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Três anos após ataques, calma em prisões indicaria domínio do PCCHermano FreitasDireto de São PauloNa tarde da sexta-feira 12 de maio de 2006, detentos das casas de custódia de Avaré e Iaras, no interior de São Paulo, se rebelaram. Em seguida, dezenas de penitenciárias paulistas seguiram o movimento. No domingo, 74 presídios viam seus internos assumirem o controle.Era a segunda vez que a organização denominada Primeiro Comando da Capital (PCC) promovia um amotinamento em massa: cinco anos antes, em fevereiro de 2001, mais de 20 casas se rebelaram, tornando o grupo mundialmente conhecido e desmoralizando o governo paulista, que negava sua existência. Mas foi a megarrebelião de 2006 que virou um marco.As rebeliões nas penitenciárias acompanharam uma onda de ataques que matou mais de cem de pessoas, levou terror às ruas e que também completa três anos neste mês. Segundo o site da Secretaria estadual da Segurança Pública, ao menos 31 policiais morreram, sendo 24 militares e 7 civis. O sindicato afirma que pelo menos 16 agentes penitenciários perderam a vida na ocasião.O momento que a facção criminosa hoje atravessa é outro. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), após 91 rebeliões em 2006, o ano seguinte não registrou grandes amotinamentos. Em 2008, foram três as rebeliões e, até o dia 8 de maio deste ano, a pasta ainda não havia registrado distúrbios de grande porte nas penitenciárias.Se para o governo a paz é sinônimo de PCC sob controle, para especialistas, a aparente calma nos presídios indica um domínio absoluto por parte da facção dentro do sistema penitenciário. Consolidado, o PCC prefere a discrição."A calma não significa que há paz, mas que existe um domínio inconteste", avalia o promotor Márcio Cristino, um dos primeiros a denunciar membros do grupo.A opinião corrobora a tese de estudiosos como a doutoranda em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) Camila Nunes Dias, que estima em mais de 90% as cadeias estaduais sob o domínio da quadrilha. "A conjuntura atual permitiu que os atos de violência cessassem", disse.Os eventuais conflitos entre integrantes não é mais necessariamente resolvido pela violência extrema. Fora das prisões, os tribunais da facção, chamados de "debates", condenam à morte apenas em último caso. Extremamente profissionalizada, a organização não permite que seus negócios, em especial a venda de drogas, sejam perturbados por homicídios. "A negociação parece mais freqüente que a conquista na solução de impasses", diz outro doutorando em Sociologia pela USP, Daniel Hirata.O delegado titular da Divisão de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro, vê lógica financeira na economia de vidas. "Eles começaram a perceber o alto custo de se matar uma pessoa. É melhor o prejuízo de R$ 2 mil com uma dívida de drogas que pagar R$ 20 mil a um advogado num eventual processo por homicídio", afirmou.As rígidas normas que o PCC impõe nas prisões facilita a vida dos agentes penitenciários e acaba sendo conveniente para quem as administra. O porte de facas artesanais, as biqueiras, é malvisto, pois indica a disposição de atacar outros presos - todos membros da facção. Novos integrantes são admitidos mediante a indicação de membros antigos, os "padrinhos", responsáveis pelos atos de seus afilhados.O grupo prefere integrar todos os presos e evita o isolamento, já que dissidências poderiam se formar a partir do agrupamento dos "solitários". A reportagem apurou ainda que o PCC proibiu há cerca de três anos o uso de crack e o homossexualismo entre seus membros. Procurada para comentar as leis do crime, a Secretaria de Administração Penitenciária disse, por meio de nota, que "não comenta sobre supostas facções criminosas".Apesar de reconhecer o momento discreto da facção, que chama de "falsa tranqüilidade", o presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), João Rinaldo Machado, chama atenção para a violência que guardas penitenciários sofrem."Agentes penitenciários continuam sendo mortos na surdina durante suas folgas", diz Machado. Na madrugada do dia 4 de maio, oito disparos, entre 15 deflagrados, mataram um agente de 27 anos, executado na frente da namorada quando chegava na sua casa em Álvares Machado, cidade de 23 mil habitantes vizinha a Presidente Prudente, onde há uma penitenciária que abriga membros de facções rivais. A polícia trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido cometido por membros do PCC.RepriseAlternativa ao Estado de Direito ou mero parasita, o PCC é uma realidade e segue atuando e lucrando com o tráfico de drogas, o roubo de cargas e de bancos em São Paulo e até em outros Estados. Seu desafio atual é emergir para a legalidade, advertem especialistas. Neste objetivo, financia a formação acadêmica de estudantes, em especial do curso de Direito.A próxima tacada do chamado "partido do crime" seria infiltrar candidatos seus nas eleições. O Sifuspesp acredita que as legendas menores são mais suscetíveis ao assédio da quadrilha. A coincidência entre o ano de eleições para o governo estadual e a data dos ataques amedronta. "Não descartamos a possibilidade de que aconteça em 2010 o que aconteceu em 2006. Em 2005 também houve um período de trégua nas rebeliões", adverte Rinaldo Machado.