Autor Tópico: Sistema bancário do Brasil contribui para a exclusão social  (Lida 342 vezes)

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Sistema bancário do Brasil contribui para a exclusão social
« Online: 08 de Abril de 2009, 04:07:44 »
Sistema bancário do Brasil contribui para a exclusão social

Estudo do Ipea mostra que a redução do papel do Estado concentrou renda de crédito
 
O Brasil tem um sistema bancário incompleto, que contribui para a concentração de riqueza e aumento da exclusão social. É o que mostra o estudo do Ipea divulgado por meio do Comunicado número 20 da presidência do instituto apresentado pelo presidente Marcio Pochmann em coletiva à imprensa realizada hoje, 7, na sede do Ipea em Brasília.
 
Denominado "Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário de crise" o estudo mostra que o esvaziamento do Estado no mercado financeiro brasileiro em nada beneficiou a inclusão social e a popularização bancária. A redução da quantidade de bancos em operação nos últimos onze anos contribuiu ainda para promover mais desigualdade regional. " Nos últimos dez anos houve uma transferência  de recursos que serviam de crédito para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil para uma maior concentração na região Sudeste", apontou Pochmann.
 
Segundo o estudo, "ao contrário dos Estados Unidos, que combinou a redução na quantidade de bancos com ampliação do número de agências bancárias, o Brasil apresentou diminuição na quantidade tanto de bancos como no número de agências."
 
Em 2007, por exemplo, o país possuía somente 156 instituições bancárias, enquanto a Alemanha registrou 2.130 bancos e os Estados Unidos 7.282 bancos. A principal fase de redução da presença dos bancos públicos no Brasil ocorreu entre 1995 e 2001, com uma breve interrupção entre 2001 e 2003, quando voltou novamente a perder importância relativa no total de ativos bancários. Em 2007, o Brasil tinha menos agência por brasileiro do que na década de 80, quando havia, para cada agência, cerca de 8 mil brasileiros.
 
A diferença regional indicada no estudo é alarmante quando se pensa em desenvolvimento de médio e longo prazo no país. "Nas regiões Norte e Nordeste, por exemplo, a relação da população por agência chega a ser quase três vezes maior do que nas regiões Sul e Sudeste". Entre 1996 e 2006 as três regiões acumulam uma perda de 41,4% na participação relativa no total de crédito.
 
O custo de crédito para a população e para as atividades econômicas é alto no Brasil. Veja a tabela em que o estudo apresenta a diferença de juros feitas por instituições bancárias em países diferentes:
 
Tabela 2: Taxa anual real de juros total* sobre empréstimos pessoais em instituições bancárias em países selecionados na primeira semana de abril de 2009

InstituiçãoPaísJuro real (em %)
HSBCReino Unido   6,60
Brasil63,42
SantanderEspanha10,81
Brasil55,74
CitibankEUA7,28
Brasil60,84
Banco do Brasil   Brasil25,05
ItaúBrasil63,25

Fonte: Dados fornecidos pelas instituições bancárias para os juros e OCDE e BCB para inflação nos países selecionados e no Brasil

Juros adicionados aos serviços administrativos, riscos de inadimplência, margem de lucro e tributação.
 
O estudo observa que houve avanço da experiência brasileira de popularização de serviços bancários por intermédio das operações de correspondentes não bancários. "No ano de 2008, por exemplo, o Brasil registrou a presença de 84,3 mil correspondentes bancários operados em locais não bancários como padarias, postos lotéricos, correios, farmácias, entre outros".
 
Esses avanços, no entanto, não são ideais. "O Brasil precisa avançar rapidamente do ponto de vista da popularização dos bancos", defendeu Pochmann. Ele considera que a constituição de novos bancos, "bancos comunitários como existem nos Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, ajudaria não apenas a difundir o crédito, mas torná-lo mais acessível à população que se encontra fora do sistema bancário".
 
Leia o comunicado nº 20 da presidência

http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=8864

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Re: Sistema bancário do Brasil contribui para a exclusão social
« Resposta #1 Online: 08 de Abril de 2009, 04:11:12 »
Redução do número de bancos e agências gerou sistema bancário incompleto, diz Ipea

A redução, nos últimos dez anos, do número de bancos no Brasil – de 230 para 156 – bem como da quantidade de agências bancárias – de uma para cada 8.530 pessoas para uma para cada 10.145 – gerou um sistema bancário “incompleto” no país.

A avaliação foi feita hoje (7) pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann.

Segundo ele, a forma como o sistema bancário brasileiro atua acaba contribuindo para que não se reduza a exclusão social no país.

“Temos uma parcela da população que não tem acesso aos serviços bancários, que constituem uma referência em termos de bem-estar social”, disse Pochmann, depois de divulgar o estudo Transformações na Indústria Bancária Brasileira e o Cenário de Crise.

Ele destacou que, além da redução na quantidade de bancos e agências, o Brasil registrou, ao mesmo tempo, uma elevação do custo dos serviços bancários. “Isso fez com que o tomador brasileiro de crédito pague várias vezes mais do que o que seria o custo para o tomador do mesmo crédito em outro país.”

Dados do estudo mostram que o custo dos serviços bancários está relacionado ao grau de competição entre as instituições financeiras. Porchmann explicou que, no cenário brasileiro, como há menos bancos dispostos a competir, os custos e a margem de lucro tendem a ser maiores.

Para ele, é preciso avançar rapidamente na popularização dos bancos. Pochmann atribuiu o fenômeno da “concentração bancária” à redução do papel do Estado no sistema bancário e ao aumento da internacionalização de bancos. “No Brasil, os bancos públicos compensavam essa competição, porque operavam em regiões de menor renda. Seu desaparecimento fez com que essas regiões perdessem o acesso ao banco, uma vez que o sistema privado não tem interesse.”

De acordo com a pesquisa, outro destaque negativo foi a transferência de recursos que serviam de crédito nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste para o Sudeste. A região, atualmente, concentra 70% do crédito brasileiro. “Houve um esvaziamento das regiões que anteriormente eram melhor atendidas pelo sistema de bancos públicos e isso é um indicador de exclusão bancária.”

Na opinião de Porchmann, uma das saídas seria replicar a experiência alemã dos chamados bancos comunitários ou regionais, que ajudariam não apenas a difundir melhor o crédito, como também torná-lo mais acessível para a população que atualmente se encontra fora do sistema bancário.

“Tivemos avanço no combate à pobreza e na redução do desemprego, e esses são ganhos importantes, mas insuficientes, porque não vêm acompanhados dos serviços bancários. Na sociedade contemporânea, a população que não tem acesso ao crédito e ao banco está praticamente excluída de um padrão de vida moderno.”

http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2009/04/07/reducao+do+numero+de+bancos+e+agencias+gerou+sistema+bancario+incompleto+diz+ipea+5394085.html

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Re: Sistema bancário do Brasil contribui para a exclusão social
« Resposta #2 Online: 10 de Abril de 2009, 02:28:57 »
Lula troca comando do BB. IPEA defende mais bancos estatais. O dedo na ferida ninguém põe

Importa é o que se quer da banca. Até ontem governo quis crédito a conta-gotas para conter a inflação

É simples, simplista demais, a conclusão de uma nota da direção do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, o IPEA, segundo a qual a redução do número de bancos estatais depois de 1996, quando a maioria, até alguns federais, estava no osso, obrigando o desvio de dinheiros sociais para saneá-los, contribuiu para o aumento dos juros. A banca deve ter adorado. Tira foco do que lhes interessa.

Até os bancos públicos comerciais remanescentes, hoje menores em número, mas mais parrudos que antes - e muito “competitivos” com os privados, já que as taxas cobradas não diferem tanto assim nas principais linhas de crédito entre todos – devem ter apreciado.

Fossem “solidários” com o sufoco dos devedores, sobretudo nestes tempos de escassez de crédito, e o presidente Lula, semanas atrás, não teria advertido a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil sobre o alto nível nas duas instituições dos spreads - a diferença entre o custo de captação e de aplicação do dinheiro.

Por não ter atendido o apelo de Lula, o presidente do BB, Antonio Francisco Lima Neto, foi instado a “pedir” demissão, substituído prontamente por outro quadro de carreira, Aldemir Bendine. Os dois são próximos ao PT, mas Bendine deve ser visto como mais maleável que Lima Neto. Ele se preocupava com a transparência dos dados do BB, que tem ações em bolsa ao contrário da CEF, e, por isso, teria mais dificuldade para forçar a queda do spread cobrado pelo banco.

O BB é o grande banco operador do crédito rural no país, alvo de sucessivas rolagens de dívidas. Para o balanço de 2008, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizou uma mudança na relação com a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB, que melhorou os resultados contábeis do banco. “A redução do spread bancário neste momento é uma obsessão”, disse Lula sobre a saída de Lima Neto.

O nexo é que o sistema bancário está cartelizado - um fato, como aponta a nota do IPEA - e que os bancos públicos deveriam expandir o crédito a custos menores para induzir a banca a uma concorrência inexistente na prática. A tese está certa. Equivocada é a idéia de que o crédito é caro porque há poucos bancos públicos. Se fizessem diferença, bancos estatais seriam campeões no ranking dos spreads.

Banco é concessão

A questão que se perde de vista nas análises sobre juros, crédito e endividamento público, cujos papéis fluem graças à intermediação da rede bancária, é que banco é concessão pública. Em nenhum lugar do mundo se abre um banco sem autorização oficial.

Capital, patrimônio, múltiplos do crédito, concentração de dívida por cliente, grau de risco, tudo é regulado, e por regras maiores, definidas pelo Bank for International Settlements (BIS) – rede de bancos centrais baseada em Basiléia, Suíça. A observância a tais regras, chamadas de Basiléia I e II, poupou o Brasil na crise que afundou os sistemas bancários da Europa e, sobretudo, dos EUA.

Lá, desde os anos 90, as regras prudenciais foram sendo relaxadas em favor da regulação de risco pelo mercado. Deu no que se sabe.

Estado fora à lona

Os juros são altos não porque o Estado encolheu no setor bancário devido à visão, segundo a nota do IPEA, “sobre a superioridade das forças de mercado”. O Estado encolheu por necessidade. Os bancos federais foram socorridos pelo Tesouro, nos anos 90, com um aporte que beira em dinheiro de hoje o custeio anual de dois a três PAC.

No caso dos bancos dos estados a maioria foi à lona por razões ou técnicas, ao antecipar receitas fiscais nunca ressarcidas, ou até criminosas, ao servir a propósitos políticos de governadores dando crédito a quem não devia, além de leniência na execução da dívida.

Cumplicidade oficial

Nos EUA, onde há mais de 8 mil bancos, nove explicam quase 70% do volume de crédito. O número de bancos não influencia a competição. Nem a origem estatal do capital: na França, o sistema é misto, e a banca é das mais rentáveis. O fundamento é o que se quer da banca.

Até ontem no país o governo quis dela crédito a conta-gotas para conter consumo, portanto, a inflação, e tomador cativo para papéis do Tesouro. É o que explica o nível recorde dos depósitos da banca retidos pelo BC, que também financiam o subsídio do crédito rural.

A banca se queixa das amarras, mas fato é que não perdeu com elas até agora: a remuneração da dívida pública compensou a receita não realizada nos empréstimos. Tal quadro mudou. Dívida e inflação já não ameaçam. Esse é o ajuste a fazer, função do BC e do Tesouro.

Como dobrar a banca

A concorrência entre os bancos dispensa decreto e constrangimento dos dirigentes do BB e da CEF. Se for tirado o recurso de a banca estacionar seus dinheiros no overnight, com garantia de recompra pelo BC, o dinheiro fluirá. Parado não fica, porque tem custo, e irá para onde render mais: será emprestado ao governo, no giro da dívida, ou à produção e ao consumo, nas operações de crédito.

É simples assim, desde que se atente para possíveis desvios para o dólar, risco mitigado pela pasmaceira dos mercados financeiros internacionais.

De média de R$ 50 bilhões/dia no pré-crise, o overnight saltou para quase R$ 200 bilhões em fevereiro, indicando o rumo dos depósitos compulsórios liberados pelo BC para aliviar a falta do crédito. Fazer o quê?

Primeiro, desestimular o overnight. Segundo, eliminar a carta de recompra. Terceiro, condicionar o compulsório liberado à sua aplicação em até trinta dias, mais teto para o spread, como já faz o BNDES nos repasses à banca. Nada disso é do agrado da banca, mas também não é purgante.

http://cidadebiz.oi.com.br/paginas/47001_48000/47920-1.html

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