Há quase exatamente vinte anos [~1966], escrevi meu primeiro livro. Nos dois anos seguintes, ofereci-o a vinte e cinco editores em língua alemã. Depois de certo tempo, o manuscrito começou a voltar à minha caixa de correspondência, acompanhado das cartas estereotipadas: "Lamentamos. . . ", "não se enquadra no nosso programa. . . " Em meu desespero, juntei todo o dinheiro que tinha, entrei no meu barulhento fusca e fui a Hamburgo oferecer ao Dr. Thomas von Randow, então redator científico do Die Zeit, a publicação pelo menos parcial do meu livro. O Dr. Von Randow anunciou a minha visita por telefone ao editor da Econ, Erwin Barth von Wehrenalp, e, dias depois, estava eu sentado à frente de sua grande escrivaninha, em Düsseldorf. Cético, ele me olhou por cima dos aros dos seus óculos e opinou: "Podemos fazer uma edição pequena, digamos três mil exemplares, a título experimental". E em fevereiro de 1968 apareceu Recordações do futuro.
Naquela época, o agora já falecido Dr. Rolf Bigler era o redator-chefe do semanário suíço Die Weltwoche, sendo o jovem Jürg Ramspeck responsável pelas publicações em fascículos (Ramspeck logo tornou-se redator-chefe do Weltwoche). Os dois ficaram fascinados com meu trabalho e imprimiram o livro inteiro em fascículos.
Isso provocou uma avalanche. Em pouco tempo, só na Suíça foram vendidos vinte mil exemplares. O sucesso atravessou as fronteiras da Alemanha e da Áustria. A editora Econ imprimiu em março de 1970 a trigésima edição, e, com isso, foram alcançados ao todo seiscentos mil exemplares. Com edições de clubes de livro e livros de bolso, Recordações do futuro chegou, só em língua alemã, a dois milhões e cem mil exemplares. A obra foi traduzida em vinte e oito idiomas, apareceu em trinta e seis países e, com base em seu texto, foi rodado o filme Recordações do futuro. Depois de ter sido exibido na televisão americana, irrompeu no Novo Mundo a "däniquite" (Time). Meu tema tornou-se polêmico: receberam os nossos antepassados visitas do espaço cósmico? Com a onda do êxito veio a crítica. O professor Ernest von Khuon reuniu contribuições de dezessete cientistas no livro Eram os deuses astronautas? Parte das críticas era rigorosamente adversa, e parte suavemente benévola. Desde então surgiram do solo, em literalmente todos os continentes - como se tivesse caído uma chuva tépida -, "contralivros" que se atrelaram ao meu êxito; entre eles havia diversas flores do pântano. Em debates televisionados, engenhosamente travados sob o tópico "Ciência", muitas vezes não se procedia muito cientificamente. "Tem-se a impressão", diz Norman Mailer, "de que alguns críticos confundem a máquina de escrever com a cadeira elétrica." Eu sobrevivi a eles. Errei em pontos decisivos em Recordações do futuro?.
Sentia-me despreocupado - como é habitual em todo iniciante -, ligado ao assunto e nem de longe tão autocrítico como me tornei por vontade própria e por influência de um batalhão de críticos. Deixei-me freqüentemente levar pelo entusiasmo, e aceitei com excessiva boa vontade informações que pareciam me servir, mas que, em verificação posterior, constituíram-se surpresas às vezes bastante desagradáveis. Ocorreu-me confiar nos textos de um sério autor científico, para, mais tarde, ficar sabendo que as opiniões desse tão renomado senhor tinham sido refutadas. No rol de semelhantes experiências que adquiri, acabei sendo solenemente "rejeitado" e dependurado em cabide torto. Nessas rejeições, o cabide apresentava e sempre apresenta igual inconveniência: da mesma forma que eu, o acusador defende suas opiniões inteiramente pessoais e luta pelo seu direito inalienável, como o meu, de sustentar seu ponto de vista.
Exemplos:
Naquela época, escrevi o seguinte a respeito dos mapas do almirante turco Piri Reis, que podem ser admirados no Palácio Topkapi, em Istambul: "As costas das Américas do Norte e do Sul acham-se demarcadas com precisão". Esta afirmação foi refutada; de fato, os contornos das Américas do Norte e do Sul só podem ser reconhecidos de forma rudimentar. Essa correção, embora aceita, em nada diminui o caráter sensacional dos mapas, que revelam a linha costeira da Antártida, que ainda jaz sob gelo e neve eternos. Uma das perguntas permanece sem resposta: como tais cartografias puderam ser feitas na época colombiana?
Na ocasião, recebi a notícia sensacional de que na China, num túmulo perto de Chou-Chou, haviam sido encontradas partes de um cinto de alumínio, as quais, no entanto, segundo informações que chegaram da China não passavam de fato de uma liga de prata especialmente endurecida. Da mesma maneira, com o decorrer do tempo, foi corrigida a notícia de Delli sobre uma antiqüíssima coluna de ferro que não se oxidava por influências atmosféricas com o decorrer do tempo: pois bem, entrementes surgiram certas manchas de ferrugem na coluna, conforme eu próprio vi.
Com relação a figuras, quadros e fotos da epopéia suméria de Gilgamés, composta ao redor do ano 2000 a.C., especulei se a Porta do Sol, ali mencionada, não poderia estar ligada à famosa Porta do Sol de Tiahuanaco, no planalto boliviano, o que seria uma prova da conquista de grandes distâncias por parte dos nossos antepassados.
Mas logo reconheci que essa especulação não tinha sentido, pois a Porta do Sol em Tiahuanaco só recebeu esse nome de arqueólogos modernos; mas desconheço se eles sabiam como se chamava havia milênios.
Durante minha viagem ao Egito, no ano de 1954, um de meus amigos, colega de internato e natural do Cairo, Mahmud Grand, contou-me que a pequena ilha do Nilo chamada Elefantina, perto de Assuã, assim se chamava porque mostrava os contornos de um elefante quando vista do alto. Esta comunicação fixou-se na massa cinzenta do rapaz de dezenove anos - provavelmente porque já então se coadunava bem com sua imagem posterior do universo. Sei atualmente que por esse forte da fronteira meridional do Egito passavam expedições para a Núbia - com elefantes.
Estes são alguns exemplos de meus enganos, e ainda havia outros desse tipo em meu primeiro livro; confessei-os, mas nenhuma coluna de edificação do meu pensamento foi levada à ruína. Quanto aos enganos, naquela época eu colocava, honestamente, perguntas em campos ainda não lavrados, pois acompanhava todas as questões -trezentos e vinte e três ao todo - dos sinais de interrogação que lhes cabiam. Isto os meus críticos, que em outras ocasiões se revelavam tão meticulosos, não perceberam.
Na medida do possível, estabeleci como princípio relatar somente as coisas que vi, peguei e fotografei, método este nem sempre praticado nas obras especializadas, como acabei verificando. Há também livros de cientistas e técnicos que me apóiam - integral ou parcialmente - a contragosto; mas, seja como for, não deixam de me apoiar.
Como alguém que, de Saulo, pode passar a chamar-se Paulo, conforme conta Josef F. Blumrich, que, quando se converteu, era diretor da Seção de Construção de Projetos da NASA em Huntsville.
Em Recordações do futuro escrevi: "Concordo: a especulação ainda continua sendo um tecido que apresenta muitos furos. 'Faltam provas', dirão alguns. O futuro mostrará quantos desses furos poderão ser cerzidos."
Alguns desses furos puderam ser remendados. Sem cooperação e estímulo, sem conselhos amigos e sem muito apoio, isso não me teria sido possível. Agradeço especialmente ao Dr. Harry Ruppe, professor de tecnologia espacial na Universidade Técnica de Munique, pelas suas numerosas e preciosas indicações; ao professor Wilder-Smith agradeço ter-me permitido conhecer suas pesquisas sobre o surgimento de toda vida, as quais me familiarizaram com resultados e conclusões completamente surpreendentes para a minha hipótese. Agradeço ao professor Ernest von Khuon a iniciativa de haver encaminhado minha teoria à discussão científica. Neste livro, quero externar meu agradecimento especial ao professor Rolf Ulbrich, da Universidade Livre de Berlim, pelas traduções do russo; e ao professor Dileep Kumar Kanjilal, de Calcutá, pela excelente contribuição que me prestou.
Em meu décimo segundo livro, cabe registrar antes de tudo o agradecimento aos meus fiéis leitores, cujas cento e vinte mil cartas me deram coragem e estímulo. E não posso deixar de consignar aqui meu agradecimento a quarenta e dois editores em todo o mundo, que, depois do ato de coragem inicial, auferem agora alegria dos meus livros. Devo também agradecer ao editor da Bertelsmann, Peter Gutmann, sob cujas asas aterrissei novamente. Agradeço ao meu colaborador Willi Dünnenberger, que demonstrou ser um bom companheiro de viagens e um competente pesquisador em numerosas bibliotecas. Agradeço a Ulrich Dopatka, da Biblioteca Principal da Universidade de Zurique, que, como por encanto, colocou sobre minha escrivaninha os livros mais inacessíveis. Agradeço à minha esposa Elisabeth, que, depois de mais de vinte e cinco anos de matrimônio, ainda suporta em nossa casa todas as agitações, sem perder a alegre serenidade.
A primeira frase em Recordações do futuro é:
"Escrever este livro é uma questão de coragem - lê-lo, não menos".
Este é também o lema das Novas recordações do futuro. Antes de mais nada, desejo ainda citar, como epígrafe, as seguintes palavras de Goethe:
"Há adversários que acreditam desmentir-nos quando repetem suas opiniões e não prestam atenção à nossa".
Feldrunnen, junho de 1985.
Erich von Däniken
[Prefácio do livro "Habe ich mich geirrt?" (Será que eu estava errado?) - 1985]