Chico Buarque, o Google, a fofoca e João GilbertoÀ vontade, bem diferente da sua primeira participação na Flip, em 2004, quando apenas leu trechos de um livro de Paul Auster, Chico Buarque deixou a famosa timidez de lado e deu um show na festa literária de Paraty de 2009. Falou sobre os mais variados assuntos, com humor e ironia, como se estivesse entre amigos, e não diante de centenas de fãs. Ao lado de Milton Hatoum, autor de “Órfãos do Eldorado”, e do crítico Samuel Titan Jr., o autor de “Leite Derramado” se divertiu e nos divertiu. As melhores da noite:
Hatoum falou a primeira frase de efeito do encontro ao contar que escreveu a novela “Órfãos do Eldorado” por encomenda de uma editora inglesa. A primeira versão do texto tinha mais do que o dobro do tamanho pedido. Recomeçou do zero. “Escrever de encomenda é horrível. Nunca mais farei nada de encomenda. Nem um bilhete”, disse, rindo.
O show de Chico começou com a explicação sobre como foi escrever um livro, “Leite Derramado”, que lida com as memórias de um homem de 100 anos de idade. “Assim como nunca estive em Budapeste, antes de escrever o outro romance, nunca estive em 1928, onde passa ‘Leite Derramado’.”
Na sequência, falou sobre o prazer de ler e do trabalho cansativo de escrever. “Eu escrevo para ler. Escrever é uma chatice”, disse, com um sorrriso nos lábios.
As semelhanças entre “Órfãos do Eldorado” e “Leite Derramado” deram pano para manga e muitas brincadeiras. “Depois de ler o livro dele, pensei: Esse cara copiou meu livro”, brincou Chico. E Hatoum, depois de ler Chico: “Essa história eu contei para o Chico!”
Foi entáo que Chico revelou-se um mortal, como nós todos, e contou que, durante a leitura de “Órfãos do Eldorado”, foi várias vezes ao Google esclarecer dúvidas e entender detalhes. E ainda disse: “Tudo já estava no Google, do meu e do seu livro”, disse, para Hatoum.
À vontade, Chico falou do pai, o historiador Sergio Buarque de Hollanda, autor de “Raízes do Brasil”. Contou que ele não dava muita atenção aos filhos e que gostava de uma boa fofoca. Ouvia o pai conversar com os amigos, em casa, e se divertia ouvindo-os contar casos saborosos ou picantes sobre os figurões da época.
Por fim, Chico fez uma defesa apaixonada da música popular brasileira. Disse não entender porque ela é vista como uma arte menor. “Sinceramente, näo sei se Guimarães Rosa é mais importante que João Gilberto”, provocou.
Também contou que, quando escreve, não faz música, mas busca em cada frase a sonoridade correta. “Preciso sentir musicalmente cada frase”.
Encerrada a conversa, Samuel Titan Jr. avisou que Chico só poderia dar autógrafos por um tempo limitado. E o músico e escritor, muito à vontade, replicou: “Quem disse isso?” Foi a senha para o começo de uma tietagem explícita, que fez a alegria das fãs.
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