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Eleições na Bulgária: o país mais pobre da Europa vai às urnas
« Online: 06 de Julho de 2009, 05:14:56 »
Eleições na Bulgária: o país mais pobre da Europa vai às urnas

Eles a chamam de "Meggi de Ferro" da Bulgária. Meglena Plugchieva é a vice-primeira-ministra do país, ou a resposta moderna de Sófia a Margaret Thatcher, completa com o obrigatório penteado impecável e figurino conservador.

A aparência de Plugchieva combina com sua missão, que é assegurar o uso apropriado dos fundos da UE na Bulgária tomada pela corrupção. Mais de 1,8 bilhão de euros em subsídios foram injetados no país nos últimos nove anos. Em julho de 2008, Bruxelas suspendeu temporariamente 800 milhões de euros em pagamentos, em resposta às persistentes alegações de corrupção. Plugchieva, a embaixadora de seu país em Berlim até pouco mais de um ano atrás, vem tentando reparar o dano desde então.

Em um dia quente de junho, ela fez uma breve visita a Russe, uma cidade portuária no Rio Danúbio que deve seu apelido, Pequena Viena, aos magníficos prédios de estuque construídos no estilo Secessão Vienense que cercam a Praça da Liberdade da cidade. Mas "Meggi de Ferro" mal dá atenção à arquitetura opulenta de Russe enquanto segue para o prédio da prefeitura. Novamente, ela está chegando portando más notícias.

Três vereadores da cidade foram presos na noite anterior, sob acusação de aceitarem propina. Dois deles foram pegos em flagrante, quando aceitavam dinheiro em troca da emissão de uma permissão de construção.

As prisões foram uma coincidência infeliz ou parte de uma intriga? Plugchieva é uma candidata pelo distrito eleitoral de Russe para as eleições parlamentares de domingo, e ela precisa de boas notícias para melhorar suas chances. Sua "Coalizão pela Bulgária", liderada pelo Partido Socialista Búlgaro (PSB), que sucedeu o Partido Comunista, ameaça perder seu controle do poder.

Uma queda nos esforços de combate à corrupção
O percentual de búlgaros que consideram a corrupção o maior problema do país mais que dobrou nos últimos quatro anos, para 64,7%. Um relatório recém-publicado do Centro para o Estudo da Democracia, em Sófia, cita uma "queda nos esforços de combate à corrupção desde a entrada na UE há dois anos". O estudo conclui que a sociedade búlgara pagará um preço cada vez maior pela corrupção, em consequência da queda drástica no crescimento econômico em 2009.

Segundo o estudo, a economia informal vale cerca de 5 bilhões de euros por ano, e os autores citam mais de 2 milhões de casos de corrupção em 2008. Uma das causas, eles escrevem, é o poder inabalado do crime organizado. Além de controlar partes do poder Executivo, os oligarcas da Bulgária controlam "parlamentares, a administração pública e os tribunais".

O homem que promete fazer uma grande limpeza da corrupção na Bulgária é Boyko Borisov. O musculoso prefeito de Sófia combina seu corte de cabelo rente e aparência esportiva, bem vestida, com um modo breve de falar e a imagem de tomador de decisões destemido. O partido conservador que ele fundou há dois anos e meio, o Cidadãos pelo Desenvolvimento Europeu da Bulgária (Gerb), já saiu vitorioso nas eleições parlamentares europeias.

Borisov é, entre outras coisas, um campeão de karatê, um guarda-costas de Todor Zhivkov, o chefe de Estado búlgaro e presidente do Partido Comunista por muitos anos, e chefe de segurança de Simeon 2º, o ex-czar que retornou em 2001 e foi eleito primeiro-ministro. O longo casaco preto de couro que Borisov frequentemente vestia enquanto estava ao lado de Simeon lhe rendeu o apelido de "O Batman do Rei".

Uma exibição pública de virilidade
Como Sarkozy na França e Berlusconi na Itália, uma exibição pública de virilidade também se tornou um fator político da democracia de Sófia movida pela mídia. Uma das piadas mais comuns a respeito do candidato ao mais alto cargo do país é que não há lésbicas na Bulgária, "apenas mulheres que ainda não conheceram Boyko Borisov".

Suas qualificações temperamentais para a designação de um político limpo, por outro lado, são discutíveis. Ao descrever os anos de Borisov como chefe de uma empresa privada de segurança e posteriormente como principal autoridade de manutenção da lei do governo, um posto para o qual detinha a posição de general, a respeitada publicação semanal americana "Congressional Quarterly" cita um dossiê de 2005, preparado por ex-autoridades de manutenção da lei americanas. Borisov, segundo o dossiê, era considerado um "parceiro de negócios e ex-associado de alguns dos maiores gângsteres da Bulgária". Durante o período em que Borisov foi a mais alta autoridade de manutenção da lei, diz o dossiê, "seus ex-parceiros de negócios prosperaram e seus supostos concorrentes foram sistematicamente assassinados".

Segundo uma estatística publicada pelos investigadores da União Europeia em maio de 2006, pouco antes da Bulgária ingressar na UE, havia "mais de 150 mortes por encomenda ligadas ao crime organizado e nenhuma condenação" desde o ano 2000 -a maioria delas durante o período de Borisov no Ministério do Interior. Borisov negou repetidas vezes todas as acusações.

A "tragédia da sociedade búlgara atual", escreve o jornalista alemão Jürgen Roth em seu livro "Die neuen Dämonen" ("Os Novos Demônios"), está enraizada no "domínio ininterrupto de uma rede de círculos políticos, econômicos e criminais". Segundo Roth, a rede é controlada por agências de inteligência e tolerada por políticos europeus ingênuos.

Desde seu ingresso bem-sucedido na UE em 1º de janeiro de 2007, a Bulgária passou a ter direito a bilhões em subsídios do Fundo Estrutural da UE. Segundo estimativas do especialista econômico Stefan Nikolow, apenas cerca de 10% de possíveis US$ 30 bilhões em produto de uma onda de privatizações nos anos 90 chegaram aos cofres do governo, com o restante indo parar nos bolsos de espertos caçadores de barganhas com bons contatos. As vantagens obtidas por meio desses acordos formaram o capital necessário para conseguir projetos financiados pela UE.

Mantendo a corrupção encoberta
O que o governo está fazendo para impedir que isso aconteça? Ele está tentando posicionar seu próprio pessoal nos cochos de alimentação, como em Pravets, a cidade natal do ditador Todor Zhivkov, que ainda é homenageado lá na forma de um busto de bronze. Em Pravets, o ex-prefeito da época de Zhivkov e seu filho, o diretor geral da divisão búlgara da companhia de petróleo russa Lukoil, estão construindo um império para si mesmos às custas do restante da população. Ele inclui um campo de golfe, um hotel, propriedades de luxo e áreas de caça em terras que a dupla pai e filho conseguiu adquirir a baixos preços.

É difícil passar a idéia do tamanho da corrupção para pessoas comuns e o atual primeiro-ministro, Sergei Stanishev, nem mesmo se dá ao trabalho de tentar. Nascido em solo soviético, filho de um membro do politburo do Partido Comunista búlgaro e posteriormente formado em Moscou como historiador, o premier de 43 anos prefere se retratar como o jovem campeão do legado do antigo sistema burocrata. Seu desempenho em Vidin é um exemplo. O distrito no distante canto noroeste do país, com sua capital de mesmo nome, é uma das últimas fortalezas socialistas da Bulgária, assim como uma das regiões mais pobres do país mais pobre da UE. Hoje, apenas poucas centenas de pessoas trabalham atrás dos tristes muros de uma fábrica química, que antes empregava 10 mil pessoas.

A parada de campanha em Vidin deveria ser brincadeira de criança para o primeiro-ministro socialista, mas o que Stanishev faz durante sua visita? Ele dança com aposentados, vota em uma pesquisa pela Internet para declarar o Forte de Belogradchik a oitava maravilha do mundo e, no canteiro de obras de uma nova ponte cruzando o Danúbio até a Romênia, planejada desde 1997 e paga principalmente com fundos da UE, dá um enfoque positiva ao projeto adiado, dizendo ao seu público não estar nem um pouco preocupado com o possível "congelamento de fundos da UE" devido aos atrasos.

O primeiro-ministro não se encontrará com o prefeito de Vidin, que poderia informar a Stanishev a corrupção em torno do projeto de 260 milhões de euros. Isso porque ele agora é membro do partido errado, após trocar de lado e ingressar na autoproclamada campanha anticorrupção do Gerb.

À medida que o dia da eleição se aproxima, os relatos que saem das moitas políticas da Bulgária estão se tornando cada vez mais bizarros. Por exemplo, dois gângsteres que foram presos como chefões do crime organizado foram soltos quando a comissão eleitoral aceitou suas candidaturas ao Parlamento. Um vice-ministro do Interior foi demitido por suposta má conduta oficial. Quando o governo anunciou um dia de luto pelas 17 vítimas de um acidente de ônibus, o vice-ministro passou a noite no Continental Plaza, um restaurante de luxo em Sófia, se divertindo com astros do futebol aposentados, ricos empresários e subalternos em uma festa em homenagem a uma autoridade de controle de armas.

Mas o ministro demitido já se recuperou da demissão do ministério. Ele já foi nomeado vice-chefe de um departamento do governo que investiga crimes sérios.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/07/04/ult2682u1223.jhtm

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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