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Tráfico de pessoas é mais rentável que o de drogasJulia Dietrich "O tráfico de pessoas é uma das atividades mais rentáveis na sociedade contemporânea. Um traficante canadense afirmou que traficar mulheres era muito mais interessante comercialmente do que a venda de armas e drogas, pois essas duas atividades têm um começo e um fim, enquanto o corpo da mulher pode ser vendido inúmeras vezes até que ela padeça de Aids, sífilis ou enlouqueça. Enquanto não nos organizarmos para combater esse crime hediondo mais e mais pessoas continuarão desaparecendo e morrendo no mundo inteiro."O alerta é da coordenadora do Serviço da Mulher Marginalizada, Priscila Siqueira, que diz ser necessário aumentar o policiamento e fomentar a implementação de duras leis contra o tráfico de pessoas. O tema foi discutido no seminário "Mulheres jovens contra a exploração sexual e o tráfico de seres humanos", promovido pela organização não-governamental Ação Educativa, pelo Fórum Cone Sul de Mulheres Jovens Políticas.De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 2,4 milhões de trabalhadores no mundo se encontram em situação de trabalho forçado ou escravidão provenientes do Tráfico Internacional de Pessoas (TIP). Dessas, 43% são vítimas de exploração sexual e prostituição forçada que movimenta cerca de U$ 31 bilhões anualmente."Já a Organização das Nações Unidas (ONU) aponta dados ainda mais alarmantes, afirmando que mais de quatro milhões de pessoas desaparecem de suas casas todos os anos para serem vendidas ou exploradas comercialmente. É a terceira atividade ilegal que mais lucra no planeta," afirma Siqueira que direciona sua militância e preocupação às mulheres jovens traficadas, pois são as principais vítimas no Brasil.Segundo Siqueira, o Tráfico de Seres Humanos (TSH) - terminologia atualizada para o TIP - compreende toda atividade na qual uma pessoa é utilizada comercialmente sob coação, fraude ou força, levando-a de um lugar a outro, impedindo sua liberdade de ir e vir. "No caso da personagem Sol, da novela da Rede Globo, América, havia um contrato estabelecido. É diferente do tráfico, pois essas mulheres, embora sejam muitas vezes estupradas e violentadas durante a travessia, chegam no lugar desejado e se tornam livres", explica a coordenadora.Segundo os dados da OIT e de organizações que trabalham com o tema, agências de casamento com estrangeiros e promessas miraculosas de emprego no exterior funcionam como emboscadas para recrutar e forçar pessoas ao trabalho escravo em fábricas ou como prostitutas e escravas sexuais. "A mulher é levada a crer que casará e terá uma vida confortável no exterior, mas quando chega lá é mantida em cativeiro e utilizada puramente como objeto para exploração sexual," explica a advogada e Coordenadora do Comitê Municipal de Direitos Humanos da Cidade de São Paulo, Célia Zapparolli.Segundo a Pesquisa sobre o Tráfico de Pessoas de 2002 - único levantamento finalizado sobre o assunto no Brasil - existem 241 rotas de tráfico de pessoas envolvendo brasileiros: 131 delas são internacionais e 78 interestaduais e 32 intermunicipais. Segundo Zaparolli, "é fundamental observar o que acontece internamente no país e nas cidades brasileiras. E reconhecer o problema como algo que nos atinge diretamente."De acordo com estudo elaborado pelo comitê, os traficantes têm uma rede muito complexa e organizada de atuação que compreende os responsáveis pelo recrutamento, transporte, alojamento, transferência e acolhimento. Os traficantes utilizam força, rapto, ameaça, engano e abuso de situação de vulnerabilidade para garantir que irão manter suas vítimas em medo constante e incapacitá-las de fugir e denunciá-los."Uma mulher que vai trabalhar com prostituição na Europa acaba virando escrava sexual, fazendo um número gigantesco de programas diários para pagar sua passagem de volta ao Brasil. Entretanto, o valor a ser pago sempre aumenta, pois os exploradores lhe cobram comida, moradia, absorventes, enfim, tudo o que ela usa e gasta é debitado e o dinheiro da volta nunca se torna suficiente," explica Siqueira.Essas mulheres são, normalmente, muito jovens, negras e pardas e de classes sociais baixas. Segundo Siqueira, a rota do tráfico é a rota da grana. Ela opera de forma triangular: há a demanda, a oferta e a impunidade. "Os exploradores como altamente qualificados e frutos do capitalismo perverso, rompendo com todos os laços fraternais da humanidade", diz.As pessoas não são só utilizadas pelo tráfico para a prostituição da mulher. Existem inúmeras redes para produção de pornografia infantil, adoção custeada, prostituição de travestis e transexuais, além da compra e venda de órgãos. "Um rim no mercado negro antes custava em torno de R$ 80 mil e hoje, custa R$ 16 mil, mostrando como aumentaram o número de traficantes nessa área. A oferta, hoje, é muito maior", observa Siqueira.A deputada estadual paulista Ana Martins (PT) considera fundamental que as mulheres jovens discutam a questão, pois no caso da prostituição e exploração sexual, cerca de 80% das vítimas têm entre 13 e 25 anos. "É fundamental pensarmos de onde vem o poder do homem sobre a mulher e da visão da mulher como mão-de-obra reserva na sociedade patriarcal. Não é por acaso que em 170 anos da Assembléia Legislativa de São Paulo, só 39 mulheres, incluindo as atuais estiveram lá", aponta.Tanto Zaparolli, quanto Martins e Siqueira reconhecem um grande avanço na legislação para o combate ao TSH, mas acreditam que é necessário conscientizar a população de como ele opera e alertar suas vítimas, além lutar pela igualdade social e mudança das concepções ideológicas da sociedade patriarcal. "Temos que enfrentar a hipocrisia de que somos uma democracia racial, de gênero e de etnia. Senão, não conseguiremos combater e erradicar o crime hediondo que é traficar pessoas," acredita Siqueira.
Dúvida: o tráfico de órgãos está incluso no tráfico de pessoas?
Segundo o Dráuzio Varella, tráfico de orgãos é mito.
Drauzio – Há uma CPI em andamento sobre o tráfico de órgãos no Brasil.Elias David Neto - No Brasil, está instalada uma CPI sobre o tráfico de órgãos que na verdade investiga o tráfico de pessoas. Se alguém sai do país para doar um órgão em outro lugar em troca de vantagens não é responsabilidade do Sistema Nacional de Transplante. Foi uma decisão individual e particular, embora faça parte do tráfico que corrompe as pessoas.