Mas se levarmos em conta combater por causa do preconceito, então é como disse. Começa na crença, a intolerância. Mas concordo com vc, acho.
Às vezes a crença realmente tem forte papel na intolerância sim, de fato. O preconceito dos evangélicos contra os homossexuais é um bom exemplo disso. Bom, acho que essas pessoas não podem ter suas opiniões mudadas... mas felizmente a maioria dos religiosos não é tão xiita assim, muitos tem preconceito contra ateus menos por razões teológicas e mais por falta de informação, acreditam que os ateus não têm valores morais, essas coisas.
Sabe, eu estava pensando em usar uma abordagem diferente com as pessoas na hora de me apresentar como ateu: estou pensando em fazer algum gracejo do tipo "sou ateu, mas sou de Jesus", ou coisa do tipo
Falando sério. Quem já leu Contato de Carl Sagan deve se lembrar da personagem principal, Ellie Arroway, que era agnóstica, mas também se considerava cristã, pois embora ela não reconhecesse a divindade de Jesus Cristo nem seus milagres ou toda a teologia cristã, ela valorizava a moral cristã e considerava Jesus um ser humano extremamente sábio e exemplar.
Eu acho esse posicionamento interessante, pois muitos ateus e agnósticos procuram subestimar o valor dos ensinamentos de Jesus. Claro, eu concordo que 1) a existência real de Jesus é controversa; 2) ninguém garante que os relatos sobre sua vida, contada nos evangelhos, sejam realmente fiéis à figura histórica - não me admiraria se sua história tivesse sido contada seletivamente para citar somente as partes mais nobres; 3) boa parte de sua filosofia não era completamente original, mas havia sido antecipada por outros pensadores na Grécia e no Oriente séculos antes; 4) claro que os milagres provavelmente são bobagem; masde qualquer forma, a essência da mensagem de Jesus é de amor ao próximo, de igualdade e de paz. Como alguém pode ser contra isso?
Nesse sentido, podemos ficar à vontade para dizer que somos sim "ateus de Jesus", pois acreditamos no amor ao próximo e respeitamos a regra de ouro ("Faça ao próximo o que gostaria que fizessem a você"). É verdade que em muitos sentidos a moral cristã é dogmática, arcaica e precária, a própria regra de ouro é claramente criticável e temos coisa muito melhor no humanismo, mas às pessoas religiosas, a moral cristã é a única que elas conhecem, e de qualquer forma o Humanismo deve muito ao Cristianismo (o filósofo ateu Luc Ferry, por exemplo, diz que o Humanismo é o Cristianismo secularizado, e olha que ele, apesar de ser humanista, não simpatiza muito com o Cristianismo...)
Dizer que respeitamos Jesus é interessante primeiro porque a pessoa vai ficar curiosa e interessada, mas de um jeito legal, mais aberto, mais receptivo... e segundo porque elas vão entender que temos valores morais, e mais que isso, valores morais familiares a elas e que elas compartilham e estimam. Também é um jeito de mostrar que respeitamos os cristãos e compartilhamos muita coisa com eles, enfim, acho que ao fazer essa concessão a Jesus damos um passo atrás (recuamos provisoriamente e estrategicamente na afirmação dos valores humanistas) para dar vários passos a frente (com o interlocutor mais aberto ao diálogo e com a guarda abaixada).
Só precisamos superar esse orgulho bobo, esse maniqueísmo de dizer que tudo no Cristianismo é ruim e tentar inventar razões para desvalorizar Jesus Cristo. Jesus pode ser um grande aliado para nós, gente
E, a propósito, não tenho dúvidas de que se ele voltasse mesmo à Terra, como os crentes querem, ele se identificaria bem mais com nossa ética humanista do que com a moral cristã, afinal, seu discurso de amor ao próximo não combina nem um pouco com homofobia, intolerância religiosa, obscurantismo...