Preso revela como funciona golpe pelo celular. www.gazetadosul.com.brA mensagem no visor do celular que aparece na foto desta reportagem é uma isca. Seu objetivo é seduzir o dono do aparelho a ponto de convencê-lo a depositar dinheiro na conta bancária de desconhecidos. Enviados a telefones de todo o Brasil, tais torpedos alimentam uma indústria do crime sediada dentro de presídios das regiões Sudeste e Nordeste do País.

As mensagens avisam que o dono do aparelho ganhou um bom prêmio – carros, casas e dinheiro – de algum programa de televisão ou da própria operadora. O texto orienta o “felizardo” a ligar para determinado número, a fim de obter mais detalhes. Quem morde a ista e telefona é informado que, para receber a premiação, precisa pagar toda a sorte de taxas, por meio de depósito bancário, ou ainda repassar senhas de cartões telefônicos. Para não serem descobertos, os estelionatários usam contas abertas com nomes falsos.
É daí que vem o lucro do esquema. Afinal, a promoção é, na verdade, uma farsa. Pouca gente ainda cai no golpe. Em Santa Cruz do Sul, por exemplo, o número de registros com pessoas lesadas não chega a três nos últimos dois anos. No entanto, os casos em que os golpistas se dão bem são suficientes para que tais criminosos permaneçam em ação. Prova disso é que mais santa-cruzenses receberam as mensagens nas duas últimas semanas.
Por meio de uma delas, a reportagem da Rádio Gazeta AM entrou em contato com um golpista, que atendeu a ligação se identificando como “operador da central de premiação”. Ao saber que falava com jornalistas do Rio Grande do Sul, não se importou em abandonar o disfarce e conversar sobre o esquema.
Com forte sotaque nordestino, confirmou estar falando de dentro de um presídio situado no Ceará e revelou estar preso há mais de dez anos, condenado por latrocínio (roubo com morte). Por meio da conversa, foi possível entender por que o golpe ainda faz suas eventuais vítimas e como funciona o submundo que permite a esses bandidos continuar em ação mesmo atrás das grades.
Entrevista
Gazeta – O que faz este esquema dar certo? É a inocência das pessoas, é a lábia de vocês?
Golpista – É o impulso da emoção. O cara vê que recebeu um torpedo premiado e tem uma reação de grande alegria. Nesse impulso de alegria a gente apresenta uma conversa bonita e cega o sujeito. Ele acaba fazendo tudo o que a gente manda, vai ao banco, coloca dinheiro na nossa conta.
É claro que muita gente não cai. Mas nós também não somos bobos. Quando notamos que a pessoa não está acreditando, logo passamos para outra. Entre cinco mil mensagens encontramos umas dez pessoas bobas que nos dão um, dois, três mil reais. Afinal, família de mané não acaba nunca. Mandamos um monte de mensagens, mas poucas dão resultado.
Eu confesso que sou criminoso, mas não tenho culpa se algumas pessoas têm olho grande, querendo coisas fáceis, como um carro de R$ 50 mil chegando em uma simples mensagem. As pessoas também são culpadas, pelo olho grande. As vezes são bem sucedidas, com grandes contas bancárias, e querem mais. Eu acho que Deus castiga essas pessoas.
Gazeta – Como vocês escolhem as regiões? Há preferência entre capital e interior?
Golpista – Tanto faz. Não tem diferença. Hoje existe gente bem informada, com computador e internet, em todo o lugar.
Gazeta – Você age sozinho ou integra uma quadrilha?
Golpista – Somos uma quadrilha com 150 celulares. Em seguida, já vou trocar o chip. Trocamos de número umas quatro vezes por dia. É quadrilha organizada.
Gazeta – Quanto você ganha por dia fazendo isso?
Golpista – Não tenho uma base para te responder. Isso é como garimpar ouro. Você pode passar uma semana sem ganhar nada e, em segundos, ganhar uma bolada. Já ganhamos R$ 100 mil num dia. É difícil até dizer o que ganho por ano, porque não sou só eu que ganho. O grupo trabalha e divide tudo. Claro, quando o lucro é pouco, divido apenas com meu colega aqui, o Julinho, que agora tá ajeitando um cachimbo para dar uma pancadinha. Mas imagina, todo mundo mandando mensagem pra todo o lado por um ano.
Gazeta – O dinheiro vai para onde?
Golpista – É sistema on-line. Enquanto eu seguro o prego aqui no telefone, a fábrica acontece. A nossa família aproveita. O dinheiro paga gastos, despesas diárias, advogado.
Gazeta – Aonde você aprendeu a dar o golpe? Aí no presídio?
Golpista – Aprendi aqui. Aqui é a faculdade. A gente não fala esse nome que você disse (presídio). A gente chama de faculdade.
Gazeta – E você acredita que ganha mais dinheiro aplicando esses golpes, aí, do que quando assaltava nas ruas?
Golpista – Muito mais. Daqui de dentro a gente faz o movimento.
Gazeta – Mas ninguém descobre? Os agentes penitenciários não encontram os telefones?
Golpista – Achar eles acham. Mas eles têm os compromissos deles. Vêm na nossa mão, pegam dinheiro, negociam, botam celular e até notebook pra nós. O capa preta (agente) é nosso braço direito. Por que o cara vai atrasar a gente, se a gente bota dinheiro na mão dele? Lá fora o cara anda de carro novo, zero quilômetro, vai em boates, lanchonetes boas. Tá tudo em casa, irmão.
Gazeta – Então, é dessa forma que vocês conseguem falar ao celular o dia todo, dentro de uma cadeia?
Golpista – Falamos o dia inteiro e no viva voz. Caminhando no pátio, pegando o banho de sol, curtindo na maior limpeza do mundo. Se fôssemos cair, cairíamos pra onde? Já estamos presos. Há 45 anos que existe este presídio e há 45 anos funciona do mesmo jeito. É uma fábrica do crime, fábrica da droga, fábrica do crack.
As mensagens avisam que o dono do aparelho ganhou um bom prêmio – carros, casas e dinheiro – de algum programa de televisão ou da própria operadora. O texto orienta o “felizardo” a ligar para determinado número, a fim de obter mais detalhes. Quem morde a ista e telefona é informado que, para receber a premiação, precisa pagar toda a sorte de taxas, por meio de depósito bancário, ou ainda repassar senhas de cartões telefônicos. Para não serem descobertos, os estelionatários usam contas abertas com nomes falsos.
É daí que vem o lucro do esquema. Afinal, a promoção é, na verdade, uma farsa. Pouca gente ainda cai no golpe. Em Santa Cruz do Sul, por exemplo, o número de registros com pessoas lesadas não chega a três nos últimos dois anos. No entanto, os casos em que os golpistas se dão bem são suficientes para que tais criminosos permaneçam em ação. Prova disso é que mais santa-cruzenses receberam as mensagens nas duas últimas semanas.
Por meio de uma delas, a reportagem da Rádio Gazeta AM entrou em contato com um golpista, que atendeu a ligação se identificando como “operador da central de premiação”. Ao saber que falava com jornalistas do Rio Grande do Sul, não se importou em abandonar o disfarce e conversar sobre o esquema.
Com forte sotaque nordestino, confirmou estar falando de dentro de um presídio situado no Ceará e revelou estar preso há mais de dez anos, condenado por latrocínio (roubo com morte). Por meio da conversa, foi possível entender por que o golpe ainda faz suas eventuais vítimas e como funciona o submundo que permite a esses bandidos continuar em ação mesmo atrás das grades.
Entrevista
Gazeta – O que faz este esquema dar certo? É a inocência das pessoas, é a lábia de vocês?
Golpista – É o impulso da emoção. O cara vê que recebeu um torpedo premiado e tem uma reação de grande alegria. Nesse impulso de alegria a gente apresenta uma conversa bonita e cega o sujeito. Ele acaba fazendo tudo o que a gente manda, vai ao banco, coloca dinheiro na nossa conta.
É claro que muita gente não cai. Mas nós também não somos bobos. Quando notamos que a pessoa não está acreditando, logo passamos para outra. Entre cinco mil mensagens encontramos umas dez pessoas bobas que nos dão um, dois, três mil reais. Afinal, família de mané não acaba nunca. Mandamos um monte de mensagens, mas poucas dão resultado.
Eu confesso que sou criminoso, mas não tenho culpa se algumas pessoas têm olho grande, querendo coisas fáceis, como um carro de R$ 50 mil chegando em uma simples mensagem. As pessoas também são culpadas, pelo olho grande. As vezes são bem sucedidas, com grandes contas bancárias, e querem mais. Eu acho que Deus castiga essas pessoas.
Gazeta – Como vocês escolhem as regiões? Há preferência entre capital e interior?
Golpista – Tanto faz. Não tem diferença. Hoje existe gente bem informada, com computador e internet, em todo o lugar.
Gazeta – Você age sozinho ou integra uma quadrilha?
Golpista – Somos uma quadrilha com 150 celulares. Em seguida, já vou trocar o chip. Trocamos de número umas quatro vezes por dia. É quadrilha organizada.
Gazeta – Quanto você ganha por dia fazendo isso?
Golpista – Não tenho uma base para te responder. Isso é como garimpar ouro. Você pode passar uma semana sem ganhar nada e, em segundos, ganhar uma bolada. Já ganhamos R$ 100 mil num dia. É difícil até dizer o que ganho por ano, porque não sou só eu que ganho. O grupo trabalha e divide tudo. Claro, quando o lucro é pouco, divido apenas com meu colega aqui, o Julinho, que agora tá ajeitando um cachimbo para dar uma pancadinha. Mas imagina, todo mundo mandando mensagem pra todo o lado por um ano.
Gazeta – O dinheiro vai para onde?
Golpista – É sistema on-line. Enquanto eu seguro o prego aqui no telefone, a fábrica acontece. A nossa família aproveita. O dinheiro paga gastos, despesas diárias, advogado.
Gazeta – Aonde você aprendeu a dar o golpe? Aí no presídio?
Golpista – Aprendi aqui. Aqui é a faculdade. A gente não fala esse nome que você disse (presídio). A gente chama de faculdade.
Gazeta – E você acredita que ganha mais dinheiro aplicando esses golpes, aí, do que quando assaltava nas ruas?
Golpista – Muito mais. Daqui de dentro a gente faz o movimento.
Gazeta – Mas ninguém descobre? Os agentes penitenciários não encontram os telefones?
Golpista – Achar eles acham. Mas eles têm os compromissos deles. Vêm na nossa mão, pegam dinheiro, negociam, botam celular e até notebook pra nós. O capa preta (agente) é nosso braço direito. Por que o cara vai atrasar a gente, se a gente bota dinheiro na mão dele? Lá fora o cara anda de carro novo, zero quilômetro, vai em boates, lanchonetes boas. Tá tudo em casa, irmão.
Gazeta – Então, é dessa forma que vocês conseguem falar ao celular o dia todo, dentro de uma cadeia?
Golpista – Falamos o dia inteiro e no viva voz. Caminhando no pátio, pegando o banho de sol, curtindo na maior limpeza do mundo. Se fôssemos cair, cairíamos pra onde? Já estamos presos. Há 45 anos que existe este presídio e há 45 anos funciona do mesmo jeito. É uma fábrica do crime, fábrica da droga, fábrica do crack.
