Não li o "tao da Física" mas sei que uma das coisas que eles defendem é que o universo é um todo interligado baseados no entrelaçamento quântico. Sendo assim, nossa mente estaria, de alguma forma, conectada a todo o resto do cosmo. Não precisa dizer que essa interpretação é forçada. Depois posso comentar por quê.
Um dia desses tive uma conversa com uma amiga (inteligente, leiga em física) que me perguntou sobre sobre a relação entre Física Quântica e
essas idéias holísticas. A minha resposta foi mais ou menos assim (na verdade menos elaborada que este texto, por causa das 3 cervejas que
eu já tinha tomado):
A idéia de que tudo está interconectado é muito antiga e chega a ser uma trivialidade. Desde a teoria da gravidade de Newton já se sabe que
todos os corpos no universo interagem e influenciam o movimento dos outros. Isso é válido também para o eletromagnetismo. O problema,
para os que defendem o "holismo" é o seguinte: O reducionismo
funciona! Toda as ciência exatas (sem falar nas engenharias) estão
baseada na noção de que é possível ignorar a maioria das influências dos outros corpos e nos concentrar nas interações mais fortes. Por
exemplo, o fluido dentro deste copo (estávamos numa mesa de bar) está sob o efeito da gravidade da lua e dos planetas, além da gravidade
da Terra. Só que (e aqui é o fato crucial) as interações
diminuem com a distância. Isso quer dizer que, comparado ao efeito da Terra,
a atração dos outros corpos é desprezível e pode ser ignorada sem problemas. Esse é um exemplo extremo, mas na verdade estamos sempre
fazendo esse tipo de aproximações em Física.
Ela então perguntou sobre o efeito borboleta, o caos e a influência do observador. Primeiro eu deixei claro que o fenômeno do caos acontece
em sistemas clássicos, sem que haja a menor necessidade de invocar a mecânica quântica. Bem, o que o caos implica é que certos sistemas são
extremamente sensíveis às condições iniciais. É como o caso de uma bola de bilhar em uma mesa na forma de estádio. O chamado efeito borboleta
é só uma reafirmação de que a evolução de um sistema caótico no tempo pode depender de interações iniciais muito fracas. Só que é preciso lembrar
que quando se fala do efeito borboleta, estamos chamando a atenção para a nossa
ignorância das condições iniciais. Ou seja, não é que
o vento gerado pelas asas da borboleta seja fraco, mas também que não temos como conhecer exatamente o efeito de todas essas influências fracas
para poder incluí-los na nossa descrição do sistema. Pior: dizer que uma borboleta batendo as asas na Indonésia pode causar em uma tempestade no Brasil
necessariamente implica que esse mesmo bater de asas poderia impedir uma tempestade! Ou seja: saber que existe uma influência não nos diz absolutamente
nada acerca do resultado. Isso parece contradizer o que eu disse no parágrafo anterior. Essa contradição é apenas aparente, porque existem
sistemas caóticos, mas também existem outros que são muito pouco sensíveis a mudanças nas condições iniciais.
Sobre a mecânica quântica: é verdade que os sistemas quânticos podem ser influenciados pelo observador. Só que essa influência ocorre
no nível de interações físicas e de resultados de medições e (apesar do que dizem alguns) pouca gente acredita que tenha algo a ver
com a consciência do observador. Finalmente, ela me perguntou se o estudo da mecânica quântica poderia lhe dar algum insight acerca
das conexões entre indivíduos, por exemplo. Eu respondi lembrando a ela a idéia de "magnetismo pessoal": estudar MQ para entender a
interdependência das pessoas seria tão absurdo como estudar magnetismo para entender o "magnetismo pessoal". O fato é que certas pessoas
se apropriaram de algumas metáforas e as estenderam para muito além de seu campo de validade. A interação entre observador e observado
na MQ pode ser usada como metáfora para algo que ocorre na esfera das relações humanas, mas deve se deixar bem claro que se trata de uma
metáfora, não mais que isso.
(Desculpem o post longo).