Autor Tópico: Especial BBC: BRICs 2020  (Lida 1870 vezes)

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Especial BBC: BRICs 2020
« Online: 06 de Abril de 2009, 23:35:51 »
A BBC Brasil fez uma série especial comparando as assimetrias entre os BRICs, sua possível ascensão em um mundo multipolar e seus desafios e perspectivas para o ano 2020.


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Década de 2020 deve consolidar poder dos BRICs

Os anos 20 deste século podem marcar a consolidação do fortalecimento de países emergentes como potências econômicas e políticas, em um mundo cada vez mais multipolar. Segundo acadêmicos e instituições de pesquisa, os chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) serão peças-chave dessa nova ordem.

Para investigar que desafios cada país do BRIC terá pela frente, no caminho para se tornar uma potência em 2020, a BBC Brasil produziu uma série especial que começa a ser publicada nesta segunda-feira, reunido reportagens multimídia de nossos repórteres no Brasil e enviados especiais a Rússia, Índia e China.

Em 2020, com 3,14 bilhões de habitantes (40% da população mundial naquele ano, segundo projeções da ONU), eles devem chegar mais perto das economias do G-7, após terem crescido a taxas muito superiores às de nações ricas.

O National Intelligence Council, entidade do governo americano ligada a agências de inteligência, prevê que já em 2025 todo o sistema internacional - como foi construído após a Segunda Guerra Mundial - terá sido totalmente transformado.

"Novos atores - Brasil, Rússia, Índia e China - não apenas terão um assento à mesa da comunidade internacional, mas também trarão novos interesses e regras do jogo", afirma a instituição

"Muito provavelmente, por volta de 2020 vamos nos dar conta de que existe um equilíbrio muito maior no mundo em termos econômicos e políticos com o fortalecimento de países emergentes como China, Índia, Brasil e Rússia. Com um maior poder econômico, virá também um maior poder político e uma participação ativa desses países em organismos internacionais", disse à BBC Brasil Stepháne Garelli, professor da Universidade de Lausanne, na Suíça, e autor de um estudo que traça cenários para 2050.

Conceito complexo

O conceito de sistema multipolar é complexo e, ainda que boa parte dos analistas concorde que o mundo caminha para isso, o tempo que levará para que a China tenha voz no Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU ou o Banco Mundial seja dirigido por um russo ou indiano variam muito.

Mas a discussão já não se limita mais ao meio acadêmico. Diferentes aspectos do que pode vir a ser um mundo multilateral (ou multipolar) já começam a aparecer em discursos de autoridades que estão no centro do processo de tomada de decisões internacionais.

Um exemplo recente vem de Gordon Brown, o primeiro-ministro britânico, que, às vésperas do encontro do G-20, em Londres, declarou no Brasil que "o tempo em que poucas pessoas mandavam na economia acabou".

Também às vésperas do encontro, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse em entrevista a uma TV francesa que "soluções globais supõem que a governança de instituições como o FMI seja mais legítima, mais democrática, com espaço para os países emergentes e pobres".

Reunião do G-20

A reunião do G-20, grupo que une países emergentes aos países-membros do G-8, pode ser vista como um sinal dessas mudanças. A voz dos emergentes no cenário de crise ganha especial relevância.

Segundo boa parte dos analistas ouvidos pela BBC Brasil, eles não apenas serão menos afetados do que os países desenvolvidos pela crise, como também podem se recuperar mais rapidamente.

Essa possível recuperação mais rápida se baseia em alguns pilares que serão também propulsores do crescimento de longo prazo.

"A situação das economias desses países é muito diferente. Mas, de maneira geral, os BRIC estão mais bem posicionados para a recuperação do que muitas outras economias", disse Markus Jaeger, responsável por análises de longo prazo no Deutsche Bank.

Para Alfredo Coutinho, analista mexicano da agência Moody's nos Estados Unidos, a crise revela ainda a vulnerabilidade das economias desenvolvidas e deixa clara a necessidade de equilíbrio na economia global.

"É uma oportunidade para as economias emergentes, que devem liderar a recuperação", disse Coutinho.

Crise

Em entrevista à BBC Brasil, Jim O'Neill, economista-chefe do Goldman & Sachs, que criou a sigla BRIC em 2001, prevê que a crise até mesmo acelere a escalada dos emergentes, e diz que já em 2020 a economia desses quatro países encoste nas dos países do G-7, o grupo das atuais nações mais ricas do mundo.

Não faltam céticos em relação à projeção de O'Neill. John Bowler, diretor do Serviço de Risco por País (CRS na sigla em inglês) da Economist Intelligence Unit é um deles.

"Acho que esse processo será mais demorado. Há uma série de obstáculos à confirmação dessas projeções tanto no campo econômico quanto político", disse Bowler.

Apesar das ressalvas feitas por muitos dos ouvidos pela BBC Brasil, o "otimismo" de O'Neill não é isolado.

Um relatório da consultoria Ernst&Young, Global Megatrends 2009, por exemplo, afirma que "a fome de crescimento, junto com a rápida industrialização das economias e populações em expansão, põe os emergentes no caminho da recuperação mais rapidamente, e os países do BRIC são claramente os atores principais".

Essa fome de crescimento vem, em parte, da nova classe média que tem revolucionado o consumo nesses países. Segundo o Banco Mundial, 400 milhões de pessoas se encaixavam nessa categoria em 2005 nos países em desenvolvimento. Em 2030, deverão ser 1,2 bilhão de pessoas.

"A classe média, principalmente dos países do BRIC, será o novo motor da economia mundial", prevê Stepháne Garelli, da Universidade de Lausane e diretor do índice de competitividade, publicado pelo Institute of Management Development, que avalia 61 países em 312 critérios.

"É uma classe média ávida por comprar seu primeiro carro, seu primeiro celular de última geração. Não é conservadora como a classe média do atual mundo rico. Ela quer 'comprar felicidade'", acrescentou.

Padrão de vida

O valor do PIB dará posição de destaque a esses países no ranking global de economias, mas não será suficiente para levar as populações desses países a padrões de vida próximos ao dos países hoje considerados ricos.

O PIB per capita da Índia, por exemplo, deverá praticamente dobrar num período de 15 anos até 2020, segundo um estudo do departamento de pesquisas do Deutsche Bank. Ainda assim, representará apenas 40% da renda per capita nos Estados Unidos.

De olho em indicadores como o PIB per capita, Françoise Nicolas, economista do Instituto Francês de Relações Internacionais, prevê a ascensão das "superpotências pobres".

"Será um mundo multipolar bizarro. Os BRIC serão superpotências pobres com mais peso econômico, mas o discurso ainda não estará no mesmo nível dos países ricos", prevê Nicolas.

Além da pobreza, esses países enfrentam outros desafios, como a proteção ao meio ambiente.

"Eles querem ter maior poder de decisão e, ao mesmo tempo, em certas questões como o meio ambiente, querem continuar a ser tratados como países emergentes, que não podem cumprir as mesmas exigências dos ricos", disse Thomas Klau, chefe do escritório de Paris do Council of Foreign Relations.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090330_bricsabertura_ss.shtml
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Crise econômica pode acelerar ascensão dos BRICs

A crise econômica global não impedirá que os países do grupo dos BRIC estejam entre as maiores economias do mundo, segundo afirma o próprio autor do conceito dos BRICs, Jim O'Neill, economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs.

Para ele, a crise pode até mesmo acelerar as mudanças na economia global que garantirão a Brasil, Rússia, Índia e China ocupar um lugar de destaque entre as potências mundiais já em 2020.

Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, O'Neill afirma que em 2020 a China, por exemplo, poderá estar próxima de disputar com os Estados Unidos o posto de maior economia do mundo. Segundo ele, os demais países dos BRIC s poderão ter economias de tamanho equivalente à de países como Alemanha, França ou Reino Unido.

Para O'Neill, até 2020 a grande massa de consumo do mundo estará nas economias dos BRICs.

O'Neill afirma ainda que as previsões que fez em 2001 sobre o crescimento da economia dos países do grupo eram conservadoras e por isso não são afetadas por um eventual período de baixo crescimento, como o atual:

"Nós assumimos que os países BRICs teriam ciclos econômicos, e isso é o que acontece agora. Então, nossa projeção de longo prazo não é afetada de nenhuma maneira", diz.

Leia abaixo a íntegra da entrevista que O'Neill concedeu à BBC Brasil em Londres:


BBC Brasil: Como a crise global está afetando os BRICs?

Jim O'Neill:
A crise é tão grave que está afetando negativamente todo mundo, incluindo os BRICs. Mas entre os BRICs temos que olhar especificamente para cada um, porque os aspectos da crise são diferentes.

Para resumir de maneira simples, quase sem dúvida a Rússia vai sofrer mais, e o Brasil em seguida, por serem produtores de commodities. A China parece estar lidando melhor com a crise, apesar do fato de ser um grande exportador. E a Índia está um pouco atrás. Então, a China parece estar na situação menos grave e a Rússia na mais grave.

BBC Brasil: A crise altera em algo sua previsão inicial de que os quatro países devem se tornar até 2050 economias-chave e juntos ultrapassarem em tamanho o atual G-7?

O'Neill:
De maneira nenhuma. Acho interessante que me perguntem tanto sobre isso. Se você olhar com cuidado para as projeções que usamos em 2003 e depois para as atualizações que fizemos depois disso, verão que elas eram muito conservadoras.

Por exemplo, partimos da premissa que no longo prazo a China cresceria 5,8%, e até essa crise a China vinha crescendo o dobro disso. Mesmo com a crise, o consenso sobre o crescimento da China para este ano é de 7%.

Nós estimamos que os países BRICs teriam ciclos econômicos, e isso é o que acontece agora. Então, nossa projeção de longo prazo não é afetada de nenhuma maneira.

Na verdade, creio que se a China já estiver mesmo começando a se recuperar do impacto da crise, pode ser que a crise acelere a velocidade da mudança na economia mundial.

BBC Brasil: Como o senhor vê os BRICs em 2020?

O'Neill:
A China já ultrapassou a Alemanha e se tornou a terceira maior economia do mundo, curiosamente no momento exato em que havíamos previsto que isso aconteceria. A grande questão é se na próxima década (a China) vai ultrapassar o Japão e o quão perto vai estar dos Estados Unidos, em 2020. Poderá estar bem perto.

A grande questão para os outros três países será o quanto estarão perto, em 2020, das principais economias européias. Acho que é bem possível que estejam próximos.

Cada um tem algo em seu favor.

A Índia tem essa enorme vantagem demográfica. O Brasil, como tem sido demonstrado por esta crise, conta com uma estrutura macroeconômica que fornece uma ótima base em termos de política econômica. A Rússia é a que parece mais vulnerável, devido à sua excessiva dependência de energia e à ausência de mudanças, ou de qualquer prova de mudanças internas.

Acho que para 2020, a questão para os três países é saber se o tamanho de suas economias vai estar próximo das de Alemanha, França ou Reino Unido. E para a China se estará próxima dos EUA.

BBC Brasil: Estes países precisarão de reformas para chegar a 2020 nessas condições ou podem continuar com seus atuais modelos de desenvolvimento?

O'Neill:
Acho que isso precisa ser analisado individualmente.

Acho que o Brasil é possivelmente o que está mais bem posicionado, em termos de mudanças necessárias para cumprir as previsões que fizemos para 2050, ou para o que eu disse sobre 2020. O Brasil tem em muitos sentidos mais atributos de um país desenvolvido em termos de suas políticas e de sua sociedade. Provavelmente o que tem de fazer é tirar o governo do caminho e deixar o setor privado fazer mais.

A Índia precisa parar de pensar que simplesmente merece ser um grande país só porque tem uma população grande, ou porque alguém como eu sonhou com esta sigla BRICs. A Índia precisa continuar com as mudanças, melhorar a eficiência de seu governo, tanto nos Estados quando no nível federal. E quanto mais tempo levar para isso acontecer, mais difícil será para conseguir cumprir as projeções.

A China tem a questão do regime de partido único, mas curiosamente, eu diria, de maneira provocativa, que a emergência desta crise mostrou que (o regime de partido único) parece permitir à China lidar com muitos dessas questões complexas de maneira mais fácil do que muitas democracias. Acho que em algum ponto no futuro a China terá que mudar, mas não estou seguro de que o sistema chinês imponha qualquer limitação no que se refere à economia.

E, finalmente, a Rússia terá que mudar. Esta crise demonstrou que a Rússia é de longe muito dependente de um grande produto, que é o petróleo. A Rússia precisa se afastar disso.

BBC Brasil: O senhor afirmou que a China precisa resolver a questão do regime de partido único. O senhor acredita que exista uma relação entre os sistemas políticos desses quatro países e sua capacidade de crescimento?

O'Neill:
Desde o início eu disse que era muito duvidosa a idéia de que a China não poderia atingir nossas previsões sem mudar radicalmente seu sistema político. Se você observar, na metade de 2009, sete anos após eu ter criado o termo BRICs, verá que a China tem conseguido lidar muito bem com muitos choques que a acometeram.

Então, apesar de muitos de nós no Ocidente não gostarem do sistema político da China, não está claro para mim que a população chinesa não esteja feliz com ele. É uma coisa muito polêmica de se dizer, mas os chineses parecem capazes de manter esse sistema e manter um caminho de desenvolvimento com o qual a maioria parece estar satisfeita.

Estou seguro de que isso não vai ser assim para sempre, mas se considerarmos 2020, é perigoso esperar que aconteçam grandes mudanças, ou que exista necessidade de grandes mudanças.

BBC Brasil: O senhor acha que a democracia está atrasando o desenvolvimento do Brasil ou da Índia?

O'Neill:
Se você comparar o modelo da China ao da Índia e observar que a China tem crescido nos últimos 20 anos mais do que a Índia, apesar de a demografia da Índia ser muito mais favorável, verá claramente que há algo na China mais bem sucedido do que na Índia.

Apesar de a democracia indiana ser uma coisa maravilhosa, que todos amamos e da qual os indianos têm tanto orgulho, suspeito que ela não funcione muito bem em termos de mudanças de política econômica. A Índia precisa manter sua democracia, mas também precisa encontrar uma maneira para fazer com que ela funcione de forma mais eficiente. É quase como se em determinados momentos a democracia indiana sufocasse a Índia.

Eu comumente brinco com autoridades indianas sobre esta eleição que está a caminho. Digo que enquanto eles estiveram esperando a vinda dessa eleição, ao longo de um ano ou mais, a China efetivamente produziu o equivalente a meia Índia.

Então, a menos que eles consigam sair desta eleição com um sistema de governo mais eficiente, vai haver cada vez mais sinais de que a democracia indiana é de fato boa demais, porque efetivamente impede a tomada de decisões.

Não acho que poderíamos dizer o mesmo sobre o Brasil, mas se olharmos a China e a Índia, há contrastes muito interessantes sobre sua forma de governo e sobre sua capacidade de crescer.

BBC Brasil: Os países do BRIC podem ser o motor da recuperação e do crescimento da economia mundial no futuro próximo?

O'Neill:
Acho que se olharmos o que vem acontecendo nos últimos seis meses veremos que há uma grande desaceleração em todo lugar. Mas se olharmos as contribuições para o consumo global, veremos que os BRICs foram as únicas economias significativas que fizeram uma contribuição positiva.

Meu grupo tem analisado dados que mostram que o chamado descolamento entre os Estados Unidos e as economias dos BRIC está ocorrendo. O consumo nos Estados Unidos ficou negativo, muito negativo, mas ainda há crescimento no consumo na maioria dos BRICs.

De acordo com dados de fevereiro, o consumo na China, a economia mais importante do grupo, está crescendo em termos reais em 15,5% ao ano. Então há uma contribuição significativa (da China) para o crescimento do resto do mundo.

E acho que isso vai crescer conforme chegarmos mais próximos a 2020. Vai se tornar claro, quando entrarmos na próxima década, que a grande massa de consumo no mundo estará nas economias BRICs.

BBC Brasil: Uma questão em comum entre os quatro países é a grande disparidade entre ricos e pobres. É possível ter um alto nível de crescimento e ao mesmo tempo distribuir renda?

O'Neill:
Eu também questiono alguns aspectos dessa tese. Se você observar o que aconteceu na China ao longo da última década, ou um pouco mais, verá que eles provavelmente tiraram da pobreza 400 milhões de pessoas.

Então, enquanto na China há um pequeno grupo de pessoas que se tornaram incrivelmente ricas, há sinais de que vimos - pela primeira vez no mundo em décadas - uma queda de fato na diferença entre renda e pobreza.

A Índia tem evidências semelhantes, apesar de menos que a China.

E como o presidente Lula disse sobre o Brasil recentemente, num artigo no Financial Times, há sinais disso por lá também. Isso é muito interessante, porque a percepção comum é de que as diferenças de renda estão aumentando. Mas particularmente na China essa percepção não é verdadeira.

BBC Brasil: No último ano houve alguns sinais da possível formação de um grupo político unindo os quatro países BRICs, com uma reunião ministerial realizada em 2008 e uma possível reunião de cúpula ainda em 2009. A formação de um grupo político como esse ajudaria no crescimento econômico desses países?

O'Neill:
Para mim, como criador da sigla, seria fantástico vê-los como um grupo político. Mas de uma perspectiva global, o que é realmente importante é que as economias dos BRICs sejam mais bem representadas na liderança do FMI, no Banco Mundial, e que o G-20 (no qual os quatro países estão representados) se torne o principal ponto focal de decisões políticas e econômicas do mundo, em vez de somente o G-7 ou o G-8.

Acho que se eles não forem inseridos na melhor estrutura possível para tomada de decisões, então se reunirão mais e mais formando seu próprio clube.

Acredito que a reunião de cúpula do G-20 em Londres vai definir uma nova era, na qual esses países estarão no centro das decisões que estão sendo tomadas sobre o mundo. Acho que é um progresso fantástico.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090330_entrevista_jimoneill_rw.shtml

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Re: Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #1 Online: 07 de Abril de 2009, 00:20:26 »
Reportagens focalizando o Brasil

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Brasil é o que tem mais a ganhar com formalização dos BRICs

A criação oficial de um grupo que reúna os quatro países dos BRICs parece ser mais importante para o Brasil do que para os outros três parceiros do grupo - Rússia, Índia e China.

Os quatro países preparam o primeiro encontro oficial dos BRICs (grupo que até hoje existe apenas como um conceito formulado pelo mercado financeiro para se referir às grandes economias emergentes) para meados deste ano.

A intenção é discutir interesses comuns e uma possível estratégia conjunta para enfrentar a crise econômica mundial.

O grande problema, no entanto, é o fato de que os interesses do grupo são muitas vezes distintos - tanto do ponto de vista econômico, como político. Além disso, não se sabe o grau de importância real que cada país daria ao grupo.

Associação direta

O Brasil, que vem aumentando visivelmente a sua atuação diplomática nos últimos anos e pretende ser reconhecido como muito mais do que uma potência regional, provavelmente vai tratar o grupo como uma de suas prioridades internacionais.

Afinal, o país ganha ainda mais peso ao ser associado diretamente com uma potência econômica como a China ou a um país líder na produção de energia como a Rússia.

Para os outros países, no entanto, o grupo pode acabar não sendo tão prioritário. Mesmo que os três consigam maiores benefícios com uma ação conjunta dos BRICs, eles já têm um envolvimento maior do que o do Brasil em algumas áreas chave da política internacional.

Os três parceiros do Brasil são potências militares estabelecidas e todos possuem a bomba atômica - o que lhes confere um peso diferente na grande maioria das negociações internacionais.

China e Rússia têm assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU, o mais importante fórum de política externa do planeta.

Além disso, a Rússia faz parte do G8 e a economia chinesa já é a terceira maior do mundo.

A Índia é tida como o país mais importante para garantir algum nível de estabilidade no Sul da Ásia, uma das regiões mais voláteis e importantes para a política externa das grandes potências ocidentais, e sua economia é uma das que mais cresce no mundo.

A lista inclui ainda fatores como o tamanho dos mercados consumidores de Índia e China e o fato de a Rússia ser a maior fornecedora de energia para a Europa.

Economia

Ou seja, do ponto de vista da diplomacia internacional, Rússia, China e Índia têm um papel muito maior do que o Brasil.

O que ajuda o Brasil a ganhar mais peso, tanto dentro dos BRICs como em relação ao resto do mundo, é a estabilidade econômica criada na última década e o crescimento do PIB nacional.

Neste quesito, o Brasil está muito melhor, por exemplo, do que a Rússia - que chegou a ser colocada fora do grupo dos BRICs por alguns analistas financeiros internacionais.

E é por isso que a crise econômica mundial veio em péssima hora para o Brasil.

Como os setores mais afetados da economia brasileira são justamente os mais ligados à exportação, dada a queda de demanda internacional, o país perde poder de barganha em negociações comerciais.

A expectativa de estagnação no crescimento do PIB este ano também cria problemas para o Brasil, especialmente se comparado ao crescimento forte que Índia e China registrarão este ano - embora também estejam sofrendo com a crise.

Além disso, a crise afugenta investimentos internacionais e, caso se prolongue por muito tempo, pode afetar inclusive a positiva percepção que a maioria dos países estrangeiros têm do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a economia desacelerando, o Brasil fica ainda mais dependente do carisma do próprio presidente Lula no cenário internacional.

Um grande teste será a reunião do G20 em Londres esta semana.

A reunião dá ao presidente uma oportunidade para influenciar os outros chefes de Estado e se colocar como uma espécie de porta-voz de parte do mundo em desenvolvimento.

Caso o presidente seja bem sucedido, o Brasil ganhará mais prestígio tanto no cenário internacional como na relação com os outros países dos BRICs.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090401_brics_analise_americo.shtml
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Para analistas, crise e ambiente darão ao Brasil maior influência em 2020

Seja por meio de organismos internacionais ou na relação direta com outros países, há espaço para o Brasil se tornar ainda "mais influente" nos próximos dez anos, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
E, em pelo menos duas áreas, essa oportunidade é maior: economia e meio ambiente.

"A crise trouxe uma chance sem precedentes para países como o Brasil", diz Marco Vieira, professor de Relações Internacionais do King's College, em Londres.

Para ele, a inclusão dos países emergentes nas discussões sobre a recuperação econômica, por meio do G20, é "sintomática", pois já reflete "os novos polos do poder mundial".

Na avaliação de Vieira, a estabilidade econômica conquistada nos últimos anos, aliada a uma participação proativa em fóruns internacionais, reforçou a percepção de que o país tem legitimidade para estar presente nos principais debates mundiais.

"Nesse ponto temos uma grande vantagem sobre os outros BRIC", diz Vieira. "Não somos apenas uma grande economia. Somos um país democrático, pacífico e com credibilidade externa", diz.

A transferência de poder econômico dos Estados Unidos para os países emergentes também é apontada pelo historiador John Schulz, da Brazilian Business School, como um dos resultados da crise global.

Segundo ele, a participação dos países ricos no PIB mundial já vinha declinando e que a crise "deve acelerar esse processo". "O resultado é uma maior participação dos países emergentes à mesa de negociação", diz.

A eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos também é vista como ponto a favor de um sistema financeiro mundial mais democrático. "Há uma expectativa de que ele seja mais aberto ao diálogo e a uma solução conjunta para os problemas mundiais", diz Vieira.

Países como Brasil, China e Índia estão participando do debate, juntamente com os países ricos, sobre a reforma do sistema financeiro global. E o Brasil, como principal economia da América Latina, é visto como estratégico no processo de recuperação econômica.

Na opinião de Vieira, a oportunidade "está dada". Se o Brasil vai aproveitá-la ou não, diz, depende da postura do governo Lula. "O futuro do Brasil nesse sistema está diretamente ligado a respostas que vamos dar agora. É o momento de termos uma proposta clara e objetiva", diz.

Segundo ele, se o Brasil tem qualquer pretensão em reformar instituições financeiras mundiais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, essa é a hora de liderar o movimento.

"A mudança não acontece do dia para a noite, mas o processo tem de começar. E essa é uma boa hora", diz o professor.

Clima

Outra área em que o Brasil tem chances de ampliar sua influência é no debate sobre mudanças climáticas.

"Temos a maior floresta tropical, reservas de água, energia limpa. Mas infelizmente ainda somos defensivos em matéria de meio ambiente", diz o ex-embaixador Sérgio Amaral.

Segundo ele, o Brasil tem potencial para liderar esse movimento, mas para isso terá de fazer concessões. Uma delas seria aceitar compromissos obrigatórios. "Já fomos defensivos em comércio e isso mudou. O mesmo pode acontecer em meio ambiente nos próximos anos", diz Amaral.

O também ex-embaixador Rubens Ricupero diz que o Brasil já começou a mudar sua postura, como ficou claro na última reunião sobre clima, em Poznan, na Polônia.

"O Brasil apresentou metas para o desmatamento, foi elogiado. E está participando de todas as conversas que vão levar à reunião de Copenhague", diz.

América Latina

Se por um lado economia e meio ambiente oferecem oportunidades para a liderança brasileira nos próximos anos, isso não significa que temas já tradicionais para o Itamaraty serão deixados de lado.

Apontada como prioridade pela diplomacia brasileira, a América Latina vai exigir atenção especial nos próximos anos, na avaliação dos especialistas.

O Brasil terá de provar aos países vizinhos que é capaz de liderar o continente, mesmo em um momento de crise. E se o país quiser se consolidar como uma potência regional, deverá se preparar "para ceder".

Na avaliação de Vieira, existe um sentimento de "desconfiança" entre os países vizinhos sobre o real objetivo do Brasil - se é promover o interesse geral ou apenas "usar" o continente para interesses particulares do país.

"Alguns países da região têm interesses que vão de encontro ao que o Brasil defende", diz Vieira.

Um exemplo é a Argentina, que vê com restrições a Rodada Doha de comércio, uma das principais bandeiras da política externa brasileira. Além disso, o país vizinho vem adotando medidas protecionistas, mesmo tendo assinado compromisso contrário, na última reunião dos líderes do G20.

Há ainda o aspecto político. Na avaliação de Vieira, o Brasil precisa se preparar para lidar com Chávez "durante uns bons anos". "Que relação teremos com ele, é uma pergunta que deve ser feita por nossos governantes", diz.

Vieira vê dois movimentos políticos na região e que tendem a durar nos próximos anos. Um deles é a proposta venezuelana, baseada em uma visão antiamericana; a outra seria a visão brasileira, considerada por Vieira "mais pragmática e voltada para o desenvolvimento".

"Um dos desafios da diplomacia é decidir se o Brasil tem interesse em atrair para esse campo pragmático os outros países da região", diz Vieira.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090402_brasil_relacoes.shtml
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Liderança agrícola deve aumentar influência internacional do Brasil

O Brasil deverá aproveitar a posição de liderança na agricultura para aumentar sua influência internacional nos próximos anos, afirmam analistas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), até 2050 o mundo deverá dobrar a produção para alimentar uma população de 9 bilhões de pessoas.

Com disponibilidade de terras agricultáveis, água em abundância, condições de clima favoráveis, domínio da tecnologia de agricultura tropical e uma agroindústria avançada, o Brasil poderá chegar a 2020 como a principal potência agrícola do mundial.

O avanço nessa área acontece em um momento crucial. Desde o ano passado, o tema da segurança alimentar voltou à agenda internacional, com a crise provocada pela alta dos alimentos.

"Depois de os preços virem caindo desde os anos 70, a partir de 2005 subiram rapidamente. De todos os países do mundo, o Brasil foi o que mais ocupou o espaço aberto por esse aumento de preços e pela possibilidade de aumentar suas exportações", disse à BBC Brasil o representante regional da FAO, José Graziano.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem usado politicamente o potencial agrícola brasileiro em suas participações em fóruns internacionais.

Lula já disse mais de uma vez, durante viagens internacionais, que a crise era "uma grande oportunidade para voltarmos a produzir muito mais alimentos".

Nesta safra, o Brasil deverá colher mais de 135 milhões de toneladas de grãos, o que representa cerca de 6% da produção mundial, estimada em 2,2 bilhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

O país já figura entre os líderes em algumas das principais culturas. É o segundo maior produtor de soja (atrás dos Estados Unidos) e o terceiro de milho (depois de Estados Unidos e China). É destaque ainda em uma gama de produtos, de café e carnes a frutas e etanol.

No entanto, diferentemente de outros líderes nesse setor, que já chegaram a seu limite de área e produtividade, o Brasil ainda tem muito a avançar, segundo analistas.

"O Brasil está perfeitamente habilitado a, nos próximos 10 anos, chegar a 300 milhões de toneladas", diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

"A demanda por produtos agrícolas vai crescer bastante nos próximos anos", diz Rodrigues. "E poucos países têm condições de atender a essa demanda como o Brasil."

Terra

Os cálculos dos analistas sobre o volume de terras agricultáveis disponíveis no Brasil variam de 60 milhões a 200 milhões de hectares.

"O Brasil tem terras disponíveis em uma escala que nenhum outro país tem hoje", diz o representante regional da FAO, José Graziano, que já foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo de Lula.

Segundo o governo e diversos especialistas, as terras inseridas nessas estimativas não incluem regiões de florestas ou de reservas, e são formadas principalmente por pastagens degradadas, que podem ser reaproveitadas para agricultura, e áreas nativas a ser abertas.

"O Brasil tem 176 milhões de hectares de pastagens plantadas e outro tanto de pastagens naturais, que é difícil medir. Somando dá alguma coisa em torno de 200 milhões de hectares", diz Rodrigues.

Ambientalistas contestam a afirmação de que as terras agricultáveis não incluem florestas ou reservas e alertam para os impactos que a expansão da agricultura tem sobre o meio ambiente, como degradar rios e colocar espécies animais em risco.

Mas apesar das divergências, o fato é que esse potencial de terras ainda inexploradas coloca o Brasil em uma posição de destaque em relação aos outros grandes emergentes do grupo BRIC.

Outro ponto a favor do Brasil é a tecnologia para agricultura tropical, considerada por especialistas a mais avançada do mundo.

Nas últimas décadas, pesquisadores brasileiros conseguiram, entre outras conquistas, adaptar variedades antes produtivas somente em regiões temperadas às condições de solo e clima do cerrado, o que fez o Brasil despontar como grande produtor agropecuário.

O domínio dessa tecnologia e o melhoramento de sementes ampliaram as fronteiras agrícolas do Brasil e transformaram regiões antes consideradas improdutivas, como o sul do Maranhão, em importantes pólos de produção.

Além disso, a tecnologia também permitiu aumentar o rendimento por hectare. Com isso, a produção brasileira deu um salto sem tanta necessidade de expansão de área.

Em 1981, segundo dados do IBGE, o Brasil plantou 37,4 milhões de hectares e colheu 51,1 milhões de toneladas de grãos. Na safra 2008/2009, a área foi de 47,4 milhões de hectares.

"Nos últimos 15 anos, a área plantada com grãos no país cresceu 27%, e a produção aumentou 142%", afirma Roberto Rodrigues. "Pura tecnologia."

Dificuldades

Apesar de todas essas vantagens, porém, o setor agropecuário brasileiro ainda enfrenta dificuldades.

O alto rendimento obtido em grandes propriedades que usam tecnologia de ponta nem sempre é registrado entre os pequenos agricultores.

"Temos uma agricultura muito heterogênea", diz Rodrigues. "Há produtores brasileiros comparados aos melhores do mundo, como americanos e australianos. Mas também há outros comparados a agricultores africanos."

Essa disparidade faz com que, apesar da alta produtividade em algumas regiões, o rendimento médio das lavouras brasileiras ainda seja considerado baixo em comparação ao de outros grandes produtores agrícolas.

"No milho, por exemplo, a oscilação é de 3 mil a 14 mil quilos por hectare, dependendo do produtor", diz o analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado.

Um dos principais gargalos apontados por analistas, porém, se refere a infra-estrutura e logística.

"As dimensões do Brasil são grandes, e dependemos de uma malha de transportes concentrada em rodovias", diz Molinari.

A distância de portos e de grandes centros consumidores e a falta de uma malha ferroviária dificulta o escoamento e reduz a competitividade de muitos produtores.

Há ainda deficiência de estrutura em portos e falta de armazéns, além do desafio de combater o protecionismo no mercado internacional.

No entanto, os especialistas afirmam que o Brasil tem condições de superar esses entraves e não duvidam da capacidade do país de assumir seu papel de liderança no agronegócio mundial.

"O Brasil é peça essencial para vencer a fome", diz o diretor técnico da consultoria Agra FNP, José Vicente Ferraz.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090331_brasil_agricultura_ac.shtml
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Diversificação é arma do Brasil para liderança no agronegócio

A diversificação que permitiu ao Brasil despontar como maior exportador mundial de uma variedade de produtos agropecuários nas últimas décadas também será crucial para consolidar essa liderança e avançar sobre outras áreas até 2020, afirmam analistas.

Apesar de sempre ter tido presença destacada no mercado internacional de produtos agropecuários, foi quando começou a diversificar sua pauta que o Brasil se firmou como grande exportador.

"Nos anos 70, o café representava mais de 60% da pauta de exportações brasileira, enquanto soja e carnes, por exemplo, sequer figuravam nesse ranking", diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

"Hoje, apesar de ter crescido em termos absolutos, o café representa 6%. Carnes e soja chegam a 45%", afirma.

Além de manter a liderança no café, o Brasil hoje é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, etanol de cana-de-açúcar e do complexo soja (que inclui óleo, farelo e grãos), segundo dados do Ministério da Agricultura.

Está também entre os líderes em um leque de outros produtos, que vão de milho e soja em grão (segundo, atrás dos Estados Unidos) a carne suína e fumo.

"O modelo brasileiro é muito inovador. Não há mais um setor exportador, como era na época do café e nos ciclos anteriores, da borracha, da pecuária", diz o representante regional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano.

"Hoje o Brasil exporta produtos de todo tipo, do mel de abelha do Piauí à soja do Paraná. O setor exportador não é mais um enclave, é parte das cadeias produtivas", afirma.

Segundo o representante da FAO, essa diversificação torna possível também reorientar determinado produto para o mercado interno quando o externo vai mal, como neste período de crise mundial.

Crescimento

Mesmo com esse desempenho já destacado no comércio internacional, ainda há muito espaço para crescer, afirmam analistas. Até 2020 o Brasil deverá aumentar sua importância como exportador de uma série de cadeias produtivas.

"Há pelo menos duas áreas em que podemos crescer espetacularmente: fruticultura e floricultura", diz Roberto Rodrigues.

A fruticultura brasileira já deu um salto nos últimos anos, com o surgimento de polos como o do vale do São Francisco, em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), que se destaca na exportação de manga e uva.

Em relação a frutas tropicais, especialistas afirmam que, apesar de já marcar presença no mercado internacional, o Brasil ainda pode aumentar o volume exportado.

"Em proteínas animais, vamos dar um grande salto. Suinocultura, produtos lácteos", diz Rodrigues. "Acho também que vamos crescer muito em nichos específicos, como orgânicos."

Novos mercados

Além de incluir novos produtos em sua pauta de exportações, o Brasil deverá também conquistar novos mercados.

O analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado, cita entre os mercados que podem ganhar importância para o Brasil na próxima década o México (carnes), a China (frango) e os Estados Unidos (que ainda não compram carne in natura brasileira).

Para ampliar essa participação no comércio internacional, porém, o Brasil ainda precisa vencer a barreira do protecionismo, que pode se agravar com a atual crise econômica mundial.

Segundo Roberto Rodrigues, o Brasil precisa criar mecanismos de promoção comercial. O ex-ministro diz que também é necessário agregar valor e realizar negociações privadas entre produtores brasileiros e distribuidores internacionais.

"Veja o exemplo do café. O Brasil é o maior exportador, mas tem menos de 2% do mercado mundial de café torrado e moído, que está concentrado na Alemanha e na Itália, que não produzem sequer um pé de café", diz.

De acordo com Rodrigues, se o Brasil quiser torrar e moer o café aqui, para depois exportar, precisa de um acordo com os distribuidores. "Se não tiver um acordo, (o café) fica no porto, ninguém pega."

Conforme analistas, com a paralisação da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que busca a liberalização do comércio internacional, torna-se mais importante a ampliação das negociações bilaterais entre os países.

"Os interesses são gigantescos. A negociação passa por todo um acerto tecnológico, sanitário, ambiental, e por acordos comerciais também. É uma longa disputa", diz Rodrigues.

"Estamos, na verdade, aprendendo a mexer com isso. Mas estamos aprendendo depressa."

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090331_brics_brasil_diversificacaorg.shtml
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Com termelétricas, Brasil coloca em risco credibilidade em meio ambiente

Dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, o Brasil tem potencial para ser um dos principais atores no debate mundial sobre mudanças climáticas. Mas o país, segundo especialistas, está colocando essa vantagem "em risco".

Isso porque o país tem encontrado dificuldades para colocar novas hidrelétricas em operação. O resultado é o aumento do número de termelétricas.

O plano decenal de energia, do governo federal, prevê a construção de 81 novas unidades de usinas térmicas até 2017, sendo que 68 delas são baseadas em combustíveis fósseis, que produzem gases do efeito estufa.

A grande força-motora da energia elétrica brasileira é a água, responsável por 85,9% de todo o abastecimento. Mas a construção desse tipo de usina costuma esbarrar em questões ambientais.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Enérgica (EPE), responsável pelo plano, a dificuldade em licenciar usinas hidrelétricas está fazendo com que o país ofereça termelétricas.

"Estamos sendo obrigados a aceitar usinas mais caras e piores para o meio ambiente", diz Maurício Tolmasquin, diretor da EPE. "A área ambiental do governo está preferindo licenciar termelétrica a óleo do que hidrelétrica", diz.

A participação da energia à base de combustíveis fósseis é pequena no país, com peso de 10,2% no total de geração. Com a construção das novas unidades térmicas, passará para 16,7%.

Já a participação das usinas térmicas nas emissões de dióxido de carbono, pelo país, sairá dos atuais 4,3% para 12% nos próximos oito anos.

Os números são pequenos, principalmente quando comparados ao desmatamento, responsável por 75% das emissões brasileiras. Mas ainda assim os especialistas vêem o plano como preocupante. Segundo eles, o país está dando um sinal "errado".

Contramão

A avaliação do economista da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga é de que o país pode estar "jogando uma grande vantagem pela janela".

"Estamos no caminho inverso do que vem sendo feito no resto do mundo, por incrível que pareça", diz Veiga.

Países em desenvolvimento, como o Brasil, precisam ampliar consideravelmente sua geração de energia para suprir o crescimento econômico previsto para os próximos anos.

Para evitar uma nova crise no abastecimento de energia, o governo brasileiro diz que é necessário ampliar a capacidade energética do país em 54% até 2017.

Segundo Veiga, o Brasil é o único país entre os emergentes que pretende expandir o abastecimento usando fontes poluidoras.

"É fato que os grandes emergentes partem de uma base energética extremamente poluente e, portanto, têm mais espaço para adotarem tecnologias limpas", diz. "Mas ainda assim o Brasil não deveria caminhar no sentido inverso".

O professor da USP lembra que já existem estudos, de institutos independentes, apontando para o fato de que, no Brasil, as emissões de dióxido de carbono vêm crescendo mais rápido do que o PIB. "O que também preocupa", diz.

Metas

O governo brasileiro pretende fazer sua parte de outra forma. O país assumiu, pela primeira vez, metas para a redução do desmatamento na Amazônia.

O Plano Nacional de Mudanças de Clima, anunciado em dezembro, prevê a redução de 70% das áreas desmatadas até 2017. Pelos cálculos do governo, a medida resultará em uma redução de 4,8 bilhões de toneladas nas emissões de dióxido de carbono até o final do período.

Para o pesquisador Osvaldo Stella, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), as metas foram criadas "a toque de caixa, sem muito estudo, mas ainda assim são bem-vindas".

"Quebramos um paradigma, segundo o qual países como o Brasil não assumiriam metas, ainda que voluntárias", diz.

Uma das falhas do programa brasileiro seria a falta de um planejamento econômico para a região amazônica.

Segundo ele, o benefício econômico do desmatamento é muito baixo, ao contrário do que pode parecer. "Desmatar custa caro e não tem um bom retorno financeiro".

O problema, diz Stella, é que para muitos habitantes da região, não existe alternativa "a não ser derrubar a mata para criar gado".

'Grande chance'

A avaliação dos especialistas é de que a queda no desmatamento não compensa o aumento das emissões de dióxido de carbono via matriz energética. O pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), diz que o Brasil pode perder "a grande chance" de ser o país "mais limpo" do mundo.

"Temos esse potencial e podemos estar jogando isso fora com a construção das usinas térmicas", diz.

Segundo ele, o planejamento brasileiro para o uso de energias renováveis, como solar, eólica e com uso de biomassa, caminha em uma velocidade "muito menor" quando comparado com países ricos ou mesmo com outros emergentes.

"No futuro, os países limpos serão agraciados com uma enorme credibilidade. Estarão liderando um movimento mundial. E o Brasil tem potencial para isso", diz.

A construção de novas usinas termelétricas, em sua avaliação, reflete um pensamento de "curtíssimo prazo" do governo brasileiro. "Basta olhar o preço de commodities como petróleo e carvão e veremos que no longo prazo seu uso será condenável", diz.

Ao abrir mão de fontes energéticas limpas, o Brasil corre o risco, segundo o pesquisador, de ficar defasado tecnologicamente nessa área. "Se todos os países estão caminhando em um sentido e nós não, no final corremos o risco de ficar tecnologicamente dependentes", diz.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090401_brasil_termeletricas_risco.shtml

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Re: Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #2 Online: 07 de Abril de 2009, 00:21:29 »
Ainda sobre o Brasil


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Metas na Amazônia devem aumentar cobrança sobre o Brasil

O Brasil pode chegar a 2020 como um dos líderes em iniciativas de combate ao aquecimento global, por ter a maior floresta tropical do planeta e a uma matriz energética limpa. Mas antes terá de enfrentar o ceticismo da comunidade internacional em relação à forma como lida com seu principal ativo nessa área: a Amazônia.

Um importante passo para a conquista dessa credibilidade foi a adoção, em dezembro do ano passado, de metas específicas contra o desmatamento na região. O plano prevê uma redução de 70% nas derrubadas até 2017 e o fim do desmatamento até 2040.

Mas especialistas afirmam que, apesar de voluntárias, as metas despertarão ainda mais a vigilância internacional em relação ao que acontece na Amazônia, o que pode colocar o Brasil em posição de destaque entre países emergentes que não assumiram compromissos.

"As metas são fundamentais, pois facilitam a cobrança. É possível saber se o governo está ou não sendo coerente", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador da instituição sem fins lucrativos Imazon.

Para Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e especialista em mudanças climáticas, a questão da Amazônia pode colocar o Brasil numa posição complicada no debate internacional sobre a preservação do meio ambiente.

"A Amazônia tem sido nossa maior vulnerabilidade na área ambiental, o que vinha colocando o Brasil em uma situação defensiva no debate", diz ele.

Viola afirma, entretanto, que apesar de o ceticismo internacional em relação à Amazônia ter sido a tônica dos últimos dos anos, existe uma mudança em curso.

"O desmatamento vem caindo e agora temos as metas. Tudo indica que o país está em um caminho de mudança de comportamento", diz Viola.

Os especialistas dizem ainda que a confiança internacional é fundamental para o sucesso dos planos ambientais do país. Um deles, o Fundo Amazônia, pretende recolher doações de países ricos interessados em colaborar com a recuperação da floresta.

Para Veríssimo, o nível de cobrança sobre o governo brasileiro depende também de um outro fator, que nada tem a ver com a Amazônia: o novo governo americano.

"Se o governo Obama for realmente mais proativo do que seu antecessor, os outros países tenderão a acompanhar. Nesse caso, os Estados Unidos deixarão de ser os vilões da mudança climática". O resultado, de acordo com o pesquisador do Imazon, será uma mudança de foco para outros países, sobretudo os emergentes.

Uma possível mudança de rumo ficará mais clara na Conferência do Clima, que acontece no final do ano, em Copenhague. Há uma forte expectativa em torno da reunião, com ambientalistas aguardando um compromisso maior dos Estados Unidos.

Custo baixo

Estimativas apontam o Brasil como responsável por 4% das emissões mundiais de gases do efeito estufa, uma posição favorável frente à posição de outros emergentes, como China (22%), Índia (8%) e Rússia (6%), que formam com o Brasil o bloco dos BRIC.

Além disso, o Brasil tem outra grande vantagem: o país é o que menos tem a perder com a redução das emissões. Um estudo da consultoria McKinsey mostra que, no Brasil, essa redução tem um custo inferior à média internacional.

Segundo o levantamento, que considera projeções para 2030, a maior parte das ações no Brasil teria um custo inferior a 10 euros por tonelada de dióxido de carbono, enquanto a média mundial será de 18 euros.

Essa vantagem financeira vem justamente da Amazônia. Isso porque, no Brasil, o grande vilão das emissões é o desmatamento, que representa mais da metade dos gases emitidos pelo país - ao contrário da maioria dos países, onde fatores urbanos, como transporte e energia, são os maiores emissores.

"Basicamente, é mais barato deixar de desmatar do que desligar uma usina termelétrica", diz Osvaldo Stella, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Dificuldades

Mesmo com o baixo custo, os especialistas afirmam que ainda assim não é fácil acabar com o desmatamento na Amazônia.

"Prova disso é que o governo ainda aceitará o desmatamento até 2017, o que pode comprometer até 100 mil quilômetros quadrados da floresta", diz Adalberto Veríssimo, do Imazon. A área equivale ao Estado de Pernambuco.

Apesar de o Brasil ter uma legislação rigorosa para fins ambientais, o país ainda encontra problemas para fazer valer a lei em uma região de difícil acesso.

"Qualquer alternativa para a Amazônia será destruída se a ilegalidade dominar o modo de utilização da terra", diz o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Se o Brasil conseguisse cumprir a lei, nem precisava assinar qualquer tratado internacional. Bastava cumprir a nossa própria legislação para diminuir a emissão de gases", diz Viola.
Além disso, é cada vez maior o número de pequenos e médios produtores envolvidos com o desmatamento ilegal, o que vai exigir, segundo especialistas, uma solução socioeconômica para a região.

"Não é apenas uma questão de bandidagem, mas também de sustento econômico para milhares de famílias. Não há saída para a Amazônia que não passe por uma alternativa para essas pessoas", diz Veríssimo.

O estudo da McKinsey aponta que os programas para erradicação do desmatamento na Amazônia exigiriam 5,7 bilhões de euros, por ano, até 2030 - o equivalente a R$ 17,1 bilhões anuais.

Na avaliação de Viola, a tarefa não é impossível. Segundo ele, a sociedade brasileira já entendeu a relação entre desmatamento e mudança climática. "Esse fato não pode ser minimizado, pois é a partir dele que vêm as pressões políticas por mudança", diz.

O Brasil ainda não conseguiu colocar o desmatamento dentro de um processo de redução contínua. O desmate vinha caindo desde 2004, mas entre 2007 e 2008 voltou a subir, com uma perda de 11,9 mil quilômetros quadrados em 12 meses.

Além disso, o próprio governo tem sido apontado como um dos maiores culpados pelas derrubadas: assentamentos promovidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão no topo do ranking dos maiores desmatadores.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090331_brasilamazonia_fa.shtml
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Petróleo e etanol devem dar novo status ao Brasil até 2020

O potencial energético do Brasil, ampliado com as recentes descobertas de petróleo e gás na camada pré-sal e a produção de etanol, deverá transformar o país em exportador de energia até 2020.

A mudança de status deverá colocar o Brasil em posição de destaque no cenário mundial.

Entre os grandes emergentes que formam o grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), somente os russos, que têm grandes reservas de gás e petróleo, são exportadores líquidos de energia.

Um relatório com projeções até 2030 elaborado em conjunto pela consultoria Ernst & Young Brasil e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que o consumo doméstico de energia poderá crescer a uma média de 3,3% ao ano, ante um aumento médio de 4,2% na produção, o que geraria excedente de petróleo e etanol para o mercado externo.

De acordo com esse estudo, novos investimentos em refino de petróleo no Brasil também deverão resultar em um combustível de condições técnicas adequadas às exigências do mercado internacional.

"Grandes volumes de gasolina brasileira devem ser exportados", diz o relatório, "chegando a 9,3 bilhões de litros em 2030".

Déficit

Atualmente, o Brasil já exporta petróleo. Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), em 2008 o Brasil exportou 158,1 milhões de barris, com receita de US$ 13,6 bilhões. Mas também importou 147,9 milhões de barris, ao custo de US$ 16,3 bilhões.

No entanto, o déficit na balança ocorre porque o petróleo exportado pelo Brasil é do tipo pesado, de menor valor de mercado, e o país ainda precisa importar o petróleo leve, que é mais caro.

A transformação do Brasil em grande exportador marca uma grande evolução em relação a um passado não muito distante.

"Na década de 70, duas fontes dominavam a matriz energética brasileira: lenha e petróleo", diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

A grande dependência de uma fonte fez com que em 1973 o primeiro choque do petróleo afetasse fortemente o país.

Uma das razões do avanço do país no setor nas últimas décadas foi o investimento na diversificação.

"O Brasil tem hoje uma das matrizes mais renováveis do mundo - 46% é de fontes renováveis. A média mundial é de 13%", afirma o presidente da EPE.

Etanol

Uma das grandes apostas do governo brasileiro, o etanol vem ganhando destaque no cenário mundial em meio a discussões sobre mudanças climáticas, a crescente demanda internacional por fontes de energia mais limpas e a preocupação dos países em reduzir sua dependência de petróleo.

Ao contrário, por exemplo, dos Estados Unidos, que produzem etanol à base de milho, também utilizado para alimentação, o Brasil usa como matéria-prima a cana-de-açúcar, considerada mais eficiente por especialistas e com maior poder de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.

Estados Unidos e União Européia têm programas para promover o consumo de biocombustíveis e deverão aumentar a mistura de etanol nos próximos anos.

Segundo o relatório da Ernst & Young, as exportações brasileiras do produto deverão crescer 8,9% ao ano.

O etanol tem ainda o desafio de se tornar uma commodity global.

As barreiras enfrentadas pelo produto no mercado internacional, como tarifas de importação, "deverão ser reduzidas gradualmente", segundo a projeção da Ernst & Young .

Além disso, avanços tecnológicos nos próximos 10 anos, como o etanol de segunda geração, produzido a partir de materiais hoje descartados, como sobras de colheita ou palha e bagaço de cana, deverão permitir aumentar a produção sem necessidade de ampliação de área.

A previsão do governo brasileiro é de aumentar a produção de etanol em mais de 150% até 2020.

Mesmo com todos os avanços, porém, o mercado de etanol ainda é pequeno. Calcula-se que todos os biocombustíveis não representem nem 1% do peso do petróleo.

Segundo o presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Marcos Jank, imaginar que o crescimento do etanol significa uma substituição do petróleo "é besteira".

Pré-sal

Com a descoberta de enormes reservas na camada pré-sal, que se estende por 800 quilômetros entre Espírito Santo e Santa Catarina, o Brasil deve ganhar uma posição de destaque também no mercado internacional de petróleo.

Ainda não há um cálculo preciso sobre o volume dessas reservas, mas algumas estimativas chegam a apontar que a camada pode abrigar, no total, até 100 bilhões de barris, o que deverá consolidar o Brasil como potência energética.

Há dificuldades, porém. As reservas estão a uma profundidade de 7 quilômetros abaixo do leito do mar, e a tecnologia de exploração é cara.

"A viabilidade de exploração depende não só encontrar reservas, mas de viabilizar as reservas em função dos aspectos econômicos da sua exploração e produção e também dos aspectos tecnológicos", diz José Carlos Pinto, sócio da Ernst & Young.

Segundo ele, é necessário um preço de mercado que seja superior ao custo de produção, além de capacidade tecnológica para viabilizar a produção e a extração.

Há cálculos que indicam necessidade de investimentos de até US$ 1 trilhão para explorar a camada pré-sal. O governo já afirmou que a exploração é viável com o preço do barril em torno de US$ 40.

"Há tendências que indicam que os custos de exploração e produção estão se reduzindo substancialmente, talvez também impactados pela crise", afirma o representante da Ernst&Young. "O que também reduz o patamar mínimo em que o preço de mercado do petróleo viabilizaria (a exploração do pré-sal)."

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090330_brasil_bric_energia.shtml
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Gastos militares do Brasil estão muito abaixo dos demais BRICs

Se no lado econômico os BRICs - Brasil, Rússia, Índia e China - têm semelhanças e potenciais de crescimento comparáveis, quando o assunto é defesa o Brasil tem "outra realidade".

A avaliação de militares e especialistas ouvidos pela BBC Brasil é que os investimentos militares estão abaixo do necessário para um país com o tamanho e com as pretensões do Brasil.

"Não precisamos nos tornar uma potência militar, capazes de conquistas. É apenas uma questão de termos forças compatíveis com a ambição estratégica do país", diz o general Augusto Heleno Ribeiro, que chefiou as tropas brasileiras em missão no Haiti.

Os historiadores costumam classificar o Brasil como um país de caráter pacifista, ou seja, que evita utilizar recursos militares em situações de conflito com outros países.

O Brasil, por exemplo, está vetado pela constituição de produzir armas nucleares. Já os outros três emergentes do grupo têm esse tipo de arma.

"Não temos a necessidade, felizmente, de ter o aparato que esses países possuem. Mas ainda assim estamos longe do ideal", diz o general Heleno.

O pesquisador Thomas Costa, da National Defense University, em Washington, diz que o país não precisa necessariamente abrir mão da característica pacifista, mas que essa cultura precisará ser "repensada", se o país quiser atingir certos objetivos.

"O fato de um país ter uma força bem estrutura não significa que terá de usá-la. Mas a partir do momento em que o Brasil demonstra interesse em participar de questões relativas à segurança mundial, terá de estar preparado para o custo", diz Costa.

Influência

O Brasil vem pleiteando uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, demanda que se tornou uma das marcas da diplomacia atual.

Ainda que a reforma no Conselho fosse aprovada - o que os especialistas acham improvável, mesmo nos próximos dez anos - a avaliação é de que o país, hoje, não estaria preparado para assumir essa função.

"Se entrarmos no Conselho de Segurança com as forças militares que temos hoje, seríamos apenas enfeite", diz o especialista em Ciências Políticas e consultor da MCM, Amaury de Souza.

Segundo ele, a diversificação dos pólos de poder, uma tendência para os próximos anos, exige que países de média influência, como o Brasil, tenham um arsenal militar relativamente maior. "Um mundo multipolar é também um mundo mais instável", diz.

Mesmo fora do Conselho de Segurança, o Brasil vem demonstrando interesse em ampliar sua participação em questões internacionais. Recentemente, o Itamaraty tentou contribuir na intermediação entre palestinos e israelentes.

"É o tipo de questão da qual só participa quem tem algum poderio militar. A influência brasileira cresceu muito, mas ainda está restrita a assuntos econômicos", diz Souza.

Diretrizes

Em novembro passado, o governo brasileiro divulgou sua Estratégia Nacional de Defesa, um conjunto de diretrizes que pretende reformular a questão militar no país.

Mesmo vago, o plano foi bem recebido por especialistas. O texto de quase cem páginas prevê a readequação das três forças armadas de acordo com os "interesses estratégicos" do país.

O texto traça os objetivos de médio e longo prazo para o setor, como por exemplo, a modernização das três forças e o incentivo à indústria bélica nacional.

Falta agora o governo discutir como essas tarefas serão colocadas em prática. O plano não fala, por exemplo, de orçamento e prioridades nos gastos - principal alvo de críticas por especialistas.

O Brasil é 12º país que mais investe em defesa no mundo, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). É também o campeão na América Latina. A previsão, para este ano, é de um gasto de R$ 50 bilhões.

Desse montante, 80% é destinado ao pagamento de salários e pensões. Outros 12% vão para despesas administrativas (custeio) e 8% para investimentos.

"Esse desequilíbrio compromete a modernização das forças armadas", diz Souza.

Tabu

Além da questão orçamentária, os especialistas apontam ainda outro fator que pode atrapalhar o desenvolvimento militar brasileiro: a memória da ditadura.

"Em diversos setores da sociedade, sobretudo nas camadas decisórias, existe uma forte rejeição aos militares", diz o historiador Carlos Fico, da UFRJ. Segundo ele, essa rejeição "não permite nem que o assunto da defesa seja debatido".

Na avaliação do professor, os militares, por sua vez, "são prisioneiros de velhos hábitos corporativistas", o que também prejudica o debate.

"O país vai ter de amadurecer para esse debate. As forças armadas precisam acompanhar a maior proeminência do país", diz.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090403_brasil_defesa_dg.shtml

Vídeos:
Petróleo e etanol podem incluir Brasil no clube dos exportadores de energia
Vasta área inexplorada dá vantagem mundial na área de agricultura ao Brasil
Agricultura e meio ambiente no Brasil
Poluição é desafio para o Brasil
Brasil investe em novos satélites para recuperar atraso no setor aeroespacial
Em entrevista à BBC Lula disse que o G20 foi positivo
Em entrevista à BBC Lula diz que o protecionismo é como uma droga

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Re: Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #3 Online: 07 de Abril de 2009, 00:45:28 »
Reportagens sobre a Rússia

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Para Rússia, BRICs são símbolo de mundo multipolar

O conceito da sigla BRICs para a Rússia faz parte da noção de um mundo multipolar, no qual há múltiplos e competitivos centros de poder que o país vem ajudando a construir ao longo da última década.

A Rússia tem uma relação econômica bastante próxima com a China e a Índia, mas nenhuma parceria estratégica. Os três permanecem países muito diferentes em termos de orientação estratégica e geopolítica.

As ligações entre a Rússia e a América Latina vêm aumentando, a exemplo dos acordos de cooperação militar assinados com a Venezuela no ano passado, mas ainda são muito menores do que os laços que o país mantém com a Europa.

Qualquer que seja a retórica, a Rússia é fortemente integrada política e economicamente com as instituições européias.

Rússia e G20

O presidente russo, Dmitry Medvedev, diz que a cúpula do G20 que acontece esta semana em Londres deverá estabelecer um consenso para modernizar a atual arquitetura financeira global e criar um novo curso para a economia mundial.

Medvedev tem pedido insistentemente por "ações conjuntas" e "valores comuns". Ao mesmo tempo, o principal assessor econômico do Kremlin, Arkady Dvorkovich, diz que a cúpula do G20 precisará fornecer mais do que comunicados.

Que tipo de ação a Rússia propõe?

Entre os resultados esperados pelas autoridades russas estão a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a ampliação do Fórum de Estabilidade Financeira (FSF, na sigla em inglês).

O FSF foi criado em 1999 para promover a estabilidade financeira e é formado por Bancos Centrais, ministérios das Finanças e as mais relevantes organizações supervisoras mundiais.

A Rússia também defende uma melhor coordenação de políticas sociais entre as maiores potências econômicas diante da preocupação de que do rápido crescimento do desemprego resulte em efervescência social no país.

Mas o que a Rússia não quer ouvir é a palavra antiprotecionismo. Autoridades russas introduziram medidas protecionistas em várias indústrias, em particular na automobilística, altamente afetada pela crise, e no complexo industrial militar do país.

A cúpula do G20 acontece em um momento de sérias dificuldades econômicas para a Rússia. Há um ano, autoridades insistiam que a crise financeira havia nascido nos Estados Unidos e não atravessaria as fronteiras do país.

Com excesso de autoconfiança, o Kremlin descreveu a Rússia como um "oásis de estabilidade".

Um ano depois, a Rússia enfrenta sua primeira recessão em uma década. O número de desempregados aumentou em meio milhão de pessoas somente em dezembro. O ministro das Finanças admite que em 2009 a renda orçamentária deve ser 40% menor do que o previsto, devido principalmente ao colapso do preço do petróleo.

Mas não é só o setor de energia que está sofrendo com os efeitos das turbulências. No complexo militar industrial de alta tecnologia cerca de um terço das empresas beira a falência.

O governo dispõe ainda de enormes reservas para injetar na indústria, bancos e programas sociais. Uma eventual quebra de bancos ou a desvalorização acentuada do rublo seria desastroso politicamente e para a população.

Isto pode ajudar a explicar o chamado do primeiro-ministro, Vladmir Putin, por "coesão social".

Protestos

As autoridades russas já deixaram claro que não vão tolerar greves e protestos ilegais.

Em dezembro, paraquedistas foram enviados de Moscou para o outro lado do país, na ponta leste, para conter protestos de comerciantes de carros contra o aumento nas taxas de importação de automóveis. A polícia local havia avisado que não usaria força contra o povo.

Medvedev chegou ao poder em uma época abençoada, com os cofres públicos transbordando com petrodólares. E agora, de uma hora para outra, ele passou a enfrentar vários desafios.

A solução poderá vir em forma de uma resposta firme por parte do presidente ou então de uma saída política mais fácil - que acabe por sacrificar o líder russo ou Vladmir Putin.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090331_russia_analise.shtml
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Rússia investe bilhões para garantir influência sobre vizinhos e manter liderança

A Rússia pretende manter sua posição de liderança no cenário internacional investindo bilhões de dólares até 2020 em uma nova estratégia de Defesa. A idéia é garantir que países da antiga União Soviética continuem sob sua área de influência, distantes da Otan e do poder do Ocidente.

Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, diferentemente do que ocorria na Guerra Fria, quando a Rússia se preparava para um potencial confronto em escala global, hoje é muito mais importante para o Kremlin impedir que países vizinhos ameacem sua hegemonia na região. O governo russo estaria muito mais preocupado em evitar que eles fechem acordos econômicos e militares com o Ocidente à revelia - e para prejuízo - de Moscou.

"Garantir a influência nos países vizinhos é a espinha dorsal da política externa russa", diz o vice-diretor de redação do jornal russo Novayia Gazeta, Pavel Felgengauer, um especialista em Defesa.

Ele afirma que, para isso, a Rússia pretende investir tanto na modernização de seu arsenal quanto na reformulação de suas Forças Armadas, tornando-as mais eficientes e compactas. "Os interesses militares da Rússia não vão muito além das fronteiras das ex-repúblicas soviéticas e para defendê-los o país precisa de uma estrutura militar mais enxuta e eficiente", afirma ele.

Superioridade regional

A determinação russa de usar seu poderio militar para comprovar sua superioridade na região foi demonstrada durante a guerra da Geórgia, em agosto do ano passado.

Ignorando os apelos da comunidade internacional, a Rússia manteve uma campanha militar de duas semanas no país vizinho para garantir a autonomia da Abcásia e da Ossétia do Sul, dois territórios pró-Kremlin localizados na Geórgia.

No âmbito econômico, o Kremlin criou tensões com a Ucrânia ao interromper o fornecimento de gás para o vizinho, numa disputa pelo preço que o país deveria pagar pelo produto. A suspensão do suprimento do gás russo à Ucrânia afetou milhares de lares europeus, que recebem 80% de seu gás por meio de gasodutos que passam pelo país.

Para analistas, a crise do gás foi mais um exemplo de como o Kremlin usa seu poderio energético como arma política para defender seus interesses econômicos e, no caso da Ucrânia, para instigar tensões políticas dentro do país, cujo governo tem boas relações com o Ocidente.

Rearmamento

Pavel Felgengauer diz ainda que um sinal claro de que "os interesses da Rússia passaram de globais para regionais" é o rearmamento do país, anunciado em meados de março pelo presidente Dmitry Medvedev. Para ele, isso demonstra que o país ainda vê a Otan como principal ameaça à sua soberania.

"A reforma militar é importante em um momento em que a Rússia teme que a aproximação do Ocidente com países vizinhos como Geórgia e Ucrânia (ambos cogitados para integrar a Otan) dissemine valores ocidentais em seu território", afirma.

Até o final da próxima década a Rússia deve renovar sua frota de navios de guerra e seu sistema de defesa aérea e espacial, e gastar mais de US$ 140 bilhões em compras de armamentos. Além da renovação do aparato militar, os planos do governo incluem um corte de pessoal de 13%, totalizando o número de militares para no máximo 1 milhão. O quadro de oficiais será o mais afetado, com a redução de 350 mil a 150 mil nos próximos três anos.

Alexander Golts, analista para assuntos de segurança na Rússia, afirma que os pesados investimentos na área de Defesa feitos ao longo dos últimos oito anos não se refletiram na modernização do arsenal ou no treinamento de pessoal, o que vem comprometendo a eficiência das forças russas no campo de batalha.

"A guerra na Geórgia mostrou como nossos equipamentos estão antiquados. Se o conflito fosse com outro país a Rússia poderia ter sido derrotada", acredita Golts. "Hoje há praticamente um oficial para cada dois soldados e cerca de duas mil unidades do Exército em terra. Mas apenas cerca de 20% delas estariam prontas para agir em caso de guerra", acrescenta.

Ambições globais

Alguns especialistas acreditam, entretanto, que as ambições da Rússia ultrapassem a esfera regional. Para Dale Herspring, especialista em relações cívico-militares da Kansas State University, nos Estados Unidos, ao anunciar o plano de rearmamento "a Rússia quer mostrar ao mundo que está de volta".

Herspring ressalta que os acordos de cooperação assinados ano passado entre o Kremlin e a Venezuela e os exercícios militares realizados pela Rússia no Caribe devem ser vistos como sinais de que o país também pode jogar na área de influência dos americanos.

Ele afirma, entretanto, que a posse de Barack Obama nos EUA deu novo fôlego às esperanças de reaproximação entre os dois países, abrindo caminho para a possibilidade de a Rússia tentar mediar um diálogo da Casa Branca com o Irã. Em troca, segundo ele, os russos conseguiriam fazer com que os EUA desistam de instalar o polêmico escudo de defesa anti-mísseis na Europa central, considerado uma ameaça por Moscou .

Mas há quem duvide que uma melhora nas relações entre a Rússia e o Ocidente seja possível. Alexander Golts aposta que a recente aproximação do país com os EUA não terá resultados práticos.

"No momento em que acordos começarem a ser assinados, a Rússia ocupará um lugar secundário na agenda de prioridades americanas", afirma. "E isto atrapalha as ambições do Kremlin de mostrar que a Rússia ainda é uma superpotência."

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090330_russia_ffaa.shtml
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Dependência de petróleo e gás ameaça desempenho da Rússia como potência econômica

A Rússia terá que diversificar sua economia, hoje altamente dependente dos recursos energéticos, para voltar a crescer na próxima década, afirmam analistas ouvidos pela BBC Brasil. O país é o que mais sofre com os efeitos da crise financeira internacional entre os países do grupo BRIC.

Para Jim O'Neill, economista da Goldman Sachs que cunhou o termo BRIC, a alta dependência do país por petróleo e gás tornou a Rússia o mais vulnerável entre os quatro integrantes do BRIC às turbulências externas.

"A Rússia definitivamente terá que mudar. Esta crise demonstrou que o país é dependente demais do petróleo e que precisa se afastar disso", disse O'Neill em entrevista à BBC Brasil.

Dona da maior reserva de gás natural do mundo e da segunda maior de petróleo, a Rússia tem 60% de suas exportações sustentadas pelo setor energético. O país também é grande produtor de outras matérias primas, como metais e madeira, tendo se beneficiado, como o Brasil, da alta no preço das commodities nos últimos anos.

Um dos maiores efeitos da crise global foi a redução da demanda pelas commodities, levando os preços de vários produtos a despencar no mercado internacional. O barril de petróleo, que chegou a custar US$ 140 em julho de 2008, no final de março estava sendo cotado a menos de US$ 53.

Competitividade

Segundo especialistas, um dos primeiros passos para o Kremlin diversificar a economia será aumentar seu leque de investimentos dentro do setor energético, baseado principalmente na extração de petróleo e gás.

"Se a Rússia quer se especializar em energia, terá que investir no potencial tecnológico de outras áreas relacionadas ao setor, como fontes alternativas de energia, conservação e processamento", avalia Dmitri Trenin, diretor do instituto Carnegie Centre, em Moscou.

O analista reforça que para poder competir com outros países e se destacar no cenário econômico internacional, a Rússia ainda precisará canalizar recursos para outras áreas, como inovação tecnológica, informação e tecnologia aeroespacial.

Um ranking de competitividade industrial elaborado pela Agência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido, na sigla em inglês), colocou a Rússia em 66º lugar em uma lista de cem países. O país ocupou a pior colocação entre os BRIC, ficando bem atrás de China (26º), Brasil (39º) e Índia (40º).

O próprio Kremlin já reconheceu que para continuar crescendo até 2020, a Rússia terá que sair da inércia do desenvolvimento baseado nos recursos energéticos e outras commodities.

Em um discurso para o Conselho de Estado russo pouco antes de deixar a Presidência e ocupar o cargo de primeiro-ministro, em março do ano passado, Vladimir Putin disse que a posição da Rússia como exportador mundial de commodities pode, no futuro, "deixar o país atrás das maiores potências econômicas e de fora do grupo dos maiores líderes mundiais".

Durante os anos de prosperidade econômica, o Kremlin aumentou sua atuação no setor de energia, estatizando várias empresas. Como resultado, acumulou dívidas gigantescas e fez poucos investimentos na exploração de novas reservas.

Na opinião de especialistas, o futuro da Rússia como potência energética vai depender da vontade do Kremlin de abrir as portas para os investimentos estrangeiros.

"A grande questão para a próxima década será saber se o país vai se abrir para os investimentos externos no setor energético. Do contrário, será muito difícil desenvolver aquilo que constituiu o bem mais poderoso da Rússia, que são as commodities", afirma a cientista política Masha Lipman.

Efeitos da crise

A crise financeira internacional expôs as vulnerabilidades da economia russa a turbulências externas. Um dos efeitos mais perversos tem sido o desemprego, que no mês passado chegou a 8% da população ativa, atingindo seis milhões de trabalhadores.

A produção industrial caiu 20% nos últimos seis meses. O rublo, a moeda local, se desvalorizou pela metade, aumentando a inflação, que segundo números oficiais chega a 13,9%.

Em 2007, a economia cresceu 8,1%, o melhor desempenho da década, seguido pela aceleração, já freada pela crise, de 6% em 2008.

Para 2009, projeções do Banco Mundial indicam que a economia russa vai encolher 3% e, para 2010, o crescimento deverá ser de 0%. Mais otimista, o governo russo aposta em uma contração de 2,2% para este ano.

Os anos de crescimento econômico da última década encheram os cofres do governo, que hoje está canalizando cerca de US$ 600 bilhões em reservas para salvar empresas em dificuldades.

Alguns analistas duvidam da capacidade da Rússia de sobreviver à crise. Para opositores do Kremlin, o futuro do país é cercado de incertezas.

"Eu não acredito que diante das atuais dificuldades financeiras, a Rússia pode ter um papel político e econômico importante nos próximos anos antes que encontre uma solução para a crise", afirma Vladmir Milov, que integra o movimento político oposicionista ‘A Outra Rússia' e preside o think-tank russo Institute of Energy Policy.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090331_russiaeconomia_fp.shtml
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Queda da população pode afetar economia da Rússia

O declínio acentuado da população russa poderá ter graves consequências nas áreas econômica e de defesa e ameaçar o crescimento do país na próxima década, segundo a opinião de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

De acordo com Sergei Zakharov, do Instituto de Demografia da Higher School of Economics, em Moscou, a Rússia de 2020 estará sofrendo os efeitos da redução da sua população. Em 2015 a Rússia já poderá ter oito milhões de pessoas na força de trabalho a menos do que tem hoje e, no Exército, a redução poderá ser de até um milhão até 2050.

"Os números são assustadores", diz Zakharov.

Um estudo patrocinado pelas Nações Unidas e divulgado ano passado por especialistas em demografia mostrou que a população do país poderá encolher dos atuais 142 milhões de pessoas para 100 milhões até 2050.

Natalidade e mortalidade

Dois principais fatores explicam o declínio da população russa. O primeiro são as baixas taxas de natalidade registradas ao longo das últimas décadas, uma tendência observada em muitos países europeus e agravada na Rússia pelas dificuldades econômicas dos anos 90, quando o país sofreu a transição do comunismo para o capitalismo.

O segundo fator é a alta taxa de mortalidade, principalmente entre os homens em idade reprodutiva.

Segundo Zakharov, um em cada três russos morre antes de se aposentar e as causas mais comuns são externas, como alcoolismo, acidentes de trânsito e mortes por envenenamento, causadas por consumo de bebida alcoólica fabricada de forma clandestina.

De acordo com dados oficiais, o número de mortes superou o de nascimentos em 12 milhões de 1992 a 2007, uma perda compensada parcialmente pela chegada de 5,5 milhões de imigrantes no mesmo período.

A Rússia é um dos únicos países do mundo em que a expectativa de vida diminuiu desde os anos 60. De acordo com dados oficiais de 2006, os homens russos vivem em média 60 anos, 15 abaixo da média europeia. Para as mulheres, a expectativa de vida é de 72 anos.

Impactos

O encolhimento da população pode ter diversos impactos na economia russa. Economistas estimam que a redução da força de trabalho possa resultar na queda da produção econômica, causando um impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Uma população em declínio também poderá afastar investidores internacionais, interessados no potencial do consumo interno.

"Onde o investidor prefere aplicar recursos? Na Índia ou na China, onde a renda per capita cresce junto com a população, ou na Rússia, onde a renda per capita vem crescendo, mas o mercado consumidor vem encolhendo?", indaga Markus Jaeger, economista do Deutsche Bank.

A previdência social também poderá sofrer com a crise demográfica, afirma Jaeger.

"Se a força de trabalho não for renovada, não haverá pessoas suficientes para gerar a renda necessária para pagas as pensões de aposentados. Isso pode prejudicar as políticas fiscais e econômicas e gerar tensões políticas", estima o economista.

Ainda segundo Jaeger, em termos demográficos a Rússia está na pior posição em relação aos outros países do BRIC.

Ele detalha que na Índia a população vem crescendo rapidamente, enquanto na China a força de trabalho continuará expandindo até 2015, data a partir da qual a população começará a envelhecer, mas não deverá declinar. Já o Brasil, segundo ele, se beneficiará de um aumento de 20% na força de trabalho até 2025.

"A Rússia, infelizmente, poderá sofrer um colapso populacional", acredita.

Medidas

Para tentar reverter o declínio da população, o governo vem oferecendo, desde 2006, estímulos financeiros para famílias que decidirem ter o segundo filho.

A estratégia teve resultados imediatos, com aumento de 130 mil nascimentos de 2006 para 2007. Para Sergei Zakharov, os resultados são temporários e serão seguidos, segundo ele, por uma "queda catastrófica na taxa de natalidade".

Outra estratégia do governo é estimular a imigração. Em 2006, o governo do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladmir Putin, implementou um programa que visa a atrair para a Rússia imigrantes de etnia eslava que falem russo.

O presidente do Centro de Pesquisa sobre Problemas de População, da Universidade Estadual de Moscou, Valery Yelizarov, teme que a imigração cause tensões sociais na Rússia.

"Os russos não gostam de estrangeiros, não gostam de se misturar com pessoas de outras culturas e credos", afirma ele. "E, com a crise financeira deixando milhões de russos sem emprego, os imigrantes serão cada vez mais alvos de ataques xenófobos", acrescenta.

Para Yelizarov, o governo deveria ampliar o programa de benefícios às famílias e agir para diminuir os índices de mortalidade.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090401_russiapopulacaobricsfniedecker.shtml

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Rússia terá que diversificar economia para garantir posição de liderança, dizem analistas
Crise demográfica ameaça Rússia
Queda em energia preocupa Rússia
Rússia: Produção de energia recua
São Petersburgo se moderniza

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Re: Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #4 Online: 07 de Abril de 2009, 01:28:39 »
Reportagens sobre a Índia

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Análise: Cooperação da Índia com Brasil deve se estreitar

Muitos analistas dizem que a aspiração por trás da formação do grupo conhecido como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) é estabelecer a ideia de uma ordem mundial diferente que seja essencialmente multi-polar.

A ideia de uma ordem mundial multi-polar não é algo novo para a Índia. Na época da Guerra Fria, quando o mundo estava dividido entre a democracia ocidental e o bloco comunista liderado pela União Soviética, o primeiro premiê da Índia, Jawaharlal Nehru, juntamente com o presidente Sukarno, da Indonésia, assumiu um papel de liderança na Declaração de Bandung de 1955, que tinha o objetivo de promover a cooperação econômica e cultural afro-asiática.

Esta declaração foi a precursora do Movimento Não-Alinhado idealizado por Nehru, Josif Broz Tito, da Iugoslávia e Gamal Abdel Naser, do Egito.

Nem a Declaração de Bandung, e nem o Movimento Não-Alinhado tiveram muito impacto político ou estratégico na ordem mundial mas estas duas iniciativas claramente estabeleceram a Índia como um líderes entre os países em desenvolvimento.

Economia global e comércio

A Índia também se tornou a voz dos países menos desenvolvidos nas discussões do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT). Os indianos participaram do GATT desde sua criação, em 1947.

Depois da desintegração da União Soviética, quando a ordem política mudou radicalmente e o conceito de livre comércio global ganhou espaço e o GATT foi substituído pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, a Índia manteve sua posição distinta de campeã das causas dos países em desenvolvimento.

A Índia tomou o caminho da liberalização econômica a partir de 1991 e agora se uniu integralmente a comércio e economia mundiais. Com seu vasto mercado interno, crescimento econômico espetacular nos últimos cinco anos e vigor das indústrias baseadas em conhecimentos, a Índia se tornou um agente-chave na ordem econômica mundial.

A Índia nos BRICs

A Índia vem tendo relações políticas e econômicas ativas há muito tempo com os seus três outros parceiros dos BRICs.

A Índia e o Brasil sempre trabalharam em proximidade nas conversações para o comércio global durante muitos anos. Este relacionamento vem crescendo muito depressa nos últimos anos - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Índia em 2004 e 2007 e o premiê Manmohan Singh visitou o Brasil em 2006. Ambos os países desejam ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Há expectativa de uma relação de cooperação estreita entre Brasil e Índia nos próximos anos.

A Índia tem uma profunda relação econômica e estratégica com a União Soviética (URSS) desde o fim dos anos 60. Essa relação continuou com a Rússia mesmo depois do fim da URSS. O volume de comércio entre os dois países caiu na última década, mas a Rússia ainda é o principal fornecedor de equipamento militar para a Índia. Recentemente, os dois países assinaram um tratado nuclear civil, pelo qual a Rússia irá fornecer combustível e reatores nucleares.

A relação da Índia com a China atravessou maus períodos nos últimos 60 anos, mesmo depois de 1950, quando a Índia se tornou o segundo país não-socialista a estabelecer ligações diplomáticas com a China. o primeiro-ministro chinês Zhou Enlai e o premiê indiano Nehru trocaram visitas de Estado em 1954, com a mensagem "Indianos e chineses são irmãos". Mas as relações azedaram depois que Nehru deu asilo ao líder tibetano Dalai Lama, em 1959. Em 1962, os dois países travaram uma guerra por fronteiras.

Isso levou a um esfriamento das relações, que só começaram a amornar a partir de 1979, quando o então ministro do Exterior indiano, Atal Bihai Vajpayee, visitou a China. Mas a falta de confiança perdurou e ambos os países só começaram a apreciar o potencial econômico um do outro no início desta década.

O comércio entre os dois países é estimado em mais de US$ 200 bilhões, mas em 2001 ele chegava a poucos bilhões. Apenas neste ano, o comércio bilateral já bateu nos US$ 51 bilhões, tornando a China o maior parceiro comercial da Índia. A projeção é de que até 2015, o comércio entre China e Índia seja o maior do mundo. As disputas por fronteiras continuam, mas ambos avançaram bastante nas negociações para tentar resolver as divergências. Os dois países estão estabelecendo uma parceria estratégica e militar.

Diante da atual crise econômica e do espectro da recessão profunda nas economias avançadas, a importância dos países do BRIC está sendo sentida como nunca. Esta questão foi fortemente ressaltada por Zhang Yan, embaixador da China em Délhi, na semana passada, indicando que o presidente Hu Jintao gostaria de se encontrar com o premiê indiano Manmohan Singh nas paralelas do encontro do G20 em Londres, e discutir como "acabar com a crise".

A Índia, como seus parceiros no BRIC, sabe que está na hora de se impor na arena internacional e aumentar sua esfera de influência. Ela quer atingir o objetivo de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e ter mais voz em instituições monetárias internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Muitas pessoas na Índia acreditam que agora estes objetivos poderão ser alcançados.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090402_brics_india.shtml
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Crescimento com desigualdade pode ameaçar Índia como potência em 2020

O forte crescimento econômico que colocou a Índia na lista de emergentes aumentou a desigualdade social do país e pode comprometer seriamente sua inclusão no clube das potências mundiais até 2020. Analistas e lideranças políticas ouvidas pela BBC Brasil afirmam que o fato de a Índia ter milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza impõe um limite ao crescimento do PIB nacional, comprometendo a continuidade do desenvolvimento e aumentando o risco de instabilidade social e violência.

Para continuar a manter seu ritmo de crescimento e evitar distúrbios sociais que venham a ameaçar a segurança do país, afirmam especialistas, o governo indiano terá que enfrentar o desafio de estender os benefícios dessa prosperidade a mais camadas da sociedade.

"Os indianos precisam parar de acreditar que o país vai continuar crescendo acima de 6% ao ano automaticamente, sem que nenhum esforço seja feito, e que nosso destino inevitável é se tornar uma potência", diz Rajiv Kumar, analista do instituto de pesquisa Indian Council for Research on International Economic Relations (ICRIER), sediado em Nova Délhi

O modelo de desenvolvimento econômico adotado pela Índia - que resultou num crescimento médio de 8% ao longo dos últimos quatro anos - foi paradoxalmente a mesma causa do aumento da desigualdade. O país apostou em grande parte nos setores de tecnologia da informação, serviços e telecomunicações, o que aumentou a prosperidade da Índia urbana. Mas, em contrapartida, a Índia rural, onde vive cerca de 60% da população do país, foi mantida amplamente à margem dessa prosperidade - limitada a atividades agrícolas de baixa rentabilidade e por uma força de trabalho sem qualificação.

O Banco Mundial afirma que a Índia até conseguiu retirar pessoas de baixo da linha da miséria extrema: o percentual de indianos com renda inferior a US$ 1 por dia caiu de 42% em 1981 para 24% em 2005. No entanto, a camada mais rica da sociedade melhorou seus padrões de consumo de forma muito mais acelerada do que os mais pobres.

O indicador que mede a diferença de renda entre ricos e pobres - o coeficiente Gini - se manteve estável ao longo dos anos 80, mas disparou a partir das décadas seguintes e continua crescendo. Igualmente, os Estados indianos que concentram a maior riqueza crescem mais rápido do que os Estados mais pobres. Alarmado com essa disparidade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a afirmar em estudo recente que "a maré da economia indiana sobe, mas nem todos os barcos estão conseguindo subir junto".

Prosperidade

Do lado da Índia que cresce estão empresas com mão-de-obra altamente qualificada, que passaram a competir no mercado internacional com multinacionais de países desenvolvidos com custos mais competitivos. Para essa Índia, os prognósticos para 2020 são positivos:

"A competitividade do setor de tecnologia indiano vai continuar ao longo da próxima década, e até por mais anos", acredita B. Krishnamurthy, um dos vices-presidentes da empresa Wipro Technologies, na cidade de Hyderabad.

A empresa é um dos símbolos da camada de cima da Índia, que não para de enriquecer. Há 60 anos, a empresa produzia óleo de cozinha. Hoje, com 97 mil funcionários, ela é a segunda maior empresa de tecnologia da informação do país.

Assim como muitos indianos, Krishnamurthy confia no fator demográfico para continuar elevando o crescimento da Índia.

O país tem a segunda maior população do mundo. Após as reformas de liberalização da economia promovidas nos anos 90, a renda per capita do país disparou (132% entre 1990 e 2006) e os 1,3 bilhão de indianos passaram a ser vistos, por investidores estrangeiros e empresários locais, como um enorme mercado consumidor em potencial. Muitos especialistas afirmam, inclusive, que a vantagem demográfica da Índia foi um dos principais motores do crescimento econômico do país.

"A Índia tem a maior população de trabalhadores jovens do mundo, 28% da nossa população é jovem", diz o executivo. "Eles falam inglês e são bem educados e capazes. Isso será a nossa grande vantagem. Enquanto outros países ainda estão tentando nos alcançar, eu tenho certeza que essa vantagem vai nos manter à frente dos demais."

Instabilidade

Nem todos concordam, entretanto. Analistas costumam prever dois cenários para o futuro do país. Um é positivo, no qual o governo conseguiria incluir a população "no barco que sobe", e a Índia manteria um crescimento sustentável em torno de 10%. O outro é sombrio, com estagnação econômica e instabilidade social.

Nos últimos anos, o crescimento da desigualdade, sobretudo no meio rural, fortaleceu movimentos extremistas de inclinação maoísta, como o dos nexalitas, que pregam uma revolução social e insurgência contra o governo. Hoje eles já atuam em 40% do território indiano. O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, já disse que os nexalistas são a principal ameaça à segurança da Índia.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090402_indiaeconomia_dg.shtml
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Modelo de democracia compromete velocidade de reformas econômicas na Índia

O modelo de governo da Índia precisa passar por reformas para se tornar menos lento e mais eficiente, garantindo, com isso, que o país continue crescendo economicamente no ritmo atual.

Essa é a opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil. Para eles, no entanto, promover reformas dentro do complexo sistema político indiano pode ser um desafio difícil de ser vencido.

A democracia indiana é motivo de orgulho para a maioria da população. Há anos o país conviveu com o estigma de que uma democracia tão grande e diversa nunca funcionaria em uma região marcada pela presença regimes totalitários.

Entretanto, ao longo dos 62 anos que se passaram desde sua independência, a Índia passou por um período de apenas 21 meses de exceção democrática - nos anos 1970.

Para o economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, Jim O'Neill, criador do termo BRIC a comparação do desenvolvimento da Índia com a China, por exemplo, mostra as limitações do sistema indiano no que se refere à capacidade de adotar mudanças de política econômica.

"A Índia precisa manter sua democracia, mas também precisa encontrar uma maneira para fazer com que ela funcione de forma mais eficiente. É quase como se em determinados momentos a democracia indiana sufocasse a Índia", disse ele em entrevista à BBC Brasil.

Polarização

A política indiana foi historicamente dominada pelo Partido do Congresso Indiano, de figuras como Indira Gandhi e Jawaharlal Nehru. Entre 1998 e 2004, o nacionalista Bharatiya Janata Party (BJP), de oposição ao Partido do Congresso, governou o país. No nível federal, o Partido do Congresso e o BJP são as principais forças que polarizam a política da Índia.

No nível local, o sistema político indiano é muito mais complexo e reflete a diversidade étnica, cultural e religiosa do país. Os hindus formam 85% da população indiana, mas o país é uma miríade de culturas e religiões: sikhs, católicos, parsis, jainistas, budistas, entre outros. Além disso, a sociedade indiana é dividida em castas - que não se limitam mais apenas à religião hindu.

Desde os anos 80, partidos regionais que se apoiam em interesses de castas, religiões e línguas diferentes estão conquistando prefeituras e governos estaduais, diminuindo a influência do Partido do Congresso e do BJP. Cada Estado tem partidos diferentes e, para governar, os dois principais partidos nacionais precisam formar a maior coligação possível.

Pesquisas mostram que o Partido do Congresso e o BJP devem conquistar menos de 150 das 544 vagas no Parlamento nas próximas eleições gerais da Índia, em abril e maio - número muito inferior ao de 273 vagas necessárias para governar o país como maioria.

"O Partido do Congresso e o BJP estão perdendo a sua importância. O que estamos vendo são coalizões multipartidárias no nível nacional", afirma o historiador e escritor Ramachandra Guha, autor do livro "A Índia após Gandhi: a história da maior democracia do mundo".

"Esse fenômeno, por um lado, é um aprofundamento da democracia indiana. O fato é que os dois partidos nacionais não conseguem representar as aspirações diversas, e grupos e regiões inteiras que eram excluídas antes estão achando sua voz no processo político. Mas se você olha isso no nível nacional isso fica irracional, porque com 25 partidos diferentes formando um governo fica impossível ter qualquer política coerente de longo prazo em infra-estrutura, educação e saúde", afirma Guha

O especialista ressalta que algumas das características da democracia - como liberdade de expressão e eleições livres e justas - são fortes na Índia. Ele lembra, entretanto, que o funcionamento geral do Estado nas áreas de saúde, educação e infra-estrutura ainda é muito deficiente.

Educação

Por isso, reformas são vistas como chave para a Índia, sobretudo em áreas como educação - o acesso dos mais pobres a ela é considerado essencial para que um número cada vez maior de indianos seja incluído no crescimento econômico do país.

"A Índia precisa de reformas para continuar crescendo, sobretudo reformas que diminuam a disparidade de renda entre os diferentes setores da sociedade e regiões do país", afirma Evan Feigenbaum, analista do Council on Foreign Relations, instituto de pesquisas baseado em Nova York.

O perigo, segundo ele, é que o ritmo lento de algumas destas reformas ponha em xeque o desenvolvimento da Índia como potência.

O modelo de desenvolvimento escolhido pela Índia se baseia na aposta na expansão da economia e no fato de o país ter uma população de 1,3 bilhão. Combinados, esses dois fatores formariam um dos maiores mercados consumidores do mundo, consolidando a posição do país como potência num futuro próximo.

No entanto, não há garantias de que a Índia conseguirá manter até 2020 seu elevado índice de crescimento - 8% em média - sobretudo com o país dando sinais de que está sendo afetado pela crise econômica mundial. Para muitos analistas, o sucesso da Índia como potência dependerá de reformas de inclusão promovidas pelo governo e da velocidade com que a democracia conseguirá entregar essas reformas.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090401_india_democracia.shtml
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Índia teme que economia forte aumente violência política

Combater a ação de grupos extremistas internos e externos que ameacem sua estabilidade é o principal desafio na área de segurança para a Índia se consolidar como potência econômica em 2020.

Analistas ouvidos pela BBC Brasil ressaltam que grupos extremistas - de inspiração religiosa ou política - rejeitam a imagem de uma Índia moderna e se ressentem da aproximação do país com o Ocidente, particularmente com os EUA.

Isso, afirmam especialistas, aumenta ainda mais o risco de atentados e de conflitos externos armados, o que poderia afugentar investidores estrangeiros e levar a custosos conflitos bélicos, prejudicando o crescimento econômico do país.

Para tentar fazer frente à ameaça, a Índia está aumentando seus gastos militares. O país negocia ainda um acordo de cooperação nuclear com os EUA, para aumentar seu poder de dissuasão militar.

Ao longo das duas últimas décadas a Índia passou a ser alvo frequente de ataques terroristas, perpetrados por grupos com motivações religiosas e políticas - alguns deles, segundo o governo indiano, com apoio de governos estrangeiros como o do vizinho Paquistão.

Além disso, internamente, grupos de insurgência de inspiração maoísta fortaleceram-se com o aumento da desigualdade social no campo.

"A Índia vive um paradoxo. De um lado o país parece estar brilhando com o crescimento econômico, mas na outra ponta há problemas de segurança que estão crescendo, tanto no front externo como na dinâmica interna do país", afirma o analista Uttam Sinha, do Institute for Defense Studies and Analyses (IDSA), órgão baseado em Nova Délhi ligado ao Ministério da Defesa indiano.

"A grande ironia do crescimento econômico indiano e do surgimento da Índia como potência emergente é que isso está também fortalecendo movimentos de violência política", diz ele.

Ameaça externa

Externamente, afirmam especialistas, a principal ameaça à Índia é o Paquistão, rival histórico desde o surgimento dos dois Estados, em 1947.

Ambos os países possuem armas nucleares e estão envolvidos há décadas numa tensa disputa pela região da Caxemira. Em 1999, Índia e Paquistão estiveram perto de declarar guerra, mas ao longo da última década as relações oficiais melhoraram e os países se aproximaram.

No entanto, grupos islâmicos e hindus vêm promovendo atentados frequentes na tentativa de colocar os dois países novamente em rota de choque.

Em novembro do ano passado, a tensão voltou a subir com os ataques terroristas em Mumbai, que mataram quase 200 pessoas, em diferentes pontos da cidade. A ação foi atribuída ao Lashkar-e-Taiba, grupo de militantes islâmicos que lutam contra a Índia na Caxemira.

A Índia acusa o governo do Paquistão de não combater - e até de abrigar - grupos como o Lashkar-e-Taiba.

Mumbai foi escolhida pelos agressores por ser a capital financeira do país, como pólo que atrai investimento externo. Entre os alvos escolhidos estavam hotéis e restaurantes frequentados por empresários do Ocidente.

O analista de segurança internacional Paul Kapur, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirma que os ataques em Mumbai voltaram a deixar claro como a relação da Índia com o Paquistão é um difícil dilema para o governo indiano:

"A Índia decidiu que o crescimento econômico é sua prioridade número um para as próximas décadas e tenta a todo custo evitar qualquer conflito com o Paquistão. Eles estão sendo nitidamente comedidos na resposta aos ataques de Mumbai, mesmo percebendo que houve claramente um elemento paquistanês nos atentados", diz Kapur.

No entanto, ele afirma que a Índia pode pagar caro por não responder com força aos ataques. Isso, segundo Kapur, poderia estimular o aumento de ações terroristas e provocar insatisfação entre os indianos em relação à linha cautelosa adotada pelo atual governo, que é controlado por uma coalizão liderada pelo Partido do Congresso Indiano.

O aumento da violência poderia fortalecer partidos nacionalistas como o Bharatiya Janata Party (BJP), que defende uma resposta mais contundente da Índia ao Paquistão. O BJP - maior partido de oposição do país - é o principal rival do Partido do Congresso Indiano nas eleições gerais de abril e maio.

"Pode ser que os eleitores decidam que não estão mais dispostos a aturar apenas uma resposta comedida. Vamos ver como o público vai reagir, pode haver uma mensagem nas próximas eleições sobre o futuro da Índia", diz o analista.

Ameaça interna

O Paquistão e grupos terroristas supostamente baseados no exterior não são a única preocupação da Índia no que diz respeito à segurança. Em 2007, o premiê indiano, Manmohan Singh, alertou para o perigo que representam os insurgentes de extrema-esquerda no país.

Os naxalitas, como são conhecidos os radicais que pregam a reforma agrária e a revolução contra o governo, controlam um "corredor vermelho" que se estende da fronteira da Índia com o Nepal até a região central do país.

O grupo é relativamente pequeno em comparação com a gigantesca população indiana - estima-se que existam cerca de 12 mil insurgentes armados. Mas os naxalitas já formaram um partido político e têm se tornado mais influentes junto aos governos locais.

"Os naxalitas têm forte influência nos Estados centrais da Índia, como Jharkhand e Chhattisgarh", explica Bharat Karnad, analista do Centre for Policy Research, de Nova Délhi.

"Esses são alguns dos locais mais ricos em recursos naturais do país. Se a Índia realmente prosperar no futuro, estes recursos terão de ser explorados em uma escala muito maior do que o que está acontecendo agora. Se isso acontecer, a Índia terá que pacificar os movimentos de lá", conclui.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090331_india_seguranca_dg.shtml

Vídeos:
Acesso igualitário a educação é desafio para Índia na próxima década
Índia teme que crescimento econômico aumente ação de extremistas
Desigualdade na Índia

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Re: Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #5 Online: 07 de Abril de 2009, 01:56:57 »
E finalmente a China

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China busca mais influência para países emergentes

À medida que líderes mundiais se reuniam em Londres para a cúpula do G20 sobre a crise econômica, essa semana, mais atenção foi chamada para o que países emergentes como a China anunciariam no encontro. A China é a maior entre as economias emergentes dos BRICs, grupo que também inclui Brasil, Rússia e Índia.

Os chineses traduziram a sigla como "os quatro tijolos dourados", algo próximo do que o que o criador do conceito, Jim O'Neill, da Goldman Sachs, tinha em mente - parte dos "tijolos" da fundação da economia moderna.

Apesar de os Brics não serem um grupo político, o PIB combinado destes países responde por mais de 15% do total mundial. E o grupo cresce mais rapidamente do que o resto do mundo. Líderes chineses prometeram manter o crescimento do país em torno de 8% nesse "ano muito difícil". As relações bilaterais entre China e os outros três países são próximas, em termos de comércio e aspirações compartilhadas.

A China vem demonstrando seu poder ao pedir mais voz no processo de reformas e administração do sistema financeiro internacional. A Rússia, no começo de março, propos criar uma nova moeda reserva, a ser emitida por instituições financeiras internacionais. Em seguida, o diretor do Banco Central chinês, Zhou Xiaochuan, deu as diretrizes de como os direitos especiais de saque (SDR, na sigla em inglês) poderiam ocupar o papel do dolar como unidade de reserva global. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que era importante discutir o assunto.

Tanto China quanto Brasil afirmaram que a crise econômica e financeira surgiu no Ocidente. Os governos ocidentais e as instituições financeiras internacionais controladas pelo Ocidente não conseguiram evitar que a crise atingisse em cheio a economia global real.

Nos últimos 30 anos, a China se transformou de país focado em revoluções internas e, algumas vezes, externas, em país cujas reformas e aberturas provocaram uma onda de mudanças não apenas na riqueza nacional, mas também na forma com que seus líderes e habitantes veem o mundo externo.

A crise global atingiu em cheio a China - como país que era tão dependente do crescimento de exportações - mas a China tem uma posição bastante forte, porque seus líderes ainda esperam um crescimento de cerca de 8% este ano. A China também lançou um pacote de estímulo de cerca de US$ 600 bilhões, para garantir que a retração não afete muito a criação de empregos.

Além de tudo isso, os US$ 2 trilhões de reservas estrangeiras da China são um alvo óbvio para países e instituições que precisam de ajuda. Cerca de metade das reservas são investidas em bonds do governo dos Estados Unidos e em ativos correlatos.

Portanto, na cúpula do G20 em Londres, o presidente da China, Hu Jintao, assim como outros líderes ao redor da mesa, estiveram falando sobre coordenação de políticas macroeconômicas e enviando uma mensagem de consenso e confiança na recuperação da economia global.

Mas Pequim buscará ter mais influência para si e para outros países de economias emergentes. O governo chinês indicou que pretendia contribuir para um fundo ampliado para países em desenvolvimento, mas que pressionaria por um progresso real na reforma do sistema financeiro e de suas instituições. Isso incluiria um calendário para implementar um reajuste do poder de voto da China no Fundo Monetário Internacional (FMI).

A China também prometeu que usará seu poder de compra para ajudar outras economias abaladas, enviando missões comerciais a Europa e EUA e, quando apropriado, propor trocas de moedas com países em desenvolvimento, para garantir um crescimento sustentável no comércio bilateral. A retração do mercado internacional forçou a China a estimular o comércio doméstico e passar por reajustes difíceis na sua economia - que promete superar a do Japão em poucos anos.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090403_chinanalise_ji.shtml
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China aposta em consumo para manter crescimento alto e garantir liderança em 2020

A China terá que transformar em consumidores mais da metade de sua população, que hoje ainda vive em áreas rurais, se quiser manter suas altas taxas de crescimento e ocupar uma posição de liderança econômica mundial já na próxima década.

O modelo de desenvolvimento baseado nos pilares de exportações e investimentos externos, adotado pelo país desde a abertura econômica há 30 anos, já mostra sinais de esgotamento.

Mesmo antes da crise econômica mundial, as autoridades chinesas já vinham adotando medidas para fomentar o mercado interno, para que o consumo se transforme no principal motor de seu crescimento.

A queda acentuada nas exportações e nos investimentos provocada pela crise, porém, deve precipitar a alteração de rumo que pode mudar a cara do país até 2020, transformando a China de "fábrica do mundo" em "mercado do mundo".

"O modelo de sucesso usado pela China quando ainda era uma economia pequena não funciona mais agora, quando ela é uma das maiores economias do mundo", diz o diretor do Banco Mundial para o país, David Dollar.

O ex-congressista Cheng Siwei, presidente da Associação Nacional para a Construção Democrática, uma das oito agremiações de apoio do Partido Comunista dentro do Congresso Nacional do Povo, acha que esse é um bom momento para mudanças:

"No idioma chinês, a palavra crise é formada pelos caracteres que representam perigo e oportunidade. Então, apesar do perigo, o momento é de oportunidade também", observa Cheng.

Para Cheng, um dos principais desafios do governo é mudar o hábito de poupança dos habitantes do país. Os chineses estão entre os maiores poupadores do mundo - seja para garantir a aposentadoria, para pagar o estudo dos filhos ou para se preparar em caso de doenças.

Ele afirma que a China precisa fazer com que seus cidadãos poupem menos e consumam mais, se quiser fomentar seu mercado interno e transformar o consumo no principal motor de seu desenvolvimento.

"Dizemos que no Ocidente as pessoas gastam hoje o que vão ganhar amanhã e aqui poupamos hoje para gastar amanhã", observa Cheng. "Mas durante a crise é muito importante estimular o consumo".

Para alcançar esse objetivo, a China vem adotando políticas como o estabelecimento de aposentadoria para a população rural. A renda média nas cidades é hoje três vezes maior do que a de centenas de milhões que vivem no campo.

Além disso, o quase inexistente serviço de seguridade social precisa ser reformado para garantir acesso aos serviços básicos de saúde, educação e aposentadoria.

Crescimento em baixa

A crise econômica mundial vem afetando a China de maneira intensa, apesar de o governo manter seu discurso otimista e suas previsões de crescimento do PIB em 8% neste ano.

O Banco Mundial reviu recentemente sua previsão de crescimento da China para este ano, para 6,5%, bem abaixo da média de 9,8% dos últimos 30 anos. No ano passado, a economia da China cresceu 9,1% após uma expansão de 13% em 2007, a maior em 13 anos.

Os setores exportadores, justamente um dos pilares do crescimento chinês nas últimas três décadas, são os mais afetados pela crise, com a redução de compras de mercados importantes como Europa e Estados Unidos.

Segundo dados do governo chinês, por exemplo, só no ano passado 4 mil fábricas de brinquedos foram fechadas, a grande maioria na província de Guangdong, a mais rica do país e onde está concentrada grande parte da produção chinesa para exportação.

Para equilibrar a situação e tentar promover o crescimento, o governo anunciou em novembro um pacote de estímulo de 4 trilhões de iuans (cerca de US$ 586 bilhões). O grosso do pacote está destinado a obras de infra-estrutura, mas ele também prevê medidas para estimular o consumo interno, como aumentos de salários, estímulo à compra de automóveis e subsídios para agricultores.

O Banco Mundial estima que até 25 milhões de pessoas possam perder o emprego na China por conta da crise. Para muitos analistas, o país não terá como manter um nível de crescimento suficiente para empregar as milhões de pessoas que chegam ao mercado de trabalho anualmente.

Segundo Chang Hee Lee, analista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Pequim, a crise é a mais séria no mercado de trabalho da China desde o início da abertura econômica. "É uma situação muito difícil, que tem um impacto muito forte por causa da ausência de benefícios como seguro-desemprego", diz ele.

Barril de Pólvora

Num país fechado politicamente como a China, possíveis protestos populares provocados pela crise são vistos como uma ameaça potencial à liderança do Partido Comunista.

Em 1989, por exemplo, os protestos estudantis por democracia que levaram ao massacre da Praça da Paz Celestial, tiveram como pano de fundo também uma desaceleração econômica - naquele ano, o PIB do país cresceu apenas 4,1% após uma expansão de 11,3% no ano anterior.

Segundo Chang Hee Lee, da OIT, o governo chinês vem reagindo de forma pragmática à atual crise, tentando evitar a repressão aos protestos contra fechamento de fábricas e demissões em massa, por exemplo.

Além disso, greves têm sido permitidas também como maneira de permitir uma válvula de escape para a insatisfação e evitar uma explosão no futuro.

"Não há nada na lei chinesa que permita greves, mas também não há nada que proíba, então o governo pode interpretar de maneira mais conveniente em cada situação", diz Chang.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090330_china_bric_economia_rw.shtml
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China moderniza educação para garantir liderança econômica

A educação que os estudantes chineses recebem hoje poderá ter uma forte influência sobre a maneira como o país será liderado já em 2020, quando a atual geração de estudantes começar a alcançar postos de liderança no país.

Os estudantes da China de hoje têm uma formação muito mais aberta do que a que seus pais receberam. A maioria começa a estudar inglês desde cedo, e é cada vez maior o número de estudantes chineses participando de programas de intercâmbio no exterior. A tecnologia também ajuda nessa tendência. A China tem hoje o maior número de internautas do mundo e, apesar dos controles da censura, a rede permite aos estudantes estar em contato com o que acontece no resto do mundo.

"A sociedade chinesa se abriu desde as reformas econômicas iniciadas em 1978, e a educação também acompanhou esta abertura", disse à BBC Brasil Zhong Zhou, professora do Departamento de Educação da Universidade Tsinghua, de Pequim, uma das mais conceituadas do país.

"Os líderes políticos e empresários de hoje, nascidos em sua maioria entre os anos 1940 e 1960, tinham uma formação mais peculiar, tecnocrática", diz Zhong. Esse é o caso, por exemplo, do presidente do país, Hu Jintao, engenheiro formado pela Tsinghua.

Contraste

É imenso o contraste do momento atual com o período da Revolução cultural promovida por Mão Tsé-Tung entre 1966 e 1976, quando universidades foram fechadas ou transformadas em centros de formação técnica.

"Há 30 anos, as possibilidades de escolha de carreiras eram muito mais limitadas, mas hoje há muito mais possibilidades para que os estudantes escolham uma profissão de acordo com seus interesses", comenta Chen Hui Ying, de 23 anos, estudante de literatura na Universidade Tsinghua.

Liu Dandan, de 20 anos, estudante de direito na Tsinghua, vê uma educação mais aberta como uma necessidade para a China se tornar uma liderança econômica no mundo.

"Com a globalização, a China está percebendo que é importante se comunicar e interagir com o restante do mundo", diz ela. "Se uma pessoa não falar inglês, como poderá fazer transações com pessoas que não falam chinês", pergunta ele.

A brasileira Tarsila Lemos Borges, professora de português na Universidade de Pequim, diz que os estudantes chineses a impressionam pela dedicação e disciplina.

"No Brasil, sempre lembramos dos tempos de universidade como uma época de muita diversão, mas aqui na China eles veem essa época como um período de trabalho duro", diz.

A pressão familiar para que os estudantes sejam bem sucedidos é grande. Com a política oficial que somente permite às famílias urbanas terem um único filho, essa pressão aumenta ainda mais.

"As famílias ensinam aos filhos que a educação é importante e deixam claro os sacrifícios que estão fazendo, inclusive financeiros, para que eles tenham sucesso", diz Borges.

Para a maioria das famílias chinesas, a educação é a principal prioridade, desde o ensino básico. Muitas reservam mais da metade de seu orçamento para pagar a escola e a universidade dos filhos, além de cursos extra-curriculares.

Investimento público

Os gastos do governo com a educação também vêm crescendo de maneira acelerada, num ritmo superior ao crescimento do PIB na última década.

Apesar disso, a proporção do PIB investida em educação (3,4%) ainda está aquém dos 6% recomendados pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Estima-se que o governo vá investir entre 4,4% e 4,5% na área em 2020.

Um relatório apresentado em 2004 à Comissão de Direitos Humanos da ONU aponta outras falhas no sistema educacional chinês. A relatora especial da ONU sobre os direitos à educação, Katarina Tomasevski, critica no documento os custos da educação pública, que segundo ela em muitos casos levam à evasão escolar em famílias muito pobres. O relatório afirma ainda que o fato de o orçamento para a educação ter crescido menos que o de defesa indicaria uma falta de prioridade para a questão.

O relatório de Tomasevski foi duramente criticado pelo governo chinês, que a acusou de se desviar do tema da educação para se concentrar em "temas irrelevantes para a questão, como política externa e militar".

"A educação é essencial para o desenvolvimento de longo prazo. O governo chinês tem feito esforços incessantes para garantir o direito à educação de seus cidadãos e conseguiu resultados consideráveis", afirmou o representante da China no conselho, Liu Zhongxin.

Para muitos, uma das questões que a China terá que resolver no futuro próximo será a convivência de sua economia aberta com um sistema político ainda fechado, com a ausência de um sistema legal confiável, falta de independência dos poderes, censura e acusações de desrespeito aos direitos humanos.

A educação, que teve um papel importante no avanço econômico da China, poderá ser também o motor de uma possível abertura política no país na próxima década.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090402_china_modernizacao.shtml
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China terá que provar que pode crescer sem destruir meio ambiente, dizem analistas

A degradação ambiental foi um dos resultados do desenvolvimento acelerado da China desde a abertura econômica do país há 30 anos. Mas, para chegar a 2020 como liderança respeitada pelo, a China terá que provar ao resto do mundo que pode se desenvolver sem destruir o planeta.

O país se tornou recentemente o maior emissor mundial de dióxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global, ultrapassando os Estados Unidos.

O crescimento econômico também multiplicou a demanda do país por energia, grande parte dela altamente poluente. Hoje, a China é o maior consumidor de carvão, forma mais barata, mas também mais poluente, de obter energia.

Com isso, a China queima um quarto de todo o carvão no mundo, e depende dele para mais de dois terços de suas necessidades de energia.

O rápido crescimento também alterou hábitos chineses que terminavam preservando o meio ambiente. Hoje, nas cidades chinesas, as bicicletas perderam seu lugar como principal meio de transporte para os carros. Somente na capital do país, Pequim, a frota de veículos quase triplicou nos últimos dez anos, com mais de mil carros novos chegando às ruas a cada dia.

Alvo dos ambientalistas

Tudo isso fez do país um dos principais alvos dos ambientalistas em todo o mundo, que cobram da China a adoção de um modelo de desenvolvimento que leve em conta a proteção ambiental.

Um dos principais pontos de crítica à China é a relutância do país em se comprometer com metas obrigatórias para a redução de suas emissões de gases do efeito estufa.

Nas discussões para o chamado acordo internacional pós-Kyoto para o combate às mudanças climáticas, a China admite a adoção de metas obrigatórias, mas condiciona isso a metas mais rígidas aos países desenvolvidos.

"A China não é mais um país fechado. Para manter seu crescimento econômico e sua posição como um ator importante no cenário internacional, precisa reconhecer o que os outros países estão dizendo sobre a China", afirma Tom Wang, porta-voz da ONG Greenpeace em Pequim.

Wang diz que o direito dos países em desenvolvimento crescerem deve ser respeitado, mas contesta a noção de que os danos ambientais são inevitáveis em uma economia em expansão como a China.

Segundo ele, o país perde anualmente entre 3% e 5% de seu PIB com os custos provocados pelos danos ambientais.

Danos

Os próprios chineses são as maiores vítimas dos danos ambientais causados pelo desenvolvimento do país.

Segundo dados do Banco Mundial, a China tem hoje 20 das 30 cidades mais poluídas do mundo. A cada ano, mais de 400 mil pessoas morrem em decorrência de doenças relacionadas à poluição.

Muitos dos rios do país estão poluídos por metais pesados, prejudicando o uso da água para irrigação ou contaminando a cadeia alimentar.

Cerca de um terço do território chinês é afetado pela chuva ácida provocada pela poluição, com um impacto direto na produção de alimentos.

O governo da China já começa a agir, principalmente por causa da ameaça que a degradação ambiental traz ao crescimento econômico do país.

As Olimpíadas de Pequim, no ano passado, serviram como uma grande vitrine para o governo chinês tentar mostrar ao mundo que está preocupado com o ambiente.

Todas as construções destinadas às competições contavam com itens como energia solar, mecanismos de captação da água da chuva e outras características "verdes".

Além disso, medidas como limitações às indústrias poluentes e um rodízio de carros que retirou de circulação metade da frota a cada dia, conseguiram o que parecia impossível: céu azul durante as duas semanas de competições.

As medidas adotadas durante as Olimpíadas, apesar de terem tido um alcance limitado, mostraram que o país é capaz de combater seus problemas ambientais se tiver vontade política.

Para o diretor do Banco Mundial na China, David Dollar, o país tem conseguido avanços nessa área, apesar de os problemas que enfrenta ainda serem sérios.

"Se tivéssemos esta conversa há um ano, diria que os problemas ambientais eram o maior desafio que a China enfrentava e a maior ameaça ao crescimento do país no longo prazo", diz.

"O que é menos conhecido, porém, é que tem havido muito progresso no campo ambiental nos últimos dez anos. A China é um dos poucos países do mundo que vem aumentando rapidamente sua cobertura florestal, tem conseguido reduzir a poluição do ar e também a poluição das águas", afirma Dollar.

Se o país conseguir realmente ampliar suas medidas de controle, alterar suas fontes de energia e conter suas emissões de poluentes, poderá até 2020 servir de exemplo para mostrar ao mundo que desenvolvimento econômico e proteção ambiental podem vir lado a lado.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090403_china_ambiente_dg.shtml
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China pautará expansão militar por interesses econômicos, não por ambições hegemônicas

A China deverá pautar sua expansão militar ao longo da próxima década pensando em garantir seus interesses econômicos, e não em construir uma hegemonia militar que ameace a segurança de seus vizinhos - ou a de outras potências mundiais. Essa é a opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil. Para eles, são pequenas as chances de a China - que quer chegar a 2020 como uma potência econômica respeitada internacionalmente - se envolver em algum conflito militar no futuro próximo.

Dona do maior Exército do mundo, de um arsenal nuclear e de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, a China vem investindo pesado nos últimos anos na modernização de suas Forças Armadas e já tem o segundo maior orçamento militar do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Especialistas afirmam que esse poderio militar seria usado para garantir uma política externa pacífica e multilateral, baseada no preceito da não-intervenção em temas internos de outros países.

"A China agora sente que precisa de mais poder militar porque seus interesses econômicos são mais amplos", observa Tim Huxley, diretor do escritório regional da Ásia do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres.

"Não acho que eles estejam desenvolvendo seu poder militar pelo poder militar em si, mas como parte do processo de se tornar uma grande potência", diz.

Na avaliação de Christian LeMiere, editor-analista da Jane's, organização internacional especializada em defesa, "a prioridade da China no momento é continuar com seu crescimento econômico de maneira calma e pacífica, para construir um ‘soft-power' (influência econômica, política e cultural sobre outros países) em vez de ‘hard-power' (poderio militar)".

Steven Tsang, diretor do programa de Estudos Asiáticos da Universidade Oxford, na Grã-Bretanha, concorda com essa visão. "A China não está planejando construir, nos próximos 10 ou 15 anos, uma força capaz de fazer frente aos Estados Unidos. Isso simplesmente não pode ser feito", afirma.

Para Tsang, a capacidade militar da China é equivalente à sua dimensão econômica, e serve primariamente para preservar seus interesses econômicos no mundo, como foi o caso do envio de navios para o Golfo de Aden no ano passado, para proteger embarcações chinesas dos grupos de piratas somalis.

Ele observa que a China é hoje o membro permanente do Conselho de Segurança da ONU que mais contribui com tropas para as forças de paz das Nações Unidas, e comenta que o país poderia demonstrar sua boa vontade assumindo o controle, por exemplo, da missão de paz na região de Darfur, no Sudão.

Para Tim Huxley, do IISS, no entanto, fatos como esses são na realidade uma demonstração da capacidade de mobilização militar da China, o que pode contribuir para aumentar o temor sobre a ascensão chinesa e desestabilizar a correlação de forças na região.

"Conforme a China se torne mais forte e mais confiante, me parece inevitável que comece a se comportar como outras forças ocidentais se comportam. Vão encontrar situações nas quais terão que intervir, seja para proteger seus cidadãos ou em conexão com disputas territoriais, por exemplo", avalia.

Orçamento em alta

A China gastou no ano passado 418 bilhões de iuans (cerca de US$ 61 bilhões) com defesa, o equivalente a cerca de um décimo do orçamento militar dos Estados Unidos.

Mas, segundo cálculos da Jane's, o orçamento militar chinês cresceu 178% nos últimos sete anos. Se mantiver o ritmo de crescimento, os gastos militares da China podem chegar em 2020 ao equivalente à metade dos gastos dos Estados Unidos.

Em um relatório militar bienal, publicado em janeiro, a China argumenta que seus gastos militares ainda são pequenos se comparados proporcionalmente ao seu PIB (Produto Interno Bruto).

De acordo com o documento, em 2007, a China gastou 1,8% de seu PIB em defesa, enquanto o orçamento militar americano consumiu 4,5% do PIB do país.

Outros países como Rússia (2,5% do PIB), Reino Unido (2,7%) e França (1,9%) também teriam gasto mais, proporcionalmente.

Prioridade

A principal prioridade para a estratégia militar chinesa hoje é a questão de Taiwan, território separado na prática com a instalação de um governo nacionalista após a vitória dos comunistas na China continental em 1949, mas considerado pelo governo chinês como uma "província rebelde" e parte integrante de seu território.

A tensão entre China e Taiwan - que tem o apoio militar dos Estados Unidos - vem sendo reduzida nos últimos tempos com a assinatura de acordos de comércio e para permitir o trânsito de turistas.

Tsang, da Universidade Oxford, não vê possibilidades de mudanças na natureza do conflito com Taiwan no médio prazo, mas considera que o atual fortalecimento militar da China serve para "construir uma força capaz para evitar que os Estados Unidos interfiram quando eles decidirem que chegou o momento de resolver a questão de Taiwan".

Segundo ele, a China prefere não ter que recorrer ao uso militar contra Taiwan e espera que apenas que a dissuasão seja capaz de convencer o governo de Taipei a negociar uma reunificação pacífica, evitando que os Estados Unidos se envolvam no conflito.

"O maior temor de Taiwan hoje não é de dominação militar pela China, mas de dominação econômica pela China", comenta Christian LeMiere, da Jane's. "Taiwan é hoje uma economia que depende da China para mais de 40% de seu PIB, e isso deve crescer conforme eles aumentem seu comércio bilateral".

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090402_brics_china_faa_rw.shtml

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China terá que aumentar mercado interno para seguir prosperando
Mudança de modelo de desenvolvimento chinês reduz colônia de brasileiros
China investe em educação
O dilema ecológico da China

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Offline Johnny Cash

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Re:Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #6 Online: 11 de Maio de 2015, 09:00:42 »
O que acontece agora com esse papo de BRICS?

Vira IC?

Ou ainda há fé nos BRS? Na verdade, há esperança para o B?

Offline Derfel

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Re:Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #7 Online: 11 de Maio de 2015, 11:11:25 »
Continua tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Offline Johnny Cash

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Re:Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #8 Online: 11 de Maio de 2015, 11:17:02 »
Acho que o cenário mudou bastante da época dourada dos BRICS pra agora, camarada Derfel.

Veja a performance econômica brasileira por exemplo, nem precisa muito discutir sobre isso, né? E a firmeza e a crença nas figuras políticas brasileiras? E a saúde e transparência de nossas empresas e instituições? E o consumo do que a gente tem pra exportar loucamente?

Na minha visão já dá pra, pelo menos, dividir os BRICS em Tier 1 e Tier 2.

Offline Derfel

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Re:Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #9 Online: 11 de Maio de 2015, 11:30:43 »
Assim como a China tem desacelerado e a Índia tem acelerado. A economia é algo cíclico com período de avanços e retrocessos e esses períodos nem sempre são os mesmos entre os países. No caso dos BRICS, esses países tinham (e ainda têm) pouco em comum entre si e foi algo meio arbitrário esse agrupamento, porém, da criação do termo para cá, alguma coisa aconteceu politicamente. Houve uma formação de bloco e a criação de um banco comum,  além do posicionamento de bloco em algumas questões. O que reserva o futuro é um pouco difícil de dizer, dependendo do período.  Pode-se ter uma ideia até 2020, mas cada vez que se alarga esse prazo mais difícil é essa previsão.

Offline Geotecton

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Re:Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #10 Online: 11 de Maio de 2015, 15:05:10 »
O que acontece agora com esse papo de BRICS?

Vira IC?

Ou ainda há fé nos BRS? Na verdade, há esperança para o B?

Continua quase a mesma coisa.

Ou seja, não existe esta bobagem de "aliados" porque cada um age conforme o seu interesse.

A grande diferença é que o 'mundo de fantasia' de alguns acabou, como o Brasil.
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Offline Moro

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Re:Especial BBC: BRICs 2020
« Resposta #11 Online: 11 de Maio de 2015, 15:56:23 »
Acho que o cenário mudou bastante da época dourada dos BRICS pra agora, camarada Derfel.

Veja a performance econômica brasileira por exemplo, nem precisa muito discutir sobre isso, né? E a firmeza e a crença nas figuras políticas brasileiras? E a saúde e transparência de nossas empresas e instituições? E o consumo do que a gente tem pra exportar loucamente?

Na minha visão já dá pra, pelo menos, dividir os BRICS em Tier 1 e Tier 2.

Claro que mudou. Jogaram uma bomba PTronica no Brasil.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

 

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