Percepções distorcidasA organização Transparency International realiza periodicamente um levantamento chamado “Barômetro Global da Corrupção”. Baseada em entrevistas com uma amostra de 73 mil respondentes de 69 países (o Brasil não está incluído), a pesquisa procura levantar opiniões e experiências dos respondentes a respeito de diversos aspectos relacionados ao fenômeno da corrupção, entre os quais as instituições que, na opinião deles, são as mais afetadas.
Na tabela seguinte assinalam-se tanto os resultados de todos os países em que a pesquisa foi realizada quanto os números referentes aos países latino-americanos (as porcentagens correspondem aos respondentes que assinalaram as instituições como as mais corruptas).
Instituições | Todos os países | América Latina |
Partidos políticos | 29% | 34% |
Agentes públicos | 26% | 17% |
Legislativo | 16% | 20% |
Empresas privadas | 14% | 5% |
Judiciário | 9% | 21% |
Meios de comunicação | 6% | 3% |
As respostas obtidas refletem um misto de percepções. Primeiro, transparece a baixíssima estima pelas instituições políticas básicas da democracia representativa (partidos políticos e Legislativo). Note-se também a avaliação pessimista que, na América Latina, se faz sobre o Judiciário, situado no mesmo plano do Legislativo.
Os porcentuais também mostram que, de modo geral, as pessoas não compreendem direito o fenômeno da corrupção. Isso aparece nos números referentes a agentes públicos e a empresas privadas.
Fora propinagem de balcão, que incide sobre pessoas físicas, a maior parte da corrupção se manifesta pelo conluio entre um agente público e uma empresa privada. Seja porque agentes públicos achacam empresas para que estas lhes paguem propinas em troca de fazerem (ou não fazerem) algo, seja porque empresas ativamente buscam corromper agentes públicos para obter vantagens.
Assim, respondentes que tenham noção mais clara do que é corrupção responderão que os dois grupos mais afetados pela corrupção são os agentes públicos e as empresas privadas, porque não há corrupção senão pela cumplicidade entre uns e outros. Os números de ambos deveriam ser 100%.
O fato de os pesquisados nesse levantamento não terem respondido dessa forma mostra a pouca compreensão que as pessoas em geral têm do problema da corrupção.
A íntegra do relatório da pesquisa pode ser baixada
daqui (em inglês),
daqui (em francês) ou
daqui (em espanhol).
Em tempo: Embora já tenha sido associada à Transparency International, a Transparência Brasil interrompeu essa relação em 2007 devido a divergências de natureza programática e organizacional.http://colunistas.ig.com.br/claudioabramo/2009/06/04/percepcoes-distorcidas/