17/04/2009 - 07h54
Geleira antártica abriga ecossistema "alienígena"
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da Folha de S.Paulo
Cientistas dos Estados Unidos e do Reino Unido descobriram na Antártida um ecossistema isolado num lugar onde até então achava-se que nada pudesse viver: um lago de água supersalgada encerrado sob 400 metros de gelo num dos piores desertos do mundo.
Ali, debaixo da geleira Taylor, uma estranha comunidade de bactérias evolui em total isolamento e sem nenhum oxigênio há pelo menos 1,5 milhão de anos. A dieta desses microrganismos consiste unicamente de compostos de ferro e enxofre.
Benjamin Urmston
Frente da geleira Taylor, na Antártida, com as Blood Falls (Cachoeiras de Sangue, em inglês), vermelhas devido à ferrugem
Saber como eles têm prosperado num ambiente tão extremo pode ajudar a entender a vida em outros planetas e no passado da própria Terra, quando --acredita-se-- um manto de gelo cobria boa parte do globo.
O grupo de pesquisadores liderado por Jill Mikucki, da Universidade Harvard (hoje no Dartmouth College), chegou até os micróbios estudando o não menos estranho fluxo de salmoura que de tempos em tempos escorre da frente do glaciar, nos Vales Secos de McMurdo, uma das regiões mais áridas da Antártida.
Essa água salgada é tão rica em ferro que, em contato com o ar, enferruja imediatamente, manchando o gelo. Os primeiros exploradores da região batizaram o fenômeno de Blood Falls (Cachoeiras de Sangue, em inglês), e atribuíram a coloração do gelo a algas.
Mikucki já desconfiava que pudesse haver vida ali, e desde 2004 ela coleta amostras de gelo nas Blood Falls. Foi preciso tempo e paciência, no entanto, para que ela e seus colegas conseguissem pôr as mãos na salmoura: seu fluxo a partir da piscina de água salgada na base da geleira é irregular e regido por fatores desconhecidos.
"Quando eu comecei a fazer a análise química, não havia oxigênio", afirmou a pesquisadora em um comunicado à imprensa. "Foi aí que as coisas começaram a ficar interessantes."
Análises genéticas do material, cujos resultados são publicados hoje no periódico "Science", mostraram que uma comunidade com poucas espécies de bactérias habita a salmoura. Elas são parentes de bactérias marinhas comuns, mas, ao mesmo tempo, são extremamente diferentes. Usam compostos de enxofre (sulfatos) para ajudá-las a "respirar" ferro, um truque metabólico inédito.
Os pesquisadores acreditam que essa peculiaridade evolutiva seja consequência de centenas de milhares de anos de isolamento. Os ancestrais dessas bactérias provavelmente viviam no mar há milhões de anos, antes de os Vales Secos se erguerem, aprisionando uma porção de mar na forma de uma laguna. Há cerca de 1,5 milhão de anos, a geleira Taylor avançou, cobrindo essa laguna, que não congela por ser quatro vezes mais salgada que o oceano.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u552101.shtml
Os limites da vida
Bactérias encontradas debaixo de geleira vivem sem oxigênio e luz há mais de um milhão de anos
A existência de vida em épocas e locais hostis, como as eras glaciais, pode estar mais perto de ser compreendida. Uma equipe anglo-americana encontrou bactérias em uma reserva de água salgada debaixo de uma enorme geleira na Antártica. Os micróbios sobrevivem ali há cerca de 1,5 milhão de anos, sob temperaturas extremamente baixas e em um ambiente sem luz e oxigênio.
O líquido do lago salgado que fica 400 metros abaixo da geleira de Taylor brota de forma intermitente no topo da montanha de gelo e deixa por onde passa um rastro de cor avermelhada, que se deve à presença de ferro, elemento usado na respiração das bactérias ali encontradas (foto: Benjamin Urmston).
O lago salgado fica sob a geleira de Taylor, uma montanha de 400 metros de gelo localizada nos Vales Secos da Antártica, um dos lugares mais inóspitos do planeta. Devido a uma média de precipitação extremamente baixa, não há animais ou plantas na região.
A partir da análise de uma amostra do líquido que compõe esse reservatório subglacial, os pesquisadores descobriram 17 espécies de bactérias. “É provável que existam bem mais”, afirma à CH On-line a bióloga Jill Mikucki, pesquisadora da Universidade Dartmouth (EUA) e autora principal do artigo que descreve a descoberta, publicado na Science desta semana.
A amostra do lago salgado subglacial foi recolhida pela equipe de Mikucki no topo da geleira de Taylor, onde o líquido, de cor avermelhada, brota de forma intermitente. Contrariando as suposições anteriores de que essa coloração era resultado da presença de algas vermelhas, as análises do grupo constataram que a cor acobreada se deve à existência de óxido de ferro na água.
Bactérias adaptadas
Mas como seria possível existir vida em um ambiente tão hostil, sem oxigênio e luz? A pesquisa revela que as bactérias respiram por meio do metabolismo de ferro, enxofre e carbono. Não por acaso, foram encontradas na amostra do líquido do reservatório grandes quantidades de ferro e de sulfato (íon formado por átomos de enxofre e oxigênio).
“Embora haja outros seres que utilizam o ferro e o sulfato na respiração, o modo como essas bactérias usam tais elementos é único”, comenta Mikucki, que era pesquisadora da Universidade Harvard (EUA) quando desenvolveu o estudo.
Segundo os cientistas, as bactérias do lago salgado se mostraram similares àquelas presentes nos oceanos modernos. A origem mais provável da água salgada sob a geleira de Taylor seriam os mares do Plioceno, período compreendido entre 5 milhões e 1 milhão de anos atrás. “O longo período de isolamento desses micróbios fez com que algumas espécies conseguissem se adaptar à falta de luz e de oxigênio, passando a respirar de forma anaeróbica”, explica a bióloga.
Os resultados do grupo podem ajudar no estudo de seres vivos que eventualmente sejam encontrados em Marte, já que a superfície dos Vales Secos da Antártica é comparável à do planeta vermelho.
“A descoberta de bactérias em ambientes de frio extremo, escuridão e ausência oxigênio pode nos ajudar a pesquisar a possibilidade de vida sob condições tão hostis, como nas eras glaciais e em Marte”, confirma Mikucki. “Ela também nos faz pensar que talvez essas condições não sejam, na verdade, tão hostis assim.”
Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
http://cienciahoje.uol.com.br/142929
16/04/2009
Cada vez mais descobrimos como a vida pode ser versátil em se adaptar a ambientes onde até bem pouco considerávamos impróprios a sua manutenção.
Esse tipo de descoberta representa um avanço significativo na compreensão de mecanismos vitais até então desconhecidos e no alargamento dos existentes paradigmas acerca do que venha a ser um ser vivo.
Sem dúvida uma descoberta e tanto para o estudo da vida fora da terra.