Autor Tópico: Hong Kong ainda resiste à censura, 20 anos após confrontos em Pequim  (Lida 378 vezes)

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Hong Kong ainda resiste à censura, 20 anos após confrontos em Pequim

Passados 20 anos dos protestos da Praça da Paz Celestial em Pequim, Hong Kong se esforça para não ceder à censura pró-comunista.

A ilha ao sul da China, que é ex-colônia britânica e passou ao comando de Pequim em 1997, abriga ainda hoje as vozes e movimentos críticos ao Partido Comunista, embora enfrente cada vez mais censura.

Hong Kong é o único lugar da China onde o aniversário de 20 anos dos confrontos da Praça da Paz Celestial está sendo comemorado e abertamente discutido.

O governo, porém, barrou a entrada de dissidentes que vinham à Região de Administração Especial participar dos eventos comemorativos à data.

Tradição de liberdade

Hong Kong tem a tradição de ser o lugar mais livre da China, pois Pequim não pode censurar o conteúdo que é veiculado pela imprensa local.

Comandado pelo Reino Unido até 1997, o território foi devolvido aos chineses sob a condição de que, por 50 anos, as liberdades individuais fossem respeitadas como é previsto pela lei britânica .

Por causa desse acordo, a imprensa de Hong Kong não precisa responder ao ministério da Propaganda, que regula as notícias publicadas na China.

Os livros didáticos da região autônoma também não suprimem o episódio da Praça da Paz Celestial, que é tabu nas escolas do governo comunista.

Nesse meio, o debate sobre os 20 anos dos confrontos entre estudantes e governo está muito vivo e tem dominado as páginas dos jornais.

Protesto

No domingo, uma passeata reunindo cerca de oito mil pessoas deu início às comemorações dos 20 anos do episódio da Praça da Paz Celestial.

Os manifestantes pediam que o governo chinês liberte dissidentes pró-democracia e reconheça as centenas e mortes ocorridas durante o confronto de 1989.

Até hoje não foi divulgado o número de vítimas fatais, mas estima-se que os combates tenham deixado entre 200 e três mil mortos como saldo.

Todos os anos o movimento democrático Aliança de Hong Kong em apoio aos Movimentos Patrióticos Democráticos da China organiza uma vigília à luz de velas no parque Victória na noite de 4 de junho para relembrar o episódio.

Neste ano, membros da Federação Estudantil de Hong Kong se juntaram ao movimento e estão fazendo uma greve de fome de 64 horas para simbolizar a insatisfação da juventude com o governo de Pequim por não relembrar os eventos de 1989.

"Há uma onda de idealismo e luta por democracia em Hong Kong", disse à BBC Brasil Cheuk-yan Lee membro do conselho legislativo local e dissidente do movimento estudantil da Praça da Paz Celestial.

Censura

Mas apesar de permitir os protestos pró-democracia, o governo de Hong Kong acabou cedendo, em parte, à forte pressão exercida por Pequim.

No fim-de-semana o escultor dinamarquês Jens Galschiot foi barrado pela polícia de imigração ao tentar entrar na cidade.

O artista que esculpiu a obra "Pilar da Vergonha", exposta em um campus universitário local, pretendia participar das manifestações e entregaria uma nova peça de contestação ao Conselho Legislativo.

"Eu acredito que um incidente como esse machuca a reputação de Hong Kong, isso não deveria acontecer aqui", disse Jens em um comunicado público divulgado por seus filhos, que conseguiram passar a fronteira.

Na terça-feira, Xiang Xiaoji, conhecido dissidente e ex-líder do movimento estudantil de 1989, também foi barrado.

Xiang foi obrigado a embarcar contra a vontade própria em um voo retornando a Nova York apenas quatro horas depois de chegar na China.

"Foi uma decisão errada proibir a minha entrada", lamentou Xiang ao jornal South China Morning Post.

A policia de imigração, entretanto, permitiu que outro ex-líder estudantil Xiong Yan, que tem passaporte americano, entrasse na cidade no domingo.

Xiong está na lista de 21 dissidentes mais procurados pelo governo comunista. Ele vivem no Alabama e trabalha no Exército americano, ao qual serviu em 2004 na guerra do Iraque.

Xiong participou da passeata deste domingo e disse à imprensa local que "o espírito pela busca da verdade, de liberdade (...) não morreu. É o espírito de democracia de 1989 que está aqui".

Pressão

A sensação de que o governo local está cedendo às pressões de Pequim tem crescido desde que o governador da Região de Administração Especial afirmou que o episódio da Praça da Paz Celestial deveria ser avaliado no contexto do crescimento econômico proporcionado pela liderança comunista.

"O tempo passou", disse Donald Tsang, secretário-executivo da província de Hong Kong, há cerca de um mês atrás em discurso no Conselho Legislativo.

"O incidente aconteceu há muito tempo e nosso país alcançou marcante sucesso em diversas áreas. O país progrediu e eu tenho certeza (...) que muitas pessoas concordam com o meu julgamento", afirmou Tsang.

Os comentários de Tsang fizeram com que a ala democrata abandonasse o plenário legislativo durante o discurso e despertaram a ira popular.

Após ouvir criticas dos legisladores e cidadãos Tsang se desculpou dizendo que o comentário foi "um ato falho".

Apesar de sofrer pressões internas e externas para ceder à censura pró-comunista, Hong Kong segue sendo uma importante referência de dissidência chinesa.

"Mesmo sendo um lugar pequeno, Hong Kong ainda é o farol da liberdade da China", afirmou Xiang Xiao, o ativista que foi barrado pelas autoridades de imigração.

"Hoje estamos construindo uma democracia sólida", afirmou com otimismo à BBC Brasil o dissidente Han Dongfang, que vive em Hong Kong.

Protestos

Os protestos da Praça da Paz Celestial começaram em meados de abril de 1989, após a morte de Hu Yaobang, um oficial do Partido Comunista que era visto pelos estudantes e trabalhadores como símbolo da abertura e reforma da China.

Nas semanas que se seguiram ao funeral de Hu, estudantes e populares ocuparam a Praça no centro de Pequim reivindicando mudanças que acelerariam a adoção de democracia e que poderiam levar à desestabilização do Partido Comunista.

Inicialmente o governo chinês tentou negociar com os manifestantes, mas mudou de posição ao perceber que sua liderança poderia ser comprometida.

O grupo reunido na praça desafiou as ordens do governo de desocupar o local e as Forças Armadas foram chamadas para expulsar os manifestantes.

O confronto resultante foi imortalizado pela imagem de um jovem se colocando em frente a uma fileira de tanques militares, na tentativa de impedir o combate.

Até hoje não se sabe a identidade e o destino desse jovem, nem o total de manifestantes mortos.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090603_pazcelestialwentzel.shtml

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Re: Hong Kong ainda resiste à censura, 20 anos após confrontos em Pequim
« Resposta #1 Online: 03 de Junho de 2009, 20:54:53 »
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China bloqueia sites às vésperas de aniversário de repressão a protestos

Às vésperas do aniversário de 20 anos, na próxima quinta-feira, da repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial, em Pequim, a China bloqueou o acesso a uma série de sites.

Usuários na China não conseguem acessar sites de relacionamento social como o Twitter, contas do Hotmail ou sites de fotos como o Flickr.

O correspondente da BBC em Pequim, James Reynolds, diz que - à medida que o aniversário se aproxima - o governo chinês se demonstra empenhado em garantir que o "incidente de 4 de junho" não seja mencionado.

A China costuma proibir discussões sobre os eventos de 4 de junho de 1989, quando o Exército pôs fim, de forma violenta, a semanas de protestos que exigiam mais democracia no país.

Símbolo

Estima-se que centenas de pessoas morreram na repressão aos protestos, mas a China nunca divulgou o número oficial de mortos do que diz ter sido um movimento contrarrevolucionário.

Em 1989, inúmeros estudantes e populares ocuparam a praça no centro de Pequim para reivindicar mudanças democráticas.

O governo chegou a negociar com os estudantes, mas mudou de posição por temer que sua liderança pudesse ser comprometida e entrou em confronto com os manifestantes.

A imagem de um manifestante, até hoje anônimo, tentando conter o avanço de tanques circulou o mundo e se tornou um símbolo do episódio.

A ONG de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional afirma que até 200 pessoas permanecem presas por causa dos eventos de 1989.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090602_china_rc.shtml
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Vinte anos após protestos, juventude chinesa quer sucesso e dinheiro


A universitária Xiao Dong diz que a prioridade dela é ficar rica

Passados 20 anos dos protestos pró-democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim, a atual juventude chinesa demonstra ainda sonhar com liberdade, mas prioriza o sucesso profissional e a riqueza pessoal.

A tendência foi apontada por estudantes e dissidentes entrevistados pela BBC Brasil.

Fluente em inglês, Xiao Dong* é uma típica universitária da capital.

Formando-se em marketing pela Universidade de Pequim, Xiao acredita que pode e deve ajudar a China a ser um país melhor, mas não agindo da mesma maneira que estudantes há 20 anos.

"Minha prioridade é ficar rica. Vou trabalhar numa das 500 maiores companhia do mundo e depois quero montar meu próprio negócio, este é o meu objetivo e senso de conquista maior", diz Xiao.

Ela, assim como muitos estudantes de nível superior do país, acredita que a melhor forma de contribuir para fazer da China um país melhor é tornar-se rica e profissionalmente bem sucedida.

"Nós pensamos que nossa família é mais importante, nosso trabalho é mais importante, do que ficar protestando", explica Dao Zhu*, bacharel em sociologia com ênfase em relações internacionais.

"Nós aprendemos as lições de 1989, hoje sabemos que é perigoso lidar com questões políticas", diz Dao.

A geração que foi apelidada pela imprensa internacional de "geração Eu", por colocar ambições pessoais em primeiro plano, não tem vergonha de afirmar suas metas individuais e acredita que enfrentar o governo com protestos é perda de tempo.

Superficiais

Os jovens discordam, porém, da percepção ocidental de que eles sejam "superficiais".


Hin Yan (dir.) quer criar uma fundação para melhorar o ensino fundamental

A geração de hoje aproveita a prosperidade econômica para buscar conhecimento e se articular silenciosamente em prol da liberdade, dizem os estudantes e dissidentes ouvidos pela BBC Brasil.

"Primeiro eu quero encontrar um trabalho e então daqui a 10 anos eu vou montar uma fundação para mudar o ensino básico na China" explica Hin Yan*, estudante da Universidade de Pequim.

Assim como os outros jovens entrevistados, Hin sabe o que aconteceu na Praça da Paz Celestial em 1989, embora o assunto seja tabu nas escolas do país.

"Aprendemos conversando com nossos pais e professores", conta Hin.

A fundação que ela pretende montar buscará revisar o conteúdo dos livros didáticos. Hin quer "fazer a diferença ajudando na educação fundamental".

Nas escolas elementares os professores "não encorajam o pensamento crítico independente", diz. "Os livros didáticos são controlados pelo governo", reconhece.

Iniciativas como a de Hin, que pretendem mudar o sistema de dentro pra fora, não são exceção.

"Quem quer lidar com política entra para o governo, se alia a ele, ao invés de se opor", resume Dao.

Concretos

"Os jovens de hoje são concretos", afirmou à BBC Brasil Han Dongfang, um dos líderes do movimento de 89, que hoje vive exilado em Hong Kong de onde advoga pelos direitos dos trabalhadores na China.

"Na nossa época nós não fazíamos ideia sobre como conectar interesses pessoais com direitos democráticos", recorda Han.

"Eu os invejo porque suas experiências pessoais permitem que conectem a ideia maior de democracia com a vida cotidiana deles", disse Han.

De acordo com o dissidente, as formas de construir uma China democrática não se resumem aos protestos de 1989 e atualmente o país está caminhando em direção à abertura porque a criação de prosperidade traz inevitavelmente o questionamento e o desejo por liberdade.

Ele acredita que a juventude de hoje está construindo uma sociedade mais esclarecida e que isso é pré-requisito para mudanças reais.

"O movimento das massas nas ruas sem a construção de uma sociedade civil não é confiável", disse.

Lavagem Cerebral

"Na superfície pode parecer que os jovens não se interessam tanto por democracia e liberdade, mas isso é resultado de 20 anos de lavagem cerebral promovida pelo Partido Comunista", disse à BBC Brasil Cheuk-yan Lee membro do conselho legislativo de Hong Kong.

Lee participou dos protestos na Praça da Paz Celestial em 1989 e é também membro da aliança pró-democrática "Aliança de Hong Kong em apoio aos Movimentos Patrióticos Democráticos da China" que organiza anualmente protestos marcando o aniversário dos confrontos.

"A liberdade ainda está dentro dos corações dos estudantes de hoje" diz Lee, "se lhes for dada a oportunidade, eles irão se mobilizar para lutar por democracia", afirma.

O veterano ativista está otimista com a juventude de 2009 e disse que "tem fé" neles.

"Atrás do pragmatismo sempre há uma onda de estudantes com ideais que irá demandar democracia", afirma com convicção Lee.

"É só uma questão de tempo", conclui.

Na noite de 4 de junho, uma vigília à luz de velas no parque Victória deverá marcar o exato momento em que forças do governo e estudantes entraram em combate na Praça da Paz Celestial há 20 anos.

Em 1989 inúmeros estudantes e populares ocuparam a Praça no centro de Pequim reivindicando mudanças democráticas.

O governo chegou a negociar com os estudantes, mas mudou de posição por temer que sua liderança puidesse ser comprometida e entrou em confronto com os manifestantes.

O episódio foi imortalizado pela imagem de um jovem se colocando em frente a uma fileira de tanques militares, na tentativa de impedir o combate.

Até hoje não é sabida a identidade e o destino desse jovem.

*Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090602_chinaestudanteswentzel.shtml

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Re: Hong Kong ainda resiste à censura, 20 anos após confrontos em Pequim
« Resposta #2 Online: 06 de Junho de 2009, 02:50:42 »
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China se diz 'insatisfeita' com críticas de Hillary

O governo da China disse estar "muito insatisfeito" com as críticas feitas pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, sobre a violenta repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial, há exatamente 20 anos em Pequim.

Hillary havia pedido para a China divulgar os nomes dos manifestantes mortos e desaparecidos na ocasião. Até hoje não se sabe quantas foram as vítimas, e é proibido discutir o assunto no país.

"A mesma China que fez um enorme progresso econômico e está emergindo para tomar seu lugar de direito na liderança mundial deveria examinar abertamente os eventos negros de seu passado", disse a secretária americana em um comunicado divulgado na quarta-feira.

Mas o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Qin Gang, afirmou que os comentários de Hillary são "acusações sem fundamento" contra o governo da China.

'Linha dura'

Em seu comunicado, a secretária americana disse que os 20 anos dos confrontos entre estudantes e o Exército chinês na Praça da Paz Celestial são uma oportunidade para a China "refletir sobre o significado do que ocorreu naquele dia".

"A China pode honrar a memória daquele dia dando a mesma prioridade ao cumprimento de leis, à proteção dos direitos humanos reconhecidos internacionalmente e ao desenvolvimento democrático, que deu à sua reforma econômica", acrescentou Hillary.

Segundo a correspondente da BBC em Washington Kim Ghattas, as declarações da secretária representam uma linha mais dura do que o governo Obama havia adotado até o momento quando se referia às questões de direitos humanos na China.

No início de seu mandato, Hillary chegou a dizer que a questão dos direitos humanos não deveria interferir nas discussões com a China sobre outros assuntos, como as mudanças climáticas e as relações com a Coreia do Norte.

Policiamento

Além de Hillary, o secretário de Relações Exteriores britânico, David Miliband, também fez críticas ao governo chinês em relação ao episódio da Praça da Paz Celestial.

"Desde a repressão aos protestos, os avanços na área de direitos políticos e civis têm sido bem mais lentos do que na área dos direitos econômicos e sociais", afirmou.

Nesta quinta-feira, policiais uniformizados e à paisana reforçam a segurança em torno da praça, e estão impedindo o acesso de jornalistas estrangeiros ao local.

Muitos dissidentes afirmaram ter recebido ordens para sair de Pequim ou não deixarem suas casas, e outros policiais foram posicionados nas portas das universidades para impedir qualquer evento para marcar a data.

O Partido Comunista Chinês nunca realizou uma investigação oficial sobre ocorreu há 20 anos.

Os protestos na Praça da Paz Celestial começaram na primavera de 1989, com estudantes pedindo maior abertura democrática e medidas anti-corrupção.

Depois de semanas de manifestações, tropas do Exército invadiram o local e se confrontaram com os jovens, na madrugada do dia 3 para o dia 4 de junho de 1989.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090604_chinahillaryml.shtml
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Vigília em Hong Kong reúne 100 mil para lembrar protestos em Pequim

Cerca de cem mil pessoas se reuniram nesta quinta-feira no Parque Victoria, em Hong Kong, para lembrar os 20 anos da violenta repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial.

A vigília à luz de velas em Hong Kong foi o único evento realizado na China para lembrar os acontecimentos de 1989.

Correspondentes dizem que a vigília é realizada anualmente, mas o evento atraiu uma multidão muito maior neste ano.

O número de pessoas foi tão grande que algumas das ruas mais movimentadas da cidade tiveram que ser fechadas.

Censura

Hong Kong é o único lugar da China onde o aniversário de 20 anos dos confrontos da Praça da Paz Celestial é lembrado e discutido abertamente.

O governo, porém, barrou a entrada de dissidentes que viajariam a Hong Kong para participar dos eventos de lembrança da data.

Hong Kong tem a tradição de ser o lugar mais livre da China porque Pequim não pode censurar o conteúdo que é veiculado pela imprensa local.

Comandado pela Grã-Bretanha até 1997, o território foi devolvido aos chineses sob a condição de que, por 50 anos, as liberdades individuais fossem respeitadas como determina a lei britânica.

Por causa desse acordo, a imprensa de Hong Kong não precisa responder ao Ministério da Propaganda, que regula as notícias publicadas na China.

Os livros didáticos da região autônoma também não suprimem o episódio da Praça da Paz Celestial, que é tabu nas escolas do governo comunista.

Em Hong Kong, o debate sobre os 20 anos dos confrontos entre estudantes e governo está muito vivo e tem dominado as páginas dos jornais.

Na capital chinesa, a polícia impediu o acesso à Praça Celestial, para impedir eventuais manifestações.

Dissidentes disseram ter recebido a recomendação de deixar Pequim às vésperas do aniversário. Correspondentes dizem que policiais à paisana vigiam possíveis manifestações em universidades.

1989

Em 1989, inúmeros estudantes e populares ocuparam a praça no centro de Pequim para reivindicar mudanças democráticas.

O governo chegou a negociar com os estudantes, mas mudou de posição por temer que sua liderança pudesse ser comprometida e entrou em confronto com os manifestantes.

A imagem de um manifestante, até hoje anônimo, tentando conter o avanço de tanques circulou o mundo e se tornou um símbolo do episódio.

A ONG de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional afirma que até 200 pessoas permanecem presas por causa dos eventos de 1989.

Estima-se que centenas de pessoas morreram na repressão aos protestos, mas a China nunca divulgou o número oficial de mortos do que diz ter sido um movimento contrarrevolucionário.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090604_china_rc.shtml

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Re: Hong Kong ainda resiste à censura, 20 anos após confrontos em Pequim
« Resposta #3 Online: 06 de Junho de 2009, 04:19:20 »
China quer evitar nova 'Praça da Paz Celestial' criando prosperidade

Em meio à crise econômica mundial, a China tenta garantir crescimento de pelo menos 8% da economia para evitar que uma inquietação social gere protestos como os da Praça da Paz Celestial em 1989.

O movimento de 20 anos atrás é conhecido por ter sido liderado pela elite estudantil pró-democracia da China, mas os protestos se fortaleceram porque contaram com a participação de trabalhadores e desempregados.

Além de protestar por liberdade e contra corrupção, os manifestantes também reclamava da inflação no preço dos alimentos e reivindicavam melhores salários e moradia.

Em 1989, a China passava por uma época de reforma e abertura econômica que teve início em 1978 com a liderança de Deng Xiaoping, após a morte de Mao Tsé-tung em 1976.

Boa parte da população de 1,1 bilhão de 1989 estava frustrada com o ritmo das mudanças, que criaram um crescente desequilíbrio entre ricos e pobres e causaram inflação e uma economia superaquecida, que enfrentou fortes medidas de resfriamento naquele ano, segundo artigos do acadêmico David Shambaugh.

Em 1987, os preços ao consumidor aumentaram 7,3% e em 1988 a inflação saltou para 18,5%, chegando a 28% somente no primeiro trimestre de 1989, de acordo com Dingxing Zhao no livro The Power of Tianamen ("A Força da Praça da Paz Celestial", em tradução livre).

Segundo o autor, muitos chineses acreditavam que os números eram na verdade ainda mais altos e o governo comunista "maquiava" as estatísticas.

"Não tínhamos nada a perder, por isso protestávamos", disse à BBC Brasil Han Dongfang, dissidente que mora em Hong Kong e participou das manifestações em 1989.

Prosperidade

De acordo com os dissidentes ouvidos pela BBC Brasil, a China aprendeu a lição de que insatisfação econômica gera inquietação social e por isso a criação de prosperidade é fundamental para a permanência do Partido Comunista no poder.

Para este ano, por exemplo, o governo estabeleceu a meta de crescimento de 8% e está investindo US$ 580 bilhões na economia a fim de garantir que a crise internacional não gere ondas de demissões em massa capazes de abalar a estabilidade da liderança comunista.

As medidas econômicas pragmáticas não evitaram, porém, que até o momento 20 milhões operários ficassem desempregados, segundo números oficiais.

Alguns dissidentes afirmaram que a mobilização pró-democracia de hoje se fundamenta justamente nesse grupo de chineses, que migram do interior para a costa em busca de trabalho nas indústrias manufatureiras exportadoras.

Esses trabalhadores não recebem apoio da rede social nas cidades, pois não têm direito a residência permanente, ao mesmo tempo em que sofrem abusos de patrões que os escravizam ou não pagam os salários.

Segundo levantamento do China Labour Bulletin, uma publicação independente do governo, no ano passado o número de processos trabalhistas na China praticamente dobrou. Somente na cidade de Xiamen, no sul, os litígios passaram de 3327 para 8313.

Apesar de na maioria das vezes os confrontos entre trabalhadores e empregadores não recebem cobertura da imprensa estatal, ONGs registram diversos episódios.

Próximo a cidade de Wuhan, atualmente 15 trabalhadores estão há mais de um ano sem receber pagamento e seguem protestando, segundo a China Labour Bulletin.

Em dezembro milhares de trabalhadores entraram em confronto com a policia no distrito de Minxing, em Xangai, após serem demitidos, de acordo com o Centro para Direitos Humanos, uma ONG de Hong Kong.

"Essas pessoas estão lutando de uma forma mais concreta, pois se organizam para fazer manifestações contra confisco, por melhora nos salários, é uma luta concreta, não apenas discurso e slogans como há 20 anos", avalia Han.

"Naquela época, se acontecia uma manifestação pró-democracia, o governo ia no campo e contratava por 10 yuans camponeses para vir à cidade protestar contra o protesto pró-democrático. As pessoas aceitavam isso, pois não tinham ideia dos seus direitos. Hoje isso não acontece mais", conta Han.

Assim como Han Dongfang, o legislador de Hong Kong Cheuk-yan Lee também participou das manifestações de 1989.

"A discrepância entre ricos e pobres e as pressões econômicas sobre os trabalhadores estão causando manifestações hoje em dia", disse Lee à BBC Brasil.

"Acredito que os trabalhadores liderarão a próxima onda de grandes protestos e os estudantes com ideais seguirão o movimento".

Segundo estimativas oficiais, existem na China 130 milhões de trabalhadores que imigraram do campo para as grandes cidades.

Desses, entre 25 e 26 milhões deverão ser atingidos diretamente pelos efeitos da crise, estimou um estudo divulgado em fevereiro pelo Grupo Central de Trabalho Rural, uma organização de Pequim que aconselha o governo na adoção de políticas relacionadas ao campo.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090605_chinapracaestabilidademl.shtml

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