Tópico: Um texto interessante sobre quando amigos virtuais se encontram!

[Dodo]

NINGUÉM SE MEXEU DE SEU LUGAR
É Quando Você Se Dá Conta de Que Não Faz Parte

Me apóio em um dos carros do lado de fora da pizzaria. Não estou respirando muito bem. Os pensamentos estão desordenados. Tento caminhar para ver se melhoro, mas não acho que seja uma boa idéia, mesmo sabendo que não posso ficar parado. Não é boa idéia porque logo adiante carros passam velozmente. Mas, pior do que não estar bem, pior do que estar sufocando, e estar entrando em pânico, pior do que tudo isso, é a decepção. Ninguém se mexeu de seus lugares para ver o que estou sentindo. Acho que nunca vou esquecer isso.

Só consigo pensar que não sou um deles e, por isso, ninguém se levantou para ver o que estou sentindo. Meus pensamentos continuam confusos, atenuando um pouco a raiva que sinto. Penso que não devia ter vindo. Não devia ter aceito o convite para a pizzaria, encontrar a turma de "amigos" que conheci graças ao blog já há algum tempo. Já havia encontrado-os mais de uma vez, tentando fazer parte do grupo. Mas acho que não era eu, era alguém tentando se iludir. Não sou daqui. Só vivo aqui.

Nasci em outro lugar e fui criado em outro que são totalmente diferentes daqui. Totalmente diferentes deles. Ou talvez seja eu que não queira me encaixar, não sei. Onde fui criado as pessoas eram simples, até mesmo simplórias, como eu. Cada um vivendo seu dia a dia, mas se preocupando com seu vizinho, mesmo que nem sempre fosse com relação a seu bem-estar.

Aqui, nesse mundo de apartamentos, as pessoas dão Feliz Natal pelo telefone, mesmo morado pregado ao lado, na porta vizinha, literalmente falando. Não é piada, é real. Aqui as pessoas só saem de seus apartamentos para falar com você quando realmente precisam de alguma coisa, e não há como evitar falar como você e, apesar do sorriso no rosto, você quase pode ver as mil agulhas ferventes atravessando suas costas.

Eu aceitei o convite porque era pra encontrarmos um outro amigo que veio de outro Estado e todos nos encontramos na pizzaria. Umas 10 pessoas. Eu nem sou tão chegado a pizza e pouco comi, mas, assim que coloquei uma fatia na boca, meu coração disparou e comecei a suar frio. Sintomas da minha Síndrome do Pânico. Levantei, tão assustado que quase desabei, sentindo minhas pernas tremerem. Olhei para todos e disse um, vou lá fora, muito fraco. E fui.

Ninguém se mexeu de seu lugar.

Nessa hora entendi que ali não era meu lugar. talvez fosse o fato de eu não ser nerd o suficiente. As conversas em torno de quadrinhos me davam dor de cabeça. Mesmo se eu lesse quadrinhos 24 horas, eu não conseguiria assunto como aqueles. Eu sabia o básico, e falava dele menos ainda. Eu gosto de ler quadrinhos, de falar sobre, muito pouco. Escutar definições, teorias, e se quem é mais forte, o Batman ou Wolverine, de homens barbados, soa meio... ridículo.

Eu olhei para os carros avançando a toda velocidade e pensei em tomar um ônibus e ir embora, mas havia o perigo da crise piorar enquanto eu tentasse atravessar a rua. Mesmo que eu conseguisse fazer isso com o sinal fechado, eu não sabia se ia chegar ao outro lado sem apagar. Uma dor de cabeça se alojava em meu cérebro como mercúrio preenchendo todo o espaço no meu crânio. Tentar controlar a crise causava isso.

Admiração não implicava empatia. Me sentia como no filme Invasores de Corpos, onde eu não tinha sido ainda substituído, e por isso não fazia parte. Não era um deles. Olhei pelo vidro da pizzaria e todos comiam, conversavam e riam normalmente. A crise começava a arrefecer. Estava indo embora, apesar de ter me deixado em frangalhos. Acabado.

Voltei - ninguém perguntou o que tinha contecido - paguei a minha parte (apesar de não ter comido quase nada) e me despedi de todos, como se realmente nada tivesse acontecido. Já controlando todas as minhas ações, fui em direção ao metrô, sabendo que aquela seria a última vez que os via, pelo menos como grupo. Respirei fundo e senti o ar da noite de modo diferente. Tudo sempre ficava diferente depois de uma crise, ou de uma quase-crise. A dor de cabeça ficou, descendo pelo lado direito do rosto, como se quisesse tomar toda a face.

Talvez fosse eu. Não sabia falar de futebol, detestava videogames, não tinha o mesmo grau de estudo que eles, e de gibi não sabia tanto, e o que sabia não gostava de ficar discutindo sobre. Fazia algumas piadas, eles riam de verdade, mas ainda assim, era como se eu não estivesse realmente ali. Planetas diferentes, rotações diferentes, frequências idem. Não sou tão bom em me adaptar, ou talvez simplesmente não queira. Por que saí daquele religião? Porque não quis me adaptar, apesar de ter tentado. Não sei deixar de ser eu.

Olhando pela janela do vagão do metrô via tudo passar mais rápido e tentava deixar o que aconteceu para trás. Passado.

Desenhos em uma caverna escura.

Fonte: http://rapaduradoeudes.blogspot.com/2009/03/escadas-pra-rua.html

Só para constar, o nome do autor é Eudes Honorato, ele é o "dono" do blog RA (Rapadura Açucarada).

[Mussain!]

Bem legal, apesar de ser meio emo.... Putz grilo....


O que me intriga em fóruns, ou em qualquer conversa por internet que seja, é o fato de falar muito mentalmente. Agora mesmo é um exemplo.... Esses dias precisei ler em voz alta umas convenções aqui e percebi o quanto minha dicção está horrível.... Depois disso passei a pensar na minha escrita também.... Pô, minha letra é horrível rpa cacete, imagine agora que nunca mais escrevi mais do que pequenas frases de lembretes ou avisos....

Eu escrevo bem mais rápido com o teclado do que à mão.... Esse tipo de coisa é que realmente me intriga.... Mas olhando o texto, acho que algumas partes sinceramente parece com minha história no CC.


Mas acho que o autor não estava se sentindo muito bem na hora que criou isto aí não.... 

[Stéfano]

Por falar nisso, não vai mais ter encontro do CC ?

[Renato T]

Bom texto. Mas agora duvido que algum dia a Lela vai mostrar a cara pra alguém do Fórum.

[Renato T]

Por falar nisso, não vai mais ter encontro do CC ?

Eu estou sempre disposto a tentar bolar um encontro em SP.

[Mussain!]

Pode ser aqui na favelinha onde eu moro não....? Pô, basta vcs avisarem que vem, daí eu entro com vcs. assim não serão assaltados nem mortos e tal. depois disso podemos fazer um auê aqui.

Quem topa...?


Edit


Ninguém se habilitou... 

[Arcanjo Lúcifer]

Vejo a experiência do autor como algo muito pessoal, se ele não se sentia aceito apesar do grupo estar se dando bem, talvez o problema fosse dele próprio.
Se ele diz ter sindrome de pânico,talvez não se sentisse bem em situação alguma.

Comentei aqui em outro tópico que conheci pessoalmente algumas pessoas de um clube de colecionadores de máquinas de fliperama. Só conhecia o pessoal pela internet e só conhecia o apelido deles, eles só conheciam o meu "Arcanjo Lúcifer" apesar de conversarmos há bastante tempo através do site deles.

Nunca me viram nem mesmo em fotos.

Cheguei ao local, me identifiquei como o Marcelo que ninguém reconheceu, falei então que era o "Arcanjo lá do site" e em cinco minutos já nos tratavamos como velhos amigos.

Foi a primeira vez que conheci pessoalmente alguém com quem falo na internet e na verdade foi muito melhor do que conversar com vizinhos da minha rua.

Alguns só conheço de vista e nem sei o nome, moro na mesma rua há 40 anos e não temos nada em comum.

[Unknown]

Não gostei do texto porque o achei muito choroso. Em um encontro, quando alguém diz "vou lá fora", como é que eu vou diferenciar se o cara está passando mal ou se apenas quer telefonar em um lugar menos ruidoso? Mas claro, era obrigação de todo mundo adivinhar que ele saiu porque não estava se sentindo bem. E como ninguém adivinhou, obviamente ninguém dava a mínima para ele, todo mundo é indiferente para com os outros e etc.

Francamente, acho que se ele tivesse dito "vou lá fora porque não estou me sentindo muito bem", pelo menos quando ele voltasse alguém perguntaria se ele havia melhorado.

[Mussain!]

"Olhei para todos e disse um, vou lá fora, muito fraco".


Bom, acho que ele quis dizer com isso que falou de forma que desse a entender que estava ruim (vc viu quantos "ques"...? hehe).

Deixa eu recapitular...

Bom, nesta hora ele disse de uma forma que aparentava sentir algo ruim, acho.

[Unknown]

"Olhei para todos e disse um, vou lá fora, muito fraco".


Bom, acho que ele quis dizer com isso que falou de forma que desse a entender que estava ruim (vc viu quantos "ques"...? hehe).

Deixa eu recapitular...

Bom, nesta hora ele disse de uma forma que aparentava sentir algo ruim, acho.

"Muito fraco" foi o tom da voz dele. Ele quis dizer que falou "vou lá fora" num tom baixo de voz.

[Dodo]

Francamente, acho que se ele tivesse dito "vou lá fora porque não estou me sentindo muito bem", pelo menos quando ele voltasse alguém perguntaria se ele havia melhorado.

As partes que destaquei mostram um sujeito que não se enquadra no grupo que só existe graças a ele mesmo. Com toda a certeza ele se sente muito mais seguro atrás da tela do computador, sendo o dono do blog e do fórum, talvez pela reverência que todos tem com ele, do que o cidadão Eudes.

Talvez ele se sinta mais seguro com a velha amizade de outrora, onde as pessoas se importavam umas com as outras e eram amigas por também compartilharem um pouco da vida do outro, ou então tenha um pouco de inveja de seus colegas serem mais cultos e jovens do que ele, mas vá lá saber.

Com toda a certeza ele NÃO irá a outro encontro do F.A.R.R.A. 

[Unknown]

As partes que destaquei mostram um sujeito que não se enquadra no grupo que só existe graças a ele mesmo. Com toda a certeza ele se sente muito mais seguro atrás da tela do computador, sendo o dono do blog e do fórum, talvez pela reverência que todos tem com ele, do que o cidadão Eudes.

Não creio que esse seja o caso. Em geral, se você já se acostumou a tratar com reverência uma pessoa que só conheça virtualmente, você lhe dará esse mesmo tratamento assim que encontrá-la pessoalmente.

Talvez ele se sinta mais seguro com a velha amizade de outrora, onde as pessoas se importavam umas com as outras e eram amigas por também compartilharem um pouco da vida do outro,

Essa aparenta ser a opinião dele, mas ele próprio se apresenta meio fechado aos outros e toda amizade precisa de uma abertura inicial.

ou então tenha um pouco de inveja de seus colegas serem mais cultos e jovens do que ele, mas vá lá saber.

Pode ser.

[goffman]

o cara precisou escrever um texto desse tamanho pra dizer que é fresco e anti-social?
mas vá tomar banho tche...

[Penny Lane]

Na minha época de adolescência (há uns 7 anos atrás) era comum a gente entrar lá no chat terra na sessão de cidades e acabar conversando e conhecendo gente da nossa área. Com o advento dos fóruns e blogs a coisa mudou um pouco... Na verdade não foi pouco, foi muito!
Conheci dois foristas daqui do CC até hoje, pessoas incríveis, cujas eu adorei conhecer. De fato, eles eram muito mais nerds que eu e nem sei porque diabos arrumaram amizade comigo, vá saber...
No entanto, eu tenho uma certeza bem grande que que muitos dos foristas com quem eu mantenho algum contato regular (via msn, mp) as coisas seriam legais, seriam para mim amigos, como os que eu tenho por perto, porque eles me conhecem o mínimo pra conversar.

Acho que esse cara do texto vive num mundo que não é o dele. Ele deve ser daqueles sujeitos que aparentam algo mas são bastante diferentes, enfim, acho que ele deve ser um sujeito legal e com idéias boas (senão não teria um blog popular na web), mas tem problemas de socialização.

[Mussain!]

Ah, minha opinião sobre o sujeito aê do tópico é: Um emão hehe.


Mas sobre "amigos virtuais" acho esse troço complicado.... Acho interessante pessoas que, seja em que local for, faz amigos (ou pelo menos aparentemente...). Eu não consigo isto de jeito nenhum..... Tanto que para poucas "viagens" que fiz, dei um jeito de levar pessoas que conseguem isto para mim (no caso, minha irmã e um ex-amigo meu).

Como sou "esquisito", não consigo arranjar conversa pra mais de três frases.... É aquela coisa: Vc busca músicas, sentimentalismos (namoros, amigos e etc), futebol, ou seja, aquilo que é comum (Só que essas coisas nem sequer me interessam). Aquilo que geralmente a maioria gosta, que em meio a mulidão resultará numa possível prolongada conversa. Mesmo nada disso fazendo falta, ainda sim admiro que consegue esse tipo de coisa.

Comparo-me ao raul, não literalmente falando, claro... O cara era bem mais inteligente que eu.... Mas comparo as idéias boas e forma péssima de se expressar. As letras do Raul têm um puta sentido.... São bem feitas. Mas ouvi uma gravação antiga do Raul conversando com "uns conhecidos", e o cara se expressava mal pra cacete.... Intriga ver alguém tão inteligente se expressando tão mal (isto no quisto pessoal). Assim como eu.


Edit;
Ou vai ver ele estava maconhadão.... 



Offtopic.... Dá cartão prp n3rd se ele comentar algo sobre as três ultimas palavras....

[Dodo]

Bom, pelos posts anteriores dele (o Eudes) dá para ver que é uma pessoa um pouco complicada, além de também sofrer (ou ter sofrido) de síndrome do pânico, o que leva a um certo isolamento, mesmo que involuntário. Apesar de tudo isso, ele encontrou no blog e no forum uma maneira de se expressar, coisa que, provavelmente, ele não achasse que fosse possível de outra maneira. Talvez o único erro dele foi achar que as amizades virtuais são exatamente como as "reais" (aqui cabe um parênteses: toda regra tem sua exceção, dããã *) e com isso tenha criado perspecitvas erradas, ou então, pior, tenha tentado ver nessa amizade algo além do que elas realmente eram: um monte de pessoas que tinham admiração por ele e seu blog, mas não se importavam realmente com ele, e isso fica evidente pelo tom queixoso do texto.

Ele parece ser uma pessoa que teve poucos amigos e, talvez, tenha achado que pudesse suprir essa carência buscando no mundo virtual pessoas que tivessem os mesmos gostos que ele. De certa forma, ele encontrou estas pessoas, mas, apesar de partilharem diversas coisas em comum, nenhum deles via nele algo além de um aficcionado por quadrinhos e filmes que montou um blog de sucesso, ao passo que ele (o Eudes) esperava um pouco mais; quem sabe, um telefonema no Natal lhe desejando boas festas e não um cartãozinho virtual retirado de um site qualquer.

* Não digo que amizades ou relacionamentos virtuais não possam se fortalecer a ponto de serem muito mais prazeirosos do que os "reais", mas, pelo menos no caso em questão, fica evidente que o autor esperava muito mais dos "amigos".

[_tiago]

São Paulo é sempre bom!
E novatos podem ir??

[_tiago]

Legal!

[Mussain!]

ó aí.... O negão ta chapado....   

[Jeanioz]

Ainda me lembro do pessoal de Curitiba chocado em ver o Jeanioz pessoalmente.

O Dantas rindo e disfarçando foi hilário.

[Mussain!]

O Dantas parece um professor de música amigo meu hehe. Aquela aparência de "senhor tradicionalista que preserva a moral e os bons costumes" hehe.