Autor Tópico: Um argumento contra o agnosticismo.  (Lida 4676 vezes)

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Offline Newman

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Um argumento contra o agnosticismo.
« Online: 02 de Junho de 2009, 20:02:53 »
Eu formulei esse raciocinio cruzando a teoria do discurso habermasiana com um racionalismo mais extremista, ou seja, e totalmente abstrato. Se possivel, gostaria que os foristas daqui lessem e apontassem possiveis inconsistencias ou falacias.
(a essa altura, eu estou 100% cego para conseguir enxergar algum erro sozinho.)

Em geral, agnosticos se eximem de tomar posicao na questao acerca da existencia de Deus com a alegacao de que e impossivel testar entes metafisicos, pois os unicos meios acessiveis a consciencia humana sao necessariamente fisicos.

Deus – ao menos aquele com as caracteristicas comumente atribuidas pelos religiosos - e uma entidade metafisica.

O Metafisico, por definicao, supera o Fisico e nao responde(i.e., contradiz) a Razao humana.
Logo, se eu admito a possibilidade de existencia do Metafisico, entao eu estou admitindo que a Logica do ser humano pode nao ser a ferramenta epistemica adequada para se chegar a conclusoes universalmente e absolutamente validas.

Se eu admito que a Logica racional humana pode nao ser a ferramenta epistemica adequada para se chegar a conclusoes universalmente validas, entao eu nao posso usa-la para aferir a propria possibilidade de existencia do Metafisico, afinal a metodologia usada(o raciocinio humano, ora!) para se considerar a factibilidade de tal hipotese estaria inexoravelmente viciada.

Todas as categorias onticas e/ou gnoseologicas imaginaveis tem necessariamente que ser - antes de qualquer outra coisa - entidades logicamente inteligiveis, i.e. cognosciveis pela racionalidade humana(nada de onipotencia e outros atributos desprovidos de significado logico). Por que? Porque se eu estou usando argumentos logicos para apreciar a plausibilidade de uma conjectura em mero ambito logico, entao eu nao posso questionar a aplicabilidade universal da Logica, sob pena de tornar meu discurso nonsense. Ou seja, se eu admito que o silogismo “nao funciona” ou “nao e suficiente”, entao eu nao posso sustentar objetivamente (e por meio de silogismos, obviamente) que ele “nao funciona” ou “nao e suficiente”. Por outro lado, se eu tentar “afirmar” tal coisa sem usar justamente os silogismos, entao o maximo que conseguirei e cuspir uma falacia(que nao e uma “afirmacao” de fato, mas tao somente um equivalente humano dos latidos e grunhidos dos animais) ao vento.

Se uma proposicao x se torna um “axioma” quando aquele que a nega precisa invariavelmente usa-la no exato momento da suposta negacao, entao o raciocinio logico e um axioma do Discurso e sua absoluta validade(“verdade”) nao pode ser questionada por ninguem, jamais, em hipotese alguma. O corolario disto e que a simples cogitacao da existencia de algo tal como o Metafisico(como sinonimo de algo nao submetido ao crivo da Logica) e insustentavel em seus proprios termos. Todas as formas de relativismo – inclusive o quantico –, por definicao, implicam em autocontradicao. Logo, qualquer um que pressuponha a simples possibilidade de que um Deus metafisico possa existir esta automaticamente se contradizendo.

Diferentemente dos logicos mais formalistas, eu nao vejo dicotomia entre proposicao e silogismo, mas sim entre premissa sustentavel e insustentavel. A premissa de que “nao existem verdades cognosciveis” e contraditoria e insustentavel, pois no momento em que eu a assumo eu ja estou afirmando algo com pretensoes de verdade. Entao, nao posso negar que exista pelo menos uma verdade cognoscivel. Se ha pelo menos uma verdade cognoscivel, entao a conseqüencia disto e que nao pode haver duas premissas sustentaveis que entrem em conflito entre si. Afinal, se esta ultima afirmacao nao fosse uma Verdade apoditicamente valida, haveria pelo menos duas “verdades”(Sim ou Nao) sobre sua validade como axioma. Se ha duas “verdades” validas, entao nao pode haver uma Verdade valida sobre haver duas “verdades” validas - o que nao faz sentido algum. Ou colocando de forma sintetica: pode-se abrir todas as portas do corredor, mas so se pode entrar por aquela cuja sala tenha chao solido... O paradoxo e um indicador de inconsistencia/erro em qualquer tese.

Abracos.

Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #1 Online: 03 de Junho de 2009, 11:51:45 »
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Gbcd3:

Um argumento contra o agnosticismo:

Em geral, agnosticos se eximem de tomar posicao na questao acerca da existencia de Deus com a alegacao de que e impossivel testar entes metafisicos, pois os unicos meios acessiveis a consciencia humana sao necessariamente fisicos.

Parece-me que o conceito de metafísica, tem uma certa tendência, para derivar numa compreensão transcental do ser, daí o surgimento de determinado tipo de agnósticos.

Entre as concepções de "deus", nem todas são transcendentalistas. Neste caso, não se justificaria, ser agnóstico.

Quando Parménides - por revelação divina - afirmou, que o ser é, e não pode deixar de ser, estava realmente dizendo o quê? Nesta situação, que é que um agnóstico, pode pronunciar em relação a este enunciado?

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Deus – ao menos aquele com as caracteristicas comumente atribuidas pelos religiosos - é uma entidade metafisica. O Metafisico, por definicao, supera o Fisico e nao responde(i.e., contradiz) a Razao humana.

É que aqui que reside a contradição: ontologicamente, deus, não é necessariamente um ser transcendente. Portanto, mesmo, que em termos aristotélicos, a metafísica, seja o que está para além da física, não quer rigorosamente, significar imaterialidade.

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Logo, se eu admito a possibilidade de existencia do Metafisico, entao eu estou admitindo que a Logica do ser humano pode nao ser a ferramenta epistemica adequada para se chegar a conclusoes universalmente e absolutamente validas.

Depende da forma como você estabelece a existência dos absolutos: Ou você se afirma como uma pessoa idealista, ou como alguém materialista; mesmo que seja espiritualista.

Quer o conceito de ser, signifique deus ou não, A capacidade intelectual do génio humano, pode perfeitamente, conjecturar estados da matéria, ou do ser, não físicos.

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Se eu admito que a Logica racional humana pode nao ser a ferramenta epistemica adequada para se chegar a conclusoes universalmente validas, entao eu nao posso usa-la para aferir a propria possibilidade de existencia do Metafisico, afinal a metodologia usada(o raciocinio humano, ora!) para se considerar a factibilidade de tal hipotese estaria inexoravelmente viciada.

Que outra ferramenta epistémica, eventualmente você poderia ter, que não fosse o raciocínio, para aferir da realidade metafísica, a intuição espiritual?

Eu sei - que gramaticalmente - se usam palavras, tais, como concreto e abstracto.
O conceito de concreto, pode convir, ao que se chama de física; e o de abstracto, ao de metafísica. Portanto nessa ordem de considerações, o que é metafísico, é perfeitamente acessível ao raciocínio humano, já que faz parte da realidade material.  

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Todas as categorias onticas e/ou gnoseologicas imaginaveis tem necessariamente que ser - antes de qualquer outra coisa - entidades logicamente inteligiveis, i.e. cognosciveis pela racionalidade humana(nada de onipotencia e outros atributos desprovidos de significado logico). Por que?

Se para haver entendimento, é indispensável, a utilização da lógica e do raciocínio, torna-se contraditório, admitir que não seria possível obter conhecimento das coisas ditas metafísicas, com a utilização de ferramentas racionais.

Os conceitos de omnipotência, omnipresença e omnisciência, quanto a mim, não são assim tão desprovidos de significado lógico...









 
« Última modificação: 03 de Junho de 2009, 20:35:09 por lusitano »
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline ronysalles

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #2 Online: 08 de Junho de 2009, 14:54:24 »
Eu sou agnóstico. Eu costumo dizer às pessoas que me perguntam que eu não conheço, materialmente falando, nenhum deus. Sobre os deuses míticos, em relação a esses, sem dúvida eu sou ateu.

E por que sou agnóstico? Talvez por ainda não ter inteligência o bastante pra entender alguns “mistérios” na natureza. Às vezes, no fundo eu me pergunto se não existe alguma coisa, sei lá... enfim, é justamente esse NÃO-SABER algumas coisas que talvez me faça assim.

Agora uma coisa eu posso dizer com veemência: eu não creio em nada que seja denominado sobrenatural. Em relação a algum deus, tudo que posso dizer até agora é que realmente ainda não sei. Mesmo assim, não me incomodo nem um pouquinho de ser chamado de ateu.

É como a questão dos ETs. Ninguém pode dizer com certeza de que eles não existem. Eu particularmente acredito que é possível eles existirem. Mas não sei. Esse NÃO-SEI não se refere ao que a religião diz, e sim ao que eu penso.

E torno a dizer, o fato de eu ser agnóstico não está em fuga qualquer; e sim, não minha falta de conhecimento em relação a muita coisa. Estou aprendendo muito aqui no CC, acredito que meu intelecto esteja progredindo.



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“A maior decepção de um crente fervoroso seria, ao chegar no céu, vê um ateu”. ronysalles

Offline Madame Bovary

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #3 Online: 09 de Junho de 2009, 12:32:53 »
 :ok:

Perfeito! É o mesmo que me ocorre.

Sou agnóstica e me lembro de uma coisa que li sobre nós uma vez: "O agnóstico não se importa com a existência ou não de Deus... ele apenas quer saber a verdade."

Tem um verso de Omar Khayyam que resume bem, na minha opinião, a visão agnóstica:

Todos sabem que meus lábios nunca murmuraram uma oração.
Não procurei nunca dissimular os meus pecados.
Ignoro se existem realmente uma Justiça e uma Misericórdia.
Mas, se existem, não desespero delas: fui sempre um homem sincero.

.
Olho, e as coisas existem.
Penso e existo só eu.

.

Skoob

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Offline Newman

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #4 Online: 10 de Junho de 2009, 14:48:12 »
lusitano

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Entre as concepções de "deus", nem todas são transcendentalistas.

A concepção metafísica de “Deus” a que eu me refiro é a idéia de que pode haver uma espécie de “razão superior” à Lógica humana, mais ou menos como quando os religiosos dizem coisas tipo “Deus está acima da Ética” ou que “somos pequenos demais para compreender os mistérios divinos”.

O Olavo de Carvalho chama isso de “razão transcendente”, que é uma variante do relativismo clássico. Na concepção dele, todo agnóstico deveria admitir que é impossível afirmar a existência do universo sem aceitar uma Razão divina, anterior a propria Logica humana. Mais ou menos como os crentes que dizem que o Big Bang foi orientado por Deus.

Já na minha, é justo o contrário: só pode haver uma Razão e ela deve ser uma verdade absoluta. Afinal, quem afirmar o contrário, isto é, quem afirmar que [não há verdades humanas absolutas e objetivas] estará se contradizendo, pois a própria afirmação de que [não há verdades humanas absolutas e objetivas] também não seria absoluta e objetiva. Estaríamos diante de um paradoxo.

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Depende da forma como você estabelece a existência dos absolutos: Ou você se afirma como uma pessoa idealista, ou como alguém materialista; mesmo que seja espiritualista.

Como a minha análise é direcionada totalmente para a consistência do discurso, não vejo relevância em distinguir entre “materialismo” e “idealismo”. É tudo uma questão de silogismo.

Para mim, a atitude espiritualista é apenas mais uma consideração de caráter subjetivo, tal como as emoções e os vários estados de humor que uma pessoa pode demonstrar ao longo do dia.

Citar
A capacidade intelectual do génio humano, pode perfeitamente, conjecturar estados da matéria, ou do ser, não físicos.

A capacidade intelectual humana pode conjecturar que eu posso preferir suco de uva a suco de laranja ao mesmo tempo em que prefiro suco de laranja a suco de uva. Tambem pode conjecturar que 1 +1 = 3.

O ponto é: essa conjectura pode ser sustentada logicamente, sem implicar em uma negação da própria Lógica?

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Se para haver entendimento, é indispensável, a utilização da lógica e do raciocínio, torna-se contraditório, admitir que não seria possível obter conhecimento das coisas ditas metafísicas, com a utilização de ferramentas racionais.

Exatamente. Por isso eu estou pressupondo que a existência de algo como o “metafísico” é absolutamente inválida, pois implicaria em relativizar a Lógica racional. Logo, tal hipótese não pode ser sustentada de maneira alguma, sem que ao mesmo tempo negue a si mesma.

E se não pode ser sustentada de maneira alguma, seria falsa.

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Os conceitos de omnipotência, omnipresença e omnisciência, quanto a mim, não são assim tão desprovidos de significado lógico...

E o paradoxo da pedra?

Offline Orbe

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  • ???
Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #5 Online: 10 de Junho de 2009, 16:51:54 »
Se você se importasse não estaria discutindo e sim agindo...

Offline Tupac

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #6 Online: 10 de Junho de 2009, 16:55:27 »
O Olavo de Carvalho (...)

Quem?
hauhauhaa... Sinto que este rapaz não será perdoado. :histeria:
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
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Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #7 Online: 11 de Junho de 2009, 18:52:38 »
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Reaktioñar:

Citar: Os conceitos de omnipotência, omnipresença e omnisciência, quanto a mim, não são assim tão desprovidos de significado lógico...

E o paradoxo da pedra?

Essa do paradoxo da pedra está muito bem apanhado. :hihi:

Pessoalmente parece-me que isso é um desafio à inteligência divina, não à omnipotência:

Se um dos conceitos de deus, também é hierarquia máxima num determinado sistema de valores, então, é como dizer a um rei, que só é rei porque tem a coroa posta. E uma maneira de pôr à prova a sua realeza, é pedir-lhe se ele não se importa de tirar a coroa, afim de demonstrar que continua a ser rei se concordar em tirá-la.

Deus é supostamente omnipotente; eu duvidando desse facto, digo para ele... Se realmente, você é omnipotente, crie uma pedra mais potente que você, senão, eu não acredito no seu poder... E deus, para satisfazer a minha curiosidade, faz o que eu lhe peço :?: :D  

Em que conceito de deus, se enquadra este paradoxo? Quem vai ao mar perde o lugar? :biglol:

  
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Bruno Coelho

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #8 Online: 11 de Junho de 2009, 20:08:55 »
O paradoxo da pedra e o problema do mal são dois argumentos bastante dificeis de serem refutados por um teista, Alvin Plantinga um filósofo da religião com uma epistemologia reformista depende que é perfeitamente racional crer em Deus.

Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #9 Online: 12 de Junho de 2009, 07:28:59 »
Citar
Bruno Coelho:

O paradoxo da pedra e o problema do mal são dois argumentos bastante dificeis de serem refutados por um teista, Alvin Plantinga um filósofo da religião com uma epistemologia reformista depende que é perfeitamente racional crer em Deus.

Eu creio, que a dificuldade de resolução desses paradoxos, depende da concepção de deus que se estiver a equacionar.

Suponhamos que a palavra deus significa omnipotência...

Pode-se considerar, que a omnipotência, pode produzir uma omnipotência muitíssimo mais potente?

Se o não fizer, deixa de o ser? E se o fizer, continua a sê-lo? Quer sim, quer não, a omnipotência continua lá. :idea:

Parece-me que a omnipotência, é apenas a evidência do ser, em contraste com o nada. O universo existe: hipoteticamente, poderia não existir... logo o ser, ao existir, é omnipotente  :!:

Será que o mal em si, existe, ou simplesmente representa o que nos desagrada?

Eu também estou de acordo, que crer em deus, é perfeitamente racional :!: :idea:
« Última modificação: 12 de Junho de 2009, 07:40:39 por lusitano »
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Offline Stéfano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #10 Online: 12 de Junho de 2009, 12:38:48 »
A "questão metafísica" da existência ou não de deuses é praticamente a mesma do dragão invisível na garagem do Carl Sagan (também conhecido como a Sagrada Unicórnia Invisível). Ele é invisível, intangível e não pode ser detectado por qualquer método conhecido. Só pode ser visto (ou sentido) por quem acredita nele. Só afeta outras coisas de modo que poderia ser afetado de outra maneira. Não é possível provar a sua existência ou a ausência da mesma. A "questão metafísica" é muito simples. Ou você acredita ou não. Eu não acredito.
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Offline Orbe

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #11 Online: 12 de Junho de 2009, 15:21:03 »
O Olavo de Carvalho (...)
Quem?
hauhauhaa... Sinto que este rapaz não será perdoado. :histeria:

Temos que admitir que chegar citando Olavo de Carvalho, é um péssimo cartão de visitas...
Se você se importasse não estaria discutindo e sim agindo...

Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #12 Online: 12 de Junho de 2009, 15:41:05 »
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Stéfano:

Re: Um argumento contra o agnosticismo.

------------------------------------------------------------------------------
A "questão metafísica" da existência ou não de deuses é praticamente a mesma do dragão invisível na garagem do Carl Sagan (também conhecido como a Sagrada Unicórnia Invisível). Ele é invisível, intangível e não pode ser detectado por qualquer método conhecido. Só pode ser visto (ou sentido) por quem acredita nele. Só afeta outras coisas de modo que poderia ser afetado de outra maneira. Não é possível provar a sua existência ou a ausência da mesma. A "questão metafísica" é muito simples. Ou você acredita ou não. Eu não acredito.
 

:) :idea: :arrow: :ok:
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Offline Newman

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #13 Online: 15 de Junho de 2009, 12:21:00 »

Se um dos conceitos de deus, também é hierarquia máxima num determinado sistema de valores,


Não sei se entendi bem sua colocação, mas, a meu ver, valores são simples preferências estéticas individuais.
Se o seu conceito de deus é eleger um determinado sistema de valores ou escala estética como um padrão absoluto, então pode haver um número virtualmente infinito de deuses, já que as preferências pelos mais diversos valores podem variar, não só de pessoa para pessoa, como de ocasião para ocasião.


então, é como dizer a um rei, que só é rei porque tem a coroa posta. E uma maneira de pôr à prova a sua realeza, é pedir-lhe se ele não se importa de tirar a coroa, afim de demonstrar que continua a ser rei se concordar em tirá-la.
 


Sim. Neste caso, se o rei puder tirar a coroa sem perder a realeza, então não é a coroa que o define como rei.
Mas o mesmo pode ser dito da onipotência? Afinal, se não for possível que Deus seja onipotente, por que deveríamos chamá-lo de “Deus”?



Deus é supostamente omnipotente; eu duvidando desse facto, digo para ele... Se realmente, você é omnipotente, crie uma pedra mais potente que você, senão, eu não acredito no seu poder... E deus, para satisfazer a minha curiosidade, faz o que eu lhe peço


Mas não é este o ponto. O paradoxo reside no fato de que o conceito de onipotência gera contradições que impossibilitam sua afirmação em qualquer discurso.

(I)Se pode existir uma pedra que Deus não pode levantar(x), entao ele não pode fazer tudo(-y).
(II)Se Deus pode fazer tudo(y), então ele pode criar tal pedra(z).
(III)Se ele pode criar tal pedra(z), então tal pedra pode existir(x).

Conclusão derivada das proposições: se Deus pode fazer tudo(y), então ele não pode fazer tudo(-y). A alegação de onipotência é impossível de ser sustentada em seus próprios termos.

Offline Newman

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #14 Online: 15 de Junho de 2009, 12:23:37 »
O Olavo de Carvalho (...)
Quem?
hauhauhaa... Sinto que este rapaz não será perdoado. :histeria:

Temos que admitir que chegar citando Olavo de Carvalho, é um péssimo cartão de visitas...

:biglol:

Pô, eu não sou “olavete” - apesar de achar que o nível dos livros do OdeC supera e muito o de seus artigos. Acho também que se ele se restringisse a escrever sobre Filosofia (ao invés de fazer panfletagem caricata na internet), não teria o filme tão queimado por aí.

Mas eu também curto ler Habermas e Apel, dois marxistas de carteirinha.

Isso não quer dizer que eu concorde com as sandices de nenhum dos dois lados – até porque as sandices do Mídia sem Máscara e da Escola de Frankfurt implicam em exclusão mutuamente irrestrita do adversário.  

Offline Newman

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #15 Online: 15 de Junho de 2009, 12:26:30 »
A propósito:


Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #16 Online: 15 de Junho de 2009, 15:21:36 »
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Reaktionär:

Re: Um argumento contra o agnosticismo.    

Citação de: lusitano  em  11 Jun 2009, 18:52:38

Se um dos conceitos de deus, também é hierarquia máxima num determinado sistema de valores,

Não sei se entendi bem sua colocação, mas, a meu ver, valores são simples preferências estéticas individuais.

Sim claro, parece-me que sim :!:

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Se o seu conceito de deus é eleger um determinado sistema de valores ou escala estética como um padrão absoluto, então pode haver um número virtualmente infinito de deuses, já que as preferências pelos mais diversos valores podem variar, não só de pessoa para pessoa, como de ocasião para ocasião.

Admito, que o conceito de deus, está carregado de ambiguidade, por não existir um consenso absoluto, que estabeleça um significado universal rigoroso, devido às muitas variações de preferência individual e social.

Desse modo, pode de facto haver um número virtualmente infinito de deuses, ou de concepções de deus… O que implica em incompatibilidade sobre os atributos dessas concepções divinas.

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Citação de: lusitano  em  11 Jun 2009, 18:52:38

então, é como dizer a um rei, que só é rei porque tem a coroa posta. E uma maneira de pôr à prova a sua realeza, é pedir-lhe se ele não se importa de tirar a coroa, afim de demonstrar que continua a ser rei se concordar em tirá-la.
  
Sim. Neste caso, se o rei puder tirar a coroa sem perder a realeza, então não é a coroa que o define como rei.

Mas o mesmo pode ser dito da onipotência? Afinal, se não for possível que Deus seja onipotente, por que deveríamos chamá-lo de “Deus”?

Vejamos: nesta concepção, existe uma colagem “obrigatória” entre deus e omnipotência. E se for desfeita esta colagem, pode existir omipotência sem deus, ou deus sem omnipotência? Eu admito que sim.

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Citação de: lusitano  em  11 Jun 2009, 18:52:38

Num determinado padrão, Deus é supostamente omnipotente; eu duvidando desse facto, digo para ele... Se realmente, você é omnipotente, crie uma pedra mais potente que você, senão, eu não acredito no seu poder... E deus, para satisfazer a minha curiosidade, faz o que eu lhe peço :?:

Mas não é este o ponto. O paradoxo reside no fato de que o conceito de onipotência gera contradições que impossibilitam sua afirmação em qualquer discurso.


Sim, sem dúvida que o conceito de omnipotência gera paradoxos; mas esses paradoxos não invalidam completamente a possibilidade de existir omnipotência pura e simples.

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(I)Se pode existir uma pedra que Deus não pode levantar(x), entao ele não pode fazer tudo(-y).
(II)Se Deus pode fazer tudo(y), então ele pode criar tal pedra(z).
(III)Se ele pode criar tal pedra(z), então tal pedra pode existir(x).

De acordo com uma certa concepção de deus, eu identifico essa pedra, como sendo o próprio universo. Se tudo o que existe foi criado por deus, então como poderia existir uma pedra criada por deus, que deus não pudesse levantar :?: :|

Para mim é óbvio, que num contexto desse modo de ser divino, a existência do universo é de facto uma evidência de omnipotência.

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Conclusão derivada das proposições: se Deus pode fazer tudo(y), então ele não pode fazer tudo(-y). A alegação de onipotência é impossível de ser sustentada em seus próprios termos.

Para mim, é evidente, que se está a tentar dar um “xeque-mate” indevido, em virtude do jogo de palavras, nesse silogismo ser uma obra de arte retórica, que é incompatível com a realidade.

Neste padrão divino, tenta-se anular uma capacidade divina, ou a própria divindade, justamente através da possibilidade de manifestar essa capacidade. Portanto os silogismos, apresentados, são actos de esperteza retórica e não encadeamentos lógicos, correspondentes a argumentos perfeitamente compatíveis com os factos.

Faz-me lembrar as paródias, feitas à proposição de Pármenides: há o ser, e não pode deixar de haver. Houve quem fez manobras silogísticas, para provar que o ser não existe.

É como uma metáfora muitíssimo vulgar que eu conheço: “Alguém gosta de viver e não tem medo da morte. Logo tem de se matar, ou passar o tempo a arriscar a vida, para demonstrar que não passa dum cobarde medroso”.
   
Se num determinado padrão divino, está estabelecido que deus é omnipotente, então existe contradição entre o conceito de deus e o de omnipotência. Mas se entretanto noutro padrão conceptivo diferente, deus e omnipotência, não tiverem nada a haver um com o outro, então podem perfeitamente coexistir, sem se contradizer.

Eu sou de opinião que existe omnipotência, porque sendo que há o ser universal e particular, em aparente oposição ao nada, então a existência da natureza universal, é uma demonstração dessa capacidade.

Agora em termos de concepções de deus, acredito que o melhor é escolher uma opinião que seja consistente com a realidade natural.

Ora quanto a mim, uma concepção inteiramente consistente com a realidade, é a que foi proposta por filósofos como Espinosa. Em que, o que se compreende como deus, é que se entende como natureza.
« Última modificação: 17 de Junho de 2009, 14:32:38 por lusitano »
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Bolsonaro neles

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #17 Online: 15 de Junho de 2009, 16:21:15 »
Texto altamente complexo. Observações objetivas:

1 - Seu teclado não têm acentos? Vc esqueceu todos eles.

2 - O amigo pretende provar que Deus não existe e logo a posição agnóstica deve se converter a ateísta?

Desculpe, embora o texto esteja bem estruturado, é complexo demais.

Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #18 Online: 16 de Junho de 2009, 15:40:45 »
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Todas as categorias onticas e/ou gnoseologicas imaginaveis tem necessariamente que ser - antes de qualquer outra coisa - entidades logicamente inteligiveis, i.e. cognosciveis pela racionalidade humana(nada de onipotencia e outros atributos desprovidos de significado logico). Por que? Porque se eu estou usando argumentos logicos para apreciar a plausibilidade de uma conjectura em mero ambito logico, entao eu nao posso questionar a aplicabilidade universal da Logica, sob pena de tornar meu discurso nonsense. Ou seja, se eu admito que o silogismo “nao funciona” ou “nao e suficiente”, entao eu nao posso sustentar objetivamente (e por meio de silogismos, obviamente) que ele “nao funciona” ou “nao e suficiente”. Por outro lado, se eu tentar “afirmar” tal coisa sem usar justamente os silogismos, entao o maximo que conseguirei e cuspir uma falacia(que nao e uma “afirmacao” de fato, mas tao somente um equivalente humano dos latidos e grunhidos dos animais) ao vento.

Se uma proposicao x se torna um “axioma” quando aquele que a nega precisa invariavelmente usa-la no exato momento da suposta negacao, entao o raciocinio logico e um axioma do Discurso e sua absoluta validade(“verdade”) nao pode ser questionada por ninguem, jamais, em hipotese alguma. O corolario disto e que a simples cogitacao da existencia de algo tal como o Metafisico(como sinonimo de algo nao submetido ao crivo da Logica) e insustentavel em seus proprios termos. Todas as formas de relativismo – inclusive o quantico –, por definicao, implicam em autocontradicao. Logo, qualquer um que pressuponha a simples possibilidade de que um Deus metafisico possa existir esta automaticamente se contradizendo.

Diferentemente dos logicos mais formalistas, eu nao vejo dicotomia entre proposicao e silogismo, mas sim entre premissa sustentavel e insustentavel. A premissa de que “nao existem verdades cognosciveis” e contraditoria e insustentavel, pois no momento em que eu a assumo eu ja estou afirmando algo com pretensoes de verdade. Entao, nao posso negar que exista pelo menos uma verdade cognoscivel. Se ha pelo menos uma verdade cognoscivel, entao a conseqüencia disto e que nao pode haver duas premissas sustentaveis que entrem em conflito entre si. Afinal, se esta ultima afirmacao nao fosse uma Verdade apoditicamente valida, haveria pelo menos duas “verdades”(Sim ou Nao) sobre sua validade como axioma. Se ha duas “verdades” validas, entao nao pode haver uma Verdade valida sobre haver duas “verdades” validas - o que nao faz sentido algum. Ou colocando de forma sintetica: pode-se abrir todas as portas do corredor, mas so se pode entrar por aquela cuja sala tenha chao solido... O paradoxo e um indicador de inconsistencia/erro em qualquer tese.

Abracos.

Os filósofos ao longo da história, teêm-se esforçado, em estar atentos à  observação dos contextos linguísticos e da correcta compreensão das palavras:
para que seja possível, construir sentenças e juízos verdadeiramente significativos, e não frases, sem sentido.

É por isso que existe uma diferença notável entre as palavras e a verdade;
uma coisa é a realidade e outra, o discurso mais ou menos bem elaborado, tentando descrevê-la. Creio que uma das funções da Filosofia, é a atenção crítica aos conteúdos verbais.

Por exemplo, nos escritos de filósofos como Platão e Aristóteles, nota-se esse formidável esforço, da pesquisa da verdade, ao analisar-se sistematicamente o modo de discursar duma pessoa.

As conversas de Sócrates, com outras pessoas, mostram bem esse problema. Uma pessoa deve estar com atenção ao que diz, para não incorrer inadvertidamente em contradicções lógicas. E daí a apologia de Sócrates. Poucas pessoas eram suficientemente filosóficas, para suportar, com dignidade intelectual, a dura atenção crítica à exposição verbal das suas opiniões pessoais.     




 
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Newman

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #19 Online: 16 de Junho de 2009, 20:33:28 »
Para mim, é evidente, que se está a tentar dar um “xeque-mate” indevido, em virtude do jogo de palavras, nesse silogismo ser uma obra de arte retórica, que é incompatível com a realidade.

Aristóteles provavelmente responderia algo assim: “parece-me evidente que simplesmente afirmar que [esse silogismo é uma tentativa de dar um ‘xeque-mate’ indevido e uma obra de arte retórica incompatível com a realidade] é uma tentativa de dar um ‘xeque-mate’ indevido e uma obra de arte retórica incompatível com a realidade.”

Neste padrão divino, tenta-se anular uma capacidade divina, ou a própria divindade, justamente através da possibilidade de manifestar essa capacidade.

Eu nunca disse que o meu propósito é anular a possibilidade de existência de uma “divindade”.

O propósito da minha argumentação é anular a possibilidade de existência de entidades conceitualmente ilógicas – acredito que isso inclui seres “onipotentes”, por exemplo. Lembro apenas que minha definição de onipotência é a mais óbvia possível: “poder absoluto”, i.e., “poder para fazer qualquer coisa”.

No mais, pode-se atribuir a idéia de “divindade” a absolutamente qualquer coisa - até mesmo a uma hierarquia de valores, como você próprio mencionou. Portanto, seria inútil tentar atribuir um significado “x” para a palavra “divindade”, e, tendo derrubado “x”, concluir que não existem “divindades”.

Mas, ao menos você compreende que “onipotência” enquanto “poder absoluto” é algo absurdo e sem sentido.

Portanto os silogismos, apresentados, são actos de esperteza retórica e não encadeamentos lógicos, correspondentes a argumentos perfeitamente compatíveis com os factos.

Perdão, mas isso me parece mais um ato de esperteza retórica do que um encadeamento lógico consistente.

É como uma metáfora muitíssimo vulgar que eu conheço: “Alguém gosta de viver e não tem medo da morte. Logo tem de se matar, ou passar o tempo a arriscar a vida, para demonstrar que não passa dum cobarde medroso”.

Novamente: não se trata de eu “pedir” a Deus para criar a pedra que ele não pode levantar apenas para me mostrar que ele pode fazer isso(até porque eu só pediria tal coisa se acreditasse que ele existe), mas sim de que o conceito de poder absoluto é irracional.
   
Se num determinado padrão divino, está estabelecido que deus é omnipotente, então existe contradição entre o conceito de deus e o de omnipotência. Mas se entretanto noutro padrão conceptivo diferente, deus e omnipotência, não tiverem nada a haver um com o outro, então podem perfeitamente coexistir, sem se contradizer.

Eu sou de opinião que existe omnipotência, porque sendo que há o ser universal e particular, em aparente oposição ao nada, então a existência da natureza universal, é uma demonstração dessa capacidade.

“O nada” é outro conceito relativista sem nexo algum, pois pressupõe automaticamente negar a existência da Lógica.

Se isso é verdade, então “o nada” é um conceito irracional. Sendo irracional, sua validade não pode ser sequer pressuposta. Se não pode ser sequer pressuposto, então não pode haver “o nada”.

Por outro lado, se isso não é verdade, então a Lógica existe. Se a Lógica existe, então não pode haver uma coisa como “o nada”.

De qualquer forma, não consigo compreender como a Lógica seria ”onipotente” apenas porque ela existiria em oposição ao “nada”. A afirmação de que [a somas das coisas existentes, por se contraporem “ao nada”, é “o tudo” e portanto, “onipotente”] na melhor das hipóteses, é um jogo de palavras. Na pior, um non sequitur.

Isso é verdade pelo simples fato de que eu não posso fazer tudo apenas porque existo. Só posso fazer o que for logicamente possivel.

Ora quanto a mim, uma concepção inteiramente consistente com a realidade, é a que foi proposta por filósofos como Espinosa. Em que, o que se compreende como deus, é que se entende como natureza.

Bem, você pode chamar der "Deus" o que quiser. Até mesmo o seu reflexo no espelho, se optar por uma concepção mais na linha do Feuerbach. Não sou eu que direi que você está errado.

Como eu disse desde o começo, meu argumento só se estende à idéia de um Deus como uma “entidade dotada de atributos desprovidos de significado lógico”.

Os filósofos ao longo da história, teêm-se esforçado, em estar atentos à  observação dos contextos linguísticos e da correcta compreensão das palavras: para que seja possível, construir sentenças e juízos verdadeiramente significativos, e não frases, sem sentido.


De minha parte, os filósofos racionalistas(crentes ou ateus), os quais levam a Epistemologia aristotélica até as últimas conseqüências, são os únicos que podem ser levados a sério.

Qualquer um que afirme coisas como “Só sei que nada sei” e “a Razão é escrava de nossas paixões” está, matematicamente falando, caindo em contradição. Ou então tentando fugir do ponto com "frases sem sentido".

As conversas de Sócrates, com outras pessoas, mostram bem esse problema. Uma pessoa deve estar com atenção ao que diz, para não incorrer inadvertidamente em contradicções lógicas. E daí a apologia de Sócrates. Poucas pessoas eram suficientemente filosóficas, para suportar, com dignidade intelectual, a dura atenção crítica à exposição verbal das suas opiniões pessoais.

Se isto foi uma indireta, não vejo como possa se aplicar a mim. Afinal, se expus a minha conjectura aqui foi justamente com o objetivo de submetê-la à crítica e tentar detectar possíveis inconsistências na minha abordagem - o que até o momento não detectei.
« Última modificação: 16 de Junho de 2009, 20:40:07 por Reaktionär »

Offline lusitano

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #20 Online: 17 de Junho de 2009, 13:33:54 »
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Reaktioñar:

Re: Um argumento contra o agnosticismo.

Antes de iniciar uma análise mais atenta do silogismo que você apresentou, eu desejo pedir-lhe as mais sinceras desculpas, para os eventuais mal entendidos, que inadvertidamente tenham surgido, no decorrer, da tentativa de analisar, ou refutar os seus textos.

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Paradoxalmente, o conceito de onipotência gera contradições que impossibilitam a sua afirmação em qualquer discurso.

Por alguma razão foi criada esta palavra… Que de certo modo, se associou a um dos muitos conceitos de deus. Entretanto concordo que significa poder absoluto, conforme foi verificado.

Se estamos a analisar a possibilidade de afirmar, que o conceito de omnipotência, pode ou não pode ter legitimidade, para ser empregue em qualquer discurso, então é indispensável averiguar, se no modelo de realidade mais objectivo, que se conhece empiricamente - o universo cósmico natural – existem poderes tais, que pela sua evidência, justifiquem a existência desse conceito e da coerência lógica, de se poder aplicá-lo “em qualquer discurso…”

Na minha opinião – dentro dos limites da minha capacidade intelectual – eu apercebo-me que os estudiosos que estudam o cosmos, me dizem que o universo, possivelmente é um poder absoluto.

Se como você demonstrou, o nada é uma nulidade lógica, então o universo sempre existiu; evidentemente, que num sistema de transformações constantes. Então se sempre existiu, obviamente presentemente existe! Logo, se é actualmente existente, porque sempre existiu, portanto, parece-me razoavelmente lógico inferir, que sempre existirá…

Ora, perante a forma como eu estou a desenvolver o meu juízo e a encadear a progressão silogística, parece-me lógico e legítimo, introduzir a palavra omnipotência no meu discurso.

Legitimamente, ou não, alguém começou a associar a palavra omnipotência, à palavra deus. Apesar dessa palavra sugerir, as mais controversas significações.

À luz de determinado padrão divino, abaixo proposto, está apresentado um silogismo, de aparência impecável:

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(I) (-y). Se pode existir uma pedra que Deus não pode levantar(x), entao ele não pode fazer tudo

(II)Se Deus pode fazer tudo(y), então ele pode criar tal pedra(z).

(III)Se ele pode criar tal pedra(z), então tal pedra pode existir(x).

(I) Se pode existir uma pedra que Deus não pode levantar(x), entao ele não pode fazer tudo:

Porque razão pode existir uma pedra que deus, eventualmente não pode levantar? Neste padrão divino, não é tácito, admitir que se alguma coisa existe, é porque deus a criou?

Quem criou este silogismo, aparentemente, está a propor, que provavelmente, deus ainda não criou tudo o que é suposto necessário existir.

Então eu posso inferir, que o autor duvida que o universo, como obra divina, esteja terminado. Uma vez, que provavelmente, ainda poderá existir, ou não, uma pedra, que hipoteticamente, poderá ser impossível de ser levantada, pelo próprio criador.

Em minha opinião, o autor do silogismo, deve ter tido um bom motivo, para colocar tal dificuldade. Apesar de não ter maneira nenhuma de testemunhar eficazmente, todas as particularidades e generalidades universais, em termos empíricos… Todavia, mesmo assim, decidiu aventar a hipótese, de se calhar, falta criar uma pedra impossível de ser levantada, pelo supremo arquitecto do universo :!: :?: :!:
 
(II)Se Deus pode fazer tudo(y), então ele pode criar tal pedra(z).

Portanto, tal pedra - tem possibilidades de existir - porque ele tem capacidade de a criar; isto para o caso verificável, de ela ainda não existir.

(III)Se ele pode criar tal pedra(z), então tal pedra pode existir(x).

Evidentemente, que tal pedra pode existir! Dado que no presente padrão divino, uma das atribuições de deus, é justamente tudo poder! Portanto, é paradoxal em termos lógicos, ter-se criado a suposição que esse facto, eventualmente, pudesse ser impossível…  
 
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Conclusão derivada das proposições: se Deus pode fazer tudo(y), então ele não pode fazer tudo (-y).

A alegação de onipotência é impossível de ser sustentada em seus próprios termos.

Você acredita mesmo, que a conclusão acima estabelecida, é impecavelmente lógica? Não se trata do famoso, "non sequitur"?

Mesmo que na aparência seja razoavelmente lógica, o que você entretanto nega, entendo eu, não é a omnipotência em si… Mas a legitimidade de empregar essa palavra, num discurso qualquer que seja.

De facto eu compreendo que há uma diferença, fantástica entre omnipotência e o conceito de omnipotência.

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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

Para mim, é evidente, que se está a tentar dar um “xeque-mate” indevido, em virtude do jogo de palavras, nesse silogismo ser uma obra de arte retórica, que é incompatível com a realidade.

Aristóteles provavelmente responderia algo assim: “parece-me evidente que simplesmente afirmar que [esse silogismo é uma tentativa de dar um ‘xeque-mate’ indevido e uma obra de arte retórica incompatível com a realidade] é uma tentativa de dar um ‘xeque-mate’ indevido e uma obra de arte retórica incompatível com a realidade.”

Inteiramente de acordo!

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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

Neste padrão divino, tenta-se anular uma capacidade divina, ou a própria divindade, justamente através da possibilidade de manifestar essa capacidade.

Eu nunca disse que o meu propósito é anular a possibilidade de existência de uma “divindade”.

Na minha opinião os mal entendidos estão sempre à espreita.

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O propósito da minha argumentação é anular a possibilidade de existência de entidades conceitualmente ilógicas – acredito que isso inclui seres “onipotentes”, por exemplo. Lembro apenas que minha definição de onipotência é a mais óbvia possível: “poder absoluto”, i.e., “poder para fazer qualquer coisa”.

Sim, de facto a sua definição de omnipotência, parece-me absolutamente plausível e eu concordo com ela. Mas não percebo, como é que você consegue acreditar, que em sua opinião, demonstra, que consegue anular a existência de entidades conceptualmente “ilógicas”... :?:

O que eu estou em crer – é que me parece – que você afirma demonstrar, que é inadmissível, que alguém tenha o atrevimento de empregar o conceito de omnipotência, num discurso qualquer que seja.

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No mais, pode-se atribuir a idéia de “divindade” a absolutamente qualquer coisa - até mesmo a uma hierarquia de valores, como você próprio mencionou. Portanto, seria inútil tentar atribuir um significado “x” para a palavra “divindade”, e, tendo derrubado “x”, concluir que não existem “divindades”.

Perdão – estou quase completamente de acordo consigo – se conseguir ter primeiro a certeza, que o estou a compreender perfeitamente… Ou há deuses - ou não há – mas se há, são tão poderosos como eu ou mais, ou então são ominipotentes…

Eu não me sinto omnipotente, apesar de pertencer a uma espécie divina... Isto porque me foi dito, que sou uma imagem e semelhança de deus. Além de César, ter sido promovido a divindade, por unanimidade senatorial.

Entretanto, eu apenas sou uma infinitésima fracção da Humanidade. Claro, que eu não posso afirmar que ela é omnipotente; mas concerteza, que comparada comigo, é muitíssimo potente.

Portanto à escala local temos uma divindade, de potência duvidosa, que todavia é deus, por definição de divinismo comparado. Uma vez que aparentemente pode(m) existir deus(es) destituído(s) de qualquer adjectivo(s), extraordinário(s), além das capacidade naturais da Humanidade comum, individualmente ou em grupo.

Agora só nos falta compreender, se faz sentido admitir a possibilidade, que de facto você demonstrou empiricamente e não por palavras, se efectivamente anulou, a possibilidade fantástica, de existir um poder absoluto, inteiramente destituído de deuses…

Pelas minhas conjecturas anteriores, sou de opinião, que não!
Como eu anteriormente lhe disse – a natureza cósmica universal – existe; logo em minha opinião, é absolutamente poderosa.

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Mas, ao menos você compreende que “onipotência” enquanto “poder absoluto” é algo absurdo e sem sentido.

Sinto desiludi-lo; para mim, o “poder absoluto”, é algo que faz todo o sentido.

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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

Portanto os silogismos, apresentados, são actos de esperteza retórica e não encadeamentos lógicos, correspondentes a argumentos perfeitamente compatíveis com os factos.

Perdão, mas isso me parece mais um ato de esperteza retórica do que um encadeamento lógico consistente.

Estamos portanto, perante um impasse (i)lógico…

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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

É como uma metáfora muitíssimo vulgar que eu conheço: “Alguém gosta de viver e não tem medo da morte. Logo tem de se matar, ou passar o tempo a arriscar a vida, para demonstrar que não passa dum cobarde medroso”.

Novamente: não se trata de eu “pedir” a Deus para criar a pedra que ele não pode levantar apenas para me mostrar que ele pode fazer isso(até porque eu só pediria tal coisa se acreditasse que ele existe), mas sim de que o conceito de poder absoluto é irracional.

Isso, será rigorosamente verdadeiro, se o conceito de poder absoluto e a realidade em si, forem eventualmente coincidentes. E como já foi confirmado, conceitos, são simplesmente palavras…
 
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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

Se num determinado padrão divino, está estabelecido que deus é omnipotente, então existe contradição entre o conceito de deus e o de omnipotência. Mas se entretanto noutro padrão conceptivo diferente, deus e omnipotência, não tiverem nada a haver um com o outro, então podem perfeitamente coexistir, sem se contradizer.

Eu sou de opinião que existe omnipotência, porque sendo que há o ser universal e particular, em aparente oposição ao nada, então a existência da natureza universal, é uma demonstração dessa capacidade.

“O nada” é outro conceito relativista sem nexo algum, pois pressupõe automaticamente negar a existência da Lógica.

Se isso é verdade, então “o nada” é um conceito irracional. Sendo irracional, sua validade não pode ser sequer pressuposta. Se não pode ser sequer pressuposto, então não pode haver “o nada”.

Por outro lado, se isso não é verdade, então a Lógica existe. Se a Lógica existe, então não pode haver uma coisa como “o nada”.

Estou no mais absoluto acordo!

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De qualquer forma, não consigo compreender como a Lógica seria ”onipotente”, apenas porque ela existiria em oposição ao “nada”.


Sem dúvida, que estou de acordo, que a lógica, de modo nenhum é omnipotente…

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A afirmação de que [a somas das coisas existentes, por se contraporem “ao nada”, é “o tudo” e portanto, “onipotente”] na melhor das hipóteses, é um jogo de palavras. Na pior, um non sequitur.

Parece-me ter dito, que tendo eu admitido que o nada é uma nulidade lógica e conceptual, portanto só o ser universal, cósmico e natural existe! Logo a sua existência, é um poder absoluto.

Também considero lógica a definição que o universo, é o conjunto de todas as coisas existentes, conhecidas e desconhecidas.

Bem - pode ser que ainda não exista tudo – Na medida em se calhar, ainda falta criar uma pedra ou mais, absolutamente impossível(is) de se(rem) levantar(das), ou pelos próprios meios, ou por intermédio de outrem.

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Isso é verdade pelo simples fato de que eu não posso fazer tudo apenas porque existo. Só posso fazer o que for logicamente possivel.

Acredito piamente no que diz. Afinal você, é somente, uma infinitésima partícula da natureza universal, logo, é absolutamente lógico que seja tão limitado quanto eu…
 
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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

Ora quanto a mim, uma concepção inteiramente consistente com a realidade, é a que foi proposta por filósofos como Espinosa. Em que, o que se compreende como deus, é que se entende como natureza.

Bem, você pode chamar der "Deus" o que quiser. Até mesmo o seu reflexo no espelho, se optar por uma concepção mais na linha do Feuerbach. Não sou eu que direi que você está errado.

Como eu disse desde o começo, meu argumento só se estende à idéia de um Deus como uma “entidade dotada de atributos desprovidos de significado lógico”.

Então – estamos inteiramente de acordo – você, não está mesmo a refutar a existência de deus. Apenas está a refutar, determinadas concepções ilógicas de deus.

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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

Os filósofos ao longo da história, teêm-se esforçado, em estar atentos à  observação dos contextos linguísticos e da correcta compreensão das palavras: para que seja possível, construir sentenças e juízos verdadeiramente significativos, e não frases, sem sentido.

De minha parte, os filósofos racionalistas (crentes ou ateus), os quais levam a Epistemologia aristotélica até as últimas conseqüências, são os únicos que podem ser levados a sério.

Qualquer um que afirme coisas como “Só sei que nada sei” e “a Razão é escrava de nossas paixões” está, matematicamente falando, caindo em contradição. Ou então tentando fugir do ponto com "frases sem sentido".

De acordo: Platão admoestou severamente, essa atitude socrática, como um absoluto contra-senso.

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Citação de: lusitano  em  Ontem às 15:21:36

As conversas de Sócrates, com outras pessoas, mostram bem esse problema. Uma pessoa deve estar com atenção ao que diz, para não incorrer inadvertidamente em contradicções lógicas. E daí a apologia de Sócrates. Poucas pessoas eram suficientemente filosóficas, para suportar, com dignidade intelectual, a dura atenção crítica à exposição verbal das suas opiniões pessoais.


Se isto foi uma indireta, não vejo como possa se aplicar a mim. Afinal, se expus a minha conjectura aqui foi justamente com o objetivo de submetê-la à crítica e tentar detectar possíveis inconsistências na minha abordagem - o que até o momento não detectei.

Peço-lhe desculpa se lhe causei essa impressão: Quanto a mim, você é um óptimo argumentador! :ok: Eu, é que não concordo totalmente consigo. :)  :idea:





« Última modificação: 17 de Junho de 2009, 14:34:02 por lusitano »
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Mr. Mustard

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Re: Um argumento contra o agnosticismo.
« Resposta #21 Online: 26 de Junho de 2009, 12:43:09 »
Citar Olavo de Carvalho invalida qualquer argumento.

 

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