É muito triste, Tash, verdadeiramente deprimente o que se diz e o que se faz com as tradições de povos primitivos.
Quer dizer então que tradições de milênios foram influenciadas - em pouqíssimos anos - por missionários europeus?...
Eu não vejo esta mesma influenciação na tradição de nossos índios, "catequisados" pelos europeus. Que significa isto? Nossos índios são mais resistentes que os silvícolas africanos?
E os próprios missionários que tiveram os primeiros contatos com os dogons, por que não se manifestaram, por que não depuseram a favor ou contra? Ou melhor, por que mandar astrônomos ao seio de civilizações primitivas? Para zombar de suas tradições?...
Mas, vamos lá.
Embora o livro de Temple tenha merecido críticas mais favoráveis que os outros livros do gênero "Astronautas da Antigüidade", as críticas que lhe fizeram o escritor de ciência popular, Ian Ridpath, e o astrônomo Carl Sagan influenciaram negativamente a seriedade com que a opinião da elite viria a tratar "The Sirius Mystery". Temple reclamou que as revistas, da Omni à Nature, recusavam-se a publicar suas respostas às críticas que publicavam.
Ridpath delineou uma explicação simples (e depois transmitiu-a a Sagan): os dogons teriam recebido seu conhecimento astronômico, supostamente antigo, de informantes modernos que conheciam Astronomia, presumivelmente ocidentais que teriam discutido Astronomia com os sacerdotes dogons, que logo teriam incorporado a nova informação a respeito de Sírius ao corpo das antigas tradições sobre a estrela. A antropóloga francesa Germaine Dieterlen, que passara quase toda a vida com os dogons, e cujo trabalho sobre mitologia dos dogons fora o primeiro a chamar a atenção de Temple, declarou, quando foi entrevistada por um repórter do programa Horizon, da BBC, que a hipótese era "absurda". Ao fazer a declaração, ergueu um artefato dogon de 400 anos que mostrava a configuração de Sírius.
Temple assinalou também que parte dessa informação, por exemplo, a que diz respeito à superdensidade da Sírius B, só existia há alguns anos quando os antropólogos a colheram entre os dogons em 1931. Os antropólogos, escreveu Temple, "saberiam, no curto período de dois a três anos que os antecederam, se algum grupo de astrônomos ocidentais amadores tivesse ido ao ermo interior de Mali implantar tal conhecimento nas mentes dóceis dos sacerdotes dogons. O que deixa perplexo é que, como seria possível toda essa informação passar para a cultura dogon e adjacentes, de uns dois milhões de pessoas, e ser incorporada às centenas de milhares de objetos, símbolos, tapetes trançados, estátuas esculpidas e etc, que existem nessas culturas, associados ao Mistério de Sírius em apenas dois ou três anos?" Estas e outras observações, publicadas como "Carta Aberta a Carl Sagan" em Zetetic scholar (O Estudioso Zetético), não tiveram resposta do destinatário.
Ridpath, Sagan e um crítico posterior, James E. Oberg, trataram os contra-argumentos de Temple, um por um, como se estes não existissem. Oberg, por exemplo, usou a hipótese do informante moderno num artigo da Fate, ao que Temple respondeu com uma crítica detalhada na edição seguinte. Oberg incorporou seu artigo, palavra por palavra, a um livro posterior, que, além de não responder a Temple, ignorou a crítica que Temple fizera. Guardians of the Universe? (Guardiões do Universo?), de Ronald Story, um ataque às teorias que versavam sobre o astronauta da antigüidade, recicla a balela, hoje indestrutível, de que as crenças dos dogons que dizem respeito a Sírius têm origem recente. Story insinua que "quanto mais nos aprofundamos no mistério de Sírius, menos misterioso ele fica... Há informações-chave que foram omitidas, ou que escaparam ao autor da história", crítica que, com mais justiça, caberia contra Story, Sagan, Ridpath e Oberg.