Autor Tópico: A deflação pós-crise  (Lida 378 vezes)

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A deflação pós-crise
« Online: 06 de Março de 2009, 19:43:08 »
Santander rende-se à deflação ao pôr à venda ações de petroleira por metade do valor

Da crise bancária nos EUA e Europa à parada súbita do crédito em escala global, chega-se à economia real

Se olhado pelo retrovisor o panorama da economia internacional é cada vez mais aterrador, como atesta a retração revista do Produto Interno Bruto dos EUA no último trimestre de 2008 de 3,8%, em base anualizada, para chocantes 6,2%, à frente o que se vislumbra não é nada animador. A situação deve piorar muito antes de melhorar.

Da crise bancária nos EUA e Europa à parada súbita do crédito em escala global, chega-se agora à economia real - e não são visíveis “apenas” a queda de vendas, o desemprego e a ruína de países, como Irlanda, Islândia, Inglaterra, Argentina, Equador, todos do Leste Europeu. Ameaçadora, embora pouco comentada, é também a agressiva e rápida deflação dos preços dos ativos reais da economia.

E isso apesar da monumental criação de liquidez pelos governos, seja com corte de juros e expansão de dívida pública, para tentar substituir pelo menos uma fração do crédito dragado pelo processo de destruição de dívida.

Quando a noção de valor dos bens cede vez ao senso de sobrevivência, é o patrimônio empresarial que deixa de refletir o que está contabilizado, situação de todas as megafusões dos últimos dois anos, feitas, normalmente, por múltiplos várias vezes maior que a avaliação de mercado. E, não raro, para engordar as comissões de intermediários - bancos e fundos de investimentos.

Só as fusões bancárias a partir de 2008 nos EUA e Europa carregam um buraco potencial estimado em US$ 1 trilhão, o efeito do ágio em tais transações, captado como valor de marca, fundo de comércio ou conceitos desse tipo. Do ágio ao deságio, muitos balanços deixaram de expressar a valorização efetiva das empresas, o que é realidade também no Brasil. Não é à toa a romaria de empresários a Brasília.

Está no governo a última instância para negócios inviabilizados ou desvalorizados pela crise: de usinas de álcool à ampliação da produção automobilística, de preços inflados de imóveis e terrenos aos aviões da Embraer e à exploração do pré-sal. E por aí vai.

Preço de liquidação

Para os muitos que rejeitam como improvável uma onda generalizada de deflação basta apreciar o que fez na Espanha o Banco Santander, dos maiores do mundo e dos poucos a escapar, até agora, da agonia a que estão submetidos seus congêneres nos EUA e na Europa.

À cata de dinheiro fresco, o Santander pôs à venda a sua fatia de 31,6% do capital da CEPSA, a segunda maior petroleira da Espanha. Não fosse pelo valor pedido o negócio seria trivial: 30 a 35 euros por ação, equivalentes a US$ 3,9 bilhões pelo pacote, configurando um desconto de mais de 50% sobre o preço de mercado esta semana.

O Santander não pirou: era isso ou faltaria comprador, provavelmente um dos sócios da CEPSA, o rico fundo soberano de Abu Dhabi.

Citi detona as jóias

A liquidação aberta pelo Santander não é diferente do que atrai a atenção do Itaú Unibanco dentre as jóias que o Citibank, agora um banco formalmente controlado pelo Tesouro dos EUA com 36% de suas ações com direito a voto, talvez tenha de vender para refazer suas contas virtualmente insolventes: o Banamex, segundo maior banco do México, comprado em 2001 por US$ 12,5 bilhões, mais do que valiam então Bradesco e Itaú.

A roda da fortuna girou e hoje, não fosse o seu passivo estimado em US$ 1,3 trilhão, dos quais US$ 300 bilhões no mínimo a descoberto, segundo avaliação de mercado, o Citi seria um troco para qualquer um dos dois. Deflação também decorre de má gestão, de dívidas insustentáveis ou de atraso tecnológico.

A praga da deflação

Às vezes é a insolvência soberana que traz as oportunidades, como ocorreu no Brasil nas graves crises cambiais, as últimas durante a moratória decretada pelo governo Sarney e levantada na gestão de Itamar Franco e depois da maxidesvalorização do real em janeiro de 1999. Os ativos brasileiros foram vendidos a preço de banana, como atestam os valores alcançados na privatização da Vale e das outras ex-estatais e por várias empresas privadas. Os EUA estão assim.

Imóveis já perderam mais de 30% em relação ao pico de 2007, e vão cair mais. Mas há empresas e bancos que podem ser assumidos apenas contra dívidas. Difícil é encontrar um valente que tope a General Motors ou Citibank nestes termos. E por que não esperar que percam mais valor?

Esta é a praga da deflação: uma vez instalada, custa a parar, já que sempre se poderá comprar qualquer coisa por menos no dia seguinte. O risco está ai. E em muito lugar no mundo é real.

Naufrágio da Irlanda

Deflação é tão nociva à economia quanto a inflação aberta, mas é mais difícil de reverter. O Japão entrou neste processo em 1990 e a rigor não se libertou dele até hoje, apesar de juros negativos e muito dinheiro emitido. Pior na Europa, onde os países da zona do euro não têm tal faculdade e, em casos extremos, estão no fim de linha do recurso à dívida, o único disponível.

A Irlanda abriu as arcas para salvar seu sistema bancário, elevando o gasto público de 36% para 45% do PIB, o que projeta um déficit de 11% do PIB em 2010, insustentável sem ajuda externa, abandono do euro, cortar o gasto e aceitar uma recessão terrível ou aquilo que só os latinos costumam fazer: entrar em default. Lá até deflação é refresco.

http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/47001_48000/47430-1.html

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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