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Rhyan

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As crises monetárias mundiais
« Online: 29 de Março de 2009, 18:37:14 »
As crises monetárias mundiais

 
Por Murray N. Rothbard
 

N. do T: A atual crise econômica mundial mostra cristalinamente que um sistema monetário baseado em papel-moeda emitido livremente e sem lastro pelos governos mundiais é algo inerentemente estável.  Quando os bancos centrais mundiais estão livres para inflar a base monetária de seus respectivos países, derrubando os juros para níveis abaixo dos de livre mercado (com a intenção de estimular suas economias), as inevitáveis conseqüências desse processo são: o crescimento econômico artificial, a euforia e os maus investimentos que tal crescimento gera, e, finalmente, as depressões.  Para entender o atual caos monetário, é imprescindível fazer um relato sucinto dos principais acontecimentos monetários internacionais do século XX, e ver como cada intervenção foi levando a outras intervenções ainda mais intensas, até que o atual sistema monetário, o mais instável de todos, fosse adotado.  E agora já se fala em uma nova moeda mundial.  Mas apenas uma commodity pode preencher satisfatoriamente esse vácuo.
 

 

Introdução
 

O padrão ouro clássico, 1815-1914
 

Fase II:
A Primeira Guerra Mundial e Depois
 

Fase III: O padrão ouro-câmbio
(Grã-Bretanha e EUA) 1926-1931
 

Fase IV: Papeis-moeda flutuantes, 1931-1945
 
 

Fase V: Bretton Woods e o novo padrão ouro-câmbio americano, 1945-1968
 

Fase VI: O declínio de Bretton Woods, 1968-1971
 

Fase VII: O fim de Bretton Woods: papéis-moeda flutuantes, Agosto-Dezembro, 1971
 

Fase VIII: O Acordo Smithsoniano,
dezembro, 1971 - fevereiro, 1973
 

Fase IX: papeis-moeda flutuantes, março de 1973 - ?
 
 

 

Introdução





Desde que o Ocidente abandonou o padrão ouro clássico (em que as transações eram feitas em moedas de ouro ou em certificados lastreados 100% em ouro) em 1914, o sistema monetário internacional vem oscilando entre um sistema ruim e outro pior.  Os países adotam câmbios fixos e logo depois se arrependem e retornam para o câmbio flutuante.  Alguns fazem o movimento inverso.  Outros preferem um sistema amorfo, onde ambos os esquemas são mantidos simultaneamente.  Logo depois abortam essa política e retornam para uma das duas acima. 

Cada novo sistema, cada mudança básica, é saudade extravagantemente por economistas, banqueiros, políticos, imprensa e bancos centrais como a derradeira e permanente solução para nossas persistentes aflições monetárias.  E então, após alguns anos, o inevitável colapso ocorre, e todo Establishment em desespero se apressa para criar mais uma nova engenhoca, mais uma maravilhosa panacéia monetária que supostamente devemos admirar e louvar.  Tais artimanhas serão uma constante enquanto o sistema de papel-moeda sem lastro for mantido.  Só haverá pressão para uma mudança quando todas as transformações monetárias por que passamos for entendida - o que permitirá entender por que o atual sistema é instável.

O padrão ouro clássico, 1815-1914

Podemos olhar para o padrão ouro "clássico" - em vigor no mundo ocidental do século XIX e início do século XX - como sendo literal e metaforicamente a Era Dourada.  Com a exceção do incômodo problema da prata (quando os governos resolveram instituir por um tempo o bimetalismo, fixando o câmbio entre o ouro e a prata), o mundo se manteve no padrão ouro, o que significa que cada moeda nacional (o dólar, a libra, o franco, etc.) era meramente um nome para um determinado peso de ouro.  O dólar, por exemplo, foi definido como sendo 1/20 de uma onça de ouro, a libra esterlina como um pouco menos de 1/4 (exatamente 0,2435) de uma onça de ouro, e por aí vai.  Isso significa que as "taxas de câmbio" entre as várias moedas nacionais eram fixas - não porque elas eram arbitrariamente controladas pelos governos, mas pelo mesmo motivo que uma libra é definida como sendo igual a dezesseis onças. 

Ou seja: os vários nomes das moedas eram meras definições de unidades de peso.  As pessoas hoje gostam de dizer que naquela época o "preço do ouro" estava "fixado em 20 dólares a onça de ouro".  Uma concepção errada.  O dólar foi definido como sendo o nome dado a 1/20 de uma onça de ouro.  Portanto, era errado falar sobre "taxas de câmbio" entre as moedas de dois países.  A "libra esterlina" na realidade não era "cambiada" por cinco "dólares".  Um dólar - o nome dado a 1/20 de uma onça de ouro - e uma libra esterlina - o nome dado a 1/4 de uma onça de ouro - eram simplesmente o mesmo que 5/20 de uma onça de ouro.

Esse padrão ouro internacional fez com que os benefícios de se ter um meio de troca comum fosse estendido para todo o mundo.  Uma das razões para o crescimento e a prosperidade mundial daquela época foi o fato de os países terem podido desfrutar de um meio de troca que era comum em todos eles.  O fato de os EUA, por exemplo, terem utilizado um único padrão ouro (ou um único padrão dólar, era a mesma coisa) em todo o seu território evitou o caos que haveria caso cada cidade e condado emitissem seu próprio dinheiro, que então iria flutuar em relação aos outros dinheiros de todas as outras cidades e condados.  O século XIX vivenciou os benefícios de se ter uma única moeda para todo o mundo civilizado.  Uma moeda única facilitava a liberdade de comércio, de investimento e de viagem por toda uma área monetária e comercial, com o consequente aumento da especialização e da divisão internacional do trabalho.

Deve-se enfatizar que o ouro não foi escolhido arbitrariamente pelos governos para ser o padrão monetário.  No decorrer dos séculos, o ouro foi escolhido naturalmente pelo livre mercado como sendo o melhor meio de troca, a commodity que oferecia a mais estável e desejável característica monetária.  Acima de tudo, a oferta e o suprimento de ouro estavam sujeitos apenas às forças de mercado, e não às arbitrárias impressoras do governo.

O padrão ouro internacional fornecia um mecanismo de mercado que obstruía automaticamente o potencial inflacionário do governo.  Também fornecia um mecanismo automático que mantinha os balanços de pagamentos de cada país em equilíbrio.  Como o filósofo e economista David Hume mostrou em meados do século XVIII, se uma nação - por exemplo, a França - inflacionar sua oferta de francos (imprimindo francos sem o equivalente lastro em ouro), os preços de suas mercadorias subirão; o aumento inicial da renda decorrente do maior número de francos em circulação irá estimular as importações, que também serão estimuladas pelo fato de os preços das importações agora estarem menores do que os preços internos.  Ao mesmo tempo, os preços domésticos mais altos desestimulam as exportações.

O resultado será um déficit no balanço de pagamentos, que será pago à medida que os estrangeiros forem trocando seus francos pelo ouro em posse dos bancos franceses.  Essa saída de ouro do país significa que a França terá de contrair sua inflacionada oferta monetária (francos de papel impressos sem lastro em ouro) para evitar uma perda de todo o seu ouro.  Se essa inflação ocorreu na forma de depósitos bancários (sendo que os bancos praticaram reservas fracionárias), então os bancos franceses terão de contrair seus empréstimos e depósitos a fim de evitar a falência, uma vez que os estrangeiros estão demandando que os bancos franceses redimam em ouro seus depósitos.  Essa contração irá diminuir os preços domésticos, o que aumentará as exportações e, consequentemente, reverterá a fuga de ouro, até que o nível de preços internos volte ao nível anterior em relação ao resto do mundo.

É verdade que as intervenções governamentais enfraqueciam a velocidade desse mecanismo de mercado e geravam ciclos econômicos de inflação e recessão dentro dessa estrutura de padrão ouro.  Essas intervenções eram particularmente as seguintes: a monopolização governamental dos serviços de cunhagem, leis que determinavam a circulação forçada de algumas moedas, a criação de papel-moeda, e o desenvolvimento de um setor bancário inerentemente inflacionário, estimulado por todos os governos.  Mas embora essas intervenções tenham freado o processo de ajuste de mercado, esses ajustes ainda exerciam o controle final da situação.

Portanto, embora o padrão ouro clássico do século XIX não tenha sido perfeito, e tenha permitido alguns ciclos econômicos relativamente modestos, foi ele quem nos propiciou, de longe, a melhor ordem monetária que o mundo já vivenciou, uma ordem que funcionava, que impedia que os ciclos econômicos saíssem de controle, e que permitiu o desenvolvimento do livre comércio e do investimento.

Mais em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=258

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Re: As crises monetárias mundiais
« Resposta #1 Online: 29 de Março de 2009, 20:41:31 »
Bom texto. Rothbard é um grande autor. Preciso ler mais dele, mas ando sem tempo ultimamente.

 

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