Autor Tópico: Médicos e Igreja usaram politicamente a morte infantil  (Lida 995 vezes)

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Offline Alenônimo

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Médicos e Igreja usaram politicamente a morte infantil
« Online: 15 de Julho de 2005, 08:36:17 »
Recebi isso do Jocax da lista [ateus-br]

Citação de: AgeUSP
Batismo e morte infantil foram usados para legitimar poder político da Igreja e de médicos

Rafael Veríssimo

Os diversos significados da morte infantil foram utilizados pelos médicos e pela Igreja Católica como argumentos para legitimar o poder político destes dois grupos durante o século XIX. A Igreja sustentou o seu discurso, sobretudo, em torno da necessidade do batismo. Já para os médicos, formados nas recém-criadas faculdades de medicina, o uso da "morte menina" esteve ligada às estratégias de profissionalização e de ingresso nas instâncias de poder político.

O historiador Luiz Lima Vailati, que estudou como a sociedade da época pensava a figura da criança e sua morte, conta que era comum um bebê não sobreviver ao parto ou chegar à fase adulta. "As famílias eram então pressionadas a batizá-los, pois havia a possibilidade de a criança morrer e não ir para o Paraíso", conta. Com esta exigência, a Igreja cuidava do cumprimento de sua rotina religiosa no País. Vailati abordou o tema em sua tese de doutorado A morte menina: práticas e representações da morte infantil no Brasil dos 800 (Rio de Janeiro e São Paulo), apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Enquanto a Igreja Católica rejeitava (e ainda rejeita) o aborto, os médicos o defendiam para os casos em que a mãe corria riscos. "Mesmo sendo ligados à ciência, estes médicos também se utilizavam de argumentos religiosos para sustentar a idéia de que "é melhor preservar a árvore do que o fruto".

Um exemplo disso, segundo Vailati, pode ser visto em uma tese de um médico da época, que propunha a aplicação de uma injeção com água benta na barriga da mãe - o "batismo intra-uterino". Assim, o bebê abortado poderia morrer como cristão e não iria para o "limbo das crianças não-batizadas".

Outras questões levaram a classe médica a se opor frontalmente às "concepções tradicionais de morte infantil", relacionadas principalmente à postura passiva das pessoas em relação à saúde e morte dos filhos. "Os médicos relacionavam, por exemplo, o trabalho das parteiras (que eram suas concorrentes profissionais) com a prática do aborto e do infanticídio. Com essa justificativa, propunham a proibição dos serviços dessas profissionais não-diplomadas", diz o pesquisador. "Isto serviu de argumento legitimador das propostas de intervenção médica na esfera doméstica, o que iria consolidar a profissão no Brasil perante a sociedade."

Morte dos anjos
Vailati narra também em seu doutorado relatos de viajantes sobre os rituais fúnebres. "Até o início do século XIX, nas procissões fúnebres de crianças, o cadáver ia de pé, sustentado numa estrutura madeira. Como nos mostram as coleções de fotografias da época, por muito tempo foi comum se fotografar crianças mortas, extremamente arrumadas e enfeitadas. Assim se celebrava a 'morte do anjinho'", diz.

Segundo o pesquisador, a idéia que se tinha era a de que morrer criança era um privilégio. Por este motivo, nos enterros de crianças não se deveria chorar, o que culminava até na não-presença dos parentes no funeral.

"É provável que convenções em torno do enterro da criança aliviavam o trauma da perda", afirma o historiador. Porém, estes rituais fúnebres levaram viajantes da época a interpretar que no Brasil não se havia um sentimento materno ou familiar. Mas, de acordo com Vailati, contrariando esta interpretação, havia um grande sofrimento que ficava restrito ao ambiente familiar. "O amor familiar apenas não era para ser manifestado publicamente, sobretudo nesta ocasião. Ele era visto como antagônico ao amor religioso, ou seja, na hora da morte, a pessoa deveria desapegar-se dos sentimentos mundanos entre os quais os laços familiares estavam inseridos" diz.

Os sentimentos familiares passaram a ser valorizados gradativamente, principalmente graças ao estabelecimento, no Brasil, de ideais burgueses vindos da Europa, dos quais os médicos e outros intelectuais da época eram porta-vozes. "Dessa forma, no enterro, ao invés da fé religiosa, passou-se a valorizar mais a família e o patriotismo, grandes símbolos nos cemitérios do século XIX", conta Vailati.

Mais informações: (0XX11) 3283-1882 ou luizlv@ig.com.br


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Offline Stéfano

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Re.: Médicos e Igreja usaram politicamente a morte infantil
« Resposta #1 Online: 15 de Julho de 2005, 09:30:14 »
Que ele não se importaria de ter vários filhos mortos...
"Alternative and mainstream Medicine are not simply different methods of treating ilness. They are basically incompatible views of reality and how the material world works." Arnold S. Relman

Offline Stéfano

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Re.: Médicos e Igreja usaram politicamente a morte infantil
« Resposta #2 Online: 15 de Julho de 2005, 09:31:17 »
Há várias passagens discutíveis no texto, com diversas falácias, mas o que ele defende, ao meu entender, é a banalização da morte infantil.
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Offline Alenônimo

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Re.: Médicos e Igreja usaram politicamente a morte infantil
« Resposta #3 Online: 15 de Julho de 2005, 10:10:22 »
Na verdade o que eu vi foi um estudo histórico de como eram os funerais antigamente e de como os médicos da época agiam "religiosamente". A gente sabe que grande parte dos médicos hoje em dia continuam agindo religiosamente também. Cultura nacional...

Outra coisa que me impressiona foi o relato de como a Igreja colocava medo nas pessoas... Insinuar que crianças que morrem sem serem batizadas vão pro Inferno deixaria qualquer pai abalado. Não duvido nada que a nossa cultura de se batizar crianças tenham surgido daí...

PS: Esse e-mail apareceu na minha Caixa de Entrada como um encaminhamento do Jocax para a lista. Lá consta que tanto o e-mail do informativo quanto o do Jocax são da USP e o e-mail aparece timbrado. Gostaria de confirmar se esse e-mail é da USP mesmo... :P
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