Cientistas encontram tecido cerebral de 300 milhões de anos em peixe
Modelo em 3D do crânio do iniopterygian (Foto: PNAS/Philippe Janvier)Cientistas dos Estados Unidos e da França anunciaram a descoberta de um tecido cerebral de 300 milhões de anos - o mais antigo exemplar do tipo já encontrado.
O tecido foi recuperado de uma bolha dentro da caixa craniana do fóssil de um precursor extinto das quimeras, conhecido como
iniopterygian, e foi achado no Estado americano do Kansas.
Em artigo na revista
Proceedings of the National Academy of Science, os pesquisadores afirmaram que a descoberta abre um novo caminho para o estudo da evolução dos peixes e do desenvolvimento do cérebro em animais vertebrados.
"Até agora, os paleontologistas estudavam os formatos da cavidade craniana de fósseis para pesquisar a morfologia cerebral, pois nunca haviam encontrado 'tecido mole'", explicou Alan Pradel, do Museu Nacional de História Natural de Paris, e um dos autores do artigo.
'Bizarro'
Iniopterygian é precursor das atuais quimeras (Foto: PNAS/Divulgação)Com a ajuda de técnicas de tomografia, cientistas do European Synchrotron Radiation Facility, em Grenoble, na França, criaram um modelo em 3D do que seria o cérebro do
iniopterygian encontrado.
Segundo os cientistas, o órgão era simétrico e tinha dimensões milimétricas. Como ocorre em muitos vertebrados pouco desenvolvidos, o cérebro desse peixe parava de crescer, enquanto a caixa craniana continuava se expandindo.
Além disso, o cérebro também apresentava um grande lóbulo relacionado à visão e uma pequena secção destinada à audição. A presença de canais de audição em um plano horizontal também permitiu aos cientistas entender que o animal podia detectar movimentos laterais, mas não verticais.
O
iniopterygian é um precursor das atuais quimeras, que por sua vez, são "parentes" dos tubarões e das arraias.
No início da era paleozóica, o peixe já apresentava características bastante peculiares, como o crânio gigante, dentes dispostos em fileiras, uma cauda "armada" com uma clava, e enormes nadadeiras peitorais dotadas de espinhos ou ganchos em suas pontas. A maioria tinha em média 15 cm de comprimento.
"Até hoje, não conhecíamos nada disso, e se trata de um animal realmente bizarro", afirmou John Maisey, curador de paleontologia do Museu Americano de História Natural, em Nova York, e também autor do artigo.
"Mas agora sabemos que podemos procurar por mais cérebros em fósseis muito antigos e começar a entender melhor sobre eles", disse Maisey. "A evolução cerebral é crucial na história dos vertebrados."
http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2009/03/090303_cerebrofossilml.shtml