Fonte: Conversa Afiada
Link:
http://www2.paulohenriqueamorim.com.br/?p=8714A fraude da Folha (*) II. Publica carta com desmentido sobre participação de Dilma em sequestro7/abril/2009 12:35O Conversa Afiada recebeu o seguinte e-mail de Antonio Roberto Espinosa:
(…) Aproveito para informar sobre os desdobramentos da onda de opinião levantada pelos blogs junto à Folha de S. Paulo. Ontem, por volta das 17h15, o editor do Painel do Leitor (sr. Luis A. Del Tedesco) iniciou uma série de ligações telefônicas para mim, solicitando que enviasse um segundo texto, para ser publicado na edição de hoje, já que o anterior não seria mais inédito. Foi uma longa negociação. Escaldado pela ausência de postura ética do jornal, passei a exigir coisas como:
1) a formalização da solicitação por e-mail;
2) o compromisso de publicação do texto na íntegra, sem cortes;
3) uma clara definição de tamanhos e procedimentos, para evitar futuras evasivas burocráticas.
Produzi o texto no tamanho negociado e o enviei minutos depois do horário acertado, mas como combinado por telefone, nele fazendo questão de citar o endereço de alguns blogs (inclusive o seu) em que o leitor poderia encontrar a primeira carta.
Evidentemente a segunda carta também não foi publicada e recebi, hoje pela manhã, um novo e-mail com novas desculpas esfarrapadas do citado editor. Estou disponibilizando o texto e os e-mails trocados para todos os blogs interessados em dar continuidade ao assunto, alimentando o debate fundamental sobre o direito à informação e a respeito do monopólio da propriedade dos meios de formação da opinião pública. Seguem abaixo:
1) O texto da segunda carta;
2) Minha última resposta ao e-mail com desculpas esfarrapadas do sr. Tedesco;
3) A troca de e-mails entre nós, que documenta a negociação.
Autorizo a publicação desse material como vocês desejarem, editando os textos conforme a linha de sua publicação. Agradecendo pela sua atenção e, enaltecendo sua importância no debate fundamental para a verdadeira democracia em nosso país, subscrevo-me
Antonio Roberto Espinosa (RG 3.995.925)
1 - Segunda carta
Em respeito à inteligência dos leitores, e para amenizar os danos à imagem e à honra da ministra Dilma Roussef, aceitei a proposta do editor do Painel do Leitor para escrever uma nova carta, num espaço exíguo e em pouco mais de uma hora, mas sob o compromisso de publicação na íntegra.
Segundo seu editor, o Painel só publica cartas inéditas e a que enviei, ainda no domingo, mas não publicada na edição de ontem, como seria de esperar de um jornal sério, já repercutiu reproduzida em outros veículos de imprensa, cuja leitura recomendo, para sua boa informação. Para os leitores que tiverem interesse, dou três endereços como exemplo:
www.paulohenriqueamorim.com.br/,
http://HTTP://colunistas.br/luisnassif; e
www.zedirceu.com.br.
Sob o título geral “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Netto”, a Folha utilizou-se de uma entrevista por telefone a uma jovem repórter. Lamento que o maior jornal brasileiro use a fonoportagem, o lamentável e preguiçoso vício da “investigação” por telefone. Segundo os editores, o seqüestro de Delfim Netto em 1969 “chegou a ter data e local definidos”. A que hora e em que local, então, ocorreria? A Folha não informa. O mais grave: acusa a Ministra pela ação, lançando uma sórdida anticampanha contra sua virtual candidatura a Presidente. É possível que Dilma, pelas suas tarefas na organização, sequer tenha sido informada sobre o levantamento realizado. Entretanto, a edição oportunista transformou um não-fato do passado (o seqüestro que não houve) num factóide do presente (o início de uma sórdida campanha), que vai desacreditar ainda mais o jornal da ditabranda.
Esclareço que Dilma pertencia, sim, à VAR-Palmares, e era uma militante séria, corajosa e humana, mas que era uma militante somente com ação política, ou seja, sem envolvimento em empreendimentos armados. E digo isto com a autoridade de quem era o responsável pelo setor militar da organização, assumindo a responsabilidade política e moral pelas iniciativas da VAR-Palmares. Por isso, desafio a Folha a esclarecer todos os pontos nebulosos da matéria do domingo e a publicar a íntegra da entrevista, de mais de três horas, para que os leitores a comparem com a imundície publicada, que constitui um dos momentos mais tristes da liberdade de imprensa e uma vergonha para a imprensa brasileira.
Antonio Roberto Espinosa
Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe.
2 - Últimas correspondências
De: “robertoespinosa” robertoespinosa@terra.com.br
Para: “leitor” leitor@grupofolha.com.br
Cópia: “ombudsman” ombudsman@uol.com.br,”crossi” crossi@uol.com.br,”elianec” elianec@uol.com.br
Data: Tue, 7 Apr 2009 09:54:59 -0300
Assunto: Re:ENC: Re:RES: Re:RES: Dilma planejou sequestro de Delfim
Caro senhor Tedesco,
A cada momento fica mais claro que a Folha não tem compromisso com a verdade, mas se guia pela intenção de fabricar a verdade. A sua verdade, ou seja, a versão da ditadura (ou ditabranda, como ela gosta de intitular o regime de terror que apoiou). Age sem respeito aos leitores e fontes, inventando, maculando, praticando arbitrariedades. Publica somente as cartas que lhe convêm. E, quando não as tem, inventa! Não checa a origem das correspondências recebidas e não respeita compromissos de honra. Ou seja, não tem palavra e carece de seriedade.
Em relação ao “caso Dilma”, na segunda-feira, 6, não publicou a minha carta, ou seja, a versão da única fonte da matéria de capa da véspera, sob a desculpa esfarrapada de que teria chegado após o fechamento, como se as razões burocráticas fossem superiores à importância e verdade dos fatos. Mas publicou uma carta apócrifa, de uma pessoa que dizia que não deixaria seu filho casar-se com uma ex-guerrilheira. E confessa isso covardemente, escondidinho, na seção erramos de hoje (6/4), onde está dito que a carta assinada por um tal de Raul Guilherme do Norte Lourenço, na verdade, foi escrita e remetida por um tal de Luis Felipe de Araújo Sousa.
Então a criteriosa e burocrática Folha não checa as cartas que recebe e publica qualquer coisa que confirme sua linha editorial? E quem garante que esse Luis F. A. Sousa existe? Não será mais uma invenção da redação?
Eu já lhes enviei duas cartas. A segunda, de ontem, me foi solicitada pelo senhor às 17h13. Se tinha tanta urgência de fechar a seção, por que não entrou em contato antes? Apesar disso, enviei a carta na hora que combinamos. O senhor se recorda que me ligou cinco vezes? Recorda que lhe informei que o texto estava com 2.300 caracteres e o senhor me disse que não havia problema? Recorda que é o seu computador que não abre arquivos em doc.x e, por isso, me pediu para enviar novamente. Por esse motivo o texto chegou cinco minutos depois.
Ora, sejamos francos ao menos uma vez: a Folha decidiu não publicar a carta não pelos motivos burocráticos alegados, mas pelo seu conteúdo. Não publicou porque quer ter o monopólio da verdade e manipular seus leitores, sem ética e sem princípios.
É irônico e ofensivo que o senhor me peça hoje uma terceira carta. Não sou empregado da Folha e não tenho salário dela para trabalhar diariamente em cartas que não serão
publicadas. No passado seu jornal divulgava propaganda dizendo que teria o rabo preso com o leitor. Com o leitor, está provado, não tem, mas que tem rabo lá isso tem. E é bem longo, a ponto de chegar aos porões sombrios da década de 70.
Já lhe enviei duas cartas. Não escreverei uma terceira. Ponha as desculpas burocráticas de lado, pelo menos uma vez na vida, e escolha uma delas. Ou publique as duas, o que seria muito mais honesto. Além disso, fale com seus chefetes e peça a eles que aceitem o desafio que lhes fiz de publicar a íntegra da entrevista concedida à repórter Fernanda Odilla, ou me garantam um espaço equivalente às duas páginas, com chamada de capa, em que publicaram suas imundícies de domingo.
Áh! Estou enviando cópia desta também ao ombudsman (e a outros articulistas), para checar se ele também vai colocar panos quentes em cima da barbaridade praticada por este periódico contra uma ministra de Estado e a história de nosso país.
Até logo. Antonio Roberto Espinosa (RG 3.995.925-9).
PS: Por favor, telefone, mande telegrama, ou seja, cheque, confirme, para ter certeza que o autor desta é mesmo a pessoa que a assina!
De: “Painel do Leitor” leitor@grupofolha.com.br
Para: “robertoespinosa@terra.com.br” robertoespinosa@terra.com.br
Cópia:
Data: Tue, 7 Apr 2009 00:06:40 -0300
Assunto: ENC: Re:RES: Re:RES: Dilma planejou sequestro de Delfim
Caro senhor Espinosa
Como eu já havia comunicado ao senhor antes, a Folha tem todo o interesse em publicar a sua manifestação no Painel do Leitor.
Mas nós havíamos combinado um tamanho (2.000 toques) e um horário (19h30), e a sua carta veio às 20h19 com 2.500 toques.
Além disso, o senhor cita um fato (não termos publicado sua carta na segunda-feira) para o qual já lhe dei a explicação (o jornal fecha às 20h; a sua carta chegou aqui às 21h58 _saiu de seu e-mail às 21h41). Isso não irá ajudar em nada o entendimento do leitor sobre o assunto, porque eu seria obrigado a fazer uma resposta para essa questão.
Continuo aguardando a sua carta, no tamanho e horário acordados, lembrando que não publicamos cartas que já são de conhecimento público ou da imprensa.
Atenciosamente
Tedesco
Painel do Leitor
ps: se o senhor quiser falar comigo, meu telefone é 3224-3722; eu chego ao jornal por volta de 14h
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3 - Troca anterior de e-mails
De: robertoespinosa [robertoespinosa@terra.com.br]
Enviado: segunda-feira, 6 de abril de 2009 20:19
Para: Painel do Leitor
Assunto: Re:RES: Re:RES: Dilma planejou sequestro de Delfim
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Caro jornalista Tedesco,
Segue a carta, em espaço exíguo e escrita às pressas. Por isso, cobro a promessa de publicação na íntegra e o compromisso de uma matéria de 4.500 caracteres para quarta ou quinta. Aguardo sua informação.
Espinosa
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De: “Painel do Leitor” leitor@grupofolha.com.br
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Para: “robertoespinosa” robertoespinosa@terra.com.br
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Cópia:
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Data: Mon, 6 Apr 2009 18:45:32 -0300
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Assunto: RES: Re:RES: Dilma planejou sequestro de Delfim
Sr Espinosa
Eu, em nome da Folha de S.Paulo, garanto a publicação na íntegra de uma carta sua com 2.000 caracteres _contando os espaços.
Não precisa falar do erro no seu nome (Spinoza) porque publicaremos já amanhã uma nota na seção Erramos.
atenciosamente
Luiz Antonio Del Tedesco
Painel do Leitor
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De: robertoespinosa [robertoespinosa@terra.com.br]
Enviado: segunda-feira, 6 de abril de 2009 18:29
Para: Painel do Leitor
Assunto: Re:RES: Dilma planejou sequestro de Delfim
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> >
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> > Prezado jornalista Tedesco,
> >
> > Agradeço a sua resposta, em que revelou o compromisso de publicar minha manifestação na edição de amanhã, terça-feira, 7. Obrigado também pelo telefonema e a ampliação do espaço para 2.000 toques, bem como o compromisso explícito de públicar na íntegra, sem cortes ou edição, minha nova carta.
> > Isso implica a necessidade de cortar mais de 3/4 do texto original, o que não é tarefa fácil, pois o senhor só se comunicou comigo às 17h13, informando-me que meu prazo vai até as 19h30. Ou seja, tenho menos de 2 horas para produzir um texto de tal gravidade.
> > Vou estudar o texto original com a intenção de atender suas condições. Mas também indago o seguinte:
> > 1) Há a possibilidade de a Folha publicar o texto já enviado na própria página 3, ao lado do “Painel”, talvez na seção “Tendências Debates”? Neste caso, o outro artigo, em resposta a minha carta, até poderia ser assinado pela repórter responsável ou pelo editor de política;
> > 2) Não sendo possível a primeira alternativa, é possível que o Painel do Leitor abra uma exceção, pois, como diz o ditado, a exceção é o coração da regra inteligente, publicando o texto enviado por mim ontem na íntegra? Afinal quem deixou de publicar o texto na edição de hoje (e perdeu a primazia e a oportunidade de exclusividade) foi a própria Folha; eu o enviei a tempo da publicação, mas o jornal preferiu publicar as manifestações de outros leitores quando me parece evidente que a única fonte para uma incriminação tão grave contra um ministro de Estado deveria ter prioridade;
> > 3) Se nenhuma dessas alternativas for viável (o que seria lamentável, um desrespeito às fontes e à inteligência dos leitores), qual o espaço e o limite máximo de horário que o senhor me oferece para enviar um novo texto?
> > 4) Face ao precedente da distorção de minha entrevista por um repórter do seu jornal, gostaria que o senhor assumisse o compromisso explícito de publicar a nova carta na íntegra, sem cortes ou ajustes, reservando-se a Folha o direito de resposta, evidentemente, mas na metade do espaço que eu tiver. O senhor tem autonomia para se comprometer com isso?
> > Aguardo sua resposta nos próximos minutos para produzir a nova carta.
> >
> > Atenciosamente. Antonio Roberto Espinosa - RG 3.995.925-9
> >
> >
> >
De: “Painel do Leitor” leitor@grupofolha.com.br
> >
Para: “robertoespinosa” robertoespinosa@terra.com.br
> >
Cópia:
> >
Data: Mon, 6 Apr 2009 17:13:12 -0300
> >
Assunto: RES: Dilma planejou sequestro de Delfim
Caro sr. Antonio Roberto Espinosa
Recebi o seu e-mail abaixo.
Queremos publicar a sua manifestação no Painel do Leitor, mas ela é muito grande para a seção, e no Painel do Leitor não publicamos manifestações que já são de conhecimento público ou da imprensa.
O senhor poderia me mandar uma versão reduzida por favor?
Seria possível com no máximo 1.500 caracteres?
Atenciosamente
Luiz Antonio Del Tedesco
Painel do Leitor
________________________________________
De: robertoespinosa [robertoespinosa@terra.com.br]
Enviado: domingo, 5 de abril de 2009 21:41
Para: leitor; SAA - Serviço de Atendimento ao Assinante; Ombudsman Folha de S.Paulo
Cc: forum
Assunto: Dilma planejou sequestro de Delfim
> > >
> > >
> > > Á coluna
> > > painel do leitor
> > >
> > > Seguem cópias para o Ombudsman e para a redação. Vou enviar cópias também a toda a imprensa nacional. Peço que esta carta seja publicada na próxima edição. Segue abaixo:
> > >
> > >
> > >
Prezados senhores,
Chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:
1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;
2) Nossa primeira conversa durou cerca de 3 horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;
3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o seqüestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto. Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).
Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octávio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas). A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:
1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;
2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;
3) Dilma sequer teria como conhecer a idéia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para seqüestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturados sofridas. A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;
4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais”, mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;
5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a freqüência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc. Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento , portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;
6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal - apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.
Osasco, 5 de abril de 2009
Antonio Roberto Espinosa
Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que sufocam - E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe.
Em tempo: Depois do Conversa Afiada, a Folha publicou na quarta-feira a carta de Espinosa. Clique aqui para ler
(*) Já estava na hora de a Folha tirar os cães de guarda do armário e confessar que foi “Cão de Guarda” do regime militar. Instigado pelo Azenha – clique aqui para ir ao Viomundo – acabei de ler o excelente livro “Cães de Guarda – jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1989”, de Beatriz Kushnir, Boitempo Editorial, que trata das relações especiais da Folha (e a Folha da Tarde) com a repressão dos anos militares. Octavio Frias Filho, publisher da Folha (da Tarde), não quis dar entrevista a Kushnir.