Autor Tópico: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos  (Lida 10416 vezes)

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Offline EuSouOqueSou

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Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Online: 08 de Setembro de 2009, 19:09:24 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Qualquer sistema de pensamento pode ser racional, pois basta que as suas conclusões não contrariem as suas premissas.

Mas isto não significa que este sistema de pensamento tenha correspondência com a realidade objetiva, sendo este o motivo pelo qual o conhecimento científico ser reconhecido como a única forma do homem estudar, explicar e compreender a Natureza.

Offline Pellicer

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #1 Online: 08 de Setembro de 2009, 22:13:45 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.

Eu posso estar falando besteira, mas acho que eu vi esse negócio da árvore no meio de camadas de rochas num livrinho que estavam distribuindo num aeroporto dos EUA. Eu achei tão engraçado que eu guardei esse livrinho, e tem no site da editora, http://www.chick.com/reading/tracts/0055/0055_01.asp. Creio que eles não vão reclamar de um link direto porque acaba sendo propaganda pra eles.

E se essa história das árvores (que não somos nozes) for isso o que eu pensei, a própria resposta dá uma referência: http://www.talkorigins.org/faqs/polystrate/trees.html





























E pra completar, a resposta pra esse livrinho que eu encontrei no /b/.



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« Última modificação: 09 de Setembro de 2009, 19:21:41 por Pellicer »

Offline Eremita

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #2 Online: 09 de Setembro de 2009, 04:26:59 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:


Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Claro, estou supondo que a árvore não foi "inventada" pelo criacionista em questão.

Se a hipótese que postei estiver correta, para fins de datação, deve-se considerar o estrato da base da árvore.

EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?
« Última modificação: 09 de Setembro de 2009, 04:29:58 por JANVS »
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Offline AngeloItacare

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #3 Online: 09 de Setembro de 2009, 08:16:30 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:


Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Claro, estou supondo que a árvore não foi "inventada" pelo criacionista em questão.

Se a hipótese que postei estiver correta, para fins de datação, deve-se considerar o estrato da base da árvore.

EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?

A ilustração ajuda - a exemplificar má sciência. Sciência, aplicada para tentar justificar o injustificável....


http://www.detectingdesign.com/fossilrecord.html#Polystrate%20Trees

http://www.icr.org/module=articles&action=view&ID=239

http://creation.com/the-yellowstone-petrified-forests

Offline Contini

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #4 Online: 09 de Setembro de 2009, 08:45:26 »
Os links abaixo ajudam- a exemplificar má ciência, aplicada para tentar justificar o injustificável....


http://www.detectingdesign.com/fossilrecord.html#Polystrate%20Trees

http://www.icr.org/module=articles&action=view&ID=239


http://creation.com/the-yellowstone-petrified-forests

Veja que NENHUM dos sites possui qualquer informação válida, sendo tendenciosos e mentirosos como já foi apontado antes e ignorado pelo forista Itacaré devido a sua extrema ignorancia científica e pré-conceitos fundamentados em um comportamento de fanatismo religioso.

Por favor, pare de poluir as discussões com sites de proselitismo religioso. Estamos discutindo aqui em ambito científico, se voce não tem nenhuma contribuição nesse sentido, se abstenha de comentar.


E uma recomendação séria, pesquise "método científico", está muito claro que voce não tem idéia do que se trata.

Só um lembrete:

Se voce quizer saber sobre geologia, busque publicações de geólogos, não de religiosos.
Se voce quizer saber sobre biologia, busque publicações de biólogos, não de religiosos.
Se voce por ventura ficar doente, não sejha coerente comsua posição religiosa e procure um médico.

"A idade não diminui a decepção que a gente sente quando o sorvete cai da casquinha"  - anonimo

"Eu não tenho medo de morrer, só não quero estar lá quando isso acontecer"  - Wood Allen

    “O escopo da ciência é limitado? Sim, sem dúvida: limitado a tratar daquilo que existe, não daquilo que gostaríamos que existisse.” - André Cancian

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #5 Online: 09 de Setembro de 2009, 12:04:44 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:


Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Claro, estou supondo que a árvore não foi "inventada" pelo criacionista em questão.

Se a hipótese que postei estiver correta, para fins de datação, deve-se considerar o estrato da base da árvore.

EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?

Se não me engano, a árvore nem precisa estar já mineralizada para ir sendo soterrada por diferentes estratos, pode até ficar viva por um tempo ainda.


O curioso é que foram os próprios criacionistas, aqueles da época em que ainda eram cientistas honestos, sendo criacionistas praticamente apenas por falta de outra opção, que primeiro refutaram a explicação diluviana.

E é também engraçado que outra coisa de certa forma similar, por poder ocupar mais de um estrato, geralmente eles preferem deixar de lado, que são as tocas de animais, com fósseis dentro. Os fósseis deveriam ter se formado só durante o dilúvio (apesar de que a bíblia não dizer que os animais foram preservados como fósseis, mas que "tudo que andava sobre a terra foi destruído"), bem como os estratos. Então como é que poderiam haver tocas formadas entre estratos? Se não me engano, alguns para escapar dessa admitem que nem todos os estratos foram formados durante o dilúvio! Quando não se encaixa, bem, então, aí foi um processo de sedimentação coincidentemente com resultados muito similares àqueles do dilúvio universal... apesar de Eloá ter prometido que não faria nada parecido com o dilúvio de novo...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #6 Online: 09 de Setembro de 2009, 12:07:12 »
Até hoje eu não me conformo com o Jack Chick não ser um parodiador mas defensor real do criaiconismo. Até aquela Landover Baptist Church algumas vezes parece mais de verdade.

Offline Eremita

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #7 Online: 09 de Setembro de 2009, 16:09:08 »
Buckaroo, suspeito seriamente que ad hoc seja uma invenção de criacionistas...
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Offline Pellicer

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #8 Online: 09 de Setembro de 2009, 19:25:33 »
EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?

Eu editei a minha mensagem original pra esse link não ficar perdido. Estava meio escondido mesmo.

Offline LIAN

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #9 Online: 10 de Setembro de 2009, 17:08:30 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.

Acho que não entendi bem a questão
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:


Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Claro, estou supondo que a árvore não foi "inventada" pelo criacionista em questão.

Se a hipótese que postei estiver correta, para fins de datação, deve-se considerar o estrato da base da árvore.

EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?

Se não me engano, a árvore nem precisa estar já mineralizada para ir sendo soterrada por diferentes estratos, pode até ficar viva por um tempo ainda.


O curioso é que foram os próprios criacionistas, aqueles da época em que ainda eram cientistas honestos, sendo criacionistas praticamente apenas por falta de outra opção, que primeiro refutaram a explicação diluviana.

E é também engraçado que outra coisa de certa forma similar, por poder ocupar mais de um estrato, geralmente eles preferem deixar de lado, que são as tocas de animais, com fósseis dentro. Os fósseis deveriam ter se formado só durante o dilúvio (apesar de que a bíblia não dizer que os animais foram preservados como fósseis, mas que "tudo que andava sobre a terra foi destruído"), bem como os estratos. Então como é que poderiam haver tocas formadas entre estratos? Se não me engano, alguns para escapar dessa admitem que nem todos os estratos foram formados durante o dilúvio! Quando não se encaixa, bem, então, aí foi um processo de sedimentação coincidentemente com resultados muito similares àqueles do dilúvio universal... apesar de Eloá ter prometido que não faria nada parecido com o dilúvio de novo...

Acho muito provável que seja isso. Vegetais lenhosos sofrem mineralização que os preserva.

Por exemplo, se florestas petríficadas que hoje conhecemos são soterradas progressivamente podem perdurar durantes longos períodos ou eras geológicas. Não entendi ainda como isso refutaria a evolução!

A ignorância dos criacionistas os faz sonhar o tempo todo que descobriram a pólvora. Lamentável!
"Não consigo me convencer de que um Deus caridoso e onipotente teria propositalmente criado vespas parasitas com a intenção expressa de alimentá-las dentro de corpos vivos de lagartas." Charles Darwin

Offline EuSouOqueSou

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #10 Online: 12 de Setembro de 2009, 00:31:25 »
Citação de: Pellicer
E se essa história das árvores (que não somos nozes) for isso o que eu pensei, a própria resposta dá uma referência: http://www.talkorigins.org/faqs/polystrate/trees.html

Citação de: JANVS
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:

Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Obrigado Pellicer pelo link, agora sei que trata-se realmente de um fato comprovado e não um fake. E JANVS, vc teve uma boa percepção, o caminho é por aí.

Vamos por partes, primeiro vou analisar o processo de “mineralização” (pelo que entendo esse termo é usado de maneira errônea aqui, pois o mesmo é usado para definir o processo de decomposição ou o processo de fixação de nitrogênio do ar por algumas bactérias. Sendo assim vou usar o termo petrificação, que acredito ser o mais indicado)

John William Dawson (1868) described a classic Carboniferous-age locality at Joggins, Nova Scotia, where there are upright giant lycopod trees up to a few metres tall preserved mainly in river-deposited sandstones.

In the [stratigraphic] section in the preceding chapter, the reader will observe the words 'Underclay, Stigmaria [a type of fossil tree trunk]' frequently recurring; and over nearly every underclay is a seam of coal. An underclay is technically the bed of clay which underlies a coal-seam; but it has now become a general term for a fossil soil [Dawson's emphasis], or a bed which once formed a terrestrial surface, and supported trees and other plants; because we generally find these coal underclays, like the subsoils of many modern peat-bogs, to contain roots and trunks of trees which aided in the accumulation of the vegetable matter of the coal.

Pelo que entendi esses fósseis tem origem no período Carbonífero que, pelo que eu pesquisei é caracterizado por grandes regiões de florestas e pântanos. Antes de ocorrer a petrificação pelo carvão, o tronco é coberto por uma camada de calcário. Essas camadas de calcário são conhecidos tbm como solo fóssil (acredito que seja o mesmo caso dos fósseis do vale do Araripe no sul do Ceará, poexemplo). Segundo o texto, essas camadas de carvão e calcário são encontradas tbm em subsolos de mangues e pântanos.

The underclays in question are accordingly penetrated by innumerable long rootlets, now in a coaly state, but retaining enough of their form to enable us to recognize them as belonging to a peculiar root, the Stigmaria, of very frequent occurrence in the coal measures, and at one time supposed to have been a swamp plant of anomalous form, but now known to have belonged to an equally singular tree, the Sigillaria, found in the same deposits (Fig. 30).

Depois ocorre o mesmo processo, porém num estado mais “carbonizado”, quer dizer, com carvão mineral.

No entanto, esse é apenas um dos processos de petrificação de árvores. Andei pesquisando e encontrei mais informações a respeito.
> http://en.wikipedia.org/wiki/Polystrate_fossil
> http://en.wikipedia.org/wiki/Petrified_wood
Existem diversos minerais combinados com sílica (formando os compostos silicatos) que podem atuar nesse processo. A forma, porém, pelo que pude entender, é semelhante em todos. É necessário que haja um soterramento da árvore e que o solo seja rico nesses minerais e haja umidade (água) suficiente para que o mineral esteja diluído e assim penetrar nas células vegetais > http://en.wikipedia.org/wiki/Polystrate_fossil
O processo de soterramento pode ser abrupto ou lento. Se alguém se der ao trabalho de ler os links, verá que existem tbm outros processos de petrificação causados por atividades vulcânica, por exemplo.

Agora vamos analisar a formação dos estratos. Pelo que pude notar, os fósseis que apresentam estratos sempre se encontram em áreas de próximas a rios, deltas, baías, etc, ou seja, locais onde haja variações no nível das águas. Pelo que entendi, os estratos não são estratos geológicos que representam eras geológicas, mas sim estratos formados pelas constantes variações dos níveis de água. Como podem ver nas fotos, os estratos são bem finos
> http://www.bible.ca/tracks/tracks-petrified-tree.jpg
> http://www.uky.edu/KGS/picturekentucky/fossils/FOSSILTREESTUMP1.jpg

Portanto, não são fósseis que atravessaram milhares de anos testemunhando as intensas transformações da crosta terrestre.

Citação de: AngeloItacare
A ilustração ajuda - a exemplificar má sciência. Sciência, aplicada para tentar justificar o injustificável....


http://www.detectingdesign.com/fossilrecord.html#Polystrate%20Trees

http://www.icr.org/module=articles&action=view&ID=239

http://creation.com/the-yellowstone-petrified-forests

Entendo o que quis dizer, mas entenda bem uma coisa, o JANVS expôs uma hipótese inicial baseado apenas na sua imaginação e observação (muito boa, por sinal). Toda investigação cientifica parte de uma conjectura inicial baseada em observações. Não vejo má ciência nisso. Você fez um julgamento precipitado pelo fato de que já tinha lido tais artigos antes e sabia que o processo não era bem assim. Na minha opinião, o senhor tentou usar de malícia para tentar me fazer ver qualquer outra explicação da parte evolucionista com descrédito.

Mas voltando ao assunto do tópico. Nos links que postou encontrei conclusões semelhantes as minhas, porém existem alguns pontos a serem analisados, primeiro em relação a formação dos estratos:

1 – quanto tempo durou o dilúvio? (parto do pressuposto que é desse grande desastre ao qual se referem nos links postados)
2 – numa completa submersão, a formação de estratos se daria através da decantação das partículas. Sendo assim, as partículas mais pesadas chegariam primeiro e depois as mais leves sucessivamente. Qual a natureza das partículas de cada estrato e a velocidade de decantação de cada?
3 – partindo do raciocínio que as árvores foram arrancadas e soterradas na inundação, como ocorreria a formação de estratos nesse caso?

Citação de: Buckaroo Banzai
E é também engraçado que outra coisa de certa forma similar, por poder ocupar mais de um estrato, geralmente eles preferem deixar de lado, que são as tocas de animais, com fósseis dentro.

Nesse caso são efetivamente estratos geológicos? Quero dizer, o fóssil atravessa eras de milhares de anos?

Citação de: Pellicer
E pra completar, a resposta pra esse livrinho que eu encontrei no /b/.
Citação de: Buckaroo Banzai
Até hoje eu não me conformo com o Jack Chick não ser um parodiador mas defensor real do criaiconismo. Até aquela Landover Baptist Church algumas vezes parece mais de verdade.
Citação de: JANVS
Buckaroo, suspeito seriamente que ad hoc seja uma invenção de criacionistas...
Citação de: LIAN
A ignorância dos criacionistas os faz sonhar o tempo todo que descobriram a pólvora. Lamentável!

Pessoal, não queria cortar o barato dos senhores, mas acho que não me expressei bem no meu 1º post. Não foi de forma alguma minha intenção incitar o debate criacionismo/evolucionismo, e sim, unicamente para esclarecer o fato isolado em questão no titulo do tópico – Arvore fossilizada em vários extratos geológicos . Bom, ainda restam algumas arestas para aparar e agradeceria muito a ajuda de vocês sem se deixarem levar por essa contenda.
Qualquer sistema de pensamento pode ser racional, pois basta que as suas conclusões não contrariem as suas premissas.

Mas isto não significa que este sistema de pensamento tenha correspondência com a realidade objetiva, sendo este o motivo pelo qual o conhecimento científico ser reconhecido como a única forma do homem estudar, explicar e compreender a Natureza.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #11 Online: 12 de Setembro de 2009, 19:41:36 »

Citação de: Buckaroo Banzai
E é também engraçado que outra coisa de certa forma similar, por poder ocupar mais de um estrato, geralmente eles preferem deixar de lado, que são as tocas de animais, com fósseis dentro.

Nesse caso são efetivamente estratos geológicos? Quero dizer, o fóssil atravessa eras de milhares de anos?

Bem, sim. Mas é melhor esclarecer um pouco mais. Estratos "efetivamente" geológicos, não são apenas por exemplo, cretáceo, jurássico e triássico (ou subdivisões menores); esses são compostos de diversos estratos eles mesmos, e esses de certa forma é que são mais "efetivos" no sentido de que são os estratos em si e não uma sucessão deles.

Esse caso que mencionei, por exemplo, não é algo como tocas que vão do cretáceo ao jurássico, mas não menos (talvez bem mais) problemáticas para a noção desses estratos terem sido depositados num dilúvio global.

É a formação Haymond, acho que compreendendo vários estratos do subperíodo pensilvaniano (no carbonífero). Uma foto:



Pela foto dá para se ver um padrão de camadas, elas são sucessões de xistos e arenitos (15.000). Os animais preferem ou conseguem apenas cavar nas camadas de xisto, e suas tocas no xisto são preenchidas por arenito das camadas superiores. De novo e de novo, em diversas camadas.

Eu não sei exatamente quanto leva para cada camada de xisto ou "pré-xisto" se formar e ser então recoberta por arenito (esse estágio aparenta a ser um evento mais rápido por não haverem tocas no arenito) e então se formar uma nova camada de xisto, mas duvido que menos de um ano, suspeito que mais. (Nem sei se os animais cavam tocas antes ou depois do xisto ser xisto). Todas as 15.000 então em um ano, é inconcebível. O pensilvaniano ao todo tem uns 20 milhões de anos.

Mas de qualquer forma isso só tem relevância para essa questão de refutação mais abrangente da "geologia" do dilúvio univeral, e nada diz especificamente a respeito da fossilização de árvores através de diferentes estratos. Coloquei apenas porque acho curiosa, oportuna, essa omissão. Inclusive essa foto é do site de um criacionista da Terra "velha". Citação interessante dele, "nothing that young-earth creationists had taught me about geology turned out to be true.". É só triste que não tenha se tocado da possibilidade do mesmo valer para todas as outras áreas onde tentam por o gênesis antes da ciência.



Offline Eremita

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #13 Online: 13 de Setembro de 2009, 10:30:07 »
Eu tinha visto a do Buckaroo. Não tinha visto a sua.

Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:


Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Claro, estou supondo que a árvore não foi "inventada" pelo criacionista em questão.

Se a hipótese que postei estiver correta, para fins de datação, deve-se considerar o estrato da base da árvore.

EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?

A ilustração ajuda - a exemplificar má sciência. Sciência, aplicada para tentar justificar o injustificável....


http://www.detectingdesign.com/fossilrecord.html#Polystrate%20Trees

http://www.icr.org/module=articles&action=view&ID=239

http://creation.com/the-yellowstone-petrified-forests
Olha, se você não gostou da hipótese que eu fiz, ou da imagem que eu também fiz, ao menos reconheça que a hipótese é científica: parti de coisas que comumente acontecem (mineralização de vegetais lenhosos, sedimentação, formação de estratos) para criar uma explicação razoavelmente simples. E testável - forneci métodos que falseariam a hipótese (segundo o método científico popperiano).

E me sinto feliz que o palpite tenha sido razoável, como o Enjolras falou :D
Latebra optima insania est.

Offline Geotecton

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #14 Online: 07 de Setembro de 2010, 23:06:44 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.
Pelo que entendi, a árvore era razoavelmente grande, e a copa ficava num estrato enquanto as raízes ficavam em outro. Algo do tipo?

Se eu fosse dar um palpite, acho que a árvore foi petrificada antes da formação dos estratos e, com o tempo, os estratos foram se formando ao redor dela. Assim:


Para isso ser verdade:
1. O processo de mineralização deve ser mais rápido que o de formação de estratos;
1a. A árvore deve ter vivido em um ambiente com considerável concentração de minerais;
2. A árvore deve ser consideravelmente grande;
3. Os estratos devem ser consideravelmente finos (da ordem de metros).

Claro, estou supondo que a árvore não foi "inventada" pelo criacionista em questão.

Se a hipótese que postei estiver correta, para fins de datação, deve-se considerar o estrato da base da árvore.

EDIT: depois vi que o Pellicer já tinha postado um link, desculpe (só vi antes as charges).
De qualquer forma, acho que a ilustração ajuda, não?

A ilustração ajuda - a exemplificar má sciência. Sciência, aplicada para tentar justificar o injustificável....


http://www.detectingdesign.com/fossilrecord.html#Polystrate%20Trees

http://www.icr.org/module=articles&action=view&ID=239

http://creation.com/the-yellowstone-petrified-forests

Talvez a ilustração seja má-ciência, no sentido de que houve uma tentativa de explicação por alguém sem conhecimento geológico.

Mas má-ciência mesmo, combinada com mau-caratismo, é a que está contida nos "links" supracitados. Em termos vulgares: Uma coletânea de bobagens e de ignorância sobre Geologia, com a finalidade última de divulgar uma ideologia religiosa.

Se alguém deseja saber como se formaram alguns sítios com árvores petrificadas, por favor examine estes links, que realmente refletem a Ciência:

Brasil:

http://vsites.unb.br/ig/sigep/sitio009/sitio009.htm


Estados Unidos:

http://sbsc.wr.usgs.gov/products/spotlight/petrified/part_1/PartI_Veg.pdf;

http://vulcan.wr.usgs.gov/Volcanoes/Washington/ColumbiaRiver/geo_history_gorge.html;

http://pubs.usgs.gov/sim/2004/2863/pispgeo.pdf
« Última modificação: 06 de Novembro de 2012, 23:34:12 por Geotecton »
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Offline Iconoclasta SP

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #15 Online: 08 de Setembro de 2010, 11:19:50 »
A ilustração do Eremita peca apenas por "mineralizar" a árvore enquanto ela ainda estava descoberta. Uma árvore morta exposta à atmosfera oxidante se decomporia e não se mineralizaria.

Para ela se tornar uma árvore petrificada, deveria haver substituição da matéria orgânica por inorgânica ou preenchimento dos poros por algum mineral que formasse um "esqueleto" que permaneceria depois que a matéria orgânica morta fosse removida. E isto só pode acontecer se a árvore for protegida via soterramento rápido em meio alcalino ou então ter sido recoberta por material vulcânico.

Eu não vi a imagem da tal árvore, seria interessante ver que tipo de estrato ela está "atravessando".

Hipótese 1 -> Para a figura do Eremita ficar mais de acordo, teriam que ter mais alguns quadros. A árvore deveria ter sofrido algum processo de soterramento rápido que permitiu sua silicificação. posteriormente, o nível d'água sobe e a os sedimentos circundantes são removidos pela erosão, permanecendo o esqueleto de sílica da árvore, muito mais resistente ao intemperismo e a ação mecânica das ondas do que os sedimentos ao seu redor. Então, os novos sedimentos vão sendo depositados sobre a árvore novamente, dando a falsa impressão de que a árvore está "cortando" estratos geológicos. Neste caso, a idade do fóssil deveria ser totalmente diferente da idade dos estratos circundantes.

Hipótese 2 ->: a árvore estaria numa área de laguna e esta  região é atinginda por uma onda de maremoto. Estas ondas trazem sedimento de todo o tipo e granulometria, se misturam com a matéria sedimentar orgânica do mangue e recobre tudo muito rapidamente. Todo este material misturado vai sofrendo separação densitária, com sedimentos mais pesados depositando mais para baixo e formando uma série de estratos sedimentares com cores e mineralogias distintas (ainda que meio embaralhados), porém que se formaram num intervalo de tempo muito curto, talvez até indiferenciável por datação radiométrica. Este tipo de rocha se chama Turbidito e se encontra em várias localidades. Neste caso, a idade do fóssil deveria ser igual à idade dos estratos circundantes.

Como se vê, algumas datações radiométricas resolveriam fácilmente o problema. E, ao contrário do caso do Santo Sudário, as idades são suficientemente grandes para cair fora da margem de erro e impedir contra-argumentação sacana.

Creio que ambas hipóteses são bem melhores do que considerar a criação de bacias sedimentares via Dilúvio Universal sob qualquer ponto de vista racional.
« Última modificação: 08 de Setembro de 2010, 11:24:25 por Iconoclasta SP »

Offline Geotecton

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #16 Online: 17 de Setembro de 2010, 00:22:37 »
Olá a todos, já faz algum tempo que descobri esse fórum e venho lendo alguns tópicos de vez em quando (devido a falta de tempo não leio tudo que gostaria). Resolvi então me cadastrar e pedir, por favor, alguns esclarecimentos sobre uma coisa que intriga até hoje.

Há uns 4 anos, quando eu estava na faculdade, eu assisti uma palestra de um defensor do criacionismo. No meio de todos os malabarismos científicos que ele mostrou para refutar a evolução e provar o criacionismo, ele apresentou uma foto de uma ávore fossilizada em vários estratos geológicos. Aquilo foi a única coisa realmente me deixou intrigado. Gostaria de saber se esse fato realmente existe, quais as explicações científicas para isso ocorrer.

Obrigado.



01) Considerações Iniciais

Eis uma síntese do conhecimento sobre árvores petrificadas, que tem os propósitos de esclarecer alguns dos aspectos geológicos envolvidos e também o de dissipar a "nuvem negra" que paira sobre o tema, em particular sobre o famigerado termo "fóssil poliestrato" trazido pela pseudo-ciência criacionista.



02) Localização dos Sítios Fossilíferos

Existem diversos sítios que contem árvores fossilizadas, que quando em grande quantidade são conhecidas popularmente como "florestas petrificadas", e que se localizam em diversos países, tais como: Argentina (José Ornachea), Brasil (Bielândia, Mata, Santa Maria, São Bento do Norte, São Pedro do Sul, Teresina, etc), EUA (Holbrook, Yelowstone), Grécia (Lesbos), Namíbia (próximo a Twyfelfountein), Nova Zelândia (Curio Bay), entre outros.



03) Condições Geológicas e Químicas de Fossilização

Para que ocorra a fossilização de uma, ou mais, árvore(s) são necessárias as seguintes condições:

a) Uma microbacia sedimentar capaz de conter o material orgânico. Com exceção de dois sítios, todos os demais apresentam árvores alóctones, isto é, o local de fossilização é diferente do local onde cresceram, indicando então um transporte, que em geral ocorre por meio aquoso (enxurradas e inundações) e mais raramente por fluxos densos de massa (deslizamentos). Os sítios de Yellowstone e da bacia de Black Warrior são singulares porque são os únicos conhecidos que apresentam fossilização autóctone, isto é as árvores foram preservadas in situ, muitas das quais, eretas.

b) Um recobrimento rápido da matéria orgânica, que torne o ambiente anóxico e retarde o processo de decomposição biológica. A cobertura pode ser por fragmentos clásticos de granulação fina de origem sedimentar (argila, silte, areia fina) ou vulcânica (cinza).

c) Um nível de lençol freático que recubra permanente ou sazonalmente os restos orgânicos ou um ambiente aquoso qualquer em que a água contenha sílica dissolvida, capaz de formar uma solução coloidal e que irá preencher os espaços do tecido lenhoso, em um processo conhecido como permineralização. A calcedônia é o mineral microcristalino mais comum, mas há raros casos de vegetais permineralizados por sulfetos, mostrando que os ambientes eram mais redutores e mais ácidos.



04) Tempo para a Fossilização

O tempo necessário de permineralização depende das condições geoquímicas. Na maioria dos sítios pesquisados, os dados indicam um período de centenas a milhares de anos, mas há pelo menos um caso de fossilização em tempo geológico curtíssimo, e que ocorreu em menos de uma década.



05) Idades Medidas e/ou Estimadas dos Fósseis

Não existem fósseis conhecidos de árvores antes do Carbonífero. O sítio do "Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Estado do Tocantins", por exemplo, contém rochas que correspondem às formações Pedra de Fogo e Motuca (Permiano) e Sambaíba (provavelmente Triássico), ou seja entre 280 e 240 milhões de anos antes do presente (Dias-Britto e Castro, 2005).

Idades semelhantes foram estimadas para as florestas petrificadas de Teresina (PI) e São Pedro do Sul (RS).

As rochas dos fósseis do sítio do "Parque Nacional de Floresta Petrificada", no nordeste do estado do Arizona (EUA) tiveram a idade medida radiometricamente em 225 milhões de anos antes do presente, situando-as então no Triássico Médio.

As rochas do sítio situado no estado do Alabama, sobre os carvões Blue Creek, é do Carbonífero Médio, ou seja, cerca de 311 milhões de anos antes do presente.

O sítio do Parque Nacional de Yellowstone tem rochas com idade estimada em 23 milhões de anos antes do presente, sendo, portanto, do Mioceno.



06) Paleoambientes Deposicionais e Regimes Tectônicos

Os sítios fossilizados se formaram em diferentes ambientes de deposição e sob a influência de regimes tectônicos diversos.

a) O ambiente deposicional do sítio de Tocantins era do tipo continental, em uma bacia cratônica, evidenciado pelos sedimentos fluviais e lacustres da Formação Motuca, que se superpõem às rochas da Formação Pedra de Fogo (Dias-Brito e Castro, 2005).

b) Este ambiente é semelhante ao interpretado para as árvores fósseis de São Pedro do Sul, no qual o arenito da Formação Mata (Faccini, 1989) recobre em desconformidade os depósitos fluviais das formações Santa Maria e Caturrita, compondo uma seqüência deposicional independente (Faccini, op. cit.). As espessuras são bastante variadas, oscilando entre 20 e 60 metros.

Na região de São Pedro do Sul e Mata é constituída (a formação homônima) por arenitos finos a conglomeráticos, quartzosos, com cores de esbranquiçada a ocre. Internamente, as estruturas mais características são as estratificações cruzadas de pequeno a médio porte, superpostas na forma de ciclos granodecrescentes sucessivos (Faccini, 1989). As características texturais e estruturais dos depósitos arenosos sugerem um sistema fluvial entrelaçado.

No afloramento Piscina (São Pedro do Sul) e em afloramentos nas cercanias da cidade de Mata, troncos fósseis ocorrem inclusos em depósitos sedimentares do arenito Mata, interpretados como barras de canais fluviais.

c) O caso do “Parque Nacional da Floresta Petrificada” é um pouco diferente. Havia uma floresta subtropical com muitos lagos nas vizinhanças de uma cordilheira vulcânica, semelhante ao que se observa nas florestas centro-meridionais do Chile, indicando um ambiente continental, mas sob um regime tectônico compressivo. A composição química dos fósseis é indicativa da presença de atividade vulcânica no entorno (cobre, cobalto, cromo, manganês, carbono, sílica, óxidos de ferro e manganês).

d) Já os dados obtidos do sítio superposto aos carvões Blue Creek, indicam que naquele local havia um litoral com um estuário e que bordejava a bacia Black Warrior. Esta sofreu forte e rápida subsidência e que propiciou o rápido soterramento da floresta por marés que trouxeram areia da plataforma continental.

e) O caso do Parque Nacional do Yellowstone é diferente de todos os demais. Os dados indicam que a região apresentou pelo menos seis ciclos com alternância de crescimento de florestas de coníferas seguido de soterramento por cinzas e brechas vulcânicas e/ou fluxos de massas densos, também decorrentes de atividade vulcânica. Em alguns locais a espessura dos depósitos chegou a 1.500 metros.



07) "Árvore Fossilizada em Vários Estratos Geológicos"?

Este é um "caso" que serve como argumento criacionista, sendo também chamado por eles de "fóssil poliestrato", sendo que na literatura geológica não se utiliza tal expressão.

No site Creation Ministries International os criacionistas criticam a interpretação da comunidade geológica para os dados observados em Yellowstone. Eis as principais críticas deles, seguidas das minhas refutações:

Citação de: Creation Ministries International
As árvores têm sistemas radiculares extensos, geralmente com 20 a 30% da massa total seca da árvore. Mas as árvores petrificadas de Yellowstone têm suas raízes grandes partidas, deixando-as sob a forma de “bolas de raiz”. Isto acontece quando as árvores são fortemente empurradas para fora da terra, como por exemplo, por um trator.

Os motivos pelos quais as raízes foram pouco preservadas são quase os mesmos pelos quais não houve a preservação das folhas e dos ramos. Elas são menos resistentes que o tecido lenhoso do tronco, de tal modo que a permineralização destrói a maior parte delas. No caso das folhas e dos ramos há o agravante de que o soterramento se deu por cinza vulcânica, que apresentava uma temperatura e uma densidade que provavelmente propiciou a queda destes elementos menos resistentes.


Citação de: Creation Ministries International
Seria de esperar que uma floresta enterrada no mesmo lugar tivesse muitos ramos e cascas petrificados. Mas no Yellowstone, os troncos das árvores petrificadas, em sua maioria de 3 a 4 metros de altura, têm muito pouca casca e muito poucos ramos. Alguma coisa os descascou e cortou a maioria dos ramos, deixando apenas os troncos.

A casca é tecido lenhoso já fragilizado, pois que está morto. Assim sendo, a explicação dada no item anterior aplica-se tanto para as cascas como para os ramos. Além disto, é bom lembrar que ocorreram fluxos aquosos durante o soterramento, que podem ter carreado os componentes menos densos, como ramos e folhas.


Citação de: Creation Ministries International
Algumas das árvores se estendem até a camada da floresta "acima". Mas, se a camada seguinte teve que esperar centenas de anos para que as cinzas que a cobriram se transformasse em solo (para que a próxima "floresta" pudesse crescer), então o topo exposto da árvore teria sido totalmente deteriorado. Porém, se todas as árvores caíssem simultaneamente, essa observação não seria surpreendente.

O topo de algumas árvores petrificadas não se estende até a floresta "acima". Foram identificados paleorelevos de pequena amplitude, ou seja, as árvores cresceram em diferentes cotas, ainda que com diferenças de poucos decímetros. Estudos mais recentes detectaram, inclusive, paleosolo "fossilizado".





Figura 01. Árvores petrificadas in situ. A indicada pela seta superior, é de uma cobertura florestal mais recente que as indicadas pelas setas inferiores.





Figura 02. Perfil esquemático mostrando as diversas "florestas petrificadas" superpostas em camadas em Yellowstone.



Citação de: Creation Ministries International
Quando as árvores caem nas florestas, especialmente nos locais planos, há uma chance igual delas se orientarem em qualquer direção. Mas nas florestas petrificadas, as árvores caídas tendem a se alinhar na mesma direção. Isto é consistente com a interpretação da ação de uma força externa, como por exemplo, fluxo de água ou de lama, que atuou depois que elas foram arrancadas.

Não é o caso da maior parte das árvores petrificadas de Yellowstone, pois, como já foi explicado, elas são autóctones. Aqui os criacionistas foram desonestos, pois citam sem explicar, o caso que ocorre na maioria das florestas petrificadas, que são alóctones, isto é, sofreram transporte por fluxos aquosos ou de massa e por isto apresentam troncos com alinhamentos em direções preferenciais (sentido de fluxo principal da enxurrada).


Citação de: Creation Ministries International
Se as camadas foram soterradas por erupções vulcânicas com intervalos de milhares de anos, o conteúdo mineral de cada uma provavelmente deveria ser bem diferente. Mas o conteúdo mineral permanece o mesmo ao longo de mais de um quilômetro de altura na coluna rochosa. Isto sugere que um ou alguns poucos episódios vulcânicos, com muitos pulsos dentro de cada episódio, ocorreram dentro de um prazo bastante curto.

As análises mineralógicas de Yellowstone indicam que houve pouca variação química ao longo dos últimos 25 milhões de anos, o que indica uma grande homogeneidade do magma. Então não há a necessidade de supor que todas as camadas tenham sido soterradas em poucos pulsos vulcânicos, embora seja geologicamente possível.


Citação de: Creation Ministries International
Florestas em fase de crescimento possuem camadas bem definidas de solo e de húmus, com muitas radículas, bem como uma próspera população animal. No entanto, a floresta petrificada em questão se notabiliza pela total ausência deles.

A ausência de tais feições pode ser assim explicada. O paleorelevo permitiria que enxurradas sazonais carreassem uma quantidade significativa de material putrefato para as zonas mais baixas, principalmente nos vales. Uma vez nestes locais, a erosão por causa de chuvas e inundações ocorreria de modo mais acentuado. O material remanescente, em particular o húmus, poderia ser facilmente destruído pelas condições de pH do ambiente recém-soterrado pelas cinzas vulcânicas.


Citação de: Creation Ministries International
Estudos das plantas de Yellowstone, incluindo a análise de pólen, mostram que existiram muitas mais espécies de plantas do que seria esperado em uma floresta. E muitas vezes o pólen não coincide com as árvores próximas. No entanto, esta seria explicável se as árvores haviam sido arrancadas e transportadas a partir de vários lugares.

Qual é o número esperado de plantas em uma floresta?

Quais são as fontes para tais afirmações?


Citação de: Creation Ministries International
Em uma floresta real, restos de plantas formam uma camada orgânica sobre o solo da floresta. Quanto mais profundo o material, mais antigo ele é, portanto, mais tempo ele teve para se decompor. Mas nas florestas petrificadas falta esse padrão de maior decadência com a profundidade. Há também folhas muito bem conservadas. Uma vez que as folhas não mantêm sua forma por muito tempo depois de cair da árvore, elas foram provavelmente enterradas rapidamente.

Já foi explicado anteriormente, pois é o mesmo caso do húmus.


Citação de: Creation Ministries International
Minerais vulcânicos como o feldspato rapidamente se alteram para argila, quando exposto à água e à atmosfera. Mas falta argila nas camadas das florestas petrificadas. Isto sugere que nenhuma das camadas foi exposta durante muito tempo.

Feldspatos não são apenas minerais vulcânicos, mas são ígneos em geral. Uma possível explicação para que não existam argilas é que as muitas camadas de cinzas foram recobertas por outros pulsos sucessivos em diversos eventos vulcânicos. A última camada a ser assentada de cada evento, a mais nova portanto, foi a mais exposta ao intemperismo e, também, a mais sujeita à erosão.


Citação de: Creation Ministries International
Os padrões granulométricos e sua disposição nas camadas de rochas, muitas vezes indicam a maneira como elas se formaram. Esperava-se que a variação granulométrica nas camadas de rochas em Yellowstone fosse aleatória. Mas não é isto que se observa. De fato o que se constata é que os grãos maiores foram depositados no fundo, e estes foram recobertos por grãos menores, em um padrão chamado de camadas grano decrescentes. Esta seleção ocorre em meio aquoso. As florestas petrificadas de Yellowstone estão associadas com rochas que contêm essas camadas grano decrescentes. Algumas camadas tem pequenas inserções, na forma de lobos, de cinza vulcânica, o que indica também um meio aquoso. E, ao que parece, isto exigiu grande volume de água para que o material pudesse fluir ao longo de grandes distâncias. Algumas rochas vulcânicas na Nova Zelândia, que são geralmente aceitas como tendo sido depositadas sob a água são muito semelhantes às rochas de Yellowstone.

Já foi explicado anteriormente. Os dados indicam que ocorreram enxurradas devido às chuvas sazonais, e estes fluxos de curta duração e com apreciáveis volumes de água, ao ocuparem os paleovales, foram capazes de formar camadas grano decrescentes e até mesmo imbricações.


Citação de: Creation Ministries International
Sob circunstâncias normais, uma árvore adiciona um anel de crescimento a cada ano. A espessura do anel indica o quão rápido a árvore cresceu naquele período, e isto depende do clima, entre outros fatores. Assim, as árvores que crescem ao mesmo tempo e praticamente na mesma área, devem mostrar padrões de anéis grossos e finos.

Sim. De acordo.


Citação de: Creation Ministries International
Por outro lado, as árvores que crescem com centenas de anos de diferença devem apresentar padrões diferentes.

Não necessariamente. Vai depender de muitos fatores. Tamanho da floresta e posição topográfica de cada árvore, são dois deles.


Citação de: Creation Ministries International
Porque acreditava no texto bíblico, o geólogo Dr. John Morris, em 1975, previu que as árvores em diferentes camadas das formações de Yellowstone teriam padrões equivalentes, ao invés de serem completamente diferentes.

É brincadeira, não?



08) Considerações Finais

Como foi demonstrado, não existem "fósseis poliestratos", sejam eles de árvores petrificadas ou de quaisquer outros espécimens vegetais ou animais.

Infelizmente, o que se constata é uma manifestação de ignorância científica de pessoas fundamentalistas religiosas, acompanhado frequentemente de uma ideologia anti-secularismo e de algum mau-caratismo.
« Última modificação: 06 de Novembro de 2012, 23:43:52 por Geotecton »
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Offline O Pistoleiro

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Re: Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #17 Online: 18 de Setembro de 2010, 17:09:38 »
Sodré vai adorar "adapar" essa explicação do Geotecton!
Se Deus é nosso Pai (você que pensa), então Satã deve ser nosso Primo. Por que ninguém entende essas coisas importantes?

Offline Geotecton

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Re:Arvore fossilizada em vários extratos geológicos
« Resposta #18 Online: 25 de Outubro de 2011, 14:16:37 »
Eis mais um bom artigo da Revista Pesquisa FAPESP, no número 188 (Outubro de 2011), e que aborda o estudo de árvores fossilizadas do tipo coníferas. Elas foram identificadas no oeste de Minas Gerais, com idade estimada em 130 milhões de anos e com a situação peculiar de que se desenvolveram em um árido deserto arenoso.

É mais uma "pazinha de cal" nas sandices criacionistas "terra jovem".

Como se fosse preciso mais alguma.


Citação de: Revista Pesquisa FAPESP
As árvores do deserto: Floresta de coníferas ocupou ambiente quente e arenoso na era dos dinossauros

Isis Nóbile Diniz
Edição Impressa 188 - Outubro 2011

 
Os proprietários da Fazenda Sobradinho, próximo à cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, retiraram de suas plantações há 40 anos o que pensavam ser apenas pedras no caminho e as deixaram em marmorarias da região. Naquele ano, 1972, os geólogos Kenitiro Suguio e Armando Márcio Coimbra analisaram o material e concluíram que as pedras eram, na verdade, troncos fossilizados de árvores que dois anos depois a paleontóloga Diana Mussa classificou como sendo de um grupo de pinheiros primitivos. Mas a conclusão foi recebida com descrença no meio científico. É que quando essas plantas viveram, cerca de 130 milhões de anos atrás, toda aquela região era parte de um vasto deserto de areia.

A confirmação de que os pesquisadores brasileiros estavam certos só veio agora. As evidências mais convincentes de que os fósseis da Fazenda Sobradinho são mesmo de plantas ancestrais das coníferas – grupo que inclui os pinheiros, as araucárias e as sequoias – foram apresentadas em julho deste ano em um artigo no Journal of South American Earth Sciences, resultado de um trabalho iniciado 15 anos antes.

Edivane Cardoso, hoje professor da Universidade Federal de Goiás, era estudante de biologia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) no final dos anos 1990 quando resolveu analisar ao microscópio os fósseis encontrados durante seu trabalho final do curso de graduação. E se surpreendeu ao ver entre as amostras de rocha fragmentos de caule petrificado. Mais especificamente, eram fragmentos de lenho – tecido de sustentação, formado pelos canais que transportam água e nutrientes entre as raízes e as folhas – de plantas que viveram 130 milhões de anos antes, no período geológico Cretáceo. Cardoso e o orientador de sua monografia na UFU, o geólogo Adriano Rodrigues dos Santos, tiveram dificuldade em convencer outros pesquisadores da descoberta. “Enviávamos o estudo para congressos e eles duvidavam. Não acreditavam que eram fósseis de vegetais tão antigos, encontrados na formação Botucatu”, conta Cardoso.



Figura 01. Fotos de fragmentos de árvores fossilizadas por permineralização.


Supercontinente - Até então se duvidava de que plantas de grande porte pudessem ter vivido na região no Cretáceo, uma vez que a formação Botucatu era um deserto de areia que se estendia por áreas que hoje formam o Sudeste e o Sul do Brasil, parte do Paraguai, da Argentina e do Uruguai. Na época em que viveram essas coníferas, os dinossauros já haviam se espalhado pelo planeta. A América do Sul ainda estava conectada à África e ambas integravam um supercontinente chamado Gondwana, em cujo centro ficava o de-serto Botucatu. Segundo simulações geo-lógicas, esse deserto era parte de uma região árida mais extensa situada no hemisfério Sul, próximo ao equador, durante um grande ciclo climático de aquecimento global (hothouse), no qual prevaleceram altas temperaturas. “Os cientistas diziam que a ocorrência de fósseis na formação Botucatu era impossível, até que se descobriram registros de pegadas de dinossauros ali”, conta a paleobotânica Margot Guerra Sommer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que ajudou a descrever os fósseis das coníferas no Journal of South American Earth Sciences.



Figura 02. Representação da disposição espacial de afloramentos da Formação Serra Geral (basaltos) e da Formação Botucatu (arenitos), com destaque para os locais onde foram identificados as coníferas do deserto.
 

O número, a densidade e o porte dos troncos fossilizados permitem aos pesquisadores supor que houve uma floresta de coníferas onde hoje existe um fragmento de cerrado. Os fósseis são de plantas adultas e estão tombados, muitos deles compactados horizontalmente, sinal de que grande quantidade de sedimento recobriu a antiga floresta antes que as plantas se petrificassem. Cinco exemplares de grande porte, cada um com mais de cinco metros de comprimento, foram recuperados. Também foram encontrados fragmentos fósseis menores, inclusive de raízes. “São muitos fósseis, não conseguimos precisar quantos”, diz Margot. Segundo as pesquisadoras, essas árvores devem ter vivido próximas umas das outras, formando uma densa floresta. Além disso, eram de grande porte, com até 20 metros de altura, provavelmente mais altas do que os pinheiros atuais.

Ao analisar as características microscópicas dos fósseis, Margot e Etiene Fabbrin Pires, hoje professora na Universidade Federal do Tocantins, verificaram que os exemplares coletados são anatomicamente semelhantes, ou seja, todos provavelmente pertencem à mesma espécie, que integra o grupo das protopináceas. “Esse material é importante, pois se trata do primeiro registro paleobotânico para a formação Botucatu em toda a bacia do Paraná”, explica Etiene.

Diante desse cenário, os pesquisadores se perguntaram: como essas árvores teriam se desenvolvido no deserto? As raízes fossilizadas encontradas no sedimento arenoso da Fazenda Sobradinho indicam que o material não foi transportado e que as plantas provavelmente viveram no local onde foram sepultadas. “O curioso é que essas grandes árvores eram sustentadas por um solo pobre em nutrientes”, conta Etiene. De acordo com os pesquisadores, é possível que essas árvores vivessem à margem do deserto, em formações vegetais que cresceram entre as dunas, em regiões com maior umidade, ambientes semelhantes àqueles em que hoje se desenvolvem os oásis.

A água, embora disponível, era escassa em determinados períodos. Os anéis de crescimento, estruturas do tronco que indicam o ciclo de vida das plantas, sugerem que essas árvores viveram sob estresse constante. “Nos anéis de crescimento, as células do lenho tardio não apresentam espessamento da parede, como ocorre nas árvores atuais”, explica Etiene. “Nesses fósseis, houve simplesmente redução do tamanho da célula.” Essas características anatômicas indicam que o crescimento dessas protopináceas era controlado pela alternância de estações secas e úmidas, e não pela disponibilidade de mais ou menos luz solar, como ocorre com as coníferas atuais, adaptadas a climas temperados.

Folhas perenes - As análises microscópicas dos lenhos fósseis também levaram a concluir que provavelmente as folhas dessas plantas eram perenes e não caíam em períodos de seca prolongada. Mas é impossível afirmar como era a aparência dessas árvores, já que só troncos e raízes foram preservados. “Elas deveriam se parecer com as coníferas atuais”, diz Margot. “Com base na anatomia do lenho, pode-se sugerir que elas tenham sido ancestrais de plantas do gênero Pinus.” Cicas, samambaias e outras coníferas dominavam a paisagem em diferentes regiões do globo na época em que essas protopináceas viveram. “Há registro de coníferas em ambos os hemisférios em períodos anteriores, contemporâneos e posteriores ao estudado”, diz Etiene. Na época em que as coníferas da Fazenda Sobradinho viveram as plantas com flores estavam surgindo e, só alguns milhões de anos mais tarde, se adaptariam aos diferentes ambientes do planeta. Hoje as coníferas ocorrem em poucos locais nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.

Por enquanto, não é possível explicar como ocorreu a fossilização dessas árvores. Uma hipótese é que esse processo de petrificação tenha se iniciado com a planta ainda viva, como ocorre em muitos ambientes hoje. “Vamos investigar as características anatômicas que ajudam a determinar a espécie”, conta Margot. “A partir de características dos fósseis e do sedimento, também queremos conhecer com mais precisão qual o ambiente em que essas plantas viveram no grande deserto Botucatu.”



Leitura Complementar:

Artigo científico

PIRES, E. F. et al. Early Cretaceous coniferous woods from a paleoerg (Paraná Basin, Brazil). Journal of South American Earth Sciences. v. 32 (1), p. 96-109. jul. 2011.


Fonte.
« Última modificação: 12 de Outubro de 2012, 11:09:19 por Geotecton »
Foto USGS

 

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