Eu diria que a educaçao
superior em ciências no Brasil teve grandes avanços em relaçao ao que era nos anos 50. Porém
ainda resta uma cultura arraigada de estudo-como-memorizaçao que é difícil de extinguir. Os livros que usamos hoje em dia para
ensinar física sao (na maioria [1]) traduçoes de livros-textos americanos[2], que sempre citam as bases experimentais dos conceitos
físicos. Eu mesmo, nas minhas aulas, procuro enfatizar essas aplicaçoes experimentais e sempre digo aos alunos que, embora
teórico, reconheço que na Física o experimento é quem dá a última palavra.
O problema é que os alunos nao absorvem isso. Eles têm aulas de laboratório, analizam experimentos mentais, estudam por livros
que falam do aspecto experimental da ciência, mas mesmo assim continuam decorando frases. Certa vez fiz uma prova de Mecânica I,
com várias questoes teóricas, que exigiam um certo cálculo. Só que na última questao fiz a seguinte pergunta (tirada do livro, por sinal):
"Você está no meio de um lago congelado, cuja superfície tem um coeficiente de atrito igual a zero. Explique como você faria para
chegar até a margem."
A maioria dos estudantes errou essa questao. Notem que ensino no que é considerado um bom curso de bacharelado em Física no Brasil.
Houve estudantes que acertaram todas as outras questoes, fazendo as contas com perfeiçao, mas que nao conseguiram responder a essa
pergunta simples.[3]
Acho que o problema vem de longe: desde o ensino básico até o pré-vestibular. Quando os alunos chegam na universidade os professores
fazem um trabalho de Sísifo para tentar mudar essa mentalidade.
[1] Existem boas exceçoes, como os livros do Moysés Nussenzweig e do Alaor Chaves.
[2] Já dei aulas no exterior e usei extamente os mesmos livros.
[3] Alguns acertaram, e suas respostas chegavam a ser bem engraçadas: "Eu começaria a cuspir em uma certa direçao." "Eu ficaria
batendo os braços como se fossem asas." "Eu lançaria um sapato...depois outro... depois a camisa..."
