Porque Keynes estava errado Escrito por Rafael Roos Guthmann
Coordenação de planos e o desperdício de conhecimento em Keynes:
Keynes numa interpretação subjetivista e seus erros. Keynes foi provavelmente o economista cuja obra permite o maior grau de interpretações diferentes por parte de quem lê. Nesse ensaio vou falar de Keynes sob uma interpretação na tradição austríaca: Subjetivismo, individualismo metodológico e processo. Essa interpretação é certamente diferente das interpretações normais dele, ou mais especificamente, de seu livro, Teoria Geral, onde o foco se dá no conceito de demanda efetiva. Na minha interpretação subjetivista do cara por exemplo não existe o conceito de demanda efetiva. Eu interpreto ele pela perspectiva de incerteza e dos problemas de coordenação que essa incerteza gera.
O ponto central do livro Teoria Geral é que a teoria clássica (o que hoje é a teoria ortodoxa) está incorreta (ou pelo menos, incompleta) porque ela não leva em consideração a existência da incerteza genuína. Num mundo onde temos agentes com perfeita percepção da estrutura dos problemas com que eles se defrontam os problemas macroeconômicos não existem e não podem existir. O desemprego não existe, já que se o agente tem perfeita noção das perspectivas de encontrar emprego pelo salário que deseja então ele vai ou não vai ofertar seu trabalho dependendo do resultado que já está definido. Keynes acertou quando disse, de forma implícita pela minha interpretação, que o desemprego existe quando os empregadores e os próprios ofertantes de trabalho não sabem quanto que os consumidores estarão dispostos a pagar pelo produto do trabalho dos indivíduos que procuram emprego. Se todo mundo sabe qual é a produtividade do trabalho de cada indivíduo, então todos os indivíduos estarão empregados e recebendo um valor igual a sua produtividade marginal.
Então se torna claro que para Keynes o problema fundamental de uma economia de mercado é que ela teria a tendência de gerar incerteza dentro do framework de escolha dos agentes. Isso implicaria em altas taxas de desemprego dos fatores de produção já que seus proprietários não conseguiriam coordenar seus planos com os planos dos outros agentes. Keynes achava que o mercado conseguia alocar bem os recursos já empregados e por isso era um sistema valioso, mas ele também pensava que o capitalismo poderia funcionar melhor se contasse com a intervenção estatal para reduzir o grau de incerteza no sistema, reduzindo o desemprego dos fatores de produção e assim elevando a produção. Além disso uma menor taxa de desemprego gera maior bem estar social.
Mas porque que o mercado iria gerar incerteza?Primeiro é preciso lembrar que estamos falando de incerteza do tipo estrutural. A incerteza estrutural é aquele tipo de incerteza onde que o agente não tem uma percepção perfeita da estrutura de meios e fins com que ele se defronta, e por isso não tem a mínima idéia de como fazer escolhas ótimas, na verdade ele nem sabe que não sabe como realizar escolhas ótimas. Esse tipo de incerteza contrasta com a incerteza paramétrica, ou seja, a incerteza em relação as propriedades dos parâmetros do framework de meios e fins, esse tipo de incerteza se refere a parâmetros do problema que o agente já sabe que existem e são relevantes para seu processo de escolha, ou seja, é o tipo de incerteza onde o agente está ciente da incerteza. Esse tipo de incerteza pode ser formalizado matematicamente como incerteza probabilística já que o agente está ciente de que não sabe e por isso estabelece um grupo de estados possíveis de mundo e distribuí suas apostas em cada estado possível.
Os problemas macroeconômicos do desemprego dos fatores são causados pela incerteza não probabilística. Se imaginarmos um mundo onde só existe incerteza probabilística não existira desemprego porque não existia descoordenação de planos de oferta de fatores já que o agente já tem uma percepção perfeita do mercado dos fatores, não existem expectativas frustradas. Uma expectativa é frustrada quando se não tem idéia de que as coisas poderiam ser diferentes e elas se mostram diferentes, ou seja, quando não se espera que ocorra o que ocorreu. Então definindo o problema do desemprego como sendo um problema de coordenação de planos de oferta e procura por fatores de produção e definindo que esses planos podem falhar quando os agentes não antecipam as conseqüências de seus planos devido a incerteza estrutural, podemos concluir que segundo Keynes, o mercado não conseguiria lidar satisfatoriamente com a incerteza estrutural.
Então como que o mercado iria gerar problemas de incerteza estrutural? O mercado é um processo onde milhões de pessoas possuem liberdade de ação para realizar planos com o objetivo de colher os benefícios da divisão do trabalho através da oferta e procura de bens. Cada agente precisa coordenar seu plano de ação com os planos de ação dos outros agentes se ele quiser ter sucesso em melhorar seu estado de satisfação. O problema é que o mercado iria desperdiçar a habilidade empreendedora dos indivíduos no processo de descobrir como antecipar as escolhas dos outros agentes ao invés dessa habilidade ser utilizada para satisfazer as preferências dos consumidores. Keynes exemplificou esse problema a partir do conceito de “concurso de beleza keynesiano”.
Esse conceito é o seguinte: Um jornal publica 6 fotos de faces de mulheres onde que os assinantes do jornal devem responder qual face eles acham que é a mais bonita. Ganha quem acertar qual face receberá mais votos. Os agentes então vão tentar antecipar o que os outros agentes vão antecipar em relação aos votos, já que ganha quem conseguir antecipar corretamente num maior número de “camadas de planos” ou seja, teriamos a possibilidade de infinitas antecipações em cima de antecipações. E é assim que funcionam as bolsas de valores, nessas instituições o ponto de partida é a capacidade das empresas cotadas em satisfazer os consumidores, a partir disso os investidores tentam antecipar as flutuações de preço das ações, só que essas flutuações não são causadas somente pela flutuações das expectativas de lucro das empresas mas também pelas flutuações das expectativas de flutações de expectativas de lucro. O potencial de expansão do framework de meios e fins com que o agente tem que lidar no mercado é então ilimitado, o agente pode ter incerteza em relação a um número ilimitado de “camadas de planos”.
Colocando em termos Hayekianos: O problema do conhecimento se refere ao fato de que os agentes não tem um conhecimento perfeito em relação a estrutura de meios e fins com que ele se defrontam. Se existe problema do conhecimento existe incerteza estrutural. O tamanho do problema do conhecimento pode mudar no mercado, dependendo dos planos de ação dos outros agentes. No caso de um indivíduo isolado numa ilha ou no caso de um ditador socialista, o problema do conhecimento se resume a compreender a disponibilidade dos recursos, a tecnologia e as preferências que devem ser satisfeitas com esses meios. No mercado o problema se expande além desses dados para a antecipação das ações dos outros indivíduos, já que de nada adianta saber como produzir um produto se não se sabe como coordenar o negócio com os outros agentes no mercado. E como é relevante conseguir prever o que os outros agentes estão tentando prever, ou seja, sempre estar um passo a frente dos outros agentes, então não existe limite para a complexidade de problema de coordenação no mercado. O tamanho potencial do problema do conhecimento para os agentes no mercado é portanto ilimitado.
Como grande proporção da massa cinzenta dos empreendedores é desperdiçada na antecipação das antecipações dos outros empreendedores, seria do benefício de toda a comunidade uma redução no grau de liberdade de ação no mercado, particularmente nos mercados financeiros. Keynes pensou então que se reduzirmos o grau de liberdade dos agentes seria possível reduzir o grau de incerteza com que eles se defrontam. Reduzindo assim os problemas de desemprego dos fatores de produção. O estado conseguiria reduzir esses problemas através da socialização do investimento, impedindo por exemplo, o funcionamento dos mercados financeiros como eles existem atualmente (e existiam mais ou menos da mesma maneira na época de Keynes). O mercado ainda seria um bom alocador de fatores que não estão desempregados, embora não seria perfeito devido ao conhecimento empresarial desperdiçado, e por isso a função do estado se limitaria a manter o pleno emprego.
Outro complicador relevante para Keynes é a moeda. A moeda é uma instituição que existe para que os indivíduos consigam lidar com a incerteza estrutural. Num mundo sem incerteza estrutural não existe moeda. Na teoria clássica (ortodoxa) não existe motivo para que os agentes demandem moeda. Só que a moeda é também um fator que pode desestabilizar o sistema econômico: Numa crise econômica, se os agentes ficam na expectativa de que no futuro eles vão perder seu emprego, ou seja, sua fonte de renda, eles vão demandar maiores encaixes de moeda e isso significa que seus planos de consumo serão alterados. Como os empreendedores esperavam a realização desses planos de consumo a demanda por moeda por parte dos agentes vai gerar prejuízos para os empreendedores que estavam contando com o comportamento usual dos consumidores. Esses prejuízos vão se transmitir por todo o sistema econômico, já que o mercado nada mais é do que uma teia de aranha de planos de ação mais ou menos coordenados, os planos dos setores que produzem insumos para o setor que produz bens de consumo final vão ser frustrados. O choque causado pelo aumento na demanda por moeda vai gerar uma espiral deflacionária. Na Macroeconômia Austriaca a espiral deflacionária é o efeito secundário da crise que amplifica os efeitos iniciais da crise, não é a fonte causadora da crise. A causa dos ciclos é a expansão monetária no mercado financeiro.
O erro fundamental de KeynesKeynes estava errado quando pensou que a redução no grau de liberdade dos agentes iria possibilitar uma redução no grau de incerteza estrutural com que os agentes se defrontam. Isso é devido a um simples fato: Cada mente individual possuí uma capacidade limitada de estar alerta (ou seja, tem uma propensão a descoberta espontânea limitada) em relação ao framework de meios e fins com que ela se defronta. O desafio fundamental quando se lida com a incerteza é justamente como utilizar essa propensão a descoberta espontânea que está dispersa em milhões de indivíduos pela sociedade. Uma limitação no grau da liberdade de ação dos indivíduos é um limitação na capacidade do indivíduo em utilizar seu conhecimento. Qualquer limitação no grau de liberdade dos indivíduos então representa uma redução na capacidade do sistema em lidar com o problema do conhecimento.
Então chegamos ao ponto fundamental: Existem duas tendências diferentes e de direções opostas que emergem quando se lida com variações no grau de liberdade de ação individual. A primeira é a tendência do problema do conhecimento se expandir em complexidade com a elevação no grau de liberdade no sentido que os agentes precisam tem consciência não só dos dados do mercado (disponibilidades, tecnologia e preferências) mas também dos planos de ação dos outros indivíduos. A segunda tendência é que quando os indivíduos possuem liberdade de ação, eles tem liberdade de utilizar seu conhecimento para resolver o problema do conhecimento, capturando oportunidades de lucro assim que são percebidas. Sem liberdade para lucrar não existe agregação do conhecimento disperso no mercado. Ou seja, sem liberdade de ação não existe nenhuma tendência para que o problema do conhecimento seja resolvido. Mas então surge a questão: Quando que os ganhos marginais da capacidade de lidar com o problema do conhecimento através do acrescimento marginal da liberdade de ação individual são menores que os custos marginais da expansão do grau de complexidade desse problema do conhecimento. Para Keynes o ponto de ótimo não seria no livre mercado (nota-se que eu acho que Keynes nunca imaginou que o segundo aspecto do problema de como lidar com a incerteza existisse, ou seja, o conhecimento disperso).
Mas o fato é que essa questão não existe! No mercado a antecipação dos planos de ação dos outros indivíduos permite que os indivíduos que estão tentando se coordenar com esses planos de ação previstos consigam realizar escolhas como que se eles tivessem informação que não tem. Ou colocando em outras palavras, permite que os indivíduos transmitam informação não articulável através do sistema de preços. O que é o sistema de preços? O sistema de preços é o processo de antecipação dos preços que os agentes do mercado vão aceitar em transações com base na antecipação dos planos de oferta e procura dos agentes no mercado, ou seja, o sistema de preços é na verdade um concurso de beleza keynesiano. Um ditador socialista iria traçar um plano de ação utilizando seus conhecimentos sobre os dados básicos do sistema (disponibilidades, preferências, etc), o plano de ação teria suas partes coordenadas umas com as outras. No mercado cada indivíduo traça seus planos de ação com base nos seus conhecimentos sobre os dados subjacentes ao mercado e em relação aos planos de ação dos outros indivíduos. Cada plano de ação se coordena da mesma forma que as partes de um plano de ação do ditador socialista se coordenam. Quando o plano de ação de cada indivíduo está se coordenando com os planos dos outros indivíduos, esse plano está na verdade utilizando os conhecimentos dos outros indivíduos de forma inconsciente da mesma forma que cada parte do plano do ditador socialista é feito com base na totalidade do conhecimento do ditador socialista. Em outras palavras: Antecipar o funcionamento do sistema de preços (como no mercado de ações) é conseguir contribuir com seu conhecimento para que o sistema econômico funcione como que se tivesse seguindo um único plano que utilizasse (magicamente) a totalidade do conhecimento da sociedade. A questão não faz sentido porque a capacidade em utilizar os conhecimentos sobre as disponibilidades de recursos, tecnologia e preferências dos consumidores está ligada diretamente a antecipação de planos de ação dos outros agentes. Qualquer redução no grau de liberdade de ação do agente vai reduzir a utilização do conhecimento sobre esses dados subjacentes.
Por exemplo, na bolsa de valores se temos um agente que conseguiu antecipar que uma firma vai lucrar mais nos próximos anos do que suas ações no presente indicam, ele vai comprar ações no presente com a expectativa de que no futuro ele vá conseguir lucrar com isso. Só que se um outro investidor antecipa essa compra das ações ele vai querer comprar também, a competição entre os dois vai puxar o preço das ações para cima. Já que para conseguir comprar o ativo o agente tem que oferecer um preço maior do que as ofertas dos outros agentes. O investidor que apenas antecipou a ação do investidor que sabe que a firma vai lucrar está agindo como que se ele também soubesse que a firma fosse lucrar. E devido ao processo de ajustamento de preço da ação, o preço da ação no presente vai se aproximar do preço da ação no futuro. O que significa que todos os agentes no mercado vão agir como que se soubessem que a empresa vai lucrar mais no futuro, mesmo que apenas 1 deles realmente tenha descoberto isso e apenas mais 1 tenha antecipado diretamente a ação desse investidor. Os planos de ação de todos os agentes do mercado vão se coordenar com os dados subjacentes utilizando apenas o conhecimento de um agente, como que se fosse um plano feito por um ditador que tivesse a totalidade do conhecimento na sociedade, incluindo o conhecimento daquele agente. Nesse caso temos 3 camadas de antecipação: Os agentes do mercado que só sabem o preço corrente, o agente que sabe que a lucratividade vai subir e o agente que sabe que o outro agente vai comprar. Essas 3 camadas de antecipação apenas serviram para transmitir de forma completamente inconsciente o conhecimento estrutural (ou seja, o conhecimento da estrutura de meios e fins com que os agentes se defrontam e não o conhecimento dos parâmetros dessa estrutura), na verdade a transmissão do conhecimento estrutural é sempre inconsciente porque o conhecimento estrutural é por definição o conhecimento em que o agente não está consciente que possuí, logo nunca vai poder transmiti-lo para outros agentes de forma consciente.
Colocando tudo isso em outras palavras: As discrepâncias do sistema de preços produzem uma tendência sistemática para que as descobertas que os agentes individuais fazem do conhecimento estrutural serem assimiladas pelo sistema econômico de forma a coordenar todos os agentes como que se o sistema fosse planejado por uma mente que tivesse a percepção somada de todas as mentes de todos os indivíduos da sociedade somados. Nota-se que o conhecimento estrutural é o contrário da incerteza estrutural. Se assumirmos o conhecimento estrutural perfeito, estamos assumindo a inexistência de incerteza estrutural e por isso a inexistência de desemprego, moeda. Com conhecimento estrutural perfeito estamos no mundo da teoria de equilíbrio geral que é basicamente a mesma coisa que a teoria clássica (só que mais refinada logicamente).
Mas, o desemprego é sempre ruim?Toda essa discussão deu a impressão que a existência de fatores de produção desempregados seja um fenômeno ruim, no sentido que as preferências dos agentes seriam melhor satisfeitas se a totalidade dos fatores de produção estivessem sendo utilizados (o julgamento de valor que estou fazendo se refere a definir que bom é tudo o que é eficiente, no sentido que tende a gerar ganhos mutuamente benéficos). Keynes pensava dessa maneira e por isso pensava que a eficiência alocativa e a existência de desemprego são fenômenos essencialmente diferentes. Essa impressão é errônea, porque na verdade não podemos separar os conceitos de eficiência alocativa de fatores empregados e a existência fatores desempregados. Isso é porque existem fatores desempregados devido ao processo de mercado que tende a alocar os fatores para seus usos mais eficientes, o desemprego faz parte do processo de correção das ineficiências. Para explicar isso vou definir os dois tipos de equilíbrio geral Hayekiano:
Equilíbrio geral fraco: No caso de um equilíbrio geral fraco os agentes traçam seus planos de ação e no processo de execução desses planos eles se mostram perfeitamente coordenados com os planos dos outros agentes. Não existem expectativas frustradas. Esse tipo de equilíbrio não é sempre eficiente. A inexistência de expectativas frustradas não implica que todas as oportunidades de ganho mútuo já foram exploradas, apenas que todas as ações que foram planejados tiveram sucesso.
Equilíbrio geral forte: É um caso especial do equilíbrio geral fraco. Nesse caso os planos de ação dos agentes estão coordenados da mesma maneira que no primeiro caso (ou seja, sem expectativas frustradas). Só que além disso a todas as oportunidades de lucro já foram esgotadas e todo o conhecimento estrutural que poderia ser descoberto já foi descoberto. No equilíbrio geral fraco não precisamos esgotar as possibilidades de descoberta, mas apenas as possibilidades de frustração de expectativas. O equilíbrio geral forte é quando as expectativas de todos os agentes estão perfeitamente coordenadas com a realidade econômica, os planos estão coordenados entre si e com os dados subjacentes do mercado.
Um equilíbrio geral fraco é uma situação onde existe plena coordenação de planos, por isso é uma situação onde não existe desemprego dos fatores de produção que são ofertados no mercado. Mas essa pode não ser uma situação ideal: Uma sociedade composta por milhões de fazendas, onde temos fazendeiros auto suficientes que apenas planejam plantar, colher e consumir o produto de suas próprios fatores e onde não temos nenhuma troca entre os fazendeiros é uma sociedade que está em um equilíbrio geral fraco. Já que sem nenhuma troca e nenhuma tentativa de execução de um plano de ação muito complexo (além de plantar, colher e consumir de forma mecânica) os agentes não vão ter seus planos de ação frustrados. Mas essa não é uma situação positiva sob nenhum aspecto. Todo mundo está plenamente empregado em empregos de baixa produtividade e a eficiência do sistema é mínima. Mas digamos que nessa sociedade alguns dos fazendeiros sejam dotados de propensão a descoberta espontânea (ou seja, da qualidade de estar alerta), logo eles vão descobrir possibilidade de ganho com especialização, em algum tempo todos os fazendeiros vão deixar de ser auto suficientes, entrar no mercado e vão ter suas expectativas de utilidade melhoradas através desses ganhos com a divisão do trabalho. Só que mais adiante os empreendedores vão descobrir formas mais eficientes de produzir vários produtos. A implementação dessas novas tecnologias vão frustrar os planos de muitos fazendeiros, seus fatores de produção vão ficar desempregados, mas essa frustração é apenas um dos lados da descoberta de erros no plano de ação. Existem 2 tipos de descoberta possíveis: Temos a descoberta de ganhos que deixam de ser aproveitados, ou seja, descoberta de possibilidades de lucro e a descoberta de erros nos planos de ação que eram excessivamente otimistas, ou seja, descoberta de prejuízos.
O desemprego é uma das conseqüências da descoberta de prejuízos. É parte do processo de ajustamento do mercado para condições que nunca são perfeitamente antecipadas pelos agentes. O desemprego é um processo de aprendizagem. Numa crise econômica, que é um período de descoberta de que a estrutura intertemporal de produção havia se desenvolvido de uma forma descoordenada com as preferências temporais dos consumidores, o salto da taxa de desemprego em períodos de recessão faz parte do processo de ajustamento da estrutura de produção com as preferências temporais dos consumidores. Nota-se que num equilíbrio forte também não temos desemprego, mas no caminho entre um equilíbrio fraco ineficiente e um equilíbrio forte temos um processo de mercado que envolve a frustração de expectativas e o desemprego faz parte desse processo. Um sistema econômico altamente dinâmico como os EUA tende a ter maior quantidade de fatores de produção desempregados do que uma sociedade mais estática, como por exemplo, a Europa Medieval.
Com toda essa discussão chegamos no ponto em que Keynes, quando analisava a incerteza e sua relação com o desemprego conseguiu captar um boa parte da realidade, mas deixou de captar uma parte ainda maior da realidade que tem relevância direta para a sua visão da economia de mercado. Embora ele tenha percebido que a teoria clássica não conseguia explicar a realidade perfeitamente, ele falhou em elaborar uma teoria que conseguisse incluir os insights da teoria clássica ao mesmo tempo que conseguisse lidar com os problemas gerados pela incerteza estrutural. Ou seja, ele falhou em avançar de forma rigorosa a ciência econômica, se resumindo a captar de uma forma parcialmente subconsciente os problemas da teoria ortodoxa, ele não entendia exatamente qual era o problema, mas sabia que havia um problema sério na teoria clássica e esse problema estava calcado na existência da incerteza estrutural.
Fonte:
http://www.libertarianismo.com//menuartigos/artigos/436-porque-keynes-estava-errado