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Decifrando o marketing da tecnologia
« Online: 18 de Maio de 2009, 20:08:56 »
Decifrando o marketing da tecnologia

Zoom de 3000x! Um zilhão de megapixels! Entenda o que realmente importa, e o que é pura propaganda, na hora de escolher seu próximo aparelho eletrônico, seja ele uma câmera ou um PC

Há uma série de coisas que tornam a indústria dos eletrônicos de consumo incomum. Por exemplo, à medida que desempenho, velocidade e recursos aumentam, os preços continuam caindo, ano após ano. Em que outra indústria isso acontece?

Também há o fator fetiche, que atingiu um novo patamar no dia de lançamento do iPhone no verão de 2007. Aposto que você nunca viu 1.000 pessoas acampando na porta de uma loja pra comprar, por exemplo, um novo sabor de cereal ou o mais novo modelo de jeans.

Mas talvez o aspecto mais fascinante dos eletrônicos de consumo tenha a ver com a forma como são anunciados. Sem contar os celulares, você raramente vê este tipo de aparelho anunciado nos programas de TV mais populares. Você consegue se lembrar que alguma propaganda de uma máquina de fax, filmadora ou aparelho de som surround? Pode assobiar o jingle de rádio de pelo menos um player de Blu-ray?

Não, a maioria da divulgação dos produtos de tecnologia acontece de formas mais sutis e baratas: propagandas em revistas (geralmente horríveis), eventos especializados e sites na internet. Algumas empresas, especialmente a Apple, anunciam seus produtos em eventos especialmente orquestrados com transmissão ao vivo na Web -- e ganham um público extra por causa do intenso segredo que cerca a chegada de cada aparelho.

Mas o mais interessante disto tudo é o que as propagandas realmente dizem. Obviamente, nenhuma empresa vai proclamar os pontos fracos de seus produtos. Mas às vezes os recursos anunciados são tão distantes do que realmente importa que é melhor rir pra não chorar. É uma espécie de "desinformação corporativa", e já era hora de alguém expor isto.

Abaixo, para o prazer revolucionário das massas, está meu dicionário para os termos do marketing de tecnologia. Ele define os termos mais alardeado em cada categoria de produto, e os compara com o que realmente importa, algo que as equipes de marketing convenientemente se esquecem de mencionar.

Filmadoras
   
O que eles dizem que é importante: Zoom. Céus! Por que consideram o zoom como tão importante? Tá, é legal pegar aquele close do seu filho no teatrinho da escola ou no jogo de futebol. Mas quanto é o suficiente? 20x? 30x? 50x?

A verdade é que quanto mais você aproxima a imagem, mais "tremida" ela fica, já que o zoom também "amplifica" mesmo os menores movimentos de sua mão e torna o vídeo menos agradável de assistir.

Quando foi que você viu zoom em um programa de TV ou filme? Quase nunca. Então aceite o conselho dos profissionais. Não use o zoom.

O que realmente importa: um grande ângulo de visão. Testei recentemente filmadoras de três grandes fabricantes. Eu queria saber o quanto teria de me afastar para enquadrar uma pessoa de 1,80m na cena. Acredite, a melhor das filmadoras -- a com o maior ângulo de visão -- exigiu que eu me afastasse 4 metros e meio.

O problema é que, quando você chega a esta distância, você está tão longe da pessoa que o microfone da câmera não consegue registrar o que ela diz.

Pense em todas as vezes em que você desejou que sua câmera tivesse um ângulo maior. Aquela peça de teatro, o jogo de futebol, os casamentos. Não dá pra pegar aquela paisagem fantástica das montanhas em uma camcorder a não ser que você fique movendo-a de um lado para o outro. O resultado sequer chega perto do impacto de ver a cena pessoalmente.

Mas ampliar o ângulo de visão de uma filmadora implica em limitar seu zoom. E depois de décadas martelando "20x!!!" em nossas cabeças, os fabricantes não parecem dispostos a "focar" em algo que é muito mais importante.

Máquinas fotográficas
   
O que eles dizem que é importante: megapixels. De alguma forma, a indústria consegui convencer os consumidores de que mais "pontos" na imagem significam melhor qualidade. Isto pode até ter sido verdade nos primórdios da tecnologia, quando as câmeras de 2 Megapixels vagavam pelo planeta. Ampliações de uma imagem de 4 megapixels certamente pareciam melhores que as de uma imagem de 2 megapixels.

Mas a diferença visual evaporou assim que as câmeras chegaram aos 5 ou 6 megapixels. Hoje em dia, mesmo 6 megapixels são o suficiente para impressões enormes, do tamanho de pôsteres. Em câmeras pequenas, dizem os especialistas, colocar mais megapixels em um sensor minúsculo na verdade reduz a qualidade da imagem, já que o chip esquenta demais, o que causa manchas coloridas (ruído) na foto.

O que realmente importa: o tamanho do sensor. Um sensor de luz maior significa melhor sensibilidade à luz, que significa que o obturador fica menos tempo aberto, o que resulta em menos fotos borradas.

Mas os fabricantes de câmeras não querem que você conheça este número. Ele não está impresso na caixa, e não aparece nos anúncios. Isso porque é mais fácil, e barato, aumentar os megapixels que o tamanho do sensor.

Você pode até pesquisar esta informação na internet, mas mesmo assim provavelmente irá encontrar números estranhos, difíceis de entender e impossíveis de comparar como 1/2.3 polegadas (em câmeras pequenas) ou 16 x 23 mm (em câmeras SLR). Eles nunca, jamais aparecem simplesmente como a medida da diagonal do sensor, da mesma forma como as telas de TV (e mesmo as telas das câmeras) são medidas. Não, isso seria fácil demais.

Celulares

O que eles dizem que é importante: cobertura. O que é realmente importante: cobertura. Sim, eles estão anunciando a coisa certa! Cobertura é o que as pessoas querem. Não queremos olhar pra tela, não ver uma barrinha sequer de sinal e ficar impossibilitados de fazer uma chamada. Não queremos ligações interrompidas quando entramos em "áreas de sombra". Só queremos que o bendito aparelho funcione direito.

Mas o verdadeiro problema é que as operadoras estão mentindo. A primeira pista é que, apesar de todas as afirmações, nós ainda reclamamos da cobertura das redes de telefonia celular.

A segunda pista é que toda operadora de telefonia diz a mesma coisa. "Mais barrinhas em mais lugares", "A maior rede", "A rede mais confiável", "Menos chamadas interrompidas". É impossível que todas estejam certas. A verdade é que elas estão medindo coisas diferentes -- quantas pessoas vivem dentro da área de cobertura, por exemplo, contra quantos kilômetros quadrados essa área tem, ou cobertura nacional contra cobertura mundial.

A terceira pista são os mapas de cobertura nos sites de cada empresa. Olhe mais de perto e você vai descobrir que muitos estados tem mais "áreas mortas" que áreas com cobertura. Eu sei que a vida de uma operadora de telefonia não é fácil: instalar mais torres custa caro e não compensa o investimento em áreas pouco povoadas. E mesmo nas áreas povoadas, as empresas tem que lutar contra pessoas que não querem uma enorme e feiosa torre em seus quintais.

Mas neste caso, talvez as operadoras devessem focar em corrigir as coisas que estão sob seu controle - horríveis sistemas de atendimento ao cliente, taxas injustas, multas por cancelamento e cobrança por mensagens de texto - e anunciar isso.
   
Computadores

O que eles dizem que é importante: o preço. Este certamente é um fator importante. De fato, para algumas pessoas, ele é o fator mais importante. Mas quer saber o que realmente importa? É o custo-benefício.

Há um preço a pagar, em algum momento, quando algo é feito com o propósito exclusivo de ser barato. Você pode adorar o preço baixo daquela máquina, mas provavelmente não vai gostar do suporte técnico terceirizado e mal-treinado oferecido. Ou da terrível "colcha de retalhos" de adesivos, logos e painéis espalhados. Ou da enorme e inconveniente fonte de alimentação. Ou do "junkware", software inútil e irritante pré-instalado, que faz o micro se arrastar como uma lesma a partir do momento em que é ligado pela primeira vez. Ou da assinatura anual de um anti-vírus de que você vai precisar para usar o Windows em paz. Ou do tempo que você vai gastar tentando aprender a usar os programas de vários fabricantes fornecidos junto com a máquina, cada um com uma interface e convenções de usabilidade diferentes.

Há dois tipos de pessoas no mundo: as que valorizam a elegância, beleza e simplicidade e as que não dão a mínima pra isso. Você nunca vai conseguir convencer nenhum dos grupos a mudar de idéia, é como uma guerra religiosa. Tenha em mente o que é mais importante para você antes de assinar o cheque.

Vamos ser francos. Eu não espero que estas minhas reclamações tenham o menor impacto sequer na forma como a tecnologia é vendida. Mas talvez, apenas talvez, as sementes da discórdia tenham sido semeadas. E um dia, em algum lugar, no balcão de uma loja, alguém vai dizer: "Sabe, eu não me importo muito com o zoom. Você tem algo com um ângulo maior?"

http://tecnologia.ig.com.br/noticia/2009/05/15/decifrando+o+marketing+da+tecnologia+6151942.html

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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