Autor Tópico: A fraqueza da ciência  (Lida 1144 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Gomésio Bautizta

  • Nível 03
  • *
  • Mensagens: 39
  • Sexo: Masculino
  • Venho em paz (ou não...)
A fraqueza da ciência
« Online: 05 de Maio de 2009, 10:03:02 »
Citar
A má fé existe também no mundo científico. Nada de novo nesta afirmação, afinal todos sabemos que as pessoas têm o toque de rei Midas às avessas: sempre estragando no que elas põem a mão.

    "Quase nove por cento dos 2.012 cientistas de 605 instituições pesquisadas pelo Escritório de Integridade Científica (ORI, na sigla em inglês), uma agência de monitoramento de pesquisas científicas nos EUA, disseram ter testemunhado algum tipo de fraude ou conduta inadequada nos últimos três anos. A agência estima que todo ano ocorram três incidentes de fraude para cada 100 pesquisadores."  - Saswato R. Das

Sim, a ciência pode errar. Mas fique claro que ela erra na sua prática, não na sua teoria. Afinal, sendo a ciência apenas um conjunto de métodos que busca sempre o que for estatisticamente relevante, não tem muito como estar errada nesta teoria.

Mas pra quem não sabe como isto funciona na prática da ciência vou dar um exemplo recente. Semanas atrás os autores de um artigo publicado na Nature em 2000 pediram retratação do artigo. Traduzindo: "Sabe aquele trabalho que a gente fez em 2000? Esquece. Finge que não aconteceu".

A Fraude

O trabalho liderado pelo sulcoreano Hyun Chul Lee consistia em um tratamento para a diabetes tipo 1, doença em que o sistema imune do corpo acaba destruindo as células produtoras de insulina. O tratamento seria feito pela introdução de um gene da insulina, usando um vírus (terapia gênica), em algumas células que passariam a produzir a insulina. Isto tudo em ratos e camundongos, mas com grandes esperanças de funcionar em humanos.

Muito interessante, com resultados claros de melhora, mas ninguém mais conseguiu repetir o resultado. Nem mesmo os próprios autores, que pressionados, pediram a retratação do artigo. Praticamente um atestado de fraude.

A faculdade sulcoreana Yonsei, responsável pelo laboratório, abriu investigação e acabou pedindo a retratação, já que constatou duplicação de figuras e não encontrou o gene usado no trabalho. Foram analisados cadernos de anotações e teses relacionadas ao trabalho. E é aqui que aparece a maior fraqueza da pesquisa científica: maquiagem de dados.


Afinal, se toda pesquisa é inédita e ninguém sabe o resultado que terá, se um pesquisador traquinas inventar um resultado, editar uma figura, mudar uma tabela, como saberemos que se trata de farsa?

Mais casos de fraude:

O mais famoso foi o da fusão a frio: Em 1989 dois físicos anunciam o sonho da humanidade, a fusão a frio, que seria um modo de fazer energia quase ilimitada e limpa. Provou-se manipulação de dados entre outras imposturas científicas.


Células-tronco humanas clonadas: o caso do sulcoreano Woo Suk Hwang ficou famoso a alguns anos por estar na moda. Alegou ter clonado células-tronco humanas, coisa que se tentava fazer a algum tempo já. Provou-se que além de maquiar dados ele ainda usou óvulos humanos doados por membros de seu grupo de pesquisa. Isso incorre em problemas éticos, pois não há como saber se a orientada do professor não foi forçada a doar os óvulos.

Onde surge a verdade

Mas aqui, na fraqueza, surge também a força da ciência. Porque se um resultado aparece isolado e não pode ser reproduzido, este é o fim da linha para ele. Pode até render uma publicação na Nature, mas nunca vai se tornar um tratamento, uma tecnologia, ou algo a ser utilizado e lembrado realmente.


Existe este auto-controle científico, o que não justifica o aparecimento de fraudes. Afinal grande parte das pesquisas é feita com dinheiro público. No caso das fraudes das células-tronco e da fusão a frio, milhões foram investidos. Claro que uma minoria das pesquisas, mesmo as bem feitas, realmente dá um resultado positivo e relevante, afinal é como dizem, em pesquisa 90% do tempo é para 10% dos resultados. Agora, perder dinheiro com pesquisas falsas e enviesadas para a glória de um país ou pesquisador é algo inaceitável.

Como controlar?

Alguns controles são feitos. Algumas publicações, como Science e principalmente o The Journal of Cell Biology passam as imagens que recebem dos autores para publicação por uma análise, como exemplificada nesta imagem abaixo do trabalho de Hwang.
celula tronco farsa.gif

Legenda da imagem: Acima está a imagem original enviada e publicada, que representaria diferentes culturas de células. Abaixo um pequeno ajuste no photoshop revela qua as duas imagens do meio são iguais e foram repetidas.

A Nature usa o método de amostragem, escolhendo um trabalho por edição para o pente fino. Os críticos deste método preferem chamá-lo de roleta russa.

A mesma Science ficou traumatizada com o caso Huang e após deliberações adotou uma rotina de dar atenção maior a trabalhos "arriscados". Seria uma classificação pelo nível de impacto popular de cada trabalho, presença de resultados contra-intuitivos ou inesperados, ou que tocam questões políticas controversas. Estes seriam os que passariam por um escrutínio maior.

Ideal seria devassar ao máximo todos os trabalhos, mas parece ser algo impraticável.

Quanto mais travas de segurança houver, desde que não atravanquem o pesquisador com burocracia, melhor investido será o nosso dinheiro.

Quanto à construção do conhecimento científico podemos ficar tranqüilos, os charlatões sempre terão seus castelos de carta derrubados pelos tijolos dos fatos, cedo ou tarde.

Fonte: RNAm
Visitem esse Blog, é muito legal! Visitem também o http://scienceblogs.com.br/, um prato cheio pra quem gosta de Ciência!

PS: Infelizmente não edito nenhum desses blogs...
"Nunca atribua à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez." Hanlon, outro bom barbeiro...

Offline Gomésio Bautizta

  • Nível 03
  • *
  • Mensagens: 39
  • Sexo: Masculino
  • Venho em paz (ou não...)
Re: A fraqueza da ciência
« Resposta #1 Online: 05 de Maio de 2009, 11:42:33 »
A maior fraqueza da ciência é... os cientistas! Ou melhor, as pessoas (acreditem, cientistas são pessoas! Ou quase.)

Em conversas de bar, quando descobrem que eu "não acredito em nada", sempre vem um engraçadinho que acha que vai me pegar com essa: "então você acredita na ciência, né?" e respondo com um sincero e quase ingênuo "sim!" "AHÁ!!!" diria esse meu interlocutor*, "Mas você sabe que a ciência é feita por pessoas, sendo portanto falha!", respondo entre um gole e outro de cerveja "não disse que acredito nos cientistas, sempre é bom desconfiar deles".

Eu aqui conversando com meus botões* fiquei imaginando que essa característica negativa, a fraude, é diminuída na ciência utilizando-se outras características negativas humanas, como desconfiança, inveja, desejo de diminuir outros para enaltecimento pessoal, entre outras, e apesar dessa confusão toda acaba emergindo algo que funciona!

Lógico que fico puto com as filhasdaputagem mais grossas que ocorrem. A descoberta da estrutura do DNA, por exemplo, excluiu uma grande colaboradora, Rosalind Franklin. Foi ela quem forneceu a melhor imagem de raios-X do DNA que permitiu posteriormente Watson, Crick e Wilkins desenvolverem o modelo de dupla-hélice do DNA. E ela não recebeu crédito algum! Dizem as más línguas que esperaram ela morrer para entregarem o prêmio Nobel!

É assim, aos trancos e barrancos, entre invejas e outras mesquinharias, e apesar disso, conseguimos fazer ciência.


*sempre achei essa palavra legal! Acho que se encaixa aqui!
*antes que me perguntem, não! Eles não me respondem! A fivela do cinto não deixa...
"Nunca atribua à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez." Hanlon, outro bom barbeiro...

Offline Unknown

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 11.331
  • Sexo: Masculino
  • Sem humor para piada ruim, repetida ou previsível
Re: A fraqueza da ciência
« Resposta #2 Online: 22 de Novembro de 2010, 20:25:07 »
E quando os cientistas erram?

'Nature' põe em debate os artigos retirados da revista, blogue se propõe a acompanhar mais de perto histórias similares e comunidade científica agradece.


O coreano Hwang Woo-suk proporcionou um dos casos mais famosos de retiradas de artigos científicos. Ele era considerado um dos precursores da pesquisa com células-tronco e clonagem até que, em 2005, descobriram suas – muitas – fraudes (foto: reprodução).

Um editorial da revista Nature de duas semanas atrás traz à tona uma questão não muito debatida em periódicos científicos: o que fazer quando uma pesquisa já publicada é retirada do arquivo da revista?

Em outras palavras, a revista quer discutir o que fazer quando um artigo é retracted – termo em inglês sem tradução consagrada para o português, que quer dizer algo como 'retirado'  ou 'recolhido'.

Pois bem. A Nature resolveu tratar essa questão de modo franco. A motivação: o número de artigos 'retirados' da revista este ano é estranhamente maior do que do ano passado. Enquanto em 2009 apenas um artigo foi recolhido, em 2010 o número subiu para quatro.

No editorial, a revista tenta identificar os motivos. Entre as principais hipóteses levantadas, a publicação alega que haveria hoje uma maior facilidade para se criar (mas também para se descobrir) imagens fraudulentas e que os chefes de laboratório estariam perdendo a capacidade de controlar os possíveis erros cometidos por equipes numerosas.

Sobre este último item, a Nature adverte: "Qualquer laboratório com mais de dez pesquisadores tem de tomar medidas especiais para garantir que o pesquisador-chefe seja capaz de assegurar a qualidade do trabalho dos mais jovens".

Em defesa da transparência, a Nature se comprometeu a avisar seus leitores com agilidade quando um artigo for retirado. E prometeu notificar também a imprensa, caso o artigo em questão tenha sido destacado no comunicado que a revista distribui semanalmente para jornalistas cadastrados.

Novo blogue cobre o que, literalmente, sai

Uma prova de que a comunidade científica está atenta para essa questão é o lançamento recente do blogue Retraction Watch ('Observatório de retiradas' em tradução livre), no ar desde agosto. A iniciativa promete divulgar os artigos retirados, explicando o porquê das decisões e avaliando o posicionamento dos periódicos diante das saias-justas.

O portal foi criado pelos divulgadores de ciência Ivan Oransky e Adam Marcus, ambos com vasta experiência de trabalho em publicações do gênero.

Os blogueiros defendem que monitorar as retractions pode ajudar na avaliação da seriedade da publicação como também, em alguns casos, proteger cientistas injustiçados (por terem sido fraudados, copiados etc.).

Os criadores do Retraction Watch elogiaram o editorial da Nature, porém redobraram a cobrança sobre a divulgação mais ampla dos casos de retirada. Mais olhos estão atentos.

http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/e-quando-os-cientistas-erram

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

Offline Geotecton

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 28.345
  • Sexo: Masculino
Re: A fraqueza da ciência
« Resposta #3 Online: 22 de Novembro de 2010, 22:34:27 »
Errar é uma coisa. Fraudar é outra, completamente diferente.
Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: A fraqueza da ciência
« Resposta #4 Online: 26 de Novembro de 2010, 02:32:14 »
O fato de haver fraudes e erros na ciência também não dá vazão ao "então tem igual validade acreditar em qualquer coisa que se imagine pois tudo que se julga saber 'cientificamente' pode ser só uma fraude ou um erro e logo o planeta foi criado há 4000 anos e os espíritos dos humanos são reencarnações de sapos venusianos".

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!