A minha principal contenda é somente a comparação de duas frases que não são "as mesmas" -- o "came into being" e a que diz "perfeitamente criado", sendo que a última é na verdade tradução do trecho que diz "finely designed", e é uma tradução argumentavelmente correta, ainda que descuidada se temos em mente a possibilidade de dar falsas impressões criacionistóides (por mais bizarro que seja isso tudo sob perspectivas criacionistas).
De fato o "perfeitamente criado" foi tradução do "finely designed", mas de qualquer forma, quem traduziria assim, se o contexto não sugere isso?
Talvez alguém para quem o criacionismo nem passasse pela cabeça na hora que escreveu. Criação e design em português comum são quase sinônimos. Ao mesmo tempo, criacionismo não é um "hot topic", algo tremendamente conhecido, tem bastante gente que só vem a saber que existe isso através desses fóruns especializados onde eles dão as caras por alguma necessidade psicológica de se auto-convencerem ou por de fato crerem que os "evolucionistas" são só um bando de patetas que acreditam que todos os seres vm do macaco, e que a bíblia é um livro de história contestado apenas por esses raros excêntricos. E dos que conhecem, talvez boa parte das pessoas simplesmente não se preocupe em articular cuidadosamente todas frases para evitar qualquer possibilidade de distorção, como é o caso com boa parte dos cientistas vítimas das citações descontextualizadas; talvez para muitos não seja diferente de um astrônomo não tendo cuidado com eventual possibilidade de cooptação por astrólogos ou ufólogos, são só um punhado de gente sem importância que vai falar merda de qualquer jeito.
Coloque "criação e design no google" e vão vir um monte de sites de "agências de criação" ou "de design" ou de "criação e design", que nada têm a ver com criacionismo. Talvez os jornalistas tenham mais proximidade com o uso do termo nesse meio do que aquele dos literalistas bíblicos, de forma que a "criação" aí não implica em nada mais sobrenatural do que o termo "seleção" também aplicado numa situação similar. A diferença é que um é mais comum que outro, e menos preciso quanto ao "método" ou "mecanismo".
O resultado está na Istoé - "o 'monstro' não é fruto de evolução".
Bem, eu não vi a reportagem, nem as declarações originais, mas teoricamente isso poderia ser uma tradução bem literal do que foi dito, obviamente sem implicar em algo criacionista (se não for tão obvio, o contexto implicando que as características típicas do T. rex já existiam em antepassados menores, e "não evoluíram" apenas depois de já se ter um tamanho maior, como se supunha).
Para a palavra criado existe uma palavra em inglês - created. Nenhum cientista que queira dizer "criado" iria dizer "designed". Não se pode atribuir isso a erro de tradução. Existe a possibilidade de não ter sido absolutamente intencional? Talvez, se fosse apenas um caso isolado, mas na mesma matéria há outros exemplos.
Mas mesmo que um cientista use "created" pode estar usando exatamente no mesmo sentido que usa "designed" ou "selected", "[by nature]", não "by a super-guy in a white robe sitting on a floating throne in the sky".
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E os jornalistas serão jornalistas...

Até um dos Ridleys, aquele que é jornalista, disse que era instruído a "simplificar e então exagerar".
Não que não hajam excessões.
E não que eu não ache que não poderia ter sido bem melhor, ainda que seja difícil interpretar (ao menos o texto do terra) como algo criacionista. Não sem muito esforço, e por criacionistas que vão ver criacionismo em qualquer lugar de qualquer jeito (o que é praticamente qualquer um mais "dedicado").
Estão falando de duas espécies com drástica diferença de tamanho, mas o tempo todo é gritantemente implícito o parentesco biológico real, não me parece ser levantada qualquer dúvida do tipo "os supostos ancestrais do enorme tiranossauro tinham todas as características esperadas de parentes reais, mas como eram 100 vezes menores, isso levanta sérias dúvidas sobre a validade da teoria da evolução".
Não que os criacionistas não se valham de argumentos non-sequitur comparáveis, mas se a intenção da reportagem era levantar dúvida sobre a evolução ou fazer o criacionismo parecer mais crível, esse texto não serve para isso, a não ser como fonte de frases descontextualizadas, que poderiam de toda forma ter vindo direto da fonte original, e teriam o mesmo efeito. E não sem ignorar o problema de estar se falando do "design" de predador (ou carniceiro, que seja), quando isso supostamente não deveria existir originalmente. Por outro lado, é algo que eles já ignoram por default.
O melhor que podem fazer levando em consideração o texto todo é dizer que do Raptorex ao T. rex só ocorreu "microevolução" e portanto o fixismo está correto.

O maior "culpado" da história toda me parece ser mesmo o Sereno. Dei outras procuradas ontem em textos em inglês, e ele diz coisas como "it was a blueprint that could be scaled". A linguagem teleológica parece ser bem arraigada. O que em si não teria muito problema se não fosse a possibilidade de uns entenderem isso não como metáfora mas como algo mais literal envolvendo seres mágicos.