Já postei isto no Rev. Vamos ver no que dá aqui...
Habituado como estou a ler os Darwinistas ortodoxos, como Matt Ridley; Dawkins; Dennett; Maynard-Smith; George Williams... que defendem que a evolução filética gradual é quase exclusiva, fiquei um pouco "chocado" quando, com outras leituras, verifiquei que muito provavelmente a evolução filética de espécies, ou Darwiniana (implica a adaptação como mecanismo principal), não é o mecanismo mais vulgar.
Exemplos de evolução filética na natureza, como por exemplo o caso da Gaivota Argentea descrito por Ernst Mayr(espécies em anel) ou de várias espécie de Drosophila, são, na verdade, minoritários quando comparados com outros mecanismos de especiação. O próprio Erns Mayr (autor do modelo filético de especiação Alopatrica ou geográfica) reconheceu isto, propondo um segundo modelo, a teoria das revoluções genéticas, como sendo aquele que mais frequentemente origina novas espécies.
Ora, o que acontece no modelo filético ou Darwinista da origen das espécies? Este modelo é Darwinista porque afirma que a origem das espécies é um fenómeno puramente adaptativo. Primeiro temos variedades dentro da espécie mãe, depois surgem raças regionais, a seguir temos subespécies e finalmente espécies verdadeiras. Este tipo de especiação cabe na definição típica de evolução: Variação gradual e adaptativa das frequências alélicas de populações ao longo das gerações. É o que chamamos microevolução. Neste conceito a macroevolução não passa de uma ilusão. As espécies surgem gradualmente por microevolução. As acumulações microevolutivas de pequenas diferenças genéticas, dado o tempo suficiente, origina novas espécies.
Ora, o que Erns Mayr defendeu é que, embora este tipo de especiação ocorra, o processo mais vulgar ao nível genético não é a tal variação alélica subtil ao longo dos eons. O mais comum são as revoluções genéticas, que implica coisas como remodelações cromossómicas ( coisa que nem parece muito estranha, uma vez que cada espécie se caracteriza pela sua geografia cromossómica particular)
Mas então o que são as revoluções genéticas? De acordo com Erns Mayr, trata-se de fenomenos genéticos excepcionais em que o património genético de pequenas populações fundadoras sofrem uma reformulação interna que altera de uma vez o valor selectivo de todos (ou parte importante) os alelos. Ora, a seleção natural não entra aqui como mecanismo gerador de novas espécies. Acontece apenas que a revolução genética em populações fundadoras, por acaso (isto mostra que a vida é mais robusta do que se pensa), tem valor selectivo positivo, ou seja, aguenta-se perante o julgamento da seleção natural. Ernst Mayr deu o exemplo do peixe Tanyseptera galatei, que mostra este tipo de especiação e refere que os naturalistas podem citar centenas de exemplos semelhantes. Conclui dizendo que o mecanismo de revolução genética é, de longe, o exemplo mais vulgar de especiação.
Mais tarde, outros cientistas como H. Carson (com a teoria do Flush and Crash (que é uma variação da ideia da revolução genética de Mayr), Michael White (que estudou a especiação de especiação exuberante em gafanhotos) ou A. R. Templeton, confirmaram as ideias de Mayr.
Foi em parte devido a estas ideias, de que a evolução para novas espécies é principalmente devida a revoluções genéticas e, em menor grau um fenómeno Darwiniano (puramente adaptativo), que surgiu a teoria dos equilibrios pontuados de Goulg e Eldredge. Esta teoria afirma categoricamente que os processos genéticos que originam novas espécies são predominantemente revoluções genéticas e não pequenas modificações das frequências alélicas que obedecem ao esquema ortodoxo-- variedades - raças - subespécies - e espécie. Na verdade, esta sequência de passos é pouco vista na natureza em comparação com os exemplos de revoluções genéticas (que no caso das plantas são tremendas).
Parte do meu "choque" ao ler cientistas como Dawkins, é que ele tenta "iludir" os seus leitores dizendo que o equilibrio pontuado cabe na ortodioxia darwinista. Aliás é curioso ler Dawkins, porque ele raramente apresenta exemplos concretos (fatos verificadas na natureza), preferindo o discurso inflamado apelando aos poderes dedutivos dos leitores. Mas a natureza mostra que ele só em parte tem razão. O Darwinismo não deixa de ser importante, mas é muito provável que que a maioria das espécies surja por revoluções genéticas pontuais (que pode ser de vários tipos e envolver, por exemplo, os genes reguladores. É o que se julga que terá acontecido na diferenciação entre humanos e chimpazés, que partilham 99 % de genes estruturais e têm um afastamento polimórfico de 0.64, que é o valor típico de afstamento entre espécies irmas) mas que depois surja uma seleção ao nível das espécies. Isto para não falar da seleção ao nível dos individuos.
PS-- recomendo a leitura de O relojoeiro cego de Dawkins e de "Os herdeiros de Darwin" de Marcel Blanc, só para verem o contraste entre a visão ortodoxa e a visão mais sensata, mais factual e menos retórica do evolucionismo total...