Papa admite erros no caso do bispo que negou o HolocaustoO papa Bento 16 admitiu erros no caso da suspensão da excomunhão do bispo britânico Richard Williamson, que se negou a reconhecer em uma entrevista no ano passado a extensão total do Holocausto - a eliminação sistemática de milhões de judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Em carta endereçada aos bispos católicos de todo o mundo, divulgada nesta quinta-feira, Bento 16 explica porque suspendeu a excomunhão de quatro bispos ultraconservadores da fraternidade São Pio 10, entre eles Williamson, e diz que não esperava receber tantas críticas, principalmente dentro da própria igreja.
A decisão foi, na avaliação do papa, um gesto de aproximação, um convite para que os bispos retornassem à igreja oficial. Isto foi possível apenas depois que eles reconheceram a autoridade do papa.
"A suspensão da excomunhão dos quatro bispos, consagrados em 1988 pelo arcebispo (dissidente francês, Marcel) Lefebvre sem mandato da Santa Sé, suscitou dentro e fora da Igreja Católica uma discussão de tal veemência que há muito tempo não se experimentava", escreveu Bento 16.
"Uma desventura imprevisível para mim foi o fato de que o caso de Williamson foi o destaque principal na remissão da excomunhão. O gesto discreto de piedade para com quatro bispos ordenados de forma válida, mas sem legitimidade, repentinamente pareceu algo completamente diferente: um repúdio à conciliação entre cristãos e judeus."
"Um gesto de reconciliação com um grupo eclesiástico envolvido em um processo de separação se tornou assim sua própria antítese: um aparente passo para trás no tocante a todos os passos de reconciliação."
"Me foi dito que consultar a informação disponível na internet teria tornado possível perceber o problema no início. Eu aprendi a lição de que a Santa Sé terá que prestar mais atenção a essa fonte de notícias", disse o pontífice.
AproximaçãoO papa também definiu como "outro erro" a maneira como a decisão a respeito da readmissão dos bispos conservadores foi divulgada. Ele explica que a excomunhão foi um ato de disciplina e não de doutrina, e esclarece que a fraternidade Pio 10 não foi totalmente reintegrada.
"A fraternidade não tem uma posição canônica dentro da igreja e seus ministros, embora tenham sido liberados de punição eclesiástica (excomunhão), não exercitam de modo legítimo algum ministério na Igreja."
Para que isso aconteça, a fraternidade deve, sobretudo, aceitar o Concilio Vaticano 2°, que introduziu nos anos 60 reformas modernizadoras na Igreja Católica. De acordo com o papa, isto está sendo examinado pela Congregação da Doutrina da Fé.
Na carta, o papa explica que sua intenção era evitar colocar em risco a unidade da igreja.
"É realmente errado ir ao encontro de um irmão que tem algo contra você? A sociedade civil não deve prevenir radicalizações e reintegrar seus aderentes para evitar segregações e suas consequências?"
ComunidadeSegundo o papa, não é possível ficar indiferente a uma comunidade católica com 491 sacerdotes, 215 seminaristas, seis seminários, 88 escolas, duas universidades, 117 frades, 164 freiras e milhares de fiéis.
"Há muito tempo e novamente nesta ocasião concreta ouvimos de representantes daquela comunidade muitas coisas destoantes, soberba, fixação em unilateralismos etc", disse o pontífice.
"Devo dizer que recebi também uma série de testemunhos comoventes de gratidão. Mas não devemos admitir que no ambiente eclesiástico também surgiu alguma discórdia?"
"Deploro profundamente que a paz entre católicos e judeus tenha sido perturbada, assim como a paz dentro da Igreja. O gesto discreto, de misericórdia, apareceu de repente como um retrocesso, o desmentido da reconciliação entre católicos e judeus, que desde o início foi um objetivo do meu trabalho teológico pessoal."
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090312_papaerroholocaustoav.shtml