

Certos religiosos, utilizam-na preferentemente, para significar um princípio anímico metafísico, transcendente ao corpo físico depois da morte carnal e etc.

Alguns naturalistas, ateus e agnósticos, usam-na para significar a consciência de si próprio; a possibilidade de sonhar, de criar, de ser poeta e fantasiar... Amar, comover-se e sentir compaixão e solidariedade pelo semelhante e pela vida em geral e extasiar-se com a Natureza.

Enfim, a capacidade para filosofar e especular; de investigar, de reflectir cientificamente, e de criar maravilhas técnicas e algo mais.

Etc. É mais uma, das muitas palavras, que na língua portuguesa, se presta a
mal-entendidos.

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especulativamente - artur.



« Última modificação: 24 de Março de 2009, 17:59:47 por lusitano »
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Sklogw

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Re: CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM BREVE MANIFESTO
« Resposta #24 Online: 29 de Março de 2009, 22:06:02 »
O Marcelo Gleiser é uma fonte insuspeita do ponto de vista cético. Ele usou o termo espiritualidade na acepção ampla que o forista Lusitano (corretamente, ao meu ver) apresentou no post anterior.
"The most ordinary things are to philosophy a source of insoluble puzzles." [Ludwig Boltzmann]

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