Autor Tópico: Protestos da etnia uigur na China  (Lida 453 vezes)

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Protestos da etnia uigur na China
« Online: 10 de Julho de 2009, 02:38:36 »
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Pelo menos 156 morrem em protestos de muçulmanos na China

Pelo menos 156 pessoas morreram e 800 ficaram feridas durante um protesto na província de Xijiang, no oeste da China, no domingo, segundo informações do governo do país.

Outras centenas de pessoas foram presas durante o incidente, que começou com um protesto de pessoas da etnia muçulmana uigures na cidade de Ürumqi.

As autoridades dizem que os manifestantes destruíram carros e atacaram ônibus e transeuntes. Segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, a polícia conseguiu restabelecer a ordem em seguida.

Mas líderes uigures exilados acusam os policiais de terem aberto fogo indiscriminadamente durante o que chamaram de "um protesto pacífico".

Nesta segunda-feira, os protestos se espalharam para a cidade de Kashgar, na mesma região. Segundo a mídia estatal, a polícia teria dispersado mais de 200 "manifestantes" na principal mesquita da cidade.

Confrontos

Os protestos ocorreram depois que dois migrantes uigures teriam sido mortos por um homem da etnia han (maioria na China) em uma briga, no mês passado, em uma fábrica na cidade de Shaoguan, na província de Guangdong, no sul da China.

O confronto teria deixado ainda 118 feridos.

Mas o governo de Xinjiang atribuiu a onda de violência do domingo à empresária Rebiya Kadeer, líder uigur que vive no exílio nos Estados Unidos.

"Uma investigação inicial mostrou que a violência foi idealizada pelo Congresso Mundial Uigur, liderado por Rebiya Kadeer, e de inclinação separatista", disse o governo chinês em um comunicado, de acordo com a agência Xinhua.

Mas o vice-presidente da Associação Americana Uigur, Alim Seytoff, condenou o que chamou de "ações de mão pesada" das forças de segurança chinesas.

"Pedimos à comunidade internacional para condenar a morte de uigures inocentes pela China", afirmou Seytoff.

A província de Xijiang é majoritariamente muçulmana, e a comunidade uigur reclama do domínio do governo central chinês.

Já o governo acusa separatistas uigures baseados em outros países de orquestrarem ataques contra chineses da etnia han, que representam cerca de 90% da população do país.

Segundo o correspondente da BBC na China Quentin Sommerville, a província de Xianjiang tem sido palco de tensões há muitos anos.

Veja vídeo: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090706_chinaprotestosml.shtml
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China impõe toque de recolher em cidade acossada por violência étnica

As autoridades chinesas impuseram um toque de recolher noturno em Urumqi, capital da região autônoma de Xinjiang, em meio a uma crescente onda de tensão entre grupos étnicos locais.

Nesta terça-feira, a polícia teve que usar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar uma multidão de milhares de chineses de etnia han que saíram pelas ruas da cidade armados de facões e pedaços de pau, destruindo lojas e barracas pertencentes a membros da etnia uigur.

Os chineses han diziam estar respondendo à onda de violência promovida por uigures no fim de semana.

O governo chinês diz que 156 pessoas - a maioria da etnia han - morreram nos distúrbios que eclodiram no domingo em Urumqi. Segundo as autoridades, manifestantes uigures atacaram veículos e em seguida passaram a atacar membros da etnia han e a enfrentar forças de segurança. Mais de mil pessoas teriam ficado feridas.

Já grupos uigures dizem que o número de mortos foi bem maior e que cerca de 90% dos mortos eram uigures.

Na origem dos protestos de domingo estaria a morte de dois migrantes uigures por um homem da etnia han (maioria na China) em uma briga, no mês passado, em uma fábrica na cidade de Shaoguan, na província de Guangdong, no sul da China.

Terça-feira

Poucos antes dos protestos dos chineses han nesta terça-feira, cerca de 200 membros da etnia uigur saíram às ruas, em uma demonstração que o repórter da BBC em Urumqi, Quentin Sommerville, chamou de “ato extraordinário de desafio” às autoridades, em uma das regiões mais controladas da China.

O correspondente da BBC disse que o protesto foi visto por jornalistas estrangeiros quando eles estavam sendo levados pelo governo para ver partes da cidade destruídas pela violência dos últimos dias.

A manifestação foi encabeçada por mulheres, muitas de idade avançada, que confrontaram a polícia de choque para reivindicar a libertação dos presos no dia anterior. A polícia ameaçou usar jato d’água e conteve o protesto.

Na segunda-feira, as forças de segurança dispersaram outras 200 pessoas que protestavam do lado de fora da maior mesquita chinesa em Kashgar, segunda cidade da região. Líderes uigures no exílio acusaram os policiais de abrir fogo indiscriminadamente durante o que chamaram de "um protesto pacífico".

Confrontos

O governo de Xinjiang culpou os separatistas uigures que vivem no exílio por orquestrar os ataques contra os chineses da etnia han.

Já grupos uigures insistem que seu protesto foi pacífico e que eles foram vítima de violência por parte do Estado, com a polícia atirando indiscriminadamente contra os manifestantes em Urumqi.

A província de Xinjiang, uma região montanhosa e desértica que faz fronteira com a Ásia central, é majoritariamente muçulmana, e a comunidade uigur reclama do domínio do governo central chinês. A região tem sido palco de tensões há muitos anos.

Em Urumqi, as informações são de que os serviços de telefonia celular estão bloqueados e as conexões de internet foram suspensas, ou estão lentas.

Testemunhas e a mídia estatal disseram que os manifestantes destruíram barreiras e atacaram casas e veículos, além de entrar em choque com a polícia no domingo.

A TV estatal mostrou imagens de manifestantes batendo e chutando pessoas caídas no chão.

Também há fortes imagens do que parecem ser chineses da etnia han sentados, com olhar atordoado e sangue correndo por seus rostos.

A polícia afirma que alguns corpos foram recolhidos nas ruas depois dos choques. Outros, morreram nos hospitais.

Acusações

A agência oficial de notícias chinesa Xinhua informou na segunda-feira que a polícia acredita que "agitadores" estariam "tentando organizar mais choques" em outras cidades em Xinjiang.

Liu Weimin, porta-voz da Embaixada Chinesa em Londres, disse à BBC que forças extremistas estão envolvidas.

"O governo local de Xinjiang tem provas de que forças extremistas dentro e fora da China se comunicaram intensivamente antes do incidente eclodir no domingo", disse ele.

Rebiya Kadeer, a presidente exilada da Associação Americana Uigur, negou as acusações do governo chinês de que ela tenha incitado a violência.

Ela afirmou ter tomado conhecimento dos protestos através de websites e só ligou para sua família para aconselhá-los a ficar fora das manifestações.

Alguns analistas afirmam que os protestos de domingo foram os mais sérios na China desde o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989.

A violência causou preocupação internacional. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que os dois lados exercitem a moderação. Os governos americano e britânico reforçaram o pedido.

veja vídeo: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090707_china_atualiza_pu.shtml
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Entenda a questão dos uigures na China


Os uigures de Xinjiang se consideram diferentes do resto da China

Os conflitos recentes na região autônoma de Xinjiang são o mais novo episódio em uma longa história de discórdia entre o governo central da China e a minoria uigur. A BBC Brasil preparou esta sessão de perguntas e respostas para ajudar a esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto.

Quem são os uigures?

Os uigures são muçulmanos que habitam predominantemente a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China, que faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão. Sua língua é parente da língua turca e os uigures se veem culturalmente e etnicamente mais ligados à Ásia Central do que ao resto da China.

Por séculos, as principais atividades econômicas da região vinham sendo a agricultura e o comércio, com cidades como Kahshgar prosperando como entrepostos da famosa Rota da Seda.

No começo do século 20, os uigures chegaram a declarar independência. Mas, em 1949, a região passou a ser controlada pela China comunista.

Oficialmente, Xinjiang é uma região autônoma da China, como o Tibete, que fica mais ao sul.

Em décadas recentes, a região presenciou uma intensa migração de chineses de etnia han, e vários uigures passaram a reclamar de discriminação. Os chineses de etnia han compõem cerca de 40% da população de Xinjiang, enquanto 45% são uigur.

A população da capital da região, Urumqi, de cerca de 2,3 milhão de pessoas, é hoje majoritariamente han.

Como a China vê os uigures?

Pequim diz que militantes uigures vem realizando uma campanha violenta pela independência da região, com ataques a bomba, sabotagem e incitando a população à revolta.

Desde os ataques de 9 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, a China vem acusando separatistas uigures de manter ligações com a Al-Qaeda.

O governo chinês diz que os uigures foram treinados e doutrinados por militantes islâmicos no Afeganistão, mas há poucas evidências que confirmem essas afirmações.

Mais de 20 uigures foram capturados por militares americanos na sua invasão ao Afeganistão em 2001. Apesar de terem sido mantidos na prisão de Guantánamo por seis anos, estes uigures nunca chegaram a ser formalmente indiciados.

A Albânia recebeu cinco deles em 2006, outros quatro foram para o território britânico das Bermudas, em 2009, enquanto o arquipélago de Palau, no Oceano Pacífico, acolheu os restantes.

Quais são as principais queixas dos uigures contra a China?

Ativistas dizem que atividades e práticas comerciais, culturais e religiosas dos uigures têm sido gradualmente suprimidas pela Estado chinês.

A China foi acusada de intensificar a repressão contra aos uigures depois de protestos de rua nos anos 90 e nas semanas que antecederam os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.

Na última década, vários uigures proeminentes foram presos ou tiveram que buscar asilo no exterior, após serem acusados de terrorismo

Analistas dizem que a China exagera ao falar da ameaça de separatistas uigures para justificar a repressão na região.

O governo chinês também é acusado de tentar diluir a influência uigur na região de Xinjiang, promovendo migrações em massa de chineses han, o maior grupo étnico do país, para a região.

Como é a situação atual em Xinjiang?

Na última década, uma série de projetos trouxeram prosperidade às maiores cidades da região.

O trabalho de jornalistas locais e estrangeiros é monitorado de perto pelas autoridades chinesas e existem poucas fontes independentes de notícias em Xinjiang.

A China tem destacado o desenvolvimento da economia da região e uigures entrevistados pela imprensa têm evitado fazer críticas ao governo central.

Mas, ataques ocasionais contra alvos chineses indicam que o movimento separatista uigur ainda é forte - e violento.

O que detonou a atual onda de violência em Xinjiang?

Há relatos de que a morte, em junho, de dois imigrantes uigures, na província de Guangdong, no sul da China, teria provocado a reação de integrantes da etnia uigur em Xinjiang contra chineses da etnia dominante Han.

Os dois imigrantes morreram durante uma briga em uma fábrica que começou após rumores, publicados na internet, de que trabalhadores da etnia uigur teriam estuprado duas mulheres.

Autoridades chinesas dizem que o incidente foi usado como pretexto para o início da onda de violência no domingo, em que mais de 150 pessoas, das duas etnias, morreram.

Autoridades responsabilizam separatistas que vivem fora do país de estar por trás da violência, enquanto uigures exilados dizem que a polícia chinesa abriu fogo indiscriminadamente durante um protesto pacífico que reivindicava a abertura de uma investigação sobre a morte de uigures nos confrontos na fábrica no sul da China.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090707_entenda_uigures_tp.shtml

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Re: Protestos da etnia uigur na China
« Resposta #1 Online: 10 de Julho de 2009, 19:01:14 »
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Polícia chinesa coíbe pequeno protesto em Xinjiang

A polícia antimotim chinesa dispersou uma pequena manifestação de uigures que deixavam as orações de sexta-feira na vizinhança muçulmana de Urumqi, capital da província de Xinjiang, prendendo várias pessoas que foram levadas com as mãos para o alto.


Uma multidão formada por algumas centenas de pessoas se formou perto da Mesquita Branca, ao lado dos policiais armados com submetralhadoras, enquanto veículos blindados bloquearam as ruas no entorno do edifício e um helicóptero sobrevoava a região, no primeiro sinal de instabilidade dias após conflitos que resultaram em mais de 150 mortes na cidade dividida.

"Você vê, é assim que eles tratam os uigures, como animais", disse uma mulher, no que aparentemente era apenas uma pequena manifestação localizada.

Centenas de uigures lotaram a mesquita após autoridades terem decidido fechar mesquitas nos principal dia de orações para os muçulmanos para tentar minimizar as tensões.

Forças de segurança aumentaram o controle sobre Urumqi, mas as orações noturnas representaram um teste para a habilidade do governo de conter a ira dos uigures após chineses da etnia Han, maioria no país, terem atacados os bairros dos uigures na terça-feira.

Esses ataques foram em revanche à morte de 156 pessoas durante uma briga com uigures no domingo, no pior conflito étnico em décadas.

A tentativa inicial de silenciar as orações coletivas aparentemente teve sucesso, mas milhares de soldados e policiais antimotim estavam de prontidão para conter qualquer novo protestos dos uigures. Quase todos os uigures são muçulmanos, mas poucos aderem à interpretação mais rigorosa do Islã.

O governo chinês considera fundamental manter o controle estrito sobre a enorme região que faz fronteira com Rússia, Mongólia, Cazaquistão, Kirquistão, Tajiquistão, Afeganistão, Paquistão e Índia, uma vez que Xinjiang é abundante em reservas de petróleo e é a principal região produtora de gás natural do país.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/07/10/policia+chinesa+coibe+pequeno+protesto+em+xinjiang+7223938.html
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Xinjiang é uma região da China com tensões étnicas há mais de um século

Xinjiang é uma região montanhosa e desértica do noroeste da China com quase 20 milhões de habitantes, dos quais 8,3 milhões são uigures, muçulmanos de língua turca, acusados por Pequim de liderar uma luta separatista.


Mais de 3.000 km ao noroeste de Pequim, na antiga Rota da Seda, esta região de 1,66 milhão de quilômetros quadrados, que teve no domingo um protesto violentamente reprimido pelas forças de segurança que resultou em pelo 140 mortes, ocupa um sexto do território chinês.

Os moradores de Xinjiang englobam 47 etnias, incluindo os han, de origem chinesa, que passaram de representar apenas 6% da população a 40% com a política de desenvolvimento estimulada por Pequim desde os anos 1990.

A região faz fronteira com o Afeganistão e com as antigas repúblicas muçulmanas da URSS, Cazaquistão, Tadjiquistão e Quirguistão. O solo árida e pobre abriga a bacia de Tarim, a principal reserva de combustíveis do país.

Região autônoma

Esta região autônoma, que tem Urumqi como capital, foi anexada ao império chinês em 1884 e manifestou seu desejo separatista em relação a Pequim mesmo antes da criação da República Popular de China em 1949.

Uma parte da província conheceu um breve período de autonomia sob o nome de Turquistão Oriental, entre 1930 e 1949.

As revoltas se intensificaram em 1990, depois da retirada das tropas soviéticas do Afeganistão e da independência das repúblicas muçulmanas da antiga URSS. Em abril de 1990 explodiram distúrbios perto de Kashgar (oeste), que deixaram 22 mortos oficialmente, e pelo menos 60 segundo fontes ocidentais.

Repressão chinesa

Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, Pequim reforçou a repressão na região em nome da luta antiterrorista.

Com apoio americano, a China conseguiu fazer com que um movimento uigur - o Movimento Islâmico do Turquistão Oriental (ETIM) - fosse declarado pela ONU uma organização terrorista relacionada à Al-Qaeda.

Segundo Pequim, a região está ameaçada constantemente por terroristas que atuam à distância e do exterior, utilizando a internet.

Instabilidade política

Esta ampla região árida constitui uma das duas zonas, ao lado do Tibete, onde Pequim teme a instabilidade.

Em 2008, ano dos Jogos Olímpicos de Pequim, para os quais a segurança foi reforçada, 1.300 pessoas foram detidas, acusadas de atentar contra a segurança do Estado, segundo a imprensa oficial.

Isto não impediu que vários atentados, vinculados à rebelião local, acontecessem em Xinjiang e outras regiões chinesas.

O mais violento, um ataque contra um posto policial de Kashgar, no extremo oeste de Xinjiang, deixou 17 mortos e 5 feridos em 4 de agosto, quatro dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/07/06/xinjiang+grande+regiao+da+china+com+tensoes+etnicas+ha+mais+de+um+seculo+7142910.html

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Re: Protestos da etnia uigur na China
« Resposta #2 Online: 13 de Julho de 2009, 23:02:13 »
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Medo em conflitos na China faz vítimas em ambos os lados

Primeiro a multidão de linchadores foi para cima do menino deficiente da etnia uigur, que trabalhava de engraxate na estreita viela, com facas e pedaços de pau nas mãos. Então, ela se voltou para os dois homens que trabalhavam na mesa de recepção no hotel Luz da Alvorada.


Abulimit, direita, com um amigo em Urumqi, em 8 de julho, um dia após ser atacado

Os homens fugiram para um quarto dos fundos e trancaram a porta de madeira. Ela rapidamente cedeu às dúzias de homens da etnia han que a golpeavam, chutavam e davam socos. Um golpe de faca atingiu a cabeça de Abulimit Asim, e depois mais outro.

“Eles queriam nos matar, mas não tinha lugar para fugirmos”, disse Abulimit, 23, na quarta-feira, um dia após o ataque. Sua cabeça estava com uma bandagem e vestindo uma camisa branca ainda respingada de sangue seco. “Estávamos desprotegidos”.

Abulimit sobreviveu à explosão mais fatal da violência étnica na China, em décadas, quando os uigures e Han massacraram uns aos outros por dias, em toda a capital regional, com 2,3 milhões de pessoas. Mas a agressão a ele é também o último capítulo de uma longa história de castigo feita pelos han, grupo dominante na China, mas relativamente recém-chegados na região desértica ocidental de Xinjiang.

Imigração

Assim como muitos uigures, etnia de idioma turco dos muçulmanos sunitas, sua história começa em uma extensão de Oasis urbanos ao sul de Xinjiang, formados por uigures no século 10, após imigrarem dos estepes da Mongólia. Há cinco anos, Abulimit e sua família abandonaram sua terra pobre no sul para buscar fortuna nas torres resplandecentes de Urumqi.

Ele se viu em meio a pessoas cuja língua não falava, mas eram quem dominava o poder - político, econômico e cultural - por toda Xinjiang. Embora os uigures sejam o maior grupo étnico entre as 20 milhões de pessoas da região, os grupos de han, muitos apenas camponeses pobres, se concentraram no local por décadas, em parte pelo incentivo do governo. Urumqi agora tem mais de 70% de pessoas dessa etnia.

“Eles não nos escutam”, disse ele, enquanto saía de uma delegacia, na quarta-feira, após tentar reportar o ataque.

Violência

A frustração que os uigures guardavam explodiu em 5 de julho, quando um combate entre ao menos mil manifestantes uigures e policiais acabou virando uma noite sangrenta, na qual jovens uigures tumultuavam pelas ruas, matando civis han. Pelo menos três dias depois, multidões de han armados com facas e pedaços de pau vagavam pela cidade exigindo vingança.

O governo chinês diz que, ao todo, ao menos 184 pessoas foram mortas, três quartos delas eram han, e acrescentou que os responsáveis são “terroristas”. Mas muitos uigures afirmam que centenas deles foram mortos a tiros pelas forças de segurança chinesa e massacrados por multidões de han.

O que surgiu foram duas versões distintas de violência, duas narrativas de vítimas.

Para os uigures, o papel de vítima já é muito familiar, dizem eles. “Nossas tradições, nossa vestimenta, nossa língua, eles querem se livrar disso tudo”, disse um comerciante uigur, na mesma viela em que Abulimit vive e trabalha. “Eles querem que nos tornemos han”.

Divergências

Oficiais chineses dizem que uigures são tratados com respeito e, até mesmo, recebem vantagens sobre os han quando se trata de política de planejamento familiar e admissões em universidades, dentre outros fatores.

Mas muitos uigures dizem que se sentem excluídos com as rápidas mudanças em Xinjiang, especialmente aqueles como Abulimit, que são do sul. Criados em remotos oasis urbanos como Kashgar, Yarkand e Khotan, eles têm menos grau de escolaridade e raramente falam o mandarim. Além disso, são mais religiosos.

“Somos apenas camponeses de Khotan”, disse a mulher de Abulimit, vestindo um manto preto e um lenço branco florido na cabeça.

A região budista se localiza na Rota da Seda, já Khotan fica no extremo sul do quente vale do Tarim. Ele é conhecido por suas jóias feitas de minério e carpetes de seda, mas há também um ar de desespero. Todo dia, moradores garimpam o leito seco do rio buscando por minerais, esperando encontrar uma única pedra que transformaria suas vidas.

Abulimit, sua mulher e duas crianças deixaram o local e foram para Urumqi há cinco anos, seguindo seus parentes. Eles viajaram de ônibus por 24 horas até o norte, atravessando o Deserto Taklamakan.

A região mais antiga de uigures tem o cheiro de suas feiras islâmicas ao redor da Ásia. Os mercados a céu aberto vendem comida e deixam um odor pesado de kebab assado (comida oriental feita de carne) se espalhando pelas calçadas. Pequenas passagens que ficam atrás de mesquitas.

Aqui e próximo aos subúrbios, as ruas são cheias de migrantes do sul de Xinjiang, que vendem, em carroças de madeira, desde frutas ou bens domésticos baratos até cobertores. Geralmente, esse é o único trabalho que conseguem. Com pouco conhecimento de mandarim, não podem competir com os migrantes han, mesmo por algo tão servil como o trabalho de pedreiro.


O quarto onde Abulimit se trancou para fugir da multidão de han que o atacou

Discriminação

“Os han nos discriminam”, disse o mercante que trabalha na mesma viela que Abulimit. “Algumas empresas querem apenas trabalhadores dessa etnia. Mesmo muitos uigures graduados não conseguem trabalho”.

Diversos uigures de classe média dizem em entrevistas que migrantes mais pobres vindos do sul foram culpados pelas mortes de civis han em 5 de julho, frustrados pela sua incapacidade de conseguir um emprego decente.

Abulimit teve mais sorte do que muitos. Um irmão mais velho é dono de uma pensão na viela, que vai até o sul na Tianchi Road, a oeste do coração da região uigur. Abulimit conseguiu um trabalho no escritório do hotel Tang Nuri, ou Luz da Alvorada, e ele e sua família se mudaram para um pequeno quarto no quinto andar de outro hotel no canto de uma rua sem saída da viela.

Ataques

O beco, em parte um gueto para migrantes de Khotan no extremo das vizinhanças de han, foi um verdadeiro alvo para os ataques de represália feitos por vigilantes han que quase aconteceu em Urumqi, em 7 de julho. Nesse dia, cerca de duas horas da tarde, dúzias de homens armados com facas e pedaços de pau transformaram a larga avenida em uma entrada para a viela. Eles bateram em um dono de uma loja de conveniência, Abulajang, 32, que agora tem problemas para andar e mal pode mexer a cabeça.

“Agora, não tenho uma boa impressão dos han”, disse ele. “Quando saio, acredito que aqueles chineses han que me veem me odeiam”.

Abulajang e muitos outros na área dizem que, naquele dia, havia cerca de 30 soldados paramilitares próximo à boca da viela para, aparentemente, parar qualquer violência. “Mas eles não fizeram nada”, disse Abulajang.

Em seguida, a multidão foi atrás do menino deficiente que trabalhava de engraxate, ao lado de fora do hotel Luz da Alvorada. Ele foi golpeado na cabeça e esfaqueado nas costas, disse um tio-avô, Muhammad Jang.

Dentro do hotel, Abulimit e um seguranla, Abdul Rahman, impediram a passagem do quarto onde estavam, próximo à mesa de recepção. Os vigilantes fizeram um grande buraco na porta.

“Não conseguíamos pará-los”, disse Abulimit. “Eu desmaiei quando começaram a me bater e a me esfaquear”.

A multidão prosseguiu, talvez pensando que haviam matado o homem.

No último fim de semana, o sangue deles, já seco, ainda estava no chão branco e azul da sala e no sofá de vinil.

http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/2009/07/13/medo+em+conflitos+na+china+faz+vitimas+em+ambos+os+lados+7275011.html

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