Raúl Castro pede que cubanos produzam maisLíder afirmou que país deve parar de culpar o “imperialismo” e o embargo por seus problemasEm declarações surpreendentes, o líder máximo de Cuba, Raúl Castro, exortou ontem os cidadãos da ilha a produzir mais alimentos para superar a crise econômica, em vez de culpar o “imperialismo’’ e o embargo dos EUA pela escassez de itens básicos no país – algo que o próprio governo cubano frequentemente faz. Na prática, o presidente pediu aos cubanos que trabalhem mais.
Em discurso comemorativo aos 56 anos do ataque ao quartel de Moncada – uma ação fracassada comandada por seu irmão Fidel Castro em 1953, precursora da Revolução Comunista de 1959 –, Raúl anunciou um novo aperto de cinto na precária economia cubana e qualificou a produção de alimentos como uma questão de “segurança nacional’’.
– A terra está aí. Veremos se trabalharemos ou não, se produziremos ou não. Não é questão de gritar “Pátria ou Morte’’, “Abaixo o imperialismo’’, “O embargo nos golpeia’’, enquanto a terra está aí, esperando nosso suor – disse ele em um pronunciamento de 36 minutos de duração a 200 mil pessoas reunidas em Holguín, a 740 quilômetros da capital, Havana.
Cuba, alvo de um embargo dos EUA desde 1962, gastou em 2008 US$ 2,8 bilhões com a importação de alimentos. O país tem sentido fortemente os efeitos da crise econômica global – o preço do níquel, por exemplo, hoje o principal produto de exportação da ilha, caiu de US$ 54 mil a tonelada para pouco mais de US$ 10 mil. Além disso, Cuba foi devastada por três furacões em 2008, que causaram perdas estimadas em US$ 10 bilhões.
Em resposta, o governo fez cortes no Orçamento e anunciou um plano rígido de economia de energia, além de reduzir a de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) de 6% a 2,5% e modificar leis trabalhistas. Outra medida, iniciada há 10 meses, foi a distribuição de terras improdutivas, em forma de usufruto, para agricultores dispostos a cultivá-las. Segundo Raúl, 39% das terras ociosas foram entregues.
– Não podemos nos sentir tranquilos enquanto existir um só hectare de terra sem uso útil e alguém disposto a torná-lo produtivo – declarou ontem o presidente, no poder há três anos.
Com problemas de saúde graves, Fidel Castro esteve mais uma vez ausente da comemoração, que tradicionalmente motiva um dos discursos mais importantes do ano em Cuba. Sua última aparição pública foi na celebração de 26 de julho de 2006.
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