EUA começam a escapar da China, que desaba com a Europa, e Obama elogia aposta da IntelAjuste entre excesso de consumo na economia global (EUA) e excesso de produção (China) já começouA iniciativa do presidente Barack Obama de chamar à Casa Branca o executivo-chefe da Intel, Paulo Otellini, para cumprimentá-lo pela decisão de investir US$ 7 bilhões nos EUA em dois anos piscou nos radares que monitoram os movimentos do novo governo na expectativa de captar a direção dos ventos que agitam a economia global.
Triviais não foram os dois acontecimentos: o anúncio da Intel, a primeira grande notícia positiva vinda de uma empresa para um país torturado pela recessão desde final de 2007, e a atitude de Obama.
A simbologia de pequenos gestos diz mais sobre as intenções de um governante pressionado por todo lado e ainda desconfortável sobre o caminho a seguir, ou simplesmente indeciso, que medidas formais.
Político midiático, Obama até agora se mostrou melhor editando as imagens que operando o governo, já lanhado em seu primeiro mês com a renúncia de importantes assessores por pecadilhos com o Imposto de Renda ou porque divergiram da orientação que deveriam imprimir.
A Intel, maior fabricante de microprocessadores do mundo, deu a ele a oportunidade de exaltar a confiança no futuro da economia e, por pressuposto, no governo. Fato potencializado por outra decisão da Intel, também carregada de simbologia para Obama, de fechar uma fábrica na China - acusada por sindicalistas e políticos de seu partido de “manipular” o câmbio, como endossou Timothy Geithner, o secretário do Tesouro, em depoimento recente ao Senado, e tomar os empregos das fábricas exportadas pelas multinacionais americanas.
A política de Washington, na verdade, é tão emocionante, às vezes imprevisível também, como em qualquer capital. A diferença é que o que se decide lá repercute em todo mundo. É o que faz nem tudo o que se quer ser anunciado do jeito que é. Pode ser o contrário. O governo chinês, mais fechado que cofre-forte quando quer, pratica o mesmo minueto com seu maior parceiro de negócios, mas não de fé.
Desde o começo do ano os porta-vozes oficiosos do governo chinês, normalmente publicações próximas ao poder ou acadêmicos, sugerem preocupação com a solvência dos EUA, o que poderia levar à venda de parte das reservas de quase US$ 2 trilhões, dos quais ao redor de US$ 680 bilhões em papéis do Tesouro, além de investimentos em ativos de corporações americanas. O dólar poderia colapsar.
A ameaça parece
bullshit. O grande perdedor seria a própria China, já que as reservas sofreriam desvalorização imediata, e não existe mais certeza de que os EUA ainda dependam tanto assim de fora.
A poupança saneadora A primeira consideração, diz Jack Crooks, da Black Swan Capital, é que os papéis do Tesouro dos EUA são os mais demandados desde que a crise começou, por razões de segurança e liquidez.
A segunda começa a entrar nas avaliações dos analistas. A taxa de poupança nos EUA está ao redor de 3,5% do PIB, vindo do negativo a partir de agosto, poderá ir a 6% até o fim do ano e chegar a 10% em 2010. “Este funding afasta quase que totalmente qualquer perda associada à China e à maioria do resto da Ásia, caso precisem ou queiram vender os Treasuries ou parem de comprá-los”, diz Crooks.
O poder em movimento Tais deslocamentos são mais impactantes que a aprovação final do pacote de gastos e desonerações pedido ao Congresso por Obama, que ficou em US$ 787 bilhões, porque têm desdobramentos imediatos. Já os efeitos das medidas fiscais dependem de sua implementação.
O que está curso - como indicam a brutal queda das exportações da China e o aumento da poupança nos EUA - é um rebalanceamento entre o excesso de consumo em parte da economia global (EUA) e o excesso de produção em outro lado (China).
É cedo para garantir que há uma tendência formada, mas não para pôr as barbas de molho. A China é o maior importador de matérias-primas do Brasil, e estão em marcha vários investimentos para atender a expansão desse mercado.
Intel sentiu o vento Analistas pragmáticos já intuem um cenário geoeconômico em que, apesar do sofrimento, a rebordosa da economia provocada pelos EUA a médio prazo acabará beneficiando-os em alguns aspectos do teatro global.
A China cedeu. O desemprego urbano, segundo Jack Crooks, é de 5%, no indicador oficial, e vai a 10% nos relatos oficiosos. O PIB cresce à taxa de 8%, segundo o governo, mas estaria girando a menos de 5%. A Europa está afundada em recessão, a dívida explode e os sócios do euro não se entendem. A Intel sentiu alguma coisa.
O crédito reaparece O vagalhão da crise nos EUA está longe de um desfecho, amansando como marolinha, e já se procuram os próximos passos. O novo plano de resgate da banca insolvente anunciado por Geithner não animou os mercados, até porque o principal ele não contou: como vai ser pilotado.
Parte do mau humor também se deve à expectativa de que viriam ações pirotécnicas, como a estatização da banca. A decisão não está rejeitada. O chefe do staff da Casa Branca, Rahm Emanuel, defende algo forte contra Wall Street. Mas o crédito começa a ser retomado. A Cisco tomou US$ 4 bilhões sem apoio oficial. A Intel dispensou suporte do governo para custear os investimentos de US$ 7 bilhões. A economia dá sinais de que não vai esperar o governo.
http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/47001_48000/47315-1.html