Desenho inteligentePor
Paulo Bento BandarraExiste uma música no Rio Grande do Sul, de um compositor popular (Gaúcho da Fronteira) que diz em forma de chiste sobre um bêbado : “Todo mundo vê o trago que eu tomo, mas não enxerga os tombos eu levo”.
Está é a posição dos que alegam a existência do desenho inteligente para alegar um desenhista oculto. Será que um vulcão dá esta idéia de desenho inteligente? Uma imensa montanha de cume inatingível coberta de neve? Os rios correndo para o mar? As estrelas jogadas no céu? O movimento do universo todo ao nosso redor circulando em volta da terra para o nosso esplendor? Pois isto tudo para mentalidades primitivas (mas não muito) era um mistério que levava a pensar em deus! Mas vulcões possuem explicações simples, os rios correm sem nenhum objetivo seguindo os caminhos pela força da gravidade, montanhas são formadas pelas forças tectônicas sem nenhum processo de planejamento e as estrelas estão flutuando no espaço pelas leis da gravidade. Até hoje as pessoas simples crêem que as falhas na terra, chamadas grutas e cavernas, possuem poderes e são obras de deus (cantada até em música). À medida que você compreende como as coisas ocorrem, os deuses do vulcão, da montanha, do rio, do outro lado da montanha vão ficando cada vez mais longe. Hoje em dia é uma energia inteligente que regula tudo e que o homem vai se reunir quando morrer. Quando se entender melhor estes fenômenos, este deus também vai morrer.
A vida na terra se faz através de 4 bilhões de anos, sendo que três bilhões são gastos apenas na formação do microcosmo desenvolvendo lentamente através da formação da bactéria, da célula, da organela e do vírus, onde este ao mesmo tempo é agente e substrato do desenvolvimento. Através de erros e acertos que se arrastam por este tempo inimaginável, várias catástrofes, mudanças de rumos e extinções em massa se fizeram presente, sujeitos ao meio hostil, a competição, a escassez de alimentos e a eterna luta pela sobrevivência. Só no fim deste tempo que começam a surgir a capacidade das células da vida a se juntarem em duas, três para finalmente formarem seres multicelulares. Mas as formas originárias ainda dominam todos os ambientes da terra até mesmo dentro dos seres vivos.
Será que esta eterna extinção se deve a perfeição do desenho? E o que pensa a vítima condenada a perecer sempre? E é isto que vemos com nossos olhos hoje em dia. Todos os desenhos “burros” não deixaram descendentes, não deixaram testemunhos. Apenas o bem sucedido conseguiu ser depurado através das eras para parecer agora como uma realização perfeita. Mas foram efêmeros. Outro erro de visão ao constatarmos a eterna luta pela sobrevivência por recursos escassos, a tentativa de colonização de vírus, bactérias, protozoários e parasitas tentando penetrar nos meios vivos de que necessita, seja na luta que se trava no microcosmos como contra as formas de vida “superiores”. Carnívoros devorando herbívoros, onde a felicidade de um é a eterna perda de outros, enquanto estes últimos devoram os vegetais (vivos). Existe uma enorme gama de falhas deste desenho pelas suas fraquezas (câncer), falhas de projeto (mau formações), erro de execução (doenças genéticas), geração de descendentes com formas deletérias (mutações), diferenças de suscetibilidade entre membros da mesma espécie, o que levou a suspeita de um código da vida que falhava (DNA). Ou teremos que considerar que o nosso desenhista era muito incompetente para criar tamanhas imperfeições. Não podemos considerar, como fazem os defensores do desenho inteligente, que a formação dos processos bioquímicos iniciaram há apenas quatro mil anos, mas sim termos em mente que quatro bilhões de anos se passaram para que a vida atingisse esta complexidade atual. O que indubitavelmente contraria uma idéia de que as coisas foram geradas por um projeto pronto saído de uma prancheta com objetivos pré-definidos. Até mesmo um desenhista tem que possuir um objetivo. E aqueles que crêem nisto se digladiam até a morte qual seja ele. Para cristãos seria um céu contemplativo, para os espíritas esta é a terra criada para o sofrimento e o aprimoramento por ele sem se saber bem qual o sentido de não se criar uma coisa perfeita por um desenhista infalível, para mulçumanos seria uma terra em tudo igual a esta com príncipes e vassalos...
A “perfeita” harmonia dos astros foi precedido de bilhões de anos de nuvens de gás em perfeito caos. Passado este tempo é que se organizou pelas forças da natureza sem a existência de um desenho pré-determinado, mas que dá uma idéia falsa de perfeição. Apenas porque não percebemos que as coisas ainda estão evoluindo em escala que nossos sentidos não conseguem perceber pela existência fugaz da espécie humana. Coisa que os dinossauros vivenciaram. Só nossa empáfia que acredita que estamos protegidos disto por um deus que está a nos cuidar. Os buracos negros devoradores de mundos não atestam esta harmonia cósmica. Quantos mundos habitados já não forma engolidos por este fenômeno da natureza?
O mesmo caos da vida primitiva foi o que gerou o estágio atual, que se tivesse um desenhista, realmente poderia ter sido abreviado. Tal engenheiro estava confuso qual desenho deveria decidir? Mas cada estágio só passa para o seguinte quando o acaso possui conseqüências para isto, pelo acaso e pela seleção natural. Tal acaso levou três bilhões de anos para ocorrer. E quando se diz que a coagulação precisaria de bilhões de chances para dar certo ao acaso é justamente isto que o tempo decorrido demonstra. Não foi de uma hora para outra que apareceu o sistema pronto, mas de um paço bem sucedido (a cada número de séries descartadas) para o seguinte. Não do zero para o sistema pronto. Da célula para o fígado pronto a espera de um candidato.
Outra questão que se coloca é a deficiência do desenho. Pois só uma criação humana poderia encerrar em si tantas falhas e erros resultando em doenças, sofrimento e dor. Só um mau desenhista criaria uma espécie que dizima as outras criaturas sem dó para a sua sanha de satisfação egoísta neste simples objetivo, desconsiderando os outros passageiros e a própria “criação” nesta nave sem destino que é a terra.
O desenhista estava indeciso no que queria e passava a borracha no que não acertava?
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