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Rhyan

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"O cérebro do ateu é diferente"
« Online: 29 de Março de 2009, 13:07:16 »
"O cérebro do ateu é diferente"

Mas o neurocientista americano Jordan Grafman ainda estuda o que veio primeiro: a diferença cerebral ou a crença
Letícia Sorg
 
TENDÊNCIA
Para Grafman, somos predispostos biologicamente a cultivar crençasJordan Grafman, neurocientista americano que liderou uma pesquisa sobre as áreas do cérebro envolvidas na crença religiosa, afirma que há diferenças entre os crentes e descrentes. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele também fala que a crença religiosa veio antes da política e foi benéfica para a formação da sociedade.

ÉPOCA - Em sua pesquisa, o senhor diz que as áreas do cérebro usadas pelo pensamento religioso são as mesmas ativadas quando falamos de nossas crenças políticas. Isso quer dizer que não há diferença entre a religião e a política, do ponto de vista neurológico?
Jordan Grafman - Ainda não temos uma resposta definitiva a essa pergunta, mas fortes indicações de que as crenças políticas estão sempre ligadas ao “aqui e agora”, às nossas vidas, enquanto as crenças religiosas não necessariamente estão ligadas a algo que experimentamos por nós mesmos, que vivenciamos. Há características muito diferentes entre esses dois sistemas de crença. O sistema de crença política mostra-se mais dinâmico e sofisticado do que o de crença religiosa. Há diferenças em comportamento e também nas áreas do cérebro ativadas. No caso das crenças políticas, usamos as estruturas do cérebro que surgiram por último na evolução humana, enquanto que, no caso das crenças religiosas, usamos áreas anteriores no desenvolvimento da espécie. A nossa hipótese é que a crença religiosa seja a primeira forma de sistema de crenças, que surgiu antes dos outros. Há alguns pontos em comum, é claro, mas se você olhar para a história, é bastante claro que os sistemas políticos mais antigos eram baseados em organizações familiares ou tribais, em laços de sangue. Era uma forma muito primitiva de política. Provavelmente, o que iríamos notar nos primeiros estágios do sistema religioso é muito parecido com o que vemos hoje em dia. É um sistema muito antigo. Nossos estudos mostram que os dois usam partes parecidas do cérebro, mas também que a religião veio antes da política.

Saiba mais
 
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ÉPOCA - Existe um ponto no cérebro responsável pela fé?
Grafman - Não existe um ponto de Deus ("God spot", em inglês). Talvez exista um ponto G ("G spot", em inglês), mas ambos são míticos.


ÉPOCA - O que o seu estudo traz de novo sobre o conhecimento da ciência sobre a religião?
Grafman - Nossos estudos confirmam o que outros estudos comportamentais sugeriam, mas não temos um estudo de imagem neurológica a que possamos nos comparar. Há algumas pesquisas semelhantes, mas elas não têm o mesmo formato da nossa. Acho que a nossa é a única até agora e espero que, no futuro, grupos diferentes façam o mesmo tempo de estudo ou estudos semelhantes para confirmar nossos achados ou discordar deles.


ÉPOCA - Os primeiros estudos apontavam que o lobo temporal era o principal responsável pela experiência do divino. Essa conclusão foi baseada principalmente em casos de epilepsia que afetavam essa região e geravam experiências religiosas. Os novos estudos confirmam essa teoria?
Grafman - Devo dizer que 95% das pessoas que tinham esse tipo de epilepsia não tinham experiências religiosas. Isso quer dizer que não é possível relacionar diretamente esse ponto do cérebro e os ataques epiléticos à experiência de Deus. Nosso lobo temporal também produz outros fenômenos, não ligados à religião. Em nosso estudo, de fato, encontramos uma ativação do lobo temporal. Isso quer dizer que ele está envolvido no sistema de crenças religiosas, mas não é o lugar onde elas estão armazenadas.


ÉPOCA - Em sua pesquisa, houve alguma diferença, do ponto de vista cerebral, entre adeptos de religiões diferentes?
Grafman - Não temos um número suficiente de participantes para fazer esse tipo de comparação, mas, no que pudemos observar, os sistemas ativados em qualquer prática religiosa são muito parecidos. O cérebro funciona de maneira similar até mesmo quando se considermos agnósticos e ateus. Isso significa que essas áreas não estão restritas à religião, mas atuam em outros sistemas de crença. Mas claramente há diferenças entre quem crê e quem não crê, mas, no tipo de estudo que fazemos, não conseguimos detectar o que veio antes: as diferenças cerebrais ou a crença. Mas estamos estudando essas diferenças.


ÉPOCA - Se os circuitos usados para formar a religião existem em todas as pessoas, por que nem todos acreditam em um poder superior?
Grafman - Todos têm a capacidade de crer, mas não quer dizer que todos vão fazê-lo. Todos temos capacidade para a violência, mas está claro que, em condições normais, a violência não é algo bom. Você tem a capacidade de crer, mas não está claro se, a longo prazo, essa crença será boa para você como indivíduo ou até mesmo para a sociedade. Tudo depende das circunstâncias. Todos têm capacidade de crer, mas isso também vai depender do mundo que vivem, das pessoas que o rodeiam, além da estrutura cerebral. A crença vai depender de um grupo pequeno ser bem-sucedido em persuadir um grupo maior de pessoas de que está certo. E isso tem muita semelhança com o que é a política.


ÉPOCA - O senhor se considera uma pessoa religiosa?
Grafman - Sim, tenho algumas crenças que eu compararia às que Einstein tinha. Não sou muito fã de religiões organizadas, que vejo mais como uma fonte de conflito do que de paz e benefícios espirituais. Mas acredito em algo superior. Acho que, de um lado, é importante estudar esse tipo de fenômeno porque ele está ligado ao nosso comportamento no dia a dia e porque entendê-lo melhor vai nos ajudar a entender como funciona o nosso cérebro. É como analisarmos uma pessoa que teve danos cerebrais. Acho que devemos seguir essa linha de pesquisa independentemente de nossas crenças pessoais, mas é claro que estudar esse assunto suscita perguntas. É muito difícil para alguém que tenha sua própria fé fazer um estudo sobre a existência do céu, do inferno e se Deus existe em forma humana. Esses cientistas não conseguirão desenhar estudos que consigam comprovar suas teorias. A única coisa que se pode fazer é dizer: eu acredito.


ÉPOCA - De que maneira o seu estudo pode contribuir para a sociedade?
Grafman - Se membros da sociedade estão interessados em saber como funciona o cérebro, então os meus estudos podem ajudar. Ele vai além de entender como o cérebro interpreta uma palavra ou um objeto, dados específicos de cada indivíduo. Ele ajuda a entender como o cérebro funciona e onde estão guardadas as nossas crenças. É importante também para entender a evolução, para saber que partes do cérebro que se desenvolveram recentemente, quais processos cognitivos e sociais elas geram. Além disso, meu estudo é uma pequena parte na hora de entender como as crenças religiosas são armazenadas em nosso cérebro. Muitas sociedades e culturas foram guiadas e sobreviveram porque tinham um conjunto comum de crenças religiosas.

ÉPOCA - O senhor diria que a religião é um produto acidental derivado da nossa evolução no relacionamento com outros seres humanos?
Grafman - Eu não diria acidental. Existe uma tendências para nós pensarmos de uma certa maneira e essa maneira, de alguma forma, envolve a necessidade de ter um sistema de crenças. E esse sistema guia seu comportamento social. Acredito que nós estamos constantemente criando novos tipos de sistemas de crença e é muito provável que os primeiros tenham sido baseados em autoridades religiosas.


ÉPOCA - Mas o senhor acredita que a religião tende a desaparecer?
Grafman - Até hoje, algumas religiões têm sido muito dinâmicas e mudaram de acordo com as mudanças culturais e da sociedade. De alguma forma, muitas religiões, não todas, são grandes negócios. E, como grandes negócios, elas querem sobreviver e uma das habilidades necessárias para isso é ter uma certa flexibilidade. Isso acontece o tempo todo com igrejas grandes e grupos religiosos significativos. O negócio de sobreviver beneficia aquelas que são dinâmicas e podem mudar, não para tão longe dos preceitos originais, mas o suficiente para incorporar novos meios e estilos. Até quando isso vai continuar? Vai depender das pessoas, das descobertas da ciência e... se Deus vai reaparecer ou não. Se ele aparecer, vou parar de fazer meus experimentos (risos).


ÉPOCA - O senhor diria que somos biologicamente predispostos a ser religiosos?
Grafman - Diria que somos predispostos biologicamente a ter crenças, e a religiosa é uma delas, mas não a única. Eu classificaria a religião uma forma primitiva de crença porque se baseia muito no que é desconhecido. A parte que tem como base o que é conhecido baseia-se em regras éticas, uma parte que é dividida com outros sistemas de crença. Mas o que dá uma natureza de autoridade à crença é a predisposição a acreditar em um Deus, uma entidade superior. Há uma parte da religião que se sustenta sozinha e até poderia virar lei. Mas tem outras partes que estão baseadas em fenômenos que não conseguimos explicar. Algumas das regras éticas vieram por meio da religião, mas só se estabeleceram porque ajudaram a ordenar a sociedade. Então, muitas sãs regras tiveram bastante sentido. A religião nasceu claramente da nossa necessidade de entender o que estávamos vendo. Se você vivesse na Itália e visse uma erupção vulcânica mas não conhecesse o fenômeno natural, você o atribuiria aos homens. A maneira mais simples de fazer isso, especialmente quando você perdeu bens ou entes queridos, é dizer: "Deus (ou alguma coisa) está me punindo". Pode acontecer tambem de estar interessado em ser um poder autoritário. Se você for capaz de prever alguma coisa, mesmo que seja uma coincidência, você pode manipular as pessoas a acreditar em um poder sobrenatural. Isso acontece o tempo todo, inclusive em nossa cultura. Hoje, provavelmente, isso acontece em grupos menores do que os de antigamente.


ÉPOCA - A religião pode ser uma vantagem evolucionária?
Grafman - Certamente sim se ela ajuda a organizar a sociedade. Pode ser uma vantagem para a sobrevivência. A religião também pode ser boa em um nível pessoal ao reduzir os níveis de ansiedade. Isso acontece porque a fé lhe dá uma espécie de esperança que pode afetar até o seu sistema imunológico de uma maneira muito positiva. Sistemas de crença, não apenas religiosas, também podem ser benéficos. A religião não é necessariamente algo ruim. Pode ser algo que você questiona, do ponto de vista científico, mas, de um ponto de vista individual, pode ser muito positiva, e, do ponto de vista da sociedade, no início, pode tr ajudado a sustentá-la.


ÉPOCA - Há alguns estudos que sugerem, inclusive, que a religião pode ajudar a curar o vício em drogas. O que o senhor acha dessa linha de pesquisa?
Grafman - Há uma longa história de entidades religiosas, como mosteiros e mesquitas, tentando oferecer uma saída para quem é viciado em drogas. A explicação racional para isso é que, como o vício está ligado a uma hipersensibilidade do sistema de recompensa cerebral, de alguma forma, substituir as drogas por outra coisa pode ser eficaz para reduzir a necessidade pela droga. Você está substituindo a droga por algo mais positivo. Há alguns casos individuais que foram descritos como muito bem-sucedidos, mas, em geral, não é isso que acontece. Ou, senão, já teríamos curado todos do vício. Mas claramente ajuda em alguns casos.


ÉPOCA - O senhor acha que a meditação e a oração podem melhorar a memória?
Grafman - Em várias situações em que você consegue controlar sua ansiedade, você vai conseguir obter uma memória melhor. Se algumas técnicas podem ajudá-lo, não há problema. Embora um pouco de ansiedade seja bom para as pessoas, dependendo da circunstância em que você está. Mas essa melhoria da memória não é necessariamente um fenômeno religioso. Você está simplesmente aprendendo a controlar o estado do seu corpo para melhorar suas funções.


ÉPOCA - Qual é a relação entre fé e saúde?
Grafman - Em minha experiência de trinta anos com pacientes, a religião não é a cura das doenças, embora ela possa fazê-lo sentir-se melhor e, com isso, ajudar a melhorar o funcionamento do seu organismo. Há muitas evidências de que seu sistema imunológico melhora porque você se sente melhor com as suas crenças.


Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI65036-15224-1,00-O+CEREBRO+DO+ATEU+E+DIFERENTE.html

Offline Gilson

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Re: "O cérebro do ateu é diferente"
« Resposta #1 Online: 29 de Março de 2009, 13:41:15 »
Isso de melhorar o sistema imunológico é bem controverso, as pessoas adoram colocar que determinadas coisas afetam ou melhoram o sistema imunológico, mas a maioria é especulação. O sistema imunológico é bastante complexo e pouco conhecido ainda.

Obviamente o cérebro humano desenvolveu a capacidade por crer como vantagem evolutiva, até outros primatas apresentam alguma forma de crença. Mas não entendo como cientistas como esse ainda mantem uma forma de crença.  :stunned:
"What can be asserted without evidence can also be dismissed without evidence". (Christopher Hitchens)
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