Na imprensa, o Rio olímpico correndo com o WaziristãoA escolha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 deu em carnaval. Agora é o carnaval na imprensa brasileira com o desfile diário de violência na cidade. O bloco internacional também pede passagem e existe uma fuzilaria incessante na cobertura, com questões se o Rio estará capacitado para garantir a segurança olímpica em 2016 na medida em que é um campeão de violência urbana.
O "New York Times" chegou atrasado na cobertura da espiral de violência, só nesta última quarta-feira. Apesar do atraso, uma reportagem fulminante de alto de página com fotos de impacto e uma frase lapidar no texto, lembrando que o helicóptero da polícia foi derrubado no sábado a cerca de um quilômetro e meio do Maracanã, onde vão ocorrer as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos em 2016, além, é claro, da final da Copa do Mundo em 2014. Ao final da reportagem, insinuações de que se as coisas não melhorarem, acaba este carnaval ufanista e o Brasil dança como sede tanto da Copa, como das Olimpíadas.
O Brasil não pode reclamar desta onda jornalística. Quem quer alta visibilidade paga um preço alto. Não se trata de um enfoque negativista ou sensacionalista. É o mero registro da barbárie, como também acontece no caso positivo do vigor econômico. Uma boa medida do impacto desta espiral da violência foi na terça-feira quando o "Wall Street Journal"', que supostamente mete muito mais bala na cobertura econômica, colocou a história na capa com o título "Violência nas Favelas do Brasil Encobre a Vitória Olímpica do Rio".
É verdade que vários jornais europeus e americanos, a destacar o "New York Times" registraram a observação de um integrante do Comitê Olímpico Internacional de que o Rio não foi a única cidade a amargar violência depois de ganhar o voto olímpico. Aconteceu no "day after" ao triunfo de Londres em 2005 (será sede em 2012), com os atentados terroristas que deixaram 56 mortos na capital britânica.
Mas que comparação é esta? Que consolo é este? O terror é terrível, mas violência em larga escala não faz parte do cotidiano de uma cidade como Londres. Desde 2003, o número de homicídios na área metropolitana de Londres ronda os 170 por ano. No ano passado foram 4.631 homicídios registrados no Rio. É verdade que isto representa um declínio em relação aos 5.143 de 2006. De novo: que consolo é este?
Aliás, na TV BBC de Londres, o padrão de comparação para o Rio esta semana não tem sido a própria capital britânica. As imagens da violência carioca às vezes estão no bloco do noticiário sobre Afeganistão, Paquistão ou algum Waziristão da vida. Não há Taleban ou Al-Qaeda no Morro do Macaco, mas é o Brasil que precisa fazer sua jihad contra a violência urbana.
http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2009/10/22/na+imprensa+o+rio+olimpico+correndo+com+o+wasiristao+8908012.html