Autor Tópico: O ABSURDO DA VIDA CRISTÃ  (Lida 991 vezes)

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O ABSURDO DA VIDA CRISTÃ
« Online: 16 de Julho de 2005, 17:56:17 »
O ABSURDO DA VIDA CRISTÃ

Prof. Michael Martin

Os apologetas  cristãos argumentam que a vida é absurda sem o Deus cristão(1). Tenho mostrado que os intentos de fazer-se ver o ateísmo como algo dedicado ao absurdo da vida não tem fundamentos.(2) Mas os apologetas também assumem sem argumentos que se o cristianismo é aceito, a vida não é absurda. Será mesmo assim? Neste ensaio eu diria que não. Ao seguir esta opinião não só utilizarei argumentos novos argumentos como empregarei argumentos não teístas de diversas maneiras. O fim de minha discussão será que, qualquer que seja o caso do ateísmo, a vida cristã é absurda.

O significado do absurdo

O que significa supor que a vida é absurda? Comecemos com a definição do dicionário. Segundo o American Heritage Dictionary o significado principal do termo em inglês “absurd” quando é usado como adjetivo é “ridiculamente incongruente ou irracional.” Assim, neste sentido, dizer que a vida é absurda é dizer que a vida é ridiculamente incongruente e irracional.
Entretanto, os filósofos construíram versões mais elaboradas do absurdo. Por exemplo, Albert Camus (3) manteve que o absurdo da existência humana está em função das coisas: as expectativas dos seres humanos e a realidade que encontram. Os seres humanos esperam viver em um mundo que é racional e unificado. Esta tensão entre expectativas e realidade gera o absurdo da existência. As próprias expectativas de Camus de que o mundo fosse racional e unificado eram altas. Assim, ele sustenta que:
Se o homem visse que o universo assim como ele pode amar e sofrer, se reconciliaria. Se o pensamento descobre nos fenômenos capazes de unirem-se em um só princípio,   então viveria um gozo intelectual tal que o mito dos benditos seria meramente uma imitação ridícula.Essa nostalgia pela unidade, este apetite pelo absoluto ilustra o impulso essencial do drama humano. Entretanto, a existência dessa nostalgia não implica que venha a ser satisfeita imediatamente. Para ele há de construir uma ponte que uma o desejo com a conquista. Coincidimos com Parmênides quanto a realidade do Uno (o que possa ser), quando cai na ridícula contradição de uma mente que coincide com uma unidade total tratando de provar por ele sua própria diferença e diversidade (4).

Nesta passagem. Camus parecia afirmar que há pelo menos três diferentes aspectos em que o universo decepciona a expectativa humana (5). Primeiro, não é uma criatura sensível que possa amar e sofrer. Ademais, não podemos somar tudo que descobrimos sobre a realidade em um mesmo princípio. E finalmente, queremos que o universo seja parmenidiano e ainda assim nos damos conta de que nossas não são parte do Uno. Thomas Nagel dá distintas razões do absurdo da existência humana (6). Argumenta que a percepção do absurdo vem da “colisão entre a seriedade com que tomamos nossas vidas e a possibilidade perpétua de considerar tudo o que consideramos certo sério como arbitrário, ou aberto à dúvida (7).” Apesar de, como seres humanos, levamos a sério nossas vidas, é possível tomar outro ponto para ver melhor as coisas, fora de nós. Diferentemente dos animais e das coisas inanimadas, transcendemos nossa própria perspectiva limitada e vemos nossas vidas em uma perspectiva eterna. Desta perspectiva, diz Nagel, tudo o que sabemos parece ser arbitrário. Ainda assim esta habilidade de poder ter esta perspectiva não nos desanima e “aí se faz o absurdo: não no fato de que tal visão externa se possa tirar, senão no fato de que nós a podemos ter sem deixar de sermos pessoas cujas preocupações primordiais são tomadas tão efêmeras(8).”
O absurdo da vida cristã

É a vida absurda -de acordo com o significado do dicionário, ridiculamente incongruente e irracional – se o cristianismo é aceito? Parece-me que a resposta é ‘se’ em função a critérios críticos do cristianismo. A vida como cristão é cheia de incongruências, entre as quais estão:

1. Não há uma versão cristã consistente de como os humanos -se supõem- devem ser salvos, ainda que esta seja sua pratica mais urgente. É absurdo que o fim do cristianismo seja a salvação humana e ainda assim a doutrina cristã não explique claramente como deve ser feita. Na realidade, existem pelo menos quatro idéias conflituosas de como se salvar sugeridas pelos credos, os evangélicos e as epístolas de Pablo (9). A primeira, presenteada nos evangelhos sinópticos, é que alguém é salvo ao seguir um estrito código ético que vai mais além das leis judias. O segundo, o qual também está presente nos evangelhos sinópticos, é que alguém se salva ao fazer grandes sacrifícios ao seguir Jesus. O terceiro, estabelecido tanto por Paulo como por João, é que alguém se salva ao ter fé em Jesus. Paulo parece supor que é suficiente e necessário somente para os que nasceram depois da chegada de Cristo. O quarto, sugerido nas cartas de Paulo, é que alguém pode ter sido salvo antes da chegada de Cristo ao seguir as leis judias. O primeiro, segundo e quarto caminho para a salvação implicam trabalhar para consegui-la, entretanto no terceiro necessita-se unicamente da fé. Certamente o  terceiro caminho é mais comumente associado com a cristandade. Entretanto, não fica claro o que se necessita além de crer. Ainda quando alguém se concentra somente na dimensão cognitiva da fé existem pontos não muito claros. Os credos parecem exigir o tipo de crença que define o cristianismo ortodoxo, é dizer, tudo, desde o nascimento de uma virgem até a Segunda Chegada, da ressurreição à encarnação. Por outro lado, João só parece pedir para crer na encarnação e Paulo só na ressurreição. Nem Paulo nem João exigem crer no nascimento de uma virgem ou na Trindade.

2. Existe uma séria incongruência entre o típico desejo do cristão de ir ao céu e a injustiça sem sentido de que se fala. Em primeiro lugar, a noção da existência humana no céu – seja com corpo ou sem ele- é conceitualmente ininteligível. Segundo, segue como mistério como os habitantes do céu podem ter livre-arbítrio e presumivelmente não cometer equívocos morais. Terceiro, a tese do anti-universalismo de que no todos serão salvos é injusta, dados os requerimentos não claros para se salvar, onde o  universalismo parece no ter sentido. E finalmente, muitas das passagens bíblicas se referem ao céu descrevendo-o como um lugar onde há guerra, sofrimento, violência, iniqüidades sociais e injustiça social(10). Isto, apesar do fato de que ir ao céu é o objetivo principal da vida cristã e que se sustenta como o fim de um desejo infinito. A idéia do céu é profundamente problemática tanto conceitualmente como eticamente(11).

3. Outra incongruência é que a teoria da ética cristã que se encontra no Novo Testamento parece irrelevante ou indefensável para muitas pessoas moralmente sensíveis, incluindo muitos cristãos contemporâneos. Ainda assim esta teoria se supõe a base da vida moral cristã. As promessas de Jesus de outro mundo, sua rigidez, sua demanda de obediência cega, sua vingatividade, seus truques para o seguirem não só  são moralmente inaceitáveis como contradizem a afirmação de que é moralmente perfeito(12). Mais ainda, sua aprovação tácita da escravidão e seus confusos ensinamentos sobre a pobreza fazem de Jesus um inapropriado modelo ético.
Consideremos a escravidão com maior detalhe. Mesmo sendo sua prática comum na época de Jesus, não existe evidência que ele tenha a criticado. Como Morton Smith afirma:

Havia um enorme número de escravos do imperador e do Estado romano; o Templo de Jerusalém era dono de escravos; os altos comandos sacerdotais tinham escravos (um deles perdeu uma orelha e Jesus testemunhou isso); todos os ricos e quase toda a classe média possuíam escravos. Até onde nos têm dito, Jesus nunca atacou esta prática. Tomou as coisas como eram e moldou seus ensinamentos segundo isto. Da maneira que Jesus apresentava as coisas, o principal problema dos escravos não era libertarem-se e sim ganhar a adoração de seu amo. Parece que houve revoltas de escravos na Palestina e na Jordânia durante a juventude de Jesus (Josephus, Bellum 2:55-56); um líder dessas revoltas que fizesse milagres teria atraído a muitas pessoas. Se Jesus tivesse denunciado a escravidão ou prometido a libertação dos escravos, seguramente teríamos ouvido isso. No ouvimos nada, assim o mais provável é que nunca tenha dito nada(13).

Ademais, se Jesus se opôs à escravidão, o mais provável é que seus primeiros seguidores tivessem continuado seus ensinamentos sobre o assunto. Entretanto, Paulo  (1Cor. 7:21,24) e outros escritores cristãos e outros escritores cristãos disseram aos cristãos para que continuassem com a escravidão(14). É absurdo então para alguém que tacitamente aprovou a escravidão representar o ideal moral cristão. Ainda assim passamos por alto estes problemas e nos concentramos no que é considerada por muitos a essência dos ensinamentos de Jesus, especificamente, o mandamento “ama a teu próximo”, existem problemas. A falta de claridade no mandamento o permite ser interpretado de diversas maneiras, algumas tem implicações inaceitáveis e outras são tão vagas que é impossível diferenciar o que este mandamento implica. É absurdo que o mandamento ético por excelência do cristianismo tenha tantos problemas.

4. Outra incongruência é que não existe uma teoria plausível da ressurreição; isto é, o porquê Jesus encarnou, morreu na cruz e ressuscitou(15). Ainda assim, sem isto a visão cristã não tem sentido e a encarnação, morte e ressurreição não têm razão de ser. Todas as teorias importantes sobre a ressurreição têm sérios problemas. Em particular, falham em explicar por que Deus sacrificou seu filho para a salvação dos pecadores  nos fazem ver o sacrifício como algo arbitrário e sem sentido. Portanto, não suportam uma explicação adequada da encarnação, morte e ressurreição de Jesus. Para ilustrar mais, leve em consideração uma destas posições: a teoria do resgate, a qual, durante aproximadamente os primeiros mil anos da história cristã, foi a teoria mais popular da ressurreição.
Na crua versão que tinham os primeiros pensadores cristãos sobre a Origem (185-254 DC), a teoria do resgate assume que o diabo possui a humanidade e seus direitos de possessão não podem ser ignorados. Deus aceita pagar um preço, a morte de seu próprio filho, para resgatar a humanidade. O diabo aceita tal preço porque crê que terá o filho de Deus como seu prêmio. Entretanto, Deus engana o diabo. Deus sabe ao fazer esta oferta ao diabo que este não poderá ficar com o filho de Deus como prêmio.  Conseqüentemente, o filho escapa dos poderes do diabo e se reconcilia com seu pai. Em versões posteriores, mais sofisticadas, por exemplo, a de Agostinho: o diabo é enganado não pode Deus pelo seu próprio orgulho; em particular, é derrotado pela sua própria maldade. Conseqüentemente, a justiça de Deus é preservada(16).

Esta teoria, obviamente, tem muitos problemas. As primeiras versões explicitamente  atribuem a Deus qualidades de caráter que não são dignas de um ser divino. Se Deus é moralmente perfeito, não tem que enganar a ninguém, nem sequer ao diabo. Mas mesmo nas versões mais sofisticadas se fazem suposições implausíveis; por exemplo, que o diabo estaria tão cego de orgulho que acreditaria que é mais poderoso que o filho de Deus. E mais, a mesma idéia de um diabo, é alguém especial que ganhou o direito de possessão dos seres humanos devido a seus pecados, alguém que Deus deve acatar e honrar, é considerada por muitos leitores modernos como bizarra e implausível. Por que Deus acreditaria que o diabo tem direitos morais sobre as criaturas de Deus? Ora, o diabo é uma de suas criaturas, que o desobedeceu e pecou contra Deus. Além disso, não era necessário sacrificar que Deus sacrificasse seu filho já que poderiam existir outras opções. Como Deus é onipotente e pode fazer qualquer coisa ainda que seja logicamente impossível, deus seguramente poderia alcançar suas metas de outra maneira. Por último, esta teoria não explica por que os humanos devem ter fé em Jesus para serem salvos, já que, segundo a teoria do resgate, depois da morte e ressurreição de Jesus os seres humanos se livraram das garras do diabo; parecia ser que a forma de salvação ser simplesmente seguir uma vida livre de pecados para não cair sob o controle do diabo. O que tem a fé em Jesus a ver com isso? A teoria do resgate não dá nenhuma resposta, tão pouco as teorias da ressurreição, da aceitação, da penitência, do governo, da moral e da mística. Todas são extremamente implausíveis.

5. A última incongruência que mencionarei é que os cristãos baseiam suas vidas na crença no Deus cristão e esse conceito também é incoerente. Assim o que poderia ser mais absurdo que basear sua vida num ser incoerente? Em primeiro lugar, algumas das propriedades atribuídas a Deus na Bíblia são inconsistentes(17). Por exemplo, se diz que Deus é invisível (Col. 1:15, 1Ti 1:17, 6:16), um ser que nunca foi visto (João 1:18, 1Jo 4:12), mas personagens da Bíblia, ente eles Moisés (Ex 33:11, 23) Abraão, Isaac e Jacob (Ge. 12:7, 26:2, Ex 6:3) viram Deus. Supõe-se que deus tenha dito, “não podem ver meu rosto, pois ninguém pode ver meu rosto e viver” (Ge 32:30). Entretanto, Jacó via a Deus e viveu (Ge 32:30). Em algumas partes Deus é descrito como misericordioso (18) e em outras que não tem misericórdia (19); em umas partes como um ser que se arrepende e muda de opinião (20) e em outras como um ser que nunca se arrepende nem muda de opinião (21). Às vezes é um ser que engana e causa maldade (22) e às vezes um ser que nunca faz isso (23); às vezes é alguém que castiga os filhos pelas más ações de seus pais(24) e outras como alguém que nunca faz isso(25).

Segundo, os atributos especificados nos relatos filosóficos de Deus ou estão em conflito entre eles ou são internamente inconsistentes. Em meu livro “Atheism: A Philosophical Justification” dediquei trinta páginas a analisar em detalhes a incoerência relacionada com os conceitos de onisciência, onipotência e liberdade divina. Aqui só tenho espaço para esboçar meus argumentos relativos a onisciência.

Em certo sentido, dizer que Deus é onisciente é dizer que Deus sabe tudo.  Dizer que Deus tudo sabe quer dizer que Deus tem todo o conhecimento que existe. Hoje os filósofos têm distinguido entre três tipos distintos de conhecimento: proposicional, processual e conhecimento familiar. Resumidamente, o conhecimento proposicional ou factual é saber que algo é analisável como uma crença verdadeira de algum tipo. Em contraste, o conhecimento processual ou o conhecimento de como é um tipo de habilidade e não é redutível ao conhecimento proposicional (26). Finalmente, o conhecimento familiar é o que se dá por contato direto com algum objeto, pessoas ou fenômeno (27). Por exemplo, para que eu diga que conheço Sr. Jones implica que tenho mais que um conhecimento proposicional detalhado sobre o Sr. Jones; tenho um contato direto com o Sr. Jones. Igualmente, dizer que eu conheço a pobreza implica que, além de um conhecimento detalhado da pobreza, tenho experiência direta dela.
Dizer que Deus tudo sabe, então, é dizer que Deus tem todo o conhecimento seja proposicional, processual ou familiar. Entretanto, as implicações desta afirmação para existência de Deus não são normalmente analisadas. Se Deus é onisciente, então Deus deve ter todo o conhecimento incluindo saber nadar. Mas isto entra em conflito com o fato de que não tem corpo. Mas somente um ser com corpo pode saber nadar no sentido prático; ou seja, pode verdadeiramente ter a habilidade de nadar. Já que por  definição Deus não tem corpo, o atributo de Deus não ter corpo e seu atributo de ser onisciente estão em conflito. Portanto, já que deus tem propriedades autoconflitantes, o conceito de Deus é incoerente.

A propriedade de saber tudo também entra em conflito com certos atributos morais comumente atribuídos a Deus. Pois se Deus é onisciente, então ele tem o conhecimento direto de todos os aspectos de luxúria e inveja. Um aspecto da luxúria é o sentimento de luxúria e outro aspecto da inveja é o sentimento da inveja. Entretanto, uma parte do conceito de Deus é que ele é moralmente perfeito e ser moralmente perfeito exclui estes sentimentos. Conseqüentemente, o conceito de Deus é incoerente.(28).

Além do mais, a onisciência de Deus entra em conflito com sua onipotência. Como Deus é onipotente não pode experimentar medo, frustração e desesperança(29). Para ter estas experiências alguém deve ser incapaz de algo, mas como Deus sabe tudo e pode tudo, ele sabe que seu poder é ilimitado. Conseqüentemente, ele não pode ter conhecimento direto completo de todos os aspectos do medo, frustração e desesperança. Por outro lado, já que Deus é onisciente ele deveria ter este conhecimento. Novamente o conceito de Deus mostra ser incoerente. O que poderia ser mais absurdo? O conceito central da vida cristã que é Deus e este conceito é incoerente.(30).

Tratarão melhor o absurdo da vida cristã filósofos como Camus e Nagel? Consideremos  Camus. Ainda que Camus rechaçasse a cristandade porque autoriza o salto conceitual da fé, de qualquer modo era importante ver que se nós realmente temos as três expectativas que lhe são atribuídas, a cristandade nos decepcionará e a vida será absurda ainda se seguindo a cristandade. Primeiro, o universo mesmo, ainda desde a perspectiva cristã, não é uma criatura sensível e não ama nem sofre. Algumas criaturas no universo são sensíveis e se a cristandade está correta o criador do universo também é. Mas isto aparentemente não satisfaz os seres humanos que querem que o universo seja sensível. Segundo, a cristandade não ensina que tudo pode ser descoberto ou resumido em um só princípio; mas isso é, segundo Camus, o que esperam os seres humanos. Finalmente, a exceção de alguns místicos e panteístas cristãos, a cristandade não pode ensinar que o universo é o Uno (parmenidiano) e que nossas mentes são parte do Uno. Entretanto, segundo Camus, isto é o que os seres humanos esperam. Assim, ainda que aceitando o que foi dito por Camus, a vida cristã segue sendo absurda. Existe tensão entre o que ensina a cristandade e o que os homens esperam e esta tensão é precisamente o que Camus crê que a faz absurda.
Ainda que Nagel não discuta explicitamente o cristianismo, sua teoria sugere que a cristandade não elimina o absurdo da vida. Nagel argumenta que é inútil tratar de escapar de nossa posição tomando uma perspectiva mais ampla que possa dar significado a nossas vidas. Em particular, duvida que a crença em Deus e seu propósito cósmico possa eliminar o sentimento de absurdo. Se podemos regressar e duvidar dos propósitos individuais de vida, é possível duvidar do reino e glória de Deus também. “O que faz a dúvida com respeito ao logro limitado do indivíduo  também o faz com respeito a qualquer propósito que alente o sentido de que a vida não tem significado” (31). Entretanto, Nagel, diferentemente de Camus, não recomenda este desafio ao universo de cara ao absurdo. Este tipo de resposta dramática, diz Nagel, falha ao apreciar a “importância cósmica da situação”: “Sem uma visão de eternidade não há razão em crer que algo é importante, então se ele tampouco importa lidaremos com nossas vidas de maneira irônica ao invés de com heroísmo e desespero.” Para Nagel, então, isto significa que a salvação cristã com este tipo de visão, não importa. Mas que isto não importe, não tem importância em si. O absurdo para Nagel faz-se no fato que os cristãos podem tomar este ponto de vista externo e ainda assim não deslindasse da vida. Lidando com suas vidas com ironia, assim seguem vivendo.
Conclusão

As idéias cristãs de salvação, céu, ética, ressurreição e Deus são profundamente problemáticas e a vida seguindo estas idéias é absurda nos termos da definição ordinária do dicionário de “absurdo”. Entretanto, as análises filosóficas do absurdo realizados por Camus e Nagel mostram que a cristandade não é melhor que o ateísmo.
Notas
(1) Ver, por exemplo, William Lane Craig, Reasonable Faith (Wheaton, III: Crossway Books, 1994) Capítulo 2. Este livro é a edição revisada de seu livro de 1984 publicado por Moody Press.
(2) Michael Martin, Atheism: A Philosophical Justification (Philadelphia, PA 1990), Capítulo 1. Ainda que o livro de Craig tenha sido revisado em 1994 não faz nenhum esforço em responder algumas de minhas objeções e parece passar por alto por minhas críticas.
(3) Albert Camus, The Myth of Sisyphus and Other Essays, traducido por Justin O’Brien, (Nueva York: Alfred A. Knopf, Inc. 1955) Seleções relevantes de sua obra foram reimpressas em The Meaning of Life de Steven Sanders y David Cheney. (Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1980) Ver Albert Camus, “An Absurd Reasoning”, The Meaning Of Life. pp. 65-75.
(4) Camus, “An Absurd Reasoning”, The Meaning of Life. p 69.
(5) Martin, Atheism, pp. 17-18
(6) Thomas Nagel, “The Absurd”, The Meaning of Life, pp. 155-165.
(7) Ibid. p. 157
(8) Ibid., p. 159
(9) Ver Michael Martin, The Case Against Christianity, (Philadelphia, PA: Temple University Press, 1991), Capítulo 7. Ver también C. Dennis McKinsey, The Encyclopedia of Biblical Errancy (Amherst, NY: Prometheus Books, 1995), Capítulo 16.
(10) Ver McKinsey, The Encyclopedia of Biblical Errancy. pp 330-332 para referecias bíblicas específicas.
(11)Ver Michael Martin, “Problems With Heaven”. Julio 22, 1997. www.infidels.org/library/modern/michael_martin/heaven.html
(12) Ver Martin, The Case Against Christianity, Capítulo 6, MacKinsey The Encyclopedia of Biblical Errancy, Capítulo 7.
(13) Ver Morton Smith, “Biblical Arguments for Slavery”, Free Inquiry, 7, Primavera 1987, p. 30
(14) Ibid. Ver también Edward A. Westermarck, “Christianity and Slavery”, A Second Anthology of Atheism and Rationalism, ed. Gordon Stein, (Buffalo, NY.: Prometheus Books, 1987), pp. 427-437.
(15) Ver Martin, The Case Against Christianity, Apéndice 2.
(16) L. W. Grensted, A Short History of the Doctrine of Atonement (Londres: Manchester University Press, 1920), Capítulo 3. Alguns comentaristas argumentan que Agostinho não manteria uma teoria de resgaste, nem sequer uma sofisticada. Ver a introdução a Anselomo Why God Became Man and The Virgin Conception and Original Sin, de Joseph M. Colleran, traduzida, introdução e notas por Joseph M. Colleran (Albany, NY.:MagiBooks, 1969) p. 44.
(17) Aqui estou em débito com Nonbelief and Evil de Ted Drange (Amherest, NY; Prometheus Books, 1998) Apéndice D.
(18) Ps 86:5, 100:5, 103:8, 106:1, 136:2. 148:8-9; Joel 2:13; Mic 7:18, Jas 5:11.
(19) De 7:2,16, 20:16-17; Jos 6:21, 10:11, 19, 40, 11:6-20; ISa 6; 19. 15:3; Na 1:2; Jer 13:14; Mt 8:12, 13:42, 50, 25:30, 41, 46; Mk 3:29, 2Th 1:8-9; Re 14:9-11, 21:8
(20) Ge 6:6, Ex 32:14;1Sa 2:30-31, 15:11,35, 2Sa 24:16:2Ki 20: 1-6; Ps 106:45; Jer 42:10; Am 7:3; Jon 3:10
(21) Nu 23:19; ISa 15:29, Eze 24:14 Mal 3:6: Jas 1:17.
(22) Ge 11:7; Jg 9:23; 1Sa 16:14, La 3:34; 1Ki 22:22-23; Isa 45:7, Am 3:6; Jer 18:11, 20:7; Eze 20: 25, 2 Th 2:11
(23) De 32:4; Ps 25:8, 100:5, 145:9; ICo 14:33.
(24) Ge 9:22-25; Ex 20:5, 34:7; Nu 14;18; De 5:9; 2Sa 12:14; Isa 14:21, 65:6-7.
(25) De 24:16; 2Ch 25:4; Eze 18:20
(26) Para uma explicação destes tipos de conhecimento ver Conditions of Knowledge de Isareal Scheffler (Chicago: Scott Foresman and Co. 1965)
(27) Ver D. W. Hamlyn, The Theory of Knowledge, (Gardin City, NY.: Doubleday, 1970), pp. 104-106.
(28) Este argumento foi desenvolvido em  “A Disproof of the God of the Common Man,” de Michael Martin, Question, 1974, 115-124; Michael Martin, “A Disproof of God’s Existence,” Darshana International, 1970.
(29) Cf. David Blumenfeld, “On the Compossibility of the Divine Attributes”, Philosophical Studies, 34, 1978, pp.91-103.
(30) Outros absurdos considerados em alguns aspectos que têm a ver com a doutrina cristã de Deus específicamente com a Trindade e a encarnação. Veja Martin, The case against Cristianity, Chapter 5, pp. 10-11, p. 14.
(31)The meaning of Lifes, p. 160.
(32) Ibid. p.165.
Pubicado en The American Rationalist. Mayo-Junio, 2000.
"Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la, e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela" Confúcio

Offline Südenbauer

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Re.: O ABSURDO DA VIDA CRISTÃ
« Resposta #1 Online: 16 de Julho de 2005, 18:44:06 »
De onde você tirou o texto? Tá cheio de erro.

Edit: Porém, é muito bom!

 

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