Autor Tópico: 5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”  (Lida 1482 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Unknown

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 11.331
  • Sexo: Masculino
  • Sem humor para piada ruim, repetida ou previsível
5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”
« Online: 05 de Julho de 2009, 17:52:41 »
Citar
5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”

No dia 5 de julho de 1924 comemorava-se o segundo aniversário do episódio conhecido como “18 do Forte”, quando jovens oficiais do exército, ao final de uma rebelião no Forte de Copacabana, marcharam contra as tropas legalistas que os cercavam quase num sacrifício público. Em verdade nem todos eram militares, mas o evento - que passou a  ser conhecido pela tal nome - tornou-se um marco no chamado “movimento tenentista”, uma tentativa de reformar a nação e modernizá-la através da intervenção de jovens militares ilustrados oriundos das camadas médias da população.

Apesar de desbaratado o levante ele se tornou um referencial aos tenentistas e, no 5 de julho de 1924, foi a vez de militares da cidade de São Paulo se rebelarem. Os revoltosos, liderados por homens como Joaquim e Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Campos e João Cabanas, tomaram postos fundamentais na cidade e exigiram a entrega do cargo de governador do estado por Carlos de Campos.

Diante da recusa deste, bombardearam o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo na época. Mas nem Campos renunciou nem os rebeldes conseguiram manter sua posição. Tropas federais passaram a bombardear São Paulo e a nascente aviação brasileira colaborou, espalhando terror por bairros operários como a Moóca.

Diante da situação os rebelados fugiram para o interior do estado, se estabelecendo em Bauru.

Aproximadamente um mês após o início do movimento, os revoltosos - após sofrerem uma terrível derrota ao atacarem a cidade de Três Lagoas no Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul) - fugiram para o Rio Grande do Sul, onde incorporaram Luiz Carlos Prestes e seus homens, dando origem a famosa “Coluna Prestes”, um dos mais longos movimentos de guerrilha da história brasileira.

O desejo dos rebeldes de 1924 era fundado nas propostas de 1922: modernização do Brasil, reformas eleitorais, investimento em ensino e outras medidas que visavam colocar o Brasil menos distante das nações ditas “civilizadas”. Na realidade tanto o movimento tenentista como outras manifestações daquele começo de anos 20 - como o movimento Modernista - eram fundamentados num desejo de “modernização”, o que implicava em alguma medida no rompimento com o passado brasileiro. Esse rompimento era visto de modos diversos, indo desde a recusa quase que completa até a idéia de “antropofagia”. A movimentação política possuía um forte caráter estético tanto quanto a arte possuía um forte caráter político. Uma movimentação concentrada na classe média - ainda mais restrita naquela época -, um desejo de criar uma sociedade “projetada”, “teorizada” em boa medida.

Os governos oligarquicos significavam para esses homens “modernistas” um entrave difícil de ser ultrapassado de modo legal, democrático, inclusive pelo fato de todo o Estado Brasileiro ser organizado a partir de regras construídas por eles próprios. Daí a recorrência ao uso das armas, refletindo também uma visão romântida da “revolução” que imperava desde a disseminação - parcial - dos bastidores da Revolução Francesa de 1789.

Apesar da Revolução de 1924 ter sido “esquecida” - tanto que carrega ainda esse apelido - ela teve um papel importante na configuração da movimentação política na década de 1920 e teve desdobramentos durante muitos anos.

Mas um aspecto é particularmente curioso: mesmo sendo o conflito que mais atingiu a cidade de São Paulo em sua história, mesmo sendo a única situação na qual a cidade foi bombardeada (nem em 1842, na Revolução Liberal, nem em 1932, na Revolução Constitucionalista a cidade chegou a ser bombardeada), ela foi “esquecida”. Porque?

Como se pode esquecer desse movimento mesmo com bairros como Perdizes e Moóca sendo bombardeados?

Penso que existem vários motivos: o primeiro deles é justamente a formação social do movimento, com pouca adesão das camadas populares, diferentemente de 1932, quando houve uma mobilização popular significativa no estado de São Paulo. Em segundo lugar pelo fato de revelar um passado político que não interessava a muitos “ex-revoltosos”, membros do governo desde que Getúlio Vargas assumiu a nação após a Revolução de 1930. Talvez, também, por ter sido realmente um episódio traumático para a cidade.

O fato é que ocorreu uma concorrência de fatores, uma “engenharia da memória” que levou 1924 a se tornar a Revolução “Esquecida”, apesar de sua importância, exemplo que ilustra de modo bastante singular o quanto o passado - intermediado pela memória - pode ser “modelado” e o quanto é “escorregadio”.

http://colunistas.ig.com.br/indianasilva/2009/07/05/5-de-julho-de-1924-o-inicio-da-revolucao-esquecida/

Só faltou falar o nome do personagem mais importante da revolução: Isidoro Dias Lopes. Mas realmente, dessa revolução quase ninguém daqui lembra.

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

Offline _tiago

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 6.343
Re: 5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”
« Resposta #1 Online: 05 de Julho de 2009, 18:30:31 »
Realmente, não me lembro de ter visto isso sequer no vestibular...

Offline Gaúcho

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.288
  • Sexo: Masculino
  • República Rio-Grandense
Re: 5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”
« Resposta #2 Online: 05 de Julho de 2009, 21:41:20 »
Eu não sabia que SP já havia sido bombardiada.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Südenbauer

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 10.297
  • Sexo: Masculino
Re: 5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”
« Resposta #3 Online: 06 de Julho de 2009, 09:25:57 »
Eu conhecia a história porque estudei na escola e tive de apresentar um trabalho sobre o tema. Mas é muito curioso o fato de terem esquecido isso em São Paulo, não existem nem placas recordando o ocorrido?

Offline N3RD

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.493
  • Sexo: Masculino
  • O tal do "não querer"
Re: 5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”
« Resposta #4 Online: 06 de Julho de 2009, 10:07:21 »
Eu nunca tinha ouvido falar.
Não deseje.

Offline Unknown

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 11.331
  • Sexo: Masculino
  • Sem humor para piada ruim, repetida ou previsível
Re: 5 de julho de 1924, o início da “Revolução Esquecida”
« Resposta #5 Online: 10 de Julho de 2009, 01:38:02 »
Eu conhecia a história porque estudei na escola e tive de apresentar um trabalho sobre o tema. Mas é muito curioso o fato de terem esquecido isso em São Paulo, não existem nem placas recordando o ocorrido?
É como o autor disse, há muitas coisas que contribuíram para que ela fosse esquecida. Acho que um dos principais fatores foi o dos revoltosos se unirem à Coluna Prestes. Com isso, eles foram um dos vários grupos dentro da coluna e as pessoas em geral não procuram estudar todos esses detalhes. Outro detalhe é que essa revolução é estudada como mais um dos movimentos do tenentismo, então só é estudado o movimento como um todo e os diversos detalhes são apenas mencionados brevemente em aulas e etc. Mas acho que o principal fator para esse esquecimento foi a Revolução Constitucionalista de 32 (razão pela qual estamos em feriadão aqui). Apesar de não haver bombardeio, foi uma revolução que influenciou a cidade inteira e teve muito mais participação das pessoas e das instituições. O número de alistados no Estado de São Paulo ficou em torno de 200.000.

Como comparação entre as duas, é como se tivesse ocorrido uma revolução no RS cinco anos antes da Farroupilha. Como a Farroupilha foi um evento muito grande, é natural que essa outra revolução ficasse esquecida. Outro parelelo pode ser a Revolução de 23 e a de 1930. Praticamente todo mundo já ouviu sobre a segunda, que instalou Getúlio no poder. Já a de 23 creio que pouca gente (principalmente fora do RS) se lembre.

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!