Autor Tópico: Eleições no Irã  (Lida 942 vezes)

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Eleições no Irã
« Online: 17 de Junho de 2009, 19:09:04 »
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O próprio processo eleitoral iraniano ja é uma fraude

Em meio à mobilização de amplos setores da população iraniana que denunciam que seus votos foram "roubados", não podemos perder de vista como o processo eleitoral em si é ilegítimo.

Ironicamente, os manifestantes bradam o que se bradava há 30 anos nos protestos que levaram à derrubada do despótico regime do xá Reza Pahlevi. No calor da luta, então, parecia possível então conciliar "azadi" (liberdade) com "yumuriya islami" (república islâmica). Mas o aiatolá Khomeini, em 1979, de imediato, determinou a marcha para a teocracia, com um papel secundário para a democracia.

Para os mais cínicos (sempre uma posição fácil), a visão é de que o regime nunca teve a intenção de permitir uma livre disputa para a presidência em 12 de junho. Sempre foi uma farsa. Basta lembrar que o Conselho dos Guardiões ( controlado pelo guia supremo, o aiatolá Khamenei), disposto agora a aceitar apenas uma insatisfatória recontagem parcial dos votos, é o mesmo que veta quem pode ou não concorrer à presidência. Neste pleito, 475 candidatos foram desqualificados (todas as 42 mulheres). Somente quatro deles, entre eles Mahmoud Ahmadinejad e Mir Hussein Moussavi, foram considerados "seguros" para concorrer.

Mousavi, na verdade, foi arrastado pelos acontecimentos nas últimas semanas, quando setores "menos seguros" embarcaram na sua onda eleitoral, a onda verde. Hoje ele assume o papel de líder da resistência, mas tem impecáveis credenciais da revolução islâmica. Mais uma revolução devora seus filhos e gera monstros. Basicamente, Moussavi é um moderado que prometeu mais liberdades, uma face menos belicosa para o mundo lá fora e tem muito mais competência técnica (foi um eficiente primeiro-ministro nos anos 80) do que o irresponsável e delirante populista Ahmadinejad.

Uma outra visão sobre a turbulência é a de que Khamenei parecia inclinado a aceitar o cenário de uma vitória de Moussavi (mais provavelmente em um segundo turno eleitoral nesta próxima sexta feira). Afinal, a revolução já permitiu outras ondas reformistas como válvula de escape ou mera incapacidade para conter as diversidades. Na última hora, porém, Khamenei teria recuado com medo que a onda tragasse a própria revolução islâmica.

Num quadro volátil, o debate sobre a legitimidade do processo eleitoral pode ser tragado por uma mobilização que questione a legitimidade da revolução islâmica. O sistema pode sobreviver, mas despojado de sua fachada democrática.

Leia também:

* Vitória de Ahmadinejad provoca onda de violência no Irã
* Irã veta imprensa estrangeira em protestos "ilegais"
* Internet rompe barreiras impostas pelo governo
* Khamenei é favorável à recontagem parcial dos votos "se necessário"

http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2009/06/17/o+proprio+processo+eleitoral+iraniano+ja+e+uma+fraude+6767949.html
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Iranianos colocam centenas de vídeos de protestos na Internet

Veja vídeo

O governo do Irã tem tentado impedir que a imprensa registre os protestos realizados contra a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Mas as restrições ao trabalho dos jornalistas acabaram provocando uma reação de cinegrafistas amadores, que estão usando a Internet para divulgar as manifestações.

Desde o final de semana, centenas de vídeos estão sendo colocados em sites como o YouTube. Muitos internautas também estão usando sites como o Facebook e o Twitter para relatar o que está acontecendo em Teerã.

O serviço da BBC em farsi chegou a estar recebendo cinco vídeos por minuto de protestos registrados por cinegrafistas amadores. Nem mesmo a televisão estatal do Irã escapou de algumas manifestações.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090617_ira_ugc_dg.shtml
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Entenda quem é quem na política iraniana

Veja abaixo como funciona a estrutura de poder no Irã.

O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei

O líder supremo do Irã é a figura mais poderosa do país. Ele nomeia o chefe do Judiciário, seis dos 12 membros do Conselho dos Guardiões, os comandantes de todas as Forças Armadas, líderes das orações das sextas-feiras e o chefe da rádio e da televisão estatais. Ele também confirma o resultado da eleição presidencial.

Khamenei foi figura-chave na Revolução Islâmica e um confidente próximo do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica. Ele foi presidente do Irã entre 1981 e 1989 antes de se tornar líder supremo em caráter vitalício.

Presidente Mahmoud Ahmadinejad

Mahmoud Ahmadinejad, na Presidência do Irã desde 2005, esteve ativamente envolvido na Revolução Islâmica e foi um dos fundadores do grupo estudantil que ocupou a embaixada dos Estados Unidos em Terã em 1979. Ele nega ter sido um dos sequestradores de reféns americanos feitos à época por revolucionários na embaixada.

Ahmadinejad foi um dos primeiros não integrantes do clero a ser eleito presidente do Irã desde 1981, ao derrotar o então presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, em eleições em junho de 2005.

É linha-dura tanto em casa - onde não aprova o desenvolvimento ou reforma de instituições políticas - como no exterior, onde tem mantido uma postura anti-Ocidente e atitudes combativas no que se refere ao programa nuclear do Irã.

Muito do apoio que recebe vem de setores mais pobres e religiosos da população iraniana. A maior parte dos que o apóiam vive fora da capital, Teerã.

Houssein Mousavi

O ex-primeiro-ministro, com 68 anos de idade, está fora da política há alguns anos, mas retornou para concorrer como um candidato moderado.

Ele nasceu no leste do Azerbaijão e se mudou para Teerã para estudar arquitetura.

É casado com Zahra Rahnavard, ex-chanceler da Universidade de Alzahra e assessora política do ex-presidente iraniano Mohammad Khatami.

Um dos seus aliados mais próximos nessa eleição foi Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente do Irã, hoje à frente de dois dos órgãos mais importantes do governo: o Conselho de Expediência, que julga disputas sobre legislação, e a Assembléia de Especialistas, que nomeia e, em teoria, substitui, o líder supremo.

Os reformistas

O movimento de reforma iraniano é um movimento político liderado por um grupo de partidos políticos e organizações que apóiam os planos de Mohammad Khatami de introduzir maior liberdade e democracia.

Em 1997, Khatami foi eleito presidente com promessas de de maior liberdade de expressão, assim como medidas para combater o desemprego e acelerar privatizações. Entretanto, muitas de suas medidas de liberalização foram bloqueadas pelas instituições conservadoras do país. Khatami concorreu inicialmente às eleições de 2009, mas depois se retirou da disputa e apoiou Hossein Mousavi.

Outras figuras importantes do movimento pró-reforma são Hossein Mousavi, Mohsen Mirdamadi, Hadi Khamenei, Mohsen Aminzadeh e Mostafa Tajzadeh.

A Guarda Revolucionária e o Exército

As Forças Armadas são compostas pela Guarda Revolucionária e pelas forças comuns, todas sob um comando geral único.

O Corpo da Guarda da Revolução Islâmica do Irã foi criado logo após a revolução para defender o sistema islâmico do país e para oferecer um contrapeso para as Forças Armadas. Desde então, tornou-se uma importante força militar, política e econômica no Irã, com fortes vínculos com o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente Mahmoud Ahmadinejad, um de seus ex-membros.

Calcula-se que a força tenha 125 mil tropas ativas. Ela tem suas próprias tropas terrestres, marinhas e aéreas, e controla as armas estratégicas do Irã.

A guarda também tem uma presença poderosa em instituições civis e, acredita-se, controla cerca de um terço da economia do Irã por meio de uma série de subsidiárias.

As milícias

A Guarda Revolucionária também controla a Força de Resistência Basij, uma milícia voluntária islâmica com cerca de 90 mil homens e mulheres e capacidade adicional de mobilizar quase um milhão de pessoas.

Em tempos de crise, a Basij, ou Mobilização dos Oprimidos, é chamada com frequência às ruas para acabar com a discórdia por meio da força. Ela possui núcleos em todas as cidades do país.

O clero

O clero domina a sociedade iraniana.

Apenas membros do clero podem ser eleitos para a Assembléia dos Especialistas, que nomeia o líder supremo, monitora sua atuação e pode, em teoria, retirá-lo do cargo se ele for considerado incapaz de cumprir suas funções. Atualmente, a assembléia é chefiada pelo aiatolá Ali Rafsanjani, tido como um conservador pragmático.

O ex-presidente Mohammad Khatami acusou o clero de bloquear as reformas e alertou para os perigos do "despotismo religioso"
O clero também domina o Judiciário, que é baseado na lei islâmica, ou sharia.

Nos últimos anos, conservadores de linha-dura vêm usando o sistema Judiciário para minar reformas, aprisionando personalidades reformistas e jornalistas, assim como fechando jornais pró-reformas.

http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/06/16/entenda+quem+e+quem+na+politica+iraniana+6762927.html

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #1 Online: 17 de Junho de 2009, 19:44:39 »
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Re: Eleições no Irã
« Resposta #2 Online: 18 de Junho de 2009, 19:59:55 »
Jornal usa ‘Photoshop’ em foto e acaba causando polêmica



A disputa política no Irã parece que a cada dia toma novo fôlego. A mais recente polêmica diz respeito a uma foto publicada no jornal Kayhan News, que mostra uma suposta multidão apoiando o presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad. Eu disse “suposta” multidão, porque a mídia está acusando o jornal de manipular a imagem.

A foto, que circula livremente pela internet, realmente deixa margem para questionamentos. Aparentemente, o editor replicou a quantidade de pessoas que assistiam ao pronunciamento de Ahmadinejad, usando um dos muitos recursos do editor de imagens.

Para quem não está acompanhando o processo eleitoral no Irã, esta não é a única acusação de fraude. O segundo colocado na eleição afirma que o partido do atual presidente fraudou o resultado das urnas, o que despertou protestos por todo o país.

http://colunistas.ig.com.br/obutecodanet/2009/06/18/jornal-usa-photoshop-em-foto-e-acaba-causando-polemica/

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #3 Online: 19 de Junho de 2009, 02:06:10 »
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Mais de 100 mil vão às ruas de Teerã em 'dia de luto'

Mais de 100 mil pessoas, muitas delas vestidas de preto, realizaram nesta quinta-feira uma marcha pela capital do Irã, Teerã, no que foi chamado pela oposição de "dia de luto" pelos oito manifestantes mortos em protestos no início desta semana.

A marcha, convocada pelo candidato reformista derrotado nas eleições, Mir-Hossein Mousavi, marcou o sexto dia consecutivo de protestos contra o resultado do pleito no Irã, que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad com mais de 62% dos votos.

Mousavi pediu que os manifestantes vestissem preto em memória das oito pessoas que foram mortas a tiros por membros da milícia pró-governo Basij em um protesto na segunda-feira.

Muitos dos manifestantes nesta quinta-feira carregavam cartazes com fotos dos mortos ou frases como "Por que vocês mataram nossos irmãos?".

Mousavi também participou do protesto, vestindo terno e camisa pretos. Ele falou aos manifestantes por meio de um megafone. Segundo a Press TV, a versão em inglês da TV estatal iraniana, o pronunciamento de Mousavi foi breve e ele pediu calma aos manifestantes.

A BBC e outras empresas de comunicação estrangeiras estão sofrendo restrições ao seu trabalho no Irã. Os repórteres estão proibidos de cobrir manifestações não-autorizadas e também não podem circular livremente por Teerã.

A repórter Marie Colvin, do jornal britânico "Sunday Times", que está em Teerã, disse à BBC que tanto apoiadores da oposição quanto partidários do governo parecem estar tentando evitar maiores confrontos. No entanto, segundo Colvin, é muito difícil prever o que pode acontecer e a situação permanece tensa.

Outras cidades também realizaram protestos nesta quinta-feira em luto pelos mortos. "Há cerca de 2 mil ou 3 mil pessoas aqui, todas sentadas e em silêncio. A polícia não vai fazer nada, porque estamos em um local sagrado', disse à BBC um manifestante que participou do protesto em um santuário na cidade de Shiraz, no sudoeste do Irã.

Investigação

Mousavi e os outros dois candidatos derrotados - o conservador Mohsen Rezai e o reformista Mehdi Karroubi - alegam que houve fraude na votação. Diante das denúncias, o mais alto órgão legislativo do Irã, o Conselho dos Guardiões, disse que está investigando 646 alegações de irregularidades feitas pelos três candidatos.

O Conselho dos Guardiões disse que convidou os candidatos para uma reunião no sábado, para discutir as queixas. "Nós decidimos convidar pessoalmente os candidatos e os que têm queixas em relação à eleição para participarem de uma sessão extraordinária do Conselho dos Guardiões no sábado", afirmou o porta-voz do conselho, Abbasali Khadkhodai.

Ainda não se sabe se os candidatos aceitaram o convite. O correspondente da BBC em Teerã, Jon Leyne, disse que é pouco provável que os candidatos estejam otimistas quanto ao resultado deste encontro. O conselho, formado por seis clérigos e seis advogados, tradicionalmente é leal ao líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Em meados desta semana, o conselho disse que realizaria uma recontagem parcial dos votos, mas descartou a possibilidade de realizar nova eleição, como queriam os partidários de Mousavi.

Nesta quinta-feira, Ahmadinejad voltou à TV estatal e, aparentemente, tentou amenizar comentários recentes em que comparava os manifestantes a torcidas de times de futebol.

"Eu me referi àqueles que incendiaram (prédios) e atacaram pessoas", disse. "Eu disse que esses indivíduos (...) são estranhos à nossa nação."

O presidente reeleito disse ainda que a vitória no pleito "pertence aos 70 milhões de iranianos e aos 40 milhões que participaram da votação". Nesta sexta-feira, os iranianos aguardam um pronunciamento do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/06/18/mais+de+100+mil+vao+as+ruas+de+teera+em+dia+de+luto+6819901.html
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Analista responde a perguntas sobre crise pós-eleitoral no Irã

O especialista em assuntos iranianos da BBC Sadeq Saba examinou as principais perguntas que surgem no âmbito das eleições presidenciais iranianas, contestadas pela oposição ao presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad. Leia abaixo:

Quais são as provas de fraude eleitoral?

A forma com que o resultado das eleições foi apresentado é bastante incomum.

Geralmente, em todas as eleições anteriores, o resultado da votação era anunciado província por província. Neste caso, os resultados foram divulgados em blocos de milhões de votos - em percentagens de votação.

À medida que esses blocos de votos eram divulgados, os percentuais atribuídos a cada candidato mudavam muito, muito pouco. Isso parece sugerir que Mahmoud Ahmadinejad se saiu bem tanto nas áreas rurais quanto urbanas. De maneira paradoxal, isso também sugere que os outros três candidatos derrotados se saíram igualmente mal em suas regiões e províncias de origem. Isso vai contra todos os precedentes da política iraniana.

Sabemos que Ahmadinejad é muito popular em áreas rurais e impopular nas grandes cidades. Também sabemos que nas áreas onde há minorias regionais e nacionais, candidatos contrários ao governo tendem a se sair muito bem. Os candidatos tendem a vencer em suas províncias de origem. Mas não dessa vez. As autoridades não deram explicação para nada disso, apesar de perguntas terem sido feitas repetidas vezes. Tudo é muito suspeito, mas não significa, necessariamente, que tenha havido fraude em grande escala.

O quão organizada é a oposição a Ahmadinejad?

Mir Hossein Mousavi não tem uma organização que o apoie. Antes de declarar sua candidatura às eleições presidenciais ele estava numa situação de semi-aposentadoria havia mais de 20 anos.

Entretanto, as três principais organizações reformistas do Irã o apoiaram na eleição. Ele não lidera esses grupos. Esses grupos são altamente organizados e bem apoiados - constituem uma espécie de oposição organizada. São muito populares entre os jovens e entre estudantes, e podem mobilizar milhares usando a internet e outros meios.

Acredito que os protestos irão continuar - as agremiações reformistas emitiram um comunicado afirmando que houve um golpe de Estado.

O líder supremo do Irã apoia Ahmadinejad por completo?

A política iraniana é opaca, mas até onde sabemos Ahmadinejad tem o apoio integral do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei.

Antes das eleições, o líder supremo apoiou repetidamente o presidente, afirmando que ele era o melhor presidente que o país teve desde a revolução (em 1979), e que sua política externa estava correta. Nada aconteceu durante a campanha ou desde que o resultado foi anunciado que sugira que isso tenha mudado.

O aiatolá Khamenei foi muito rápido em reconhecer e elogiar o resultado das eleições, apesar de ele ter pedido ao Conselho Guardião que investigue por completo as acusações de fraude.

A posição ou a credibilidade do líder supremo estão sob algum tipo de risco?

A credibilidade do aiatolá Khamenei pode estar sob ameaça. Um clérigo respeitado, Mohsen Kadivar, questionou por que o líder supremo reconheceu os resultados das eleições tão rapidamente, antes de elas terem sido legalmente ratificadas pelo Conselho dos Guardiães.

O aiatolá Khamenei foi amplamente criticado por ser muito próximo a Ahmadinejad. O líder supremo deve ficar acima da política, considerada frágil e vulnerável a facções.

E agora? Os confrontos podem ser desmobilizados?

O Conselho dos Guardiães tem 10 dias para decidir se ratifica ou não o resultado das eleições ou se pede outra votação. O órgão pediu que os candidatos derrotados apresentem provas de fraude eleitoral. Então há meios legais de se reverter a situação. Mas isso seria uma reviravolta imensa e uma grande derrota para o presidente e para o líder supremo - por isso é muito pouco provável que aconteça.

Dito isso, não prevejo que as demonstrações arrefeçam. Elas muito provavelmente ganharão força e se alastrarão, já que as pessoas se ressentem da repressão. O líder supremo está acima da lei e pode decretar que um acordo seja alcançado. Ele pode argumentar que o Islã ou o país estão sob ameaça.

A sociedade iraniana é muito, muito polarizada - economicamente, socialmente, em termos de gênero ou em bases religiosas - e isso é o que estamos vendo. Francamente, esse tipo de protesto deveria ser esperado, independentemente do resultado das eleições.

http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/06/16/analista+responde+a+perguntas+sobre+crise+pos+eleitoral+no+ira+6750943.html
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Ali Khamenei: punho de ferro do Irã oscila e pode perder poder no país

Durante mais de duas décadas, o aiatolá Ali Khamenei foi uma presença sombria no alto poder do Irã, econômico em suas aparições e comentários públicos. Através de seu controle das forças militares, do Judiciário e das transmissões nacionais, o líder supremo controlou as alavancas necessárias para manter um discreto punho de ferro sobre a república islâmica.

Mas em um raro rompimento com seu histórico de medidas cautelosas, ele apressadamente abençoou o presidente Mahmoud Ahmadinejad pela conquista da eleição, pedindo que todos os iranianos se alinhassem ao governante mesmo antes dos três dias exigidos para certificar os resultados.

Então, multidões enraivecidas tomaram as ruas das cidades iranianas e ele voltou atrás, anunciando na segunda-feira que o Conselho dos Guardiões, formando por 12 membros e responsável por vetar eleições e novas leis, irá investigar o caso.

"Depois de parabenizar a nação por ter uma vitória sagrada, dizer que há possibilidade de que ela tenha sido fraudulenta é um grande passo atrás para ele", disse Abbas Milani, diretor do programa de estudos iranianos da Universidade de Stanford.

Poucas pessoas ainda sugerem que o poder de Khamenei está em risco. Mas, segundo especialistas, ele rachou a face do domínio islâmico de maneira que pode ser difícil de consertar, principalmente diante da dura disputa a respeito das eleições que emergiu entre os veteranos da revolução de 1979 da elite. Mesmo seus fortes elos com a poderosa Guarda Revolucionária (há muito sua apólice de seguro) já podem não ser tão decisivos diante dos confrontos que acontecem no país.

"Khamenei sempre diria, 'Calem a boca. Minha palavra é a lei.'", disse Azar Nafisi, autor de dois livros de memórias sobre o Irã. "Todos dizem, 'OK, esta é a palavra do líder'. Agora o mito de que há um líder cujo poder é inquestionável se quebrou".

Aqueles que sentem que uma importante mudança pode estar próxima rapidamente alertam que Khamenei, que segue os ensinamentos da revolução que tirou o xá do poder, ainda pode usar de força para controlar os protestos.

Ao pedir que o Conselho dos Guardiões investigue as eleições, ele conseguiu para si mesmo um período de 10 dias para que a raiva se dissipe, afirmam os especialistas.

O resultado não deve surpreender. O aiatolá Ahmed Jannati, presidente do conselho, é um dos maiores aliados de Khamenei entre os proeminentes clérigos do país. Além disso, o aiatolá indica metade dos membros do grupo, enquanto a outra metade é decidida pelo líder do Judiciário, também colocado no posto pelo líder supremo.

"A investigação é falsa e serve apenas para acalmar os protestos", disse Karim Sadjadpour, especialista no Irã pelo Carnegie Endowment for International Peace.

Khamenei foi um sucessor improvável do patriarca da revolução, o aiatolá Ruhollah Khomeini, e sua chegada ao posto de líder supremo em 1989 pode ter semeado a crise política que o país enfrenta hoje.

Filho de um clérigo da cidade sagrada de Mashhad, Khamenei era conhecido como um mulá de mente aberta, ainda que não exatamente liberal. Ele tinha uma boa voz para o canto, tocava bem o tar (um instrumento de cordas tradicional no Irã) e escrevia poesias. Seu círculo de amigos inclui alguns dos melhores poetas do Irã.

Durante o período de violência após a queda do xá Mohammed Reza Pahlavi, uma bomba escondida em um gravador o aleijou permanentemente de seu braço direito e ele chegou à presidência em 1981 depois que outra bomba matou seu antecessor. Ele chegou a atrair a ira do próprio Khomeini, ironicamente, ao questionar alguns aspectos do sistema do líder supremo em público.

Ele também teve confrontos diretos com Mir Hossein Mousavi, o então poderoso primeiro-ministro do país. Depois de ser derrotado no resultado oficial por Ahmadinejad, Mousavi, o candidato reformista, desafiou Khamenei em uma área na qual ele sempre foi vulnerável: suas credenciais religiosas.

Mousavi escreveu uma carta aberta ao clérigo da cidade sagrada de Qom sobre o resultado das eleições. Ao apelar ao grande clérigo, ele na verdade dizia que as palavras de Khamenei como líder supremo não têm o peso necessário.

Khamenei foi elevado de hojatolislam, uma posição mediana no clero, à aiatolá da noite para o dia em decisão essencialmente política e não religiosa. Com isso, ele conquistou o eterno escárnio de muitos mantenedores das tradições xiitas, ainda que a máquina de criação de mitos do Irã tenha agido, com uma testemunha dizendo ter visto uma luz passar de Khomeini para Khamenei, como acontecia com líderes do passado.

Ainda assim, sem base política própria, ele criou uma nas forças militares. Era o fim da guerra Irã-Iraque e muitos oficiais sênior que voltavam do fronte exigiam um papel na política ou na economia como recompensa por seus sacrifícios. Khamenei se tornou fonte de patronagem para eles, oferecendo cargos importantes na mídia ou em grandes fundações que foram confiscadas do setor privado pré-revolução.

"Ao lhes dar poder ele conseguiu poder", disse Mehdi Khalaji do Instituto de Política do Oriente Próximo de Washington.

Diante do debate sobre as eleições, questões sobre quem controla quem começam a surgir no Irã. Mas ao longo dos anos, Khamenei gradualmente sobrepujou expectativas similares de que seria destituído.

"Ele é um líder fraco, que é extremamente esperto em se aliar e fazer manobras entre poderes centrais", disse um especialista da Universidade de Nova York, se recusando a usar seu nome porque viaja ao país com frequência. "Por causa das inúmeras facções do Estado, ele parece ser a pessoa mais poderosa".

Mas muitos especialistas dizem que as diferenças entre as facções nunca foram tão perceptíveis ou públicas quanto nos últimos dias.

O ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, antes aliado próximo de Khamenei que o ajudou a se tornar líder supremo, enviou uma carta aberta a ele dias antes das eleições alertando que qualquer tipo de fraude seria um erro, afirmou Milani.

Se ele permitisse que os militares ignorassem a vontade pública e destruíssem veteranos revolucionários, a decisão iria prejudicá-lo, alertou Rafsanjani, "Amanhã será você".

Todos que falam sobre Khamenei tendem a usar a palavra "cauteloso", um homem que nunca faz apostas. Mas agora ele enfrenta uma escolha quase impossível. Se deixar os protestos aumentarem, eles podem mudar o sistema de governo clerical. Se usar a violência para impedi-los o mito de que a vontade popular colocou a revolução islâmica em vigor irá morrer.

"A liderança iraniana está no meio de um paradoxo", disse Nafisi, autor de memórias sobre o Irã.

http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/2009/06/16/ali+khamenei+punho+de+ferro+do+ira+oscila+e+pode+perder+poder+no+pais+6741936.html
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Oposição no Irã: Tempo ameniza candidato criado pela revolução

Seus seguidores começam a chamá-lo de "o Ghandi do Irã". Sua imagem é carregada em cartazes que passeiam acima das multidões durante os protestos de oposição que atingiram o país nos últimos dias, com seu nome entoado em versos rítmicos que invocam os mais sagrados mártires do Islã. Mir Hosein Mousavi se tornou a face pública do movimento, o homem que os manifestantes consideram ser o verdadeiro vencedor da disputada eleição presidencial.

Mas ele é um líder de certa forma acidental, uma figura moderada preparada no último instante para representar o levante popular contra a presidência de Mahmoud Ahmadinejad. Ele está longe de ser um liberal no sentido ocidental e ainda não está claro quão longe estaria disposto a ir na defesa da esperanças de uma democracia mais ampla que veio a personificar.

Mousavi, 67, é uma pessoa de dentro dos meandros do poder que caminhou para a oposição e seus motivos para fazer isso continuam incertos. Ele era próximo ao fundador da Revolução Islâmica do Irã mas sua relação com o atual líder supremo é delicada. Algumas figuras proeminentes apoiam sua causa, inclusive o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani. Isso não deixa claro quanto desta batalha reflete uma resistência popular às duras políticas de Ahmadinejad e quanto não passa de uma disputa por poder.

Mousavi e sua mulher, que teve um papel fundamental em sua campanha, têm estado sob enorme pressão para aceitar o resultado anunciado, afirmou um parente próximo que pediu anonimato. Ele não especificou que tipo de pressão.

"Eles são muito corajosos e esperam que a pressão aumente", disse o parente. "O Sr. Moussavi diz que entrou em um caminho para o qual não há volta e está pronto para fazer sacrifícios por ele".

Moussavi começou sua carreira política como linha-dura e favorito do principal arquiteto da revolução, o Aiatolá Ruhollah Khomeini. Apesar de ter uma relação adversa com o atual líder supremo do Irã, o Aiatolá Ali Khamenei, seu status como político envolvido faz com que ele evite desafiar as instituições centrais da república islâmica.

Ele foi um defensor precoce do programa nuclear e, como primeiro-ministro nos anos 80, aprovou a compra de centrífugas no mercado negro, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU.

Ainda assim, como muitas figuras centrais da revolução, ele chegou à conclusão que o radicalismo incendiário dos primeiros dias precisava ser amenizado em uma era de paz e construção do Estado, dizem aqueles que o conhecem. Alguns veem um significado simbólico na sua decisão de fazer com que a enorme passeata de segunda-feira tenha partido da Praça Enghelab (revolução) para a Praça Azadi (liberdade).

"Ele é um filho híbrido da revolução", disse Shahram Kholdi, professor da Universidade de Manchester que escreveu sobre a evolução política de Moussavi. "Ele está comprometido com os princípios islâmicos mas tem aspirações liberais".

Nos últimos dias, Moussavi tem sido levado a um confronto que contém em si terríveis riscos para ambos os lados. Se as autoridades usarem a força em grande escala para conter os protestos, o movimento pode ser destruído. Mas também pode criar mártires e aprofundar a raiva pública, aumentando ainda mais as manifestações contra um sistema que Mousavi quer preservar.

A resignação que ele mostrou desde que o resultado da eleição foi anunciado no sábado ajudou a solidificar seu papel como líder e a comoveu seus apoiadores.

"A exigência do povo é o objetivo central da república islâmica", disse Moussavi conforme as urnas eram fechadas na noite de sexta-feira, em um ato que foi visto como um ataque direto à liderança clériga e um alerta de que levaria o caso ao público caso suspeitasse de fraude.

Figura improvável

De certa maneira, Moussavi é uma figura improvável. Calmo e deliberado, ele tem uma maneira professoral de se expressar, e mesmo seus mais ardentes apoiadores dizem que seu carisma é pequeno.

Ele ficou longe do público por duas décadas, arquiteto com jeito suave que ama ficar em casa e ver filmes, Mousavi foi obscurecido por sua mulher, a professora e artista Zahra Rahnavard, por muitos anos. Ainda assim, muitos o descrevem como uma figura resoluta cuja experiência como primeiro-ministro do Irã nos anos 80 o ensinou a não ter medo de tomar decisões arriscadas.

"Ele era artista, professor universitário sem experiência política, mas conseguiu lidar com condições difíceis e liderar um país de 35 milhões de pessoas através de tentativas e erros", disse Muhammad Atrianfar, que serviu como seu ministro do Interior e depois se tornou jornalista. "Seu maior lucro foi a auto-confiança que ele ganhou com aquilo".

Como primeiro-ministro, ele geralmente tinha confrontos com Khamenei, que era presidente na época. As disputas giravam em torno de questões econômicas (Mousavi favorecia maior controle do Estado sobre a economia daquele período de guerra e Khamenei pedia menor regulação). O presidente era mais moderado em algumas questões e, ao contrário de Moussavi, algumas vezes era rechaçado pelo então líder supremo Khomeini. Neste ponto eles mudaram de posição, ainda que o clima persista (veja quem é quem na política iraniana).

Depois de deixar o cargo em 1989, Mousavi se manteve envolvido na política, servindo no Conselho Expedicionário do Irã. Mas a maior parte de seu tempo foi dedicada a arquitetura e pintura. Suas principais influências incluem o arquiteto italiano Renzo Piano, afirmou seu parente.

"Ele usa alguns elementos da arquitetura japonesa moderna e americana pós-moderna e as coloca em contexto na arquitetura iraniana", ele disse.

Família liberal

Apesar de ser profundamente religioso, Mousavi parece ter opiniões sociais relativamente liberais. Sua mulher é uma conhecida professora de ciências sociais que fez campanha a seu lado, chegando a fazer discursos e conceder coletivas de imprensa por si mesma.

Quando eram mais jovens, ele muitas vezes era apresentado como "o marido de Zahra Rahnavard". Sua mulher prometeu que se ele for eleito irá avançar os direitos das mulheres e indicar "pelo menos duas ou três" para o gabinete.

Sua filha mais velha é física nuclear. A mais jovem prefere não usar o chador islâmico e seus pais não se importam, conta o parente. "Nunca houve nenhuma obrigatoriedade nesta família", ele disse.

Nos últimos anos, Moussavi demonstrou profundo descrédito com os excessos da polícia moral e com a decisão do governo de fechar jornais, diz seu parente.

Ele decidiu concorrer à presidência no começo do ano para salvar o Irã do que chama de políticas "destrutivas" de Ahmadinejad. Mas apenas algumas semanas atrás o movimento  popular começou a apoiá-lo. Conforme a campanha caminhava para o fim, Mousavi começou a responder aos ataques do presidente com sua própria linguagem forte.

"Quando o presidente mente, ninguém o confronta", disse Mousavi durante seu último debate. "Eu sou revolucionário e estou falando contra a situação que ele criou. Ele encheu o país de mentiras e hipocrisia. Eu não tenho medo de falar. Lembrem-se disso."

Durante muito tempo, Moussavi foi comparado desfavoravelmente a Mohammad Khatami, o carismático clérigo reformista que foi presidente entre 1997 e 2005. Mas muitos agora dizem que durante protestos recentes, Mousavi se manteve firme contra o governo de forma que Khatami nunca teria feito.

"Ele não é tão aberto quanto Khatami", disse o analista político Nasser Hadian. "Mas é um homem de muito mais ação".

http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/2009/06/18/oposicao+no+ira+tempo+ameniza+candidato+criado+pela+revolucao+6800904.html

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Offline Fernando Silva

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #4 Online: 19 de Junho de 2009, 07:23:09 »
- 40 milhões de votos com urnas tradicionais contados em poucas horas?
- O cara que costumava ganhar 5 milhões de votos agora ganhou só 280 mil?

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #5 Online: 19 de Junho de 2009, 08:18:16 »
Eles tb estão usando urnas eletrônicas brasileiras? :lol:

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #6 Online: 19 de Junho de 2009, 21:38:11 »
Líder supremo do Irã endossa vitória de Ahmadinejad

O líder supremo do Irã, aiatolá Khamenei, endossou nesta sexta-feira o resultado das eleições que reelegeram o presidente Mahmoud Ahmadinejad e pediu que a oposição ponha um fim aos protestos que tomaram conta da capital, Teerã, nesta semana.

Em seu primeiro pronunciamento à nação desde as eleições, Khamenei disse que o resultado do pleito - contestado pela oposição - foi justo.

Ele disse que os protestos eram inaceitáveis e que suas lideranças seriam responsabilizadas por qualquer derramamento de sangue ocorrido nas manifestações.

A oposição cancelou um protesto marcado para esta sexta-feira, mas disse que haverá novas passeatas no sábado.

Preces

O discurso foi realizado no momento das tradicionais preces muçulmanas das sextas-feiras, na Universidade de Teerã, palco de vários choques entre policiais e estudantes nos últimos dias.

O aiatolá afirmou que os organizadores da eleição sabiam que não seriam permitidas fraudes e apelou para que os candidatos que tenham dúvidas sobre o resultado da eleição usem o sistema legal.

Khamenei afirmou ainda que diplomatas de alguns países ocidentais que vinham elogiando o processo democrático no Irã "removeram as suas máscaras nos últimos dias".

Ele disse que eles estão mostrando sua verdadeira imagem - mostrando inimizade para com o Estado islâmico.

Protestos

A esperada manifestação de Khamenei ocorreu depois de vários dias consecutivos de atos públicos realizados por partidários do rival de Ahmadinejad, Mir Hossein Mousavi, que acredita que houve fraude nas votação.

Alguns dos atos foram os maiores desde a Revolução Islâmica, há 30 anos. Na quinta-feira, mais de cem mil pessoas participaram de um "dia de luto" em Teerã, convocado por Mousavi, para homenagear oito pessoas que morreram durante protestos na segunda-feira.

As autoridades prenderam centenas de pessoas que consideram opositores do regime, bloquearam acesso a vários websites e restringiram o trabalho de jornalistas.

Mousavi e dois outros candidatos derrotados no pleito apresentaram mais de 600 alegações de irregularidades ao Conselho dos Guardiões, que é a mais alta autoridade eleitoral.

Entre as queixas estão a falta de cédulas, pressão exercida sobre eleitores para votar em um determinado candidato e o impedimento do acesso de representantes de candidatos nas seções eleitorais. O conselho convidou os três candidatos para uma reunião no sábado para discutir suas objeções à condução do pleito.

Ahmadinejad defendeu sua vitória em um discurso pela TV iraniana na quinta-feira que, de acordo com correspondentes, é um sinal de que ele está levando os protestos mais a sério. "Nesta eleição, a vitória pertence aos 70 milhões de iranianos e aos 40 milhões que participaram da votação. Todos são vitoriosos", afirmou.

http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/06/19/lider+supremo+do+ira+endossa+vitoria+de+ahmadinejad+6824947.html

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #7 Online: 20 de Junho de 2009, 04:53:31 »
Alerta de aiatolá põe em risco protesto de Mousavi no Irã

Eleitores do candidato presidencial derrotado Mirhossein Mousavi decidirão neste sábado se desafiam o rigoroso alerta da maior autoridade do Irã para realizar protestos de massa contra a polêmica eleição.

O mais alto órgão legislativo do Irã realizará na manhã de sábado uma sessão extraordinária, para a qual foram convidados Mousavi e os dois outros candidatos derrotados pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad na eleição de 12 de junho que Mousavi quer anular.

O líder supremo aiatolá Ali Khamenei exigiu o fim dos protestos nesta sexta-feira, fazendo o duro alerta aos líderes das manifestações de que eles serão responsáveis por qualquer derramamento de sangue.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condenou a violência praticada pelas forças de segurança e acredita que os iranianos devem ser livres para protestar, disse seu porta-voz nesta sexta-feira após o discurso de Khamenei. A resposta norte-americana endureceu o tom da Casa Branca sobre os eventos ocorridos após a eleição no Irã.

As palavras de Khamenei parecem sugerir uma repressão futura aos protestos por parte das autoridades. Khamenei declarou que a eleição foi vencida de forma limpa por Ahmadinejad, sem as fraudes alegadas por Mousavi para anular o pleito.

Outro candidato derrotado, Mehdi Karoubi, pediu em carta aberta ao órgão legislativo Conselho dos Guardiães que a eleição seja cancelada.

Não havia uma resposta imediata dos seguidores de Mousavi sobre se eles manterão o protesto planejado para as 16h de sábado (8h30 horário de Brasília) no centro de Teerã.

Um aliado de Mousavi disse que ele não está pedindo que as pessoas voltem às ruas novamente. "Mousavi não planeja realizar um protesto amanhã ou depois de amanhã", contou à Reuters.

Mas seus seguidores podem decidir aparecer de qualquer maneira, como dezenas de milhares de pessoas fizeram na terça-feira apesar do pedido de Mousavi para que continuassem em casa.

Se continuarem em desafio ao alerta explícito de Khamenei, eles se arriscam a uma resposta severa das forças de segurança, que até agora não tentaram combater os protestos mais amplos no país desde a Revolução Islâmica de 1979.

A mídia estatal tem reportado que sete ou oito pessoas foram mortas desde o início dos protestos, provocados pela divulgação em 13 de junho do resultado oficial da eleição e com manifestações de seguidores de Mousavi em várias cidades iranianas.

Vários reformistas foram presos, e as autoridades têm reprimido a imprensa nacional e internacional.

Em sinal de desafio, apoiadores de Mousavi subiram em telhados de Teerã após o por-do-sol nesta sexta-feira para gritar Allahu Akbar (Deus é o maior), ecoando uma tática da Revolução Islâmica de 1979.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/06/19/alerta+de+aiatola+poe+em+risco+protesto+de+mousavi+no+ira+6844943.html

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #8 Online: 20 de Junho de 2009, 23:28:18 »
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Grito da Revolução iraniana volta a ser ouvido em Teerã

O grito Allahu Akbar (Alá é grande), usado durante a revolução de 1979 que tirou do poder o último xá da Pérsia, Mohamad Reza Pahlevi, voltou a ser ouvido esta noite (hora local) com força em Teerã em apoio à oposição que exige a repetição de eleições no país.
Pouco após a meia-noite, e pelo sexto dia consecutivo, milhares de pessoas foram às janelas ou portas das casas para respaldar, com a expressão, as reivindicações do líder opositor, Mir Hussein Moussavi.

O ex-primeiro-ministro e os outros candidatos derrotados nas eleições de 12 de junho denunciaram fraudes em favor do vencedor, o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Desde então, o Irã é palco de protestos diários e alguns confrontos entre a oposição e as forças de segurança, que até o momento deixaram pelo menos oito mortos, segundo a rádio oficial.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/06/20/grito+da+revolucao+iraniana+volta+a+ser+ouvido+em+teera+6853933.html
Citar
Atentado mata uma pessoa no Irã; polícia e oposição entram mais uma vez em confronto

Pelo menos uma pessoa morreu e duas ficaram feridas em um atentado suicida registrado neste sábado perto do mausoléu do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, no sul de Teerã, informou a emissora "PressTV".

O protesto neste sábado é realizado apesar da determinação de Khamenei, que exigiu o fim das manifestações e advertiu aos três líderes da oposição que eles seriam os responsáveis diretos das consequências desses atos.

Diversos confrontos entre a polícia e os oposicionistas estão sendo registrados. Simpatizantes do candidato derrotado à presidência do Irã Mirhossein Mousavi atearam fogo a um prédio na região sul de Teerã usado por apoiadores do presidente Mahmoud Ahmadinejad, disse uma testemunha à Reuters. A testemunha também disse que a polícia atirou para o alto para dispersar manifestantes rivais na rua Karegar, na capital.

Mousavi reiterou neste sábado o pedido de anulação da eleição. "Todas as contagens (de irregularidades), às quais se acrescentam as demais mencionadas em minhas cartas anteriores, são suficientes para anular a eleição", disse Moussavi em uma mensagem enviada ao Conselho dos Guardiães.

<a href="http://www.youtube.com/v/cw9sIVeuIIo" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/cw9sIVeuIIo</a>
Vídeo é divulgado por manifestantes no YouTube

Polícia nas ruas


Foto de blog mostra policiais nas ruas de Teerã

Segundo informações obtidas pela agência internacional de notícias AFP, a polícia antidistúrbios iraniana impedia que manifestantes chegassem à praça Enqelab de Teerã, agredindo alguns deles.

"A polícia antidistúrbios proíbe as pessoas de se aproximar da praça Enqelab, na qual está prevista uma manifestação, e bloqueia a passagem das pessoas nas ruas, empurrando as pessas na calçada e com agressões", declarou a testemunha à agência.

Outra testemunha afirmou que entre 1.000 e 2.000 manifestantes estavam diante da Universidade de Teerã, perto da praça Enqelab. Segundo ela, a polícia utiliza jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os presentes.

A imprensa estrangeira não está autorizada a cobrir ou tirar fotos dos acontecimentos que não são autorizados pelo ministério iraniano da Cultura e Orientação Islâmica.

As imagens que ilustram essa reportagem foram divulgadas por agências internacionais, porém de autoria de blogueiros iranianos que as publicaram neste sábado. Os autores conseguiram furar o bloqueio imposto pelo governo e mostrar que policiais e militares estão nas ruas de Teerã.

Recontagem de votos

O Conselho dos Guardiães, encarregado de validar as eleições iranianas, anunciou neste sábado que decidiu recontar 10% das urnas do pleito do último dia 12 de forma aleatória.


Imagem mostra militares nas ruas Terrã

"Embora o Conselho dos Guardiães não seja legalmente obrigado, estamos dispostos a recontar 10% das urnas ao acaso, na presença de representantes dos três candidatos derrotados", disse o porta-voz do Conselho à TV estatal.

Suposta fraude

A oposição iraniana denuncia supostas irregularidades nas eleições presidenciais de 12 de junho, que terminaram com a polêmica vitória já no primeiro turno do atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad.

Desde a divulgação do surpreendente resultado, a oposição realiza grandes protestos diários, e alguns deles terminaram com enfrentamentos entre as forças da ordem - apoiadas por milicianos islâmicos "Basij" - e grupos de manifestantes.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/06/20/atentado+perto+de+mausoleu+de+khomeini+mata+1+e+fere+2+no+ira+6851906.html

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APENAS 3.000.000 de votos
« Resposta #9 Online: 22 de Junho de 2009, 07:25:10 »
O porta-voz do conselho dos guardiões iraniano (formado por 6 cléricos nomeados pelo aiatolá mais 6 juristas escolhidos pelo parlamento [lembrando que a lei do Irã é a sharia]) admitiu que houve fraudes porque ocorreram em APENAS 50 regiões eleitorais e totalizaram 3.000.000 de votos. "Os números de Mohsen Rezaei, que denuncia que mais de 100% dos eleitores cadastrados foram às urnas em 170 cidades, não estão corretos; isto só aconteceu em SÓ 50 localidades", disse Abbas Alí Kadkhodaei.

O Conselho dos Guardiões, é o órgão colegiado mais poderoso da teocracia Iraniana. Aprova as leis vindas do parlamento, veta as que não estão de acordo com a constituição ou com as leis religiosas e veta canditatos presidenciais que não se adequem ao regime.

http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/06/22/conselho-de-guardiaes-admite-que-houve-irregularidades-nas-eleicoes-do-ira-756446670.asp

Offline Pregador

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #10 Online: 22 de Junho de 2009, 15:41:41 »
Se eu fosse o Aiatolá estaria muito preocupado com o futuro do regime...
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #11 Online: 22 de Junho de 2009, 17:04:12 »
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Conselho dos Guardiões reconhece irregularidades em eleições no Irã

O orgão que supervisiona as eleições no Irã, o Conselho dos Guardiões, reconheceu nesta segunda-feira que houve irregularidades em mais de 50 zonas eleitorais nas eleições presidenciais do último dia 12.

O conselho declarou que o número de votos contados em 50 cidades ultrapassou o de eleitores registrados, mas acrescentou que isso não iria afetar o resultado geral da eleição, vencida pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Também nesta segunda-feira, o Ministério do Exterior iraniano acusou países ocidentais de inflamar os protestos contra o resultado das eleições, espalhando “vandalismo e anarquia”.

Um porta-voz do governo disse que a mídia estrangeira é “porta-voz” de governos inimigos que buscam a desintegração do Irã.

Teerã amanheceu quieta, mas tensa, nesta segunda-feira, com segurança reforçada nas ruas para evitar novos protestos como os vistos na semana passada.

O candidato presidencial derrotado, Mir Hossein Mousavi, afirma que houve fraude a favor do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad, e exige a convocação de uma nova eleição.

Mousavi pediu aos seus simpatizantes que continuem os protestos, mas sem colocar suas vidas em risco.

Pelo menos dez pessoas teriam sido mortas em choques entre forças de segurança e manifestantes, durante os protestos de sábado. Outras 457 teriam sido presas por conta da violência, de acordo com a rádio estatal iraniana.

A violência se seguiu a um alerta do líder supremo do Irã na sexta-feira, Aiatolá Ali Khamenei, que afirmou que novos protestos contra os resultados da eleição não serão tolerados.

Os protestos começaram depois que Ahmadinejad foi declarado o vencedor nas eleições do último dia 12. Os resultados mostraram a vitória de Ahmadinejad por larga vantagem, com 63% dos votos, quase o dobro de Mousavi, o segundo colocado.

Contatando o inimigo

Falando em uma conferência de imprensa nesta segunda-feira, o porta-voz do Ministério do Exterior Hassan Qashqavi acusou os governos ocidentais de apoiar abertamente os violentos protestos, com o objetivo de minar a estabilidade da República Islâmica do Irã.

“A difusão de anarquia e vandalismo por potencias ocidentais e pela mídia ocidental... não será aceita”, disse ele.

Segundo o porta-voz, o Ocidente está agindo de maneira “antidemocrática”, em vez de elogiar o compromisso do Irã com a democracia. Ele ainda voltou a lembrar que o resultado da eleição não será anulado.

Nos últimos dias, o Irã vem criticando fortemente os governos americano e britânico, e Qashqavi citou nominalmente a BBC e a rede Voz da América, qualificadas por ele como “canais do governo”.

Desde a semana passada, a BBC e outras empresas estrangeiras de mídia vêm reportando do Irã sob severas restrições. No domingo, o governo pediu ao correspondente permanente da BBC em Teerã, Jon Leyne, que deixe o país.

“Eles (a BBC e a Voz da América) são porta-vozes da diplomacia pública de seus governos”, disse Qashqavi. “Eles têm duas orientações em relação ao Irã: primeiro, intensificar divisões éticas e raciais dentro do Irã e, segundo, desintegrar os territórios iranianos.”

“Qualquer contato com algum desses canais, sob qualquer pretexto ou qualquer forma, significa contatar o inimigo da nação iraniana.”

Calma

Testemunhas disseram que não houve comícios na capital no domingo, um dia depois da provável morte de 10 manifestantes em choques com a polícia. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, 23 jornalistas locais e blogueiros foram presos na última semana.

Entre os detidos nos últimos dias, estavam vários membros da família de Akbar Hashemi Rafsanjani – um poderoso opositor a Ahmadinejad.

Segundo analistas, as prisões foram uma surpresa, já que Rafsanjani é o líder da Assembléia dos Especialistas – um grupo dirigido por clérigos que tem poder para remover o líder supremo do Irã.

Todos os seus parentes, no entanto, teriam sido soltos até a noite de domingo. Mousavi, cujos simpatizantes formam a grande maioria dos manifestantes, pediu a eles que continuem os protestos.

“Protestar contra mentiras e fraude é seu direito. Em seus protestos, continuem a demonstrar calma”, disse um comunicado em seu website.

De acordo com analistas, as declarações de Mousavi e os protestos nas ruas são o maior desafio já enfrentado pelo Estado em seus 30 anos de existência como república islâmica.

No domingo, milhares de agentes de segurança patrulhavam as ruas, mas não houve protestos.

Segundo o correspondente da BBC em Teerã Jeremy Bowen, muitos moradores do norte da cidade – a parte rica – podiam ser ouvidos gritando “morte ao ditador” e “Deus é grande” do alto de seus telhados, no domingo à noite.

Os gritos se tornaram uma forma popular de protesto e segundo Bowen, o coro de domingo à noite foi mais alto do que o dos dias anteriores.

http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/06/22/conselho+dos+guardioes+reconhece+irregularidades+em+eleicoes+no+ira+6871947.html
Citar
Os peões e os aiatolás no xadrez iraniano

Explosão nas ruas e implosão do sistema. As forças de segurança e vigilantes botam para quebrar nas manifestações iranianas. E dentro do aparato de poder, existe um racha. O espírito de resistência (e sacrifício) dos manifestantes na base será um fator decisivo na crise, assim como os cálculos dos atores políticos no topo da pirâmide sobre até que ponto estão dispostos a desafiar o aiatolá Ali Khamenei, para o qual é uma heresia cogitar que tenha ocorrido fraude na eleição de 12 de junho, favorecendo Mahmoud Ahmadinejad.

Em termos imediatos, o principal cálculo precisa ser feito pelo prejudicado nas eleições, o ex-primeiro-ministro Mir Hussein Moussavi. Ele é a figura mais próxima de líder da resistência e precisa decidir se radicaliza ou não o seu discurso e atuação. Assim como outros dois aliados vitais, os ex-presidentes Mohammad Khatami e Rafsanjani, o dilema é que no esforço de salvar o sistema de sua falta de legitimidade, Moussavi sabe que pode destruí-lo.

Atores bem mais leais ao sistema também precisam calcular até que ponto compensa endossar a farsa eleitoral. Neste sentido é sintomático que o influente presidente do Parlamento, Ali Larijani, que não integra as hostes reformistas ou mesmo de conservadores mais pragmáticos, também acena sobre a necessidade de uma completa recontagem dos votos (e não apenas de uma pequena parcela, o que serviria para endossar a farsa). No domingo, Larijani disse que a "maioria das pessoas é da opinião de que os verdadeiros resultados eleitorais são diferentes daqueles que foram anunciados". Larijani, que tem suas próprias aspirações presidenciais, joga com ambiguidade. Ele também investiu contra países europeus por sua "vergonhosa" intromissão em assuntos internos iranianos, questionando os resultados eleitorais.

Em meio ao aprofundamento da crise interna, era esperado que Ahmadinejad o aparato de propaganda oficial fossem à carga contra paises e jornalistas estrangeiros. O foco são os suspeitos habituais, embora as acusações mais estridentes de ingerência sejam feitas contra a Grã-Bretanha e não os EUA. Pobre e frágil governo britânico de Gordon Brown, tão ocupado em sobreviver no mar de conspirações dentro de Londres e precisa se defender das denúncias de estar tramando em Teerã.

E God Bless the BBC, cujo bravo correspondente na capital iraniana, Jon Leyne, foi botado para fora do país, acusado de fazer distorções na sua cobertura. Impecável é a imprensa estatal iraniana que rotula os manifestantes de terroristas. Quando vão chamar Moussavi de agente do Mossad?

É sempre importante manter o foco na eleição em si para desmascarar a farsa do regime. E mais um golpe foi desferido pela Chatham House (estes ingleses conspiratórios), o respeitadíssimo e não- governamental centro de estudos internacionais baseado em Londres. No domingo, publlicou uma análise dos resultados eleitorais, com base nas cifras oficiais (que deram 2/3 dos votos para Ahmadinejad). A análise mostra que o comparecimento às urnas passou de 100% em duas das 30 províncias. As alegações de que Ahmadinejad tenha dado uma lavada na área rural é incongruente com resultados anteriores. Em 1/3 das províncias, os resultados oficiais exigiram que Ahmadinejad recebesse não apenas todos os antigos votos conservadoreres e centristas e de novos votantes, mas 44% dos antigos votos reformistas. Na sua província de Lorestão, o segundo candidato reformista, Mehdi Karoubi, foi simplesmente arrasado (4.6% dos votos), embora tenha obtido 55.5% nas eleições de 2005.

Na conclusão da Chatham House, são resultados implausíveis. Seria até plausível que o aiatolá Khamenei e seu garotinho Ahmadinejad aceitassem o óbvio: se o presidente realmente conseguiu 2/3 dos votos, qual seria o problema com uma recontagem total ou uma nova votação?

http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2009/06/22/os+peoes+e+os+aiatolas+no+xadrez+iraniano+6870900.html

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #12 Online: 23 de Junho de 2009, 19:46:01 »
Jovem morta em protesto vira símbolo da revolta no Irã

Um vídeo amador que circula pela internet tornou a jovem Neda Soltani, 16 anos, o símbolo da revolta reformista no Irã. As imagens mostram a garota, morta neste sábado, momentos depois de ser atingida por um tiro durante protesto contra o resultado das eleições do dia 12 de junho.


O vídeo, gravado em um telefone celular e divulgado na internet, mostra Neda com sangue em seu rosto e rodeada por pessoas que tentam ajudá-la.

Alguns dos internautas que postaram o vídeo, em sites como Facebook e YouTube, afirmam que a jovem foi morta pela milícia Basij. Segundo a agência AP, a informação não pôde ser confirmada pela imprensa internacional, devido aos limites de cobertura impostos pelo governo iraniano.

Nesta segunda-feira, a oposição pediu que a população da capital, Teerã, acendesse luzes e velas em lembrança de Neda e dos outros manidestantes que perderam a vida durante as mobilizações.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/06/22/jovem+morta+em+protesto+vira+simbolo+da+revolta+no+ira+6879953.html

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #13 Online: 24 de Junho de 2009, 17:50:48 »
Polícia iraniana reprime manifestação no Parlamento com violência

A polícia iraniana reprimiu com violência uma manifestação em frente à sede do Parlamento do país, realizada nesta quarta-feira, disseram testemunhas à agência EFE.

Tropas de choque e grupos de milicianos islâmicos Basij usaram gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar grupos de pessoas que levantavam os braços e clamavam "Alahu Akbar" ("Deus é grande"), segundo as fontes.

O Irã vem sendo palco de protestos e confrontos desde o último dia 13, quando foi anunciada a reeleição do presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, em resultado considerado fraudulento pela oposição.

As manifestações têm sido reprimidas com dureza pela polícia e grupos de milicianos Basij. Pelo menos vinte pessoas já morreram durante os distúrbios, segundo números oficiais.

Nesta quarta-feira, o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, declarou que as autoridades não cederão à onda de manifestações contrárias à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

"Nos recentes incidentes que envolvem a eleição, eu venho insistindo na aplicação da lei e continuarei. Nem o sistema, nem o povo vão ceder pela força", declarou.

Jornalistas presos

Nesta quarta-feira, polícia iraniana prendeu cerca de 20 pessoas na sede do jornal "Kalameh", favorável ao candidato derrotado Mir Hossein Mousavi.

"No momento em que a polícia invadiu o jornal havia aproximadamente 20 pessoas. Cinco eram do setor administrativo e o restante jornalistas", afirmou uma fonte da agência EFE, que preferiu não se identificar.

Segundo a mesma fonte, a redação do jornal, localizada em um edifício no centro de Teerã, já não estava em funcionamento, mas ainda era utilizada como centro de reunião.

A polícia iraniana anunciou que tinha desmantelado o quartel-general dos "sabotadores", "utilizado como base de campanha por um dos candidatos presidenciais" derrotados no dia 12 de junho.

"Após revistar o edifício, que era utilizado pela campanha de um dos candidatos, foi descoberto que aconteciam reuniões ilegais que promoviam os distúrbios e trabalhavam contra a segurança do país", disse a polícia em comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Irna.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/06/24/policia+iraniana+reprime+manifestacao+no+parlamento+com+violencia+6924908.html

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #14 Online: 24 de Junho de 2009, 18:33:44 »
Jovem morta em protesto vira símbolo da revolta no Irã

Neda´s Voice: in memoriam :(
"A velhacaria e a idiotice humanas são fenômenos tão correntes, que eu antes acreditaria que os acontecimentos mais extraordinários nascem do seu concurso, ao invés de admitir uma inverossímil violação das leis da natureza".  - Hume

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #15 Online: 27 de Junho de 2009, 22:18:15 »
Moussavi rejeita comissão de investigação e exige repetição de eleições no Irã

O candidato reformista à Presidência do Irã Mir Hussein Moussavi, derrotado nas eleições do último dia 12, rejeitou neste sábado participar da comissão especial proposta pelo Conselho de Guardiães para investigar as supostas irregularidades do pleito. Ele alegou que a comissão não seria imparcial.

A decisão de Moussavi, que já foi primeiro-ministro do Irã, veio a público poucas horas depois de o Conselho de Discernimento, órgão presidido pelo ex-presidente iraniano Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, respaldar a formação da citada comissão.

"O Conselho de Guardiães, e especialmente a comissão que pretendem criar, não vai oferecer um julgamento justo. Insisto na anulação dos resultados", afirma o candidato opositor em seu site, no qual ressalta também que "a solução mais adequada ao problema é a repetição das eleições".

O ex-primeiro-ministro, que enviou uma carta sobre o assunto ao conselho, insistiu que se deve formar uma comissão, mas uma "independente, aceita por todos os candidatos e apoiada pelos principais clérigos, que investigue também os protestos e os distúrbios que sacudiram o Irã após as eleições".

Os controvertidos resultados revelaram as divergências entre o líder supremo da Revolução Islâmica, Ali Khamenei, e o ex-presidente Rafsanjani, considerado um dos homens mais poderosos do país.

A máxima autoridade do Irã respalda a polêmica reeleição do presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad.

Moussavi vinha insistindo em que o pleito estava arranjado com semanas de antecedência e exigiu a repetição.

Hoje, o Conselho de Discernimento pediu ao ex-primeiro-ministro e aos outros dois candidatos derrotados, o reformista Mehdi Karrubi, e ao conservador Mohsen Rezaei, para que aceitem a comissão de investigação eleitoral sugerida pelo poderoso Conselho de Guardiães.

"O Conselho de Discernimento crê que a melhor via e a mais apropriada para resolver os conflitos são os canais legais", explica o órgão, que atua como mediador nas disputas entre o Parlamento e o Conselho de Guardiães, organismo responsável por validar os controvertidos resultados eleitorais.

O documento recomenda aos candidatos que "não percam a oportunidade de apresentar todos os documentos e provas. A investigação deve ser exaustiva e precisa".

O Conselho de Guardiães anunciou na sexta-feira que está disposto a formar uma comissão para apurar novamente 10% das urnas na presença de delegados dos três candidatos derrotados.

A decisão foi anunciada depois de o porta-voz do citado órgão, Abbas Ali Kadkhodaei, ter assegurado que as últimas eleições foram "as mais limpas" nos 30 anos de Revolução Islâmica e que não haveria necessidade de repeti-las, como pede a oposição.

Os candidatos derrotados apresentaram um total de 646 queixas por supostas irregularidades em favor de Ahmadinejad.

Rezaei expressou sua disposição em participar da citada comissão política caso os outros dois concorrentes derrotados também o façam.

"Acho que a comissão especial pode ser uma boa via de escape para a atual situação, sempre que os representantes dos três candidatos derrotados participem e haja um exame preciso de todas as queixas", afirmou em carta dirigida ao Conselho de Guardiães.

O site em língua persa "Tabnak", próximo a Rezaei, afirma que Karrubi também está disposto a participar da comissão.

Protestos

O Irã é palco de protestos e de uma violenta repressão desde o anúncio, há duas semanas, dos resultados do pleito presidencial, denunciado como fraudulento pela oposição.

Segundo números oficiais, pelo menos 20 pessoas morreram na repressão. Centenas foram detidas ou estão em paradeiro desconhecido.

O processo desencadeou a pior crise política desde a fundação da República Islâmica, há 30 anos.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/06/27/moussavi+rejeita+comissao+de+investigacao+e+exige+repeticao+de+eleicoes+6994913.html

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To treat a man like a pig
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Re: Eleições no Irã
« Resposta #16 Online: 05 de Julho de 2009, 21:06:46 »
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BBC Brasil
Clérigos iranianos afirmam que eleição foi 'inválida'


Um grupo de clérigos do Irã afirmou que a eleição presidencial do país foi inválida, contradizendo os resultados oficiais que levaram à reeleição de Mahmoud Ahmadinejad e a protestos que deixaram pelo menos 20 mortos.

A declaração dos clérigos reformistas vai contra o Conselho dos Guardiões do Irã, que, na semana passada, endossou formalmente a vitória de Ahmadinejad.

O Conselho dos Guardiões é um conselho de 12 pessoas, seis líderes religiosos e seis juristas. Os seis religiosos são indicados pelo líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei.

O grupo de clérigos reformistas afirma que o Conselho dos Guardiões não tem mais o direito "de julgar este caso".

Em uma declaração à imprensa, o grupo - Acadêmicos e Pesquisadores da Assembleia do Seminário de Qom - afirmou que alguns integrantes do conselho "perderam a imagem de imparcialidade perante o público".

"Como alguém consegue aceitar a legitimidade da eleição apenas devido ao fato de o Conselho dos Guardiões afirmar (que a eleição foi legítima)? Alguém pode dizer que um governo nascido de violações é um governo legítimo", afirmou a declaração dos clérigos.

Desafio

Segundo correspondentes a declaração do grupo de clérigos é mais uma prova da divisão na elite iraniana. E, em particular, foi um ato de desafio contra o líder supremo aiatolá Ali Khamenei.

Os clérigos reformistas afirmaram ainda que o Conselho dos Guardiões não "prestou atenção" às reclamações dos candidatos derrotados Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi. Eles também pediram que outros clérigos os apoiem e, como eles, declarem que a eleição presidencial e o governo são ilegítimos.

Desde as eleições do dia 12 de junho o Irã tem passado por momentos difíceis. A votação resultou na reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, mas seus opositores disseram que o pleito foi fraudulento, o que gerou uma série de grandes protestos nas ruas, os maiores dos últimos anos, com centenas de milhares de pessoas nas ruas.

No sábado, o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, uma figura influente da política iraniana e partidário de destaque do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, se reuniu com familiares de manifestantes que foram detidos durante os protestos e disse que os eventos depois das eleições causaram amargura no país.

Foi a primeira vez que Rafsanjani se pronunciou em público desde a eleição. Ele afirmou às famílias que todas as pessoas que tenham "uma consciência vigilante" não podem estar satisfeitas com a situação atual.

"Espero que com uma boa administração e sabedoria, as questões sejam resolvidas nos próximos dias e a situação possa melhorar... Devemos pensar sobre a proteção dos interesses do sistema no longo prazo", afirmou.

Libertação


O governo da Grã-Bretanha afirmou que dois dos funcionários da embaixada britânica que foram detidos por "incitar os protestos" seriam libertados.

O Irã vem acusando repetidamente governos estrangeiros – especialmente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos – de interferir nos assuntos do país desde as eleições de 12 de junho.

Neste domingo a agência de notícias estatal Irna informou que, segundo o chefe da polícia do Irã, cerca de dois terços das pessoas que foram presas devido aos protestos já tinha sido libertadas.

O Ministério do Exterior iraniano informou também que um jornalista grego-britânico que trabalhava para o jornal The Washington Times e que tinha sido preso por envolvimento "com os recentes tumultos nas ruas", foi libertado.
Fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090705_iranclerigoseleicaofn.shtml
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

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Re: Eleições no Irã
« Resposta #17 Online: 06 de Julho de 2009, 04:59:55 »
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O poder da mão de ferro do Irã

Teerã está em estado de emergência enquanto o governo prossegue em sua repressão brutal contra os manifestantes. Linhas-duras e políticos de oposição estão em busca de um acordo nos bastidores, mas o líder supremo do Irã se recusa a fazer qualquer concessão.

A pressão deve realmente ser grande para alguém como Abbas Abdi não querer mais conversar. Seja como revolucionário ou como reformista, Abdi, 51 anos, nunca careceu de coragem e disposição para assumir riscos. Durante a ocupação da embaixada americana em Teerã, em 1979, ele foi um dos primeiros a escalar os muros da embaixada. Com seus brados de "luta contra a arrogância global", ele se tornou o mais famoso dentre aqueles que mantiveram mais de 50 cidadãos americanos cativos por 444 dias.

Mas Abdi também esteve na linha de frente das críticas à teocracia iraniana. Poucos anos após a revolução, ele atacou fortemente os mulás, os acusando de corrupção e nepotismo. Ele conhece bem o interior da notória prisão de Evin, em Teerã, como resultado. Mas Abdi continua lutando pela liberalização e democracia.

Mas até mesmo Abdi ficou sem fala diante da brutalidade que o regime está atualmente empregando contra os críticos da suposta vitória eleitoral do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O político veterano rejeita as chamadas ao seu celular quando vê um número estrangeiro em sua tela. Ele também recusa de forma educada mas firme as ligações ao seu telefone fixo, mesmo quando conhece a pessoa que está ligando. Falando em tons sussurrados, como se isso pudesse impedir a polícia secreta iraniana de ouvir suas palavras, ele recorda à pessoa do outro lado da ligação as consequências para os iranianos de ter contato com estrangeiros, especialmente jornalistas.

Nas orações de sexta-feira da semana passada, o aiatolá Ali Khamenei, o líder revolucionário e líder supremo do país, caracterizou a imprensa internacional como "inimiga" do Irã, alegando que ela "retratou muitas coisas incorretamente". De lá para cá, falar com representantes da imprensa estrangeira se tornou perigoso para os iranianos.

A proibição também se aplica à "Spiegel", que realizou uma entrevista de duas horas com o presidente Ahmadinejad há poucas semanas, e com seu principal adversário eleitoral, Mir Hossein Mousavi, poucos dias depois. Após a matéria de capa da "Spiegel" na semana passada, intitulada "Rebelião Contra os Radicais", o "Kayhan", o principal jornal pró-governo, chamou a revista alemã de "jornal sionista".

Dada a atmosfera carregada, críticos do regime como Abdi poderiam muito bem ser acusados de traição apenas por darem uma entrevista - e a pena por traição no Irã é a morte. A perseguição violenta em Teerã espalhou o medo, especialmente agora que o temido promotor público chefe de Teerã assumiu o controle de todas as investigações dos "agitadores" e montou um "tribunal especial" para lidar com esses casos.

Mão de ferro

Será que a chamada "Revolução Verde" morrerá nas mãos da Justiça islâmica, que, nos últimos 30 anos, esmagou todas as tentativas de desvio das regras impostas pelos estudiosos religiosos que controlam o país? Após os protestos em massa contra as irregularidades na eleição, o país foi atingido por uma onda de prisões e repressão não vista no Irã desde os primórdios sangrentos da república. Até mesmo o reservado presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que deseja resolver o conflito nuclear com o regime, disse estar "chocado e ultrajado" com os eventos no Irã e condenou fortemente as "ameaças, agressões e prisões" como evidência da "mão de ferro" do governo.

Os protestos de rua não são mais apenas o resultado daquela que pode ser a maior fraude eleitoral da história da República Islâmica. Os cantos dos manifestantes de "onde está meu voto?" se transformaram em pedidos de "morte ao ditador". E a retórica deles não é voltada apenas ao vencedor oficial da eleição contestada, Ahmadinejad. Em vez disso, as críticas públicas são cada vez mais direcionadas ao homem por trás do presidente, o aiatolá Ali Khamenei, que antes era considerado acima de toda reprovação. Declarar prematuramente a vitória de protegido Ahmadinejad provou ser o maior erro de Khamenei nos 20 anos em que está no poder.

O influente grão-aiatolá Yousef Sanei considera o envolvimento de Khamenei na fraude eleitoral -independente de ter conhecimento prévio ou apenas ter dado sua bênção à fraude após o fato- como "haram", ou pecado. A posição do líder revolucionário exige que ele permaneça neutro. Mohsen Kadivar, um imã e filósofo religioso, fala em nome de muitos acadêmicos quando diz, se referindo a Khamenei: "Ele me lembra muito o xá, que, no final, estava apenas preocupado em preservar seu regime".

Chutados, espancados e baleados

Em resposta às ordens expressas de Khamenei, as milícias Basij, que respondem diretamente a ele, e a temida Guarda Revolucionária, os pasdaran, deram início a uma onda de agressões e mortes. Segundo números oficiais, até o final da semana passada, 18 pessoas morreram em choques entre os manifestantes em grande parte pacíficos e os capangas do governo, vítimas que foram chutadas, espancadas ou mortas a tiros - como a jovem estudante Neda, cuja morte a transformou em mártir do movimento de oposição e objeto de pesar nacional.

O número real de mortos provavelmente é muito maior, apesar do regime dos mulás ter evitado até o momento uma resposta da magnitude do massacre da Praça Tiananmen, em Pequim em 1989, que resultou provavelmente em milhares de manifestantes mortos. Segundo a oposição, os confrontos resultaram em mais de 100 mortos em todo o país. O tipo de reportagem independente capaz de verificar esses números é impossível há dias. Os números citados em e-mails, em páginas de Internet e em sites de rede social como Twitter e YouTube se baseiam nos relatos dos manifestantes.

Todavia, os relatos das testemunhas sugerem que o número de mortos é alto. Na metade da semana, um estudante de medicina descreveu as condições nos hospitais como "caóticas". Apesar das ordens oficiais para que todas as vítimas da violência ligada às manifestações fossem enviadas aos hospitais militares, notou o estudante, os hospitais da cidade estão "lotados". Muitos dos que deram entrada aparentemente sofreram traumas severos. Na noite anterior, disse o estudante, nove pacientes no hospital onde ele trabalha morreram devidos aos ferimentos; cerca de 28 pacientes tinham ferimentos de bala. Segundo o estudante, funcionários do governo chegavam nas primeiras horas da manhã e removiam os mortos "em caminhões, antes que pudéssemos até mesmo obter seus nomes ou qualquer outra informação".

Travando guerra contra Deus

O destino da maioria dos presos ainda continua incerto. Em Isfahan, Shiraz e Mashhad, cidades que também viram protestos em grande escala, as forças de segurança informaram a detenção de cerca de 500 manifestantes. E em Teerã, o centro da inquietação, um campo especial no sul da cidade aparentemente está cheio. O quartel próximo do enorme cemitério de Behesht-e Zahra da cidade, antes usado para abrigar viciados em drogas, agora contém cerca de 1.000 manifestantes.

Diferente das manifestações estudantis em 1999, desta vez não são apenas homens que estão encabeçando as manifestações. Cerca de um quarto dos presos são mulheres jovens. Mousavi, que fez muitas de suas aparições de campanha segurando a mão de sua esposa, trouxe mais mulheres iranianas às urnas do que antes - e as encorajou a se juntarem aos protestos.

O regime nem mesmo hesitou em efetuar prisões nas sedes de campanha dos principais adversários eleitorais. Por todo o país, cerca de 250 funcionários e cabos eleitorais, incluindo conselheiros-chave de Mousavi e do candidato Mehdi Karroubi, foram presos e enviados para a prisão de Evin. Como nos tempos do xá, parentes podiam ser vistos novamente diante da mais notória prisão do país enquanto liam as listas afixadas em busca dos nomes de seus entes queridos. Muitos observadores acreditam que é apenas questão de tempo até os nomes Mousavi e Karroubi aparecerem nas listas.

A brutalidade do regime está tendo um efeito, levando os reformistas a pararem de pedir os protestos. Os próprios protestos se transformaram em iniciativas dispersas realizadas por alguns poucos milhares de manifestantes obstinados, enfrentando forças do governo vastamente superiores. Testemunhas dizem que a cidade parece um "campo militar".

Percebendo que não podem vencer a disputa pelo poder nas ruas, os desafiantes Mousavi e Karroubi deslocaram seus esforços para o establishment religioso. Nesse campo, a posição de Khamenei nunca foi forte, porque ele carece de competência religiosa. Ele recebeu o título de aiatolá ("sinal de Deus"), que é importante para ser nomeado líder revolucionário, mais ou menos da noite para o dia, quando foi designado o herdeiro político do aiatolá Khomeini, o homem que derrubou o xá.

Mousavi e Karroubi são apoiados por um dos mais poderosos e hábeis homens nos bastidores da teocracia dos mulás, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani. Supostamente o homem mais rico no Irã, Rafsanjani há muito é rival de Khamenei. Ele está ciente de que reformas são urgentemente necessárias para salvar o sistema e, se possível, sua própria posição privilegiada. Além disso, o ex-presidente ainda sente as dores da derrota esmagadora para Ahmadinejad na última campanha presidencial, há quatro anos. Já naquela eleição, Rafsanjani alegou que ocorreram "irregularidades" na apuração dos votos.

Uma recontagem parcial da eleição teve início em Teerã e nas províncias do país na segunda-feira, segundo a imprensa estatal. O poderoso Conselho Guardião ofereceu uma recontagem aleatória de 10% dos votos -uma proposta rejeitada por Mousavi, que insiste que toda a eleição deve ser anulada. Observadores esperam que o Conselho Guardião dê seu veredicto final sobre a eleição em breve, possivelmente na segunda-feira.

Muito agora dependerá de que lado da questão ficarão os doze grão-aiatolás em Qom. Como indicação do poder deles, tanto Rafsanjani quanto Mousavi viajaram para a cidade sagrada a 150 quilômetros a sudoeste de Teerã para consultar os líderes religiosos. Os reformistas esperam que o sitiado Khamenei acabe concordando com a realização de novas eleições. Como concessão, Mousavi e Karroubi estão dispostos a abandonar suas candidaturas, desde que Ahmadinejad faça o mesmo. Caso contrário, diz Mousavi, eles prosseguirão seus protestos "dentro da estrutura de nossas opções legais".

Para lamentar a morte da manifestante Neda, os críticos do regime soltaram balões verdes e pretos, as cores de seu movimento e de luto, nos céus de Teerã.

O aiatolá Ahmad Khatami, um dos mais radicais dos linhas-duras, conduziu as orações da última sexta-feira na Universidade de Teerã, local do anúncio de Khamenei da posição dura do governo contra os protestos, na semana passada. Em seus comentários, Khatami pediu aos tribunais para "punirem rigorosamente os líderes dos insurgentes, sem qualquer piedade". Ele os chamou de "mohareban", pessoas que travam "guerra contra Deus".

A pena para essa ofensa é a morte.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/06/30/ult2682u1217.jhtm
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"Minha pátria está rumando para uma ditadura militar", diz filósofo iraniano

Em uma entrevista a Der Spiegel, o teólogo e filósofo iraniano Mohsen Kadivar fala sobre a rota de Teerã rumo a uma ditadura militar, de como os líderes religiosos do país abusam do islamismo e das oportunidades para uma reforma

Mohsen Kadivar é considerado um dos principais críticos religiosos do regime iraniano. Ele passou 18 meses na infame prisão Ervin devido às suas ideias. Em reconhecimento aos seus esforços para reconciliar o islamismo com a democracia, a revista "Time" afirmou que ele é um dos mais importantes inovadores do mundo. Atualmente, o professor, que tem o título religioso de aiatolá, ou "sinal de Deus", está lecionando por um semestre na Universidade Duke, na Carolina do Norte. Kadivar é casado e tem quatro filhos

Spiegel: Aiatolá Kadivar, nós estamos nos reunindo com você aqui, na Universidade Duke, no Estado norte-americano da Carolina do Norte, a 12 mil quilômetros da sua casa. Não há uma necessidade mais urgente da sua presença no Irã neste momento?
Kadivar:
Acredite, nestes momentos dramáticos, eu preferiria estar no meu país. Nas próximas duas semanas, o futuro do Irã será decidido. Quase todos os meus amigos, 95% deles, estão atualmente na prisão. E eu mal consigo fazer contato com a minha família, os telefones estão quase mudos.

Spiegel: Dizem que você foi o coautor das mais recentes declarações do líder oposicionista Mir Hossein Mousavi.
Kadivar:
Isso não é verdade. Embora eu tenha apreciado as declarações dele, elas não foram redigidas por mim. Publiquei as minhas declarações separadamente, embora eu apoie Mousavi fortemente. Nós encontramos formas de nos comunicarmos. Pela Internet ou através de terceiros. Estou em contato constante com o meu país. Todos os dias recebo cerca de cem mensagens.

Spiegel: Neste momento Teerã parece estar tranquila, pelo menos em comparação com os protestos maciços ocorridos na semana retrasada. Será que estamos presenciando o início do fim da resistência - ou o fim do regime iraniano?
Kadivar:
Esta forma iraniana de teocracia fracassou. Os direitos dos povos iranianos foram esmagados e a minha pátria está rumando para uma ditadura militar. O presidente Mahmoud Ahmadinejad comporta-se como um taleban iraniano. O líder supremo, Ali Khamenei, amarrou o seu destino ao de Ahmadinejad, o que foi um grande erro moral, mas também político.

Spiegel: Qual foi o seu conselho para o líder oposicionista Mousavi nos últimos dias? Ele é realmente o líder inconteste do movimento?
Kadivar:
Sim, ele é o líder. Atualmente todos os reformistas apoiam Mousavi, o meu amigo da época em que estudávamos na Universidade Tarbiat Modares, em Teerã. Ele era professor de Ciência Política e eu, de Filosofia e Teologia. Acredito que ele deve insistir na realização de novas eleições e continuar pedindo que sejam feitas manifestações não violentas...

Spiegel: ... manifestações que seriam violentamente reprimidas pelas forças de segurança do regime, a Basij e a Pasdaran.
Kadivar:
No longo prazo, um regime dificilmente consegue opor-se a milhões de manifestantes pacíficos - a menos que opte por um massacre e, ao fazer tal coisa, perca a sua legitimidade. Devemos chamar atenção sistematicamente para os direitos concedidos pela Constituição iraniana. No artigo 27, está claramente especificado que todo cidadão tem o direito de protestar. O nosso protesto é não violento, além de legal e "verde" - embora seja islâmico.

Spiegel: Isso é o que você diz.
Kadivar:
O artigo 56 da nossa Constituição inclui o direito a Deus que é dado a todos os cidadãos iranianos. A seguir os cidadãos elegem o seu líder, o presidente e o parlamento. A Constituição é muito clara quanto a isso: o líder precisa ser eleito, e não pode ser selecionado por aqueles que alegam conhecer a vontade de Deus.

Spiegel: A doutrina estatal da Welayat-e Faqih (Guarda dos Juristas Islâmicos) e o seu maior representante, Ali Khamenei, enxerga isso sob uma ótica bem diferente. Eles alegam que o movimento de protesto é dirigido contra a lei e a religião.
Kadivar:
As pessoas gritam "Allahu Akbar" ["Deus é grande"] dos telhados. Elas portam cartazes com a pergunta, "Para onde foi o meu voto?". Os manifestantes não desejam rebelar-se contra tudo, mas eles querem justiça e eleições justas. Quem recusar estas demandas corre o risco de enfrentar uma guerra civil.

Spiegel: É verdade que os manifestantes estão usando a cor do islamismo e gritando "Allahu Akbar". Mas será que eles não chegaram a um ponto no qual querem mais? Eles estão gritando também, "Abaixo o ditador!". Talvez os jovens que estão por trás do movimento queiram uma república democrática baseada no modelo ocidental de separação entre religião e Estado.
Kadivar:
Eu admito que alguns jovens têm uma orientação ocidental. Mas não se deve dar uma importância excessiva a isso. A maioria dos meus compatriotas não deseja uma separação completa entre Estado e religião. E eu também não desejo tal coisa. O Irã é um país de tradições e valores islâmicos. Mais de 90% dos nossos cidadãos são muçulmanos.

Spiegel: A que valores você está se referindo especificamente?
Kadivar:
Acima de tudo está a justiça e a realização do desejo do povo. Sob o governo de Ali, o nosso primeiro imame xiita, não havia prisioneiros políticos, as manifestações não violentas eram permitidas e os comentários críticos chegavam a ser incentivados. Não se deve trair esses valores.

Spiegel: E Khamenei e Ahmadinejad os traíram?
Kadivar:
Sim. Eu defendo um Estado verdadeiramente islâmico e democrático, um Estado que respeite a dignidade humana e não recuse os direitos das mulheres, um Estado no qual os indivíduos possam eleger livremente os seus líderes religiosos e seculares.

Spiegel: Mas agora você está falando em uma revolução - sobre um Irã completamente novo e diferente.
Kadivar:
Estou falando de um país no qual os líderes religiosos não tenham o direito de determinar como o país é liderado, contrariando o desejo da maioria da comunidade, sob a alegação de que agem segundo o desejo de Deus. Tal direito não existe, nem na tradição xiita nem segundo outros imperativos. Não acredito em quaisquer direitos divinos para os clérigos ou crentes.

Spiegel: Em 1978, o aiatolá Khomeini afirmou em uma entrevista a "Der Spiegel": "A nossa futura sociedade será uma sociedade livre, e todos os elementos de opressão, crueldade e força serão destruídos".
Kadivar:
O aiatolá Khomeini, o líder revolucionário, foi um personagem carismático. No início do seu governo ele contava com a aprovação de 95% dos iranianos, e, no final, 75% dos iranianos ainda o apoiavam. Khamenei não é tão carismático e ele está atualmente em meio a um processo de destruição do vínculo de justiça entre os líderes religiosos e o povo. Quando Khamenei, juntamente com Ahmadinejad, fala que países estrangeiros estão por trás dos protestos no Irã, ele me lembra bastante o rei (o xá). Este usava os mesmos argumentos e não era capaz de reconhecer que estava testemunhando um movimento de protesto nacional e democrático por parte do seu próprio povo. O xá quis até o fim manter o seu regime. Atualmente, Khamenei não pensa de forma diferente.

Spiegel: Mas enquanto o xá foi expulso do poder pela revolução, Khamenei e Ahmadinejad parecem estar firmemente estabelecidos em seus postos. Muitos cargos importantes estão preenchidos com gente deles.
Kadivar:
A impressão é de fato essa. Mas o Irã não é mais aquele país que era antes dos protestos eleitorais. Posso até imaginar Hashemi Rafsanjani, como líder da Assembleia dos Especialistas, convidando de fato o líder religioso a comparecer à assembleia para uma conversa franca. Teoricamente, ele poderia até mesmo retirar Khamenei do seu posto. E Ahmadinejad também cairia.
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"O regime iraniano deu um golpe de Estado", diz especialista em islamismo

"A fraude foi importante porque os resultados são aberrantes. Que Karrubi, um personagem chave da revolução, tenha recebido tão poucos votos inclusive em sua região natal é aberrante, como também o é que Moussavi tenha obtido a metade de votos que Ahmadinejad. Quiseram uma eleição triunfante no primeiro turno, e isso é um grave erro"

Leia mais
Spiegel: Mas para que isso ocorra, a maioria dos grande-aiatolás teriam que se opor aos dois.
Kadivar:
Entre os grande-aiatolás de Qum, cresce o ressentimento em relação à arrogância de Ahmadinejad. Até agora, somente um dos 12 grande-aiatolás o cumprimentou pela vitória. Vários deles, incluindo o muito reverenciado professor aiatolá Hossein Ali Montazeri, que é altamente venerado em todo o país, manifestou-se duramente contra a fraude eleitoral.

Spiegel: Outros países podem fazer algo para ajudar a oposição?
Kadivar:
Não. Esta é uma batalha que o povo iraniano precisa vencer por conta própria. Creio que, até o momento, o presidente Obama agiu de forma bastante prudente e não deu munição àqueles que procuram justificativas para ataques. A insistência de Ahmadinejad de que Washington alimentou a manifestação não teve efeito.

Spiegel: Obama comparou Ahmadinejad e Mousavi e comentou que a diferença entre os dois candidatos é pequena. O que ele falou está correto?
Kadivar:
Sim, está correto. Mas, ao mesmo tempo, não está. As diferenças em relação à questão nuclear e à avaliação da política israelense são de fato pequenas. Quanto ao direito ao enriquecimento de urânio, você não encontrará nenhum político iraniano que pense de forma diferente. Mas, quanto à questão da democracia, as diferenças são formidáveis. Ahmadinejad adota uma posição agressiva, enquanto Mousavi enfatiza a obediência às leis e à Constituição. Eu acredito que a questão da democratização seja atualmente o principal problema. Tudo o mais, incluindo a questão nuclear, é secundário.

Spiegel: Os políticos ocidentais veem isso de forma bem diferente.
Kadivar:
Quem quer que, neste momento, coloque a questão nuclear como prioridade nas discussões, não encontrará quem lhe dê ouvidos no Irã. O sangue está correndo nas ruas e você não para de me perguntar a respeito da energia nuclear.

Spiegel: Algumas pessoas no Ocidente temem que a situação poderia se tornar muito pior - e eles querem dizer para o mundo - se o Irã obtivesse armas nucleares.
Kadivar:
Nós estamos especialmente preocupados com Israel. Aquele país entregou a energia nuclear às suas forças armadas. Todo muçulmano - bem, todo mundo - tem medo de Israel. O arsenal nuclear de Israel deveria ser colocado sob o controle das Nações Unidas e do Tratado de Não Proliferação.

Spiegel: Será que eu entendi bem o que você disse? Não haverá mudança na questão nuclear, não importa quem vença a luta pelo poder em Teerã?
Kadivar:
Todo governo iraniano alegará que tem o direito ao uso pacífico da energia nuclear...

Spiegel: Mas não é esta a questão. Estamos falando da bomba nuclear.
Kadivar:
Os Estados Unidos têm a bomba. Israel também. O que se diz sobre o meu país é apenas uma potencialidade, e não a realidade. Se a bomba nuclear é maligna, ela é maligna em qualquer lugar, e não apenas naqueles países que se opõem à política dos Estados Unidos. Trata-se de uma política de dois pesos e duas medidas.

Spiegel: O que aconteceria se Israel ou os Estados Unidos atacasse usinas nucleares no Irã?
Kadivar:
Isso se constituiria em um desprezo por todos os valores morais. Os iranianos resistiriam, e fariam isso juntos, independentemente da linha política e religiosa.

Spiegel: Como será o Irã daqui a cinco anos?
Kadivar:
Eu espero que haverá um Irã democrático. O meu país tem o potencial intrínseco para tornar-se uma sociedade democrática exemplar.

Spiegel: E como você vê o seu papel nesse processo?
Kadivar:
Eu retornarei ao Irã, mas não tão cedo. Se retornasse a Teerã agora, eu também seria preso. A situação lá está terrível. O meu amigo, o doutor Saeed Hajarian, precisa urgentemente de remédios e de tratamento de saúde - ele deveria estar no hospital, e não na cadeia. Ouvi dizer que meus amigos Mostafa Tajzadeh e Abdallah Ramezanzadeh foram torturados. Ramezanzadeh foi o porta-voz do presidente Mohammad Khatami e Tajzadeh o seu vice-ministro do Interior.

Spiegel: Você passou 18 meses na infame prisão Evin, em Teerã.
Kadivar:
Eu retornarei ao Irã, e estou também preparado para voltar à prisão, mas somente após os procedimentos jurídicos legais.

Spiegel: Você assumiria um cargo político em um Irã democrático?
Kadivar:
Como acadêmico, escritor e professor, tenho um papel importante a cumprir. E nós temos excelentes líderes políticos no Irã. Por exemplo, Mir Hossein Mousavi, que eu apoio.

Spiegel: Aiatolá Kadivar, obrigado por esta entrevista.



http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/07/02/ult2682u1220.jhtm

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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